Profissionais que trabalham com menores vulneráveis recebem certificados

Depois de 11 meses de atividades que totalizaram 310 aulas ministradas nas 10 regiões abrangidas pelos Conselhos Tutelares, 1.655 horas/aula de capacitação e 23 integrações, 433 profissionais que trabalham com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social em Porto Alegre receberam nesta terça-feira (14/10) seus certificados do curso de Formação em Redes e Atendimento e Acolhimento.
Coordenado pela faculdade de Direito da Instituição Educacional São Judas Tadeu, com apoio da Pedagogia, o curso foi viabilizado por edital lançado pela Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul.
Em pronunciamentos em que autoridades que participaram do evento no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa refletiram sobre vulnerabilidade social de crianças e adolescentes, a defensora pública Claudia Barros disse que o menino Bernardo Uglione Boldrini poderia ter se beneficiado do trabalho de um defensor público que o defendesse quando denunciou a violência que sofria na sua família e que resultou na sua morte.
Para ela, “talvez Bernardo pudesse ter sido escutado melhor e ter-se nomeado um defensor, alguém para defendê-lo”. A defensora participou de painel ao lado do juiz da Infância e Adolescência Marcelo Mairon Rodrigues e da promotora pública Cinara Braga.
Também participaram do encontro a presidente da FPE, Luziane Galarraga, o secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social, Elomar Feijó, a deputada federal Maria do Rosário, o deputado estadual Luís Augusto Lara e o diretor da Escola de Conselhos Tutelares, José Carlos Sturza, que descreveu à plateia o que os alunos produziram no curso para melhorar o atendimento e acolhimento de crianças e adolescentes.
 

Em 13 anos, número de sem-teto quadruplicou em Porto Alegre

Elmar Bones
Em 13 anos, o número de moradores de rua quadruplicou na capital. São 1203 adultos perambulando pela cidade, conforme pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 29 de maio, pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). O último levantamento, realizado em 1995, apontava aproximadamente 300 pessoas nessa situação.
O novo estudo da Prefeitura, executado pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, além de identificar os moradores de rua, mapeou os locais de maior incidência, revelou hábitos e o perfil socioeconômico dessa população.
“É um número elevado, mas está dentro da média nacional. Temos consciência da nossa responsabilidade e esse trabalho dará suporte aos programas sociais”, informa a presidente da Fasc, Brizabel Rocha. Para Brizabel, o resultado reflete a desagregação familiar. “A maioria dos entrevistados diz que está na rua por ruptura familiar, ou seja, maus tratos, desavenças, abandono, separação ou morte”.
O coordenador da pesquisa, professor Ivaldo Gehlen, concorda que o aumento não é exorbitante. “A capital é atrativa para todos. Não tem relação com êxodo rural, mas com a instalação de instituições públicas no centro da cidade”. O sociólogo reforça a necessidade de programas específicos e dá como exemplo a capital mineira, que foi pioneira em assistência aos sem-teto e hoje registra 900 pessoas em situação de rua, num universo de 2,5 milhões de habitantes – Porto Alegre tem cerca de 1,5 milhão.
Panorama
De acordo com o estudo, as atividades dos moradores de rua tendem a se concentrar em autônomas e de pouca estabilidade, como catar materiais recicláveis (22.9%), guardar e lavar carros (12,3%) e pedir (15%).
Quanto aos motivos de ida para as ruas, a grande maioria dos entrevistados (41,1%) atribui rupturas familiares – por maus tratos, desavenças, rejeições, falta de apoio, ameaças, abandono, por separação ou morte. Incluindo nesse tipo de justificativa problemas com bebidas alcoólicas, drogas ou tráfico na família, o percentual seria acrescido de 3,2%, chegando a um total de 44,3%.
A segunda razão mais referida, com um total de 22,8%, é a carência de condições materiais e financeiras, notadamente relativas ao desemprego e à busca de trabalho ou de alguma forma de renda ou auxílio (16,3%), seguida da perda da moradia (6,5%). Consumo de álcool, drogas ou fumo por parte do entrevistado aparece em terceiro lugar, com 12,1% das razões citadas.
A pesquisa faz parte de um estudo amplo, dividido em cinco segmentos. Além dos adultos em situação de rua, o trabalho irá identificar as crianças que moram na rua, a população indígena, afrodescendente e quilombola.
Dados:
– Metade dos moradores de rua foi encontrada em três bairros: Centro (23%); Floresta (15,9%) e Menino Deus (11,7);
– Mais da metade nasceu em Porto Alegre;
– Mais de 70% têm idade de até 44 anos;
– A maioria passa do dia sozinho;
– 11,6% estão nessa situação há menos de um ano;
– Quase a metade possui o ensino fundamental incompleto;
– 60% dessa população dorme cotidianamente em lugares considerados de risco e improvisados, enquanto 35,8% dormem em abrigos e albergues municipais ou conveniados com a prefeitura;
– 34,6% dizem receber doações em residências, restaurantes ou nas ruas;
– Um terço (29,1%) tem ganho mensal de até meio salário mínimo.
Programas
A Fasc apresentou uma lista de medidas que pretende desenvolver até o final do ano:
– Inclusão das pessoas em situação de rua no Cadastro Único de Assistência Social, para que possam ter acesso ao Programa Bolsa Família.
– Desenvolvimento do Programa de Reinserção na Atividade Produtiva.
– Construção do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Crea) na região Centro de Porto Alegre.
– Ampliação do serviço ao migrante no Módulo Centro de Assistência Social
– Implantação do Sistema Único de Assistência Social, que prevê a instalação de cinco Creas nas regiões Centro, Glória, Leste e Lomba do Pinheiro para o segundo semestre de 2008 e na região Sul, em 2009, que farão abordagem e acompanhamento de pessoas adultas e crianças em situação de vulnerabilidade social
– Inserção ao trabalho por meio de Centros de Inclusão Produtiva, propostos inicialmente na região Leste e outro na região Glória.
– Adequação de espaços da Casa de Convivência, que faz o Serviço Social de Rua, na região Centro.
-Reforma do Albergue Municipal e da Casa de Convivência II. – Aquisição de bens de consumo para o Albergue Municipal e demais abrigos da população adulta
– Ampliação dos serviços do Programa de Saúde da Família Sem Domicílio na região Centro.
– Ampliação da equipe de redução de danos da Secretaria Municipal de Saúde que atua no Centro, nos espaços dos abrigos e albergues.