Renan Antunes de Oliveira
A polícia de Santa Catarina tem quatro suspeitos pelo estupro e assassinato da universitária Vivian Lais Philippi, 17, ocorrido a um quarteirão de casa, em Içara, Santa Catarina, em 4 de março – faz mais de um mês, mas dói todo dia pros pais e irmãos.
As autoridades aguardam resultados de testes de DNA com material genético encontrado sob as unhas dela – o legista atestou que ela arranhou o agressor e lutou bastante até ser subjugada, asfixiada e morta.
O delegado Rafael Iasco disse que a investigação aponta para um crime de oportunidade: “Foi coisa de um só homem, possivelmente drogado, que estava escondido num barraco de obras na rua por onde ela passava”.
Vivian foi arrastada pelo agressor para a construção às 4 da tarde de um dia ensolarado, sem que os vizinhos percebessem.
Moradores contaram à polícia ter visto rondando por ali momentos depois do crime um jovem desconhecido, de altura mediana, moreno, de pele clara e cabelos encaracolados. Ele não foi mais visto. Centenas de outras dicas anônimas foram investigadas, sem sucesso.
Vivian Lais era a quinta filha do casal Plínio e Anna Philippi, descendentes de alemães e italianos: “Ela era nossa caçula”, disse o pai, um metalúrgico qualificado.
Os Philippi deram entrevista no seu novo apartamento, amplo e confortável, no centro de Içara: “Nós não poderíamos continuar na casa onde vivíamos com ela”, disse o pai.
Eles se mudaram da casa amarela do Jardim Silvana, local do crime, incapazes de suportar as lembranças: “Não dava mais pra ficar, era um lugar que ela enchia de vida, ficou só o vazio”, diz o pai.
A família tem recebido apoio da comunidade. Na semana passada, quase mil pessoas participaram de um ato pedindo justiça – a cidade é importante no polo carvoeiro e industrial da região de Criciúma. O delegado Evaldo Gregório disse que “foi o crime mais brutal e sem sentido que vi nos últimos 15 anos”.
Família vive com conforto
Vivian nasceu em Blumenau, mas cresceu no Jardim Silvana, uma região boa de Içara. O padrão de vida dos Philippi é elevado. O chefe da família é inspetor de qualidade de tratores, com vários cursos no exterior. Vivian tinha de tudo e todo conforto na casa.
Os irmãos delas são formados e já deram aos avós quatro netos. Na hora da dor, eles se apoiaram uns nos outros: “Os filhos é que estão nos dando muita força, somos uma família unida” conta Plínio.
Ele está inconsolável. Interrompe a entrevista a cada minuto para chorar um pouco, mas já quase sem lágrimas depois de um mês e uma semana de saudades.
Plínio exibe o álbum de formatura escolar da filha aos visitantes, com dezenas de fotos onde Vivian aparece sempre linda e sorridente.
O pai aponta a foto onde se lê uma tatuagem no braço direito dela, com os dizeres “Endless Love” (amor infinito). Ele se desmancha: “Minha filha era amorosa e inocente”.
A mãe passou a maior parte da entrevista deitada no quarto do casal, abraçada a uma almofada em forma de coração, feita com fotos deles com a filha: “A gente perde o rumo, o sentido”, murmura, abatida.
Um olhar pela casa e se vê várias fotos dela espalhadas em diferentes molduras, tamanhos e cores, sinalizando que ninguém quer esquecê-la.
Menina buscava independência
A mãe carrega a dor de ter sido a última pessoa a falar com ela: “Vivian tinha voltado da universidade (onde estudava Farmácia), almoçou e dormiu pouco”, conta dona Anna.
Foi da casa amarela que a bela menina de 1m70, 63 quilos e longos cabelos loiros saiu para morrer: Vivian acordou perto das 3, fez várias cópias do seu currículo e disse à mãe que sairia para distribuí-los em farmácias, onde queria obter um emprego.
“Era um sonho dela. Trabalhar e ser independente”, lembra o pai.
“Seu outro desejo era morar um tempo na Califórnia”, diz, com um sorriso amargo. Ele procura conforto trocando um olhar com Anna, a mãe concorda balançando a cabeça.
Às 3h15 da tarde da quarta-feira 4 de março ela saiu de casa para buscar o tal emprego e dar aquela mudada de vida, pra ser independente: “Eu tinha ido ao oculista e não pude levá-la”, diz o pai – nesta hora o homem não consegue parar de chorar.
Ele recebeu a notícia da tragédia de forma chocante: “Lá pelas 6h30 eu estava voltando para casa quando vi um bombeiro numa esquina do bairro. Parei para ver se ele precisava de ajuda. Ele perguntou se eu morava por ali. Eu disse que morava na casa amarela. Ele perguntou se eu conhecia uma menina de 17 anos – e me mostrou os documentos de Vivian”.
Plínio diz que ficou atordoado com o golpe e só lembra que o bombeiro estava chorando – até o bombeiro, acostumado com tragédias.
Religião é consolo
Agora ele quer justiça: “Quero que tirem este monstro das ruas, para que não aconteça com outras famílias”.
Plínio conta que não quis ver o corpo da filha: “A irmã dela foi fazer o reconhecimento”, diz, fecha e abraça o álbum de formatura.
O pai se tortura com mil pensamentos com a hora final da filha e buscou conforto na religião kardecista – em que se acredita que exista vida depois da morte: “Não faz sentido ela morrer e ficar esperando o Juízo Final”, começa, para depois abandonar o tema religioso.
“Sabe o que é pior ? Ela morreu do lado de casa. Num minuto estava viva, segura e feliz, noutro a tragédia”.
Ele explica: “Caminhei da minha casa até a frente da obra onde ela foi morta. Contei. Foram apenas 148 passos. Dói muito saber que não pude fazer nada por ela, tão pertinho”.
Estou começando a lê-lo. Interessou me. Quero ler o que escreveste sobre o Jango. Deois comentarei. Desculpe.