Uma avenida beira-mar na praia dos Ingleses: o que há por trás do projeto

O secretário de Infraestrutura, Rafael Rahne, e assessores foram ao escritório do empresário Marcondes de Matos, acompanhados da "imprensa" para anunciar o projeto/ Reprodução da TV

Uma avenida beira-mar na praia dos Ingleses para desafogar o trânsito na região, uma das mais populosas de Florianópolis.

O anúncio do projeto foi feito com grande repercussão no início de fevereiro.

O prefeito,  Topázio Neto, postou em suas redes um vídeo, andando pela praia e dizendo “já estamos trabalhando no projeto e já temos garantia de parte dos recursos”.  Comparou a obra com o que acontece “em Balneário Camboriú, Itapema e Copacabana”.

O projeto da avenida, na verdade, já tramita há mais de seis meses na prefeitura de Florianópolis.

Foi encomendado e “doado” pelo empresário  Fernando Marcondes de Matos, proprietário do Costão do Santinho, um complexo turístico com hotel e resort,  com mais de 220 apartamentos,  junto ao morro das Aranhas, na Praia do Santinho.

O que não apareceu no jornal e nem na televisão é o  que está por trás da generosidade do empresário que ofereceu o projeto da beira-mar dos Ingleses à prefeitura.

É um projeto de expansão do Costão do Santinho, em processo de licenciamento e que  prevê a construção de um conjunto de torres de cinco andares, com um total de 351 apartamentos, numa área de 26 mil metros quadrados, ao lado do atual complexo, junto ao morro das Aranhas.

A linha preta marca os limites do Santinho, a amarela a área onde há equipamentos urbanos e em vermelho a localização do projeto. Fonte: Estudo de Impacto de Vizinhança.

O principal obstáculo para o licenciamento desse novo projeto até agora é a questão da mobilidade,  justamente na  confluência da Praia do Santinho e os Ingleses,  onde a avenida D. João Becker é estreita e forma o principal ponto de estrangulamento do trânsito na região. No verão, pode-se levar duas horas para vencer um trecho de dois quilômetros.

 

 

Estrada Onildo Lemos, unico acesso e saída do Santinho, com a D. João Becker: gargalo.

É esse gargalo que a projetada beira-mar dos ingleses promete resolver.

“Vai desafogar num ponto, que interessa diretamente à aprovação do projeto do Costão,  mas vai agravar o problema, já bastante grave, da mobilidade no Santinho”,  explica Rafael Freitag, presidente do  Instituto Sócio Ambiental do Santinho (ISAS).

Ele lembra que junto à Vereador Onildo Lemos, única via de acesso e saída do bairro Santinho, já está em construção um condomínio com onze prédios de quatro andares, num total de mais de 200 apartamentos.

Somados às 351 unidades previstas na expansão do Costão, vão representar um acréscimo de duas mil pessoas, numa comunidade que, em crescimento acelerado, hoje supera os quatro mil moradores com sérios problemas urbanos e ambientais.

Não tem esgoto, por exemplo. A implantação da rede, iniciada em 2018, com financiamento externo, consumiu mais de R$ 100 milhões e parou, sem concluir sequer a  tubulação principal. E não há data para retomar a obra.  Enquanto isso, o rápido aumento populacional coloca em colapso o sistema de fossas, usado em todas as casas e pousadas e o resultado é visível nas ruas, principalmente na alta temporada turística.

Segundo o Estudo de Impacto de Vizinhança*, uma das peças do licenciamento, “o empreendimento deverá adotar solução particular”, com a construção de uma Estação de Tratamento própria.

“Também entende-se que, em virtude dos índices de abastecimento de água e de coleta de resíduos sólidos serem ruins, há necessidade da ampliação da infraestrutura e atendimento destes equipamentos na região”, diz o EIV, que registra também as carências em segurança, falta de áreas de lazer e escolas.

Para os Ingleses, um dos bairros com crescimento explosivo nos últimos anos,  também a avenida não chega a ser uma solução, embora possa melhorar o trânsito naquele trecho de 2,5 km. Mas vai agravar a degradação da praia, já acentuada.

Em 2023, foi necessário “engordar”  a praia com bombeamento de areia para recuperar os espaços tomados pela ocupação irregular.  Um investimento de mais quase  R$ 20 milhões, numa solução paliativa.

Em plena temporada de 2025, são visíveis as tubulações jogando esgoto direto na praia.

 

*E118664/2022 – Costão do Santinho Turismo e Lazer SA, feito pela Ambiens Soluções Ambientais.