Maestri diz que pesquisadores precisam pôr o negro na história do RS

Geraldo Hasse, especial para o JÁ

O historiador Mario Maestri disse em Osório na abertura do I Simpósio Internacional do Litoral Norte sobre História e Cultura Negra que os pesquisadores gaúchos têm o dever de reestudar a história rio-grandense no século 19 para recuperar algo que a historiografia oficial escondeu: a presença do negro na economia e na cultura do estado. “O escravismo foi dominante na sociedade do Rio Grande do Sul”, disse Maestri, que leciona na Universidade de Passo Fundo.
No período de um século que marca o início da indústria do charque (1780) e o fim da escravidão (1888), a economia gaúcha foi tocada pelo braço escravo. “Os fazendeiros criaram no Rio Grande do Sul e no Uruguai núcleos estáveis de cativos campeiros aos quais se agregavam os gaúchos livres nas épocas de maior trabalho”, afirma Maestri,  especializado na pesquisa sobre a escravidão no pampa.
Segundo Maestri, falta estudar diversos aspectos da vida econômica rio-grandense no século 19. Por exemplo, a valorização do trabalho escravo em meados do século 19, graças à expansão da cafeicultura em São Paulo, fez do Rio Grande do Sul um estado temporariamente exportador de mão-de-obra cativa. De 1874 a 1884, o RS embarcou mais de 14 mil escravos para São Paulo.

Outro fator de expulsão de mão-de-obra cativa foi o cercamento das fazendas com arame, a partir de 1880, intensificando a contratação de mão-de-obra assalariada — os peões, que seriam predominantemente descendentes de índios. “Ainda hoje é forte a presença de afro-descendentes na peonada das fazendas”, diz Maestri, lembrando que sem estudar esses fatos — esquecidos pela historiografia oficial — não será possível compreender a atual realidade do Rio Grande.
Maestri lamentou a não publicação como livro da tese de mestrado “Pelotas: Escravidão e Charqueadas”, de Jorge Euzébio Assunção, produzida em 1995 para a PUC de Porto Alegre. Para Maestri, trata-se do mais completo estudo já realizado sobre o trabalho nas charqueadas. Segundo Assunção, que leciona em Osório, a decantada prosperidade pelotense no século 19 deveu-se à grande concentração de trabalhadores escravos na sua indústria de carnes salgadas. Em 1853, havia 38 charqueadas no município, que liderava a exportação do estado.

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