Por Francisco Ribeiro
Fotos – Andressa Konzen
O Acampamento Intercontinental da Juventude, no Parque da Harmonia, recebeu cerca de três mil pessoas, a maioria estudantes universitários, de 19 a 25 anos, durante o Fórum Social Temático, que se encerra neste domingo.
São provenientes de todos os estados brasileiros e também da América Latina – argentinos, chilenos, costa-riquenhos, paraguaios, venezuelanos, uruguaios –, mais alguns poucos europeus, como espanhóis e até um russo, que durante cinco dias debateram temas concernentes ao Fórum, trocaram experiências em diversas áreas de atuação, namoraram e assistiram muitos shows.
Segundo Isabel Bretanha – funcionária pública responsável pela organização do acampamento – até a manhã de sábado, penúltimo dia do Fórum, não havia sido registrado nenhum incidente pelos 150 seguranças que patrulham a área: “o que prova o bom entendimento entre as pessoas, apesar da diversidade de comportamentos e opiniões políticas”, salientou. Para ela, a proibição de venda de bebida alcoólica na praça de alimentação “colaborou para coibir os excessos, tão comuns entre jovens”.
Quem entra no acampamento logo percebe que não se trata de um camping comum. O fotógrafo João Dias, ao fazer um plano geral, disse que pela associação de diferentes grupos de pessoas “tinha a impressão de estar diante de um mix de Woodstock de esquerda com feira hippie”.
Não chega a ser bem isso. Há muita música, mas não apenas rock. Ouve-se rap/hip hop, reggae, MPB, música latina, clássica. Também não há somente esquerdistas, como prova o coloridíssmo grupo underground evangélico do Ministério João 3: 16, uma espécie de cristão-hippies.
De resto, Organizações, coletivos, partidos políticos que desfraldam suas faixas, demarcando o seu território, sempre aberto a novas adesões. Há muita oferta de artesanato, botons, camisetas e, claro, muita disposição para uma boa discussão política. Tudo num ambiente limpo, organizado, cheio de banheiros químicos para que ninguém se aperte, pias para lavar roupa e louças. Muita oferta de comida a preços nem tão camaradas, e muitos preferem andar alguns poucos quilômetros e fazer compras nos supermercados.
Entre os brasileiros, chama atenção a quantidade de estudantes cariocas. E isso ocorre porque – sendo consenso que o FST é uma previa dos grandes debates que ocorrerão em junho, na capital fluminense, por ocasião da a Rio + 20 – as principais universidades públicas do estado do Rio de Janeiro – UFRJ, UERJ e UFF – atenderam as reivindicações dos seus acadêmicos, disponibilizando diversos ônibus para que viessem a Porto Alegre.
“Como estudante de geografia, os debates sobre as questões ambientais e desenvolvimento sustentável são fundamentais”, diz Danilo Santana, 24 anos, da UERJ, que tem tatuado no peito uma foice e um martelo: “isso é do tempo em que eu era um ultra, não é mais o caso”, esclarece, bem humorado.
Também da UERJ, Mariana Busch, 19 anos, estudante de Direito – integrante do Coletivo Levante! –, diz que veio ao FST porque é socialista e quer construir um mundo melhor: “o Fórum também é um ótimo espaço para dialogar com outros grupos, como indígenas, trabalhadores rurais”, acrescenta.
Já o chileno Gastón Urrutia, da Universidad del Bio-Bio, Concepción, Chile, salienta que a troca de experiências na área da educação “foi muito rica e servirá para traçar novas abordagens e ações na América Latina”.
Tag: acampamento da juventude
Abertas inscrições para o Acampamento da Juventude do FST 2012
Faltam 28 dias para ter início o Fórum Social Temático 2012 – o evento está previsto para ocorrer de 24 a 29 de janeiro. O prazo único de inscrições, porém, termina bem antes – na primeira sexta-feira do próximo ano, dia 6 de janeiro.
Esta é a data limite tanto para quem deseja apenas assistir à programação quanto para aqueles que pretendem desenvolver iniciativas no encontro – atividades autogestionárias, participação como voluntário ou mesmo garantir espaço para a própria barraca no Acampamento da Juventude.
O Acampamento da Juventude ocupará o tradicional espaço já ocupado em outras edições de Fóruns, no Parque Harmonia, região da orla do Guaíba, em Porto Alegre. O valor da inscrição é de R$ 20,00 e dará direito à participação nas atividades do FST 2012.
Todos os participantes receberão uma bolsa e uma caneca de plástico reciclada. Para fazer a sua inscrição, entre em http://www.fstematico2012.org.br/acampamento.
A organização do FST 2012 aproveita para lembrar que inscrições para todas as demais modalidades de participação no FST 2012 só terão validade quando feitas no site oficial do evento, em http://www.fstematico2012.org.br
A edição do FST tem como temas Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental e é preparatória à Cúpula dos Povos da Rio+20 – em maio e junho de 2012, no Rio de Janeiro. Os debates irão contemplar questões relacionadas a movimentos sociais em todo o mundo, desigualdades políticas e sociais, além da situação econômica e ambiental.
O Comitê Organizador do FST destaca a necessária reinvenção do mundo, com respostas para o agravamento da crise social nas economias centrais e contra a desigualdade e a crise ambiental. Porto Alegre e Região Metropolitana serão o ponto de encontro para tais debates.
O objetivo do comitê e “tornar a capital gaúcha sede permanente de discussões, onde se possa debater e refletir sobre as desigualdades e injustiças políticas e sociais, fazendo um contraponto ao Fórum Econômico realizado em Davos, na Suíça”. A ideia é firmar Porto Alegre como referência nesses temas e que todos os anos o debate por outro mundo possível, que se consolidou desde o primeiro FSM, no ano de 2001, aconteça aqui, independentemente de se realizar em qualquer outra parte do mundo.
Outros destaques do FST serão o Fórum Mundial de Educação, a Feira de Economia Solidária e a Aldeia da Paz, que pretendem servir como exemplos de espaços de sustentabilidade ambiental e social.
Os Grupos Temáticos se encontrarão em Porto Alegre nos dias 25 e 26 de janeiro de 2012 para a sistematização dos debates. Nos dias 27 e 28 de janeiro haverá articulação dos vários diálogos entre si ao redor dos eixos temáticos. Para estes encontros já estão confirmadas mais de 200 atividades.
As ações podem ser promovidas por pessoas ou entidades e precisam se encaixar em um dos quatro eixos temáticos fundamentais do evento:
Eixo1 – Fundamentos éticos e filosóficos: subjetividade, dominação e emancipação.
Eixo 2 – Direitos Humanos, povos, territórios e defesa da mãe terra.
Eixo 3 – Produção, distribuição e consumo: Acesso às riquezas, bens comuns e economia de transição.
Eixo 4 – Sujeitos políticos, arquitetura de poder e democracia.
As atividades podem acontecer em uma das quatro cidades que receberão o FST 2012, sendo elas Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo. O proponente deve também escolher a cidade onde realizará sua ação, entre as quatro.
Acampamento tem moeda própria e testa autogestão
O Acampamento Intercontinental da Juventude, adota uma experiência inédita neste 10º ano do Fórum Social Mundial em Porto Alegre.
Ao contrário dos outros anos, o acampento é em Lomba Grande – uma área rural de Novo Hamburgo – onde a preocupação é integrar as pessoas com o meio ambiente.
Logo no primeiro dia do Fórum, há pelo menos 2.500 pessoas no acampamento. Que conta com uma infraestrutura voltada para influenciar a sustentabilidade.
A alimentação do acampamento é fornecida pela comunidade local, que é formada em sua maioria por produtores rurais ligados à economia solidária.
É possível comprar produtos orgânicos e caseiros, que também podem ser trocados pelo MATE, moeda social do fórum.
Outro fator importante é o uso racional da água, no acampamento há distribuição de água potável, que deve ser utilizada com bom senso, já que ela é armazenada em reservatórios com capacidade limitada.
Porém a cultura e o debate do Fórum não é deixado de lado. Por se tratar de um Fórum descentralizado, o acampamento tem sua própria programação. Cerca de 300 atividades serão realizadas dentro do parque, entre elas, painéis, shows, debates e oficinas em diversas áreas.
A segurança interna do espaço é por conta da guarda municipal, que patrulha desarmada pelo parque. Porém a segurança externa é feita com auxílio da Brigada Militar. O clima é pacífico e a intenção é que o acampamento seja feito em um processo de autogestão. Onde tudo possa ser resolvido em conjunto pelos grupos.