A Revolução Eólica (8) – “ESTE É O PRIMEIRO PARQUE DE MUITOS”

Por Cleber Dioni Tentardini
O diretor de Engenharia e de Operação da Eletrosul, Ronaldo Custódio, entusiasmou-se durante a inauguração do Setor de Manutenção de Santana do Livramento, cujos técnicos farão o controle das linhas de transmissão e das subestações de energia na fronteira, no trecho de Uruguaiana e Candiota, que fazem a interligação elétrica com o Uruguai e a Argentina.

Custódio, ao micronone: "O vento das pandorgas vai gerar emprego e renda" | Mauricio Munhoz/PMSL
Custódio, ao micronone: “O vento das pandorgas vai gerar emprego e renda” | Mauricio Munhoz/PMSL

Diante de cinquenta convidados, o executivo revelou que há outros dois investimentos eólicos para a região, de médio e grande porte. “Vamos explorar toda a mina de vento desta coxilha de Santana e, se Deus quiser, e ele vai querer, Cerro Chato será o primeiro de muitos parques eólicos”, afirmou.

A Eletrosul aguarda que o Ministério de Minas e Energia defina a data em que ocorrerá o próximo leilão de energias alternativas. Hoje, a empresa têm habilitados a participar da concorrência cinco parques eólicos pequenos em Livramento, que somam 42 MW.

Há dois projetos grandes onde está sendo feita a medição dos ventos – de Coxilha Negra, em Livramento, e de Santa Vitória do Palmar – que só poderão participar do leilão se estiverem prontos os estudos de Impacto Ambiental (EIA-Rima).

Antes de descerrar a placa que marca o início de funcionamento do Setor de Manutenção, ao lado do prefeito de Livramento, Wainer Machado, da deputada federal Emília Fernandes, de autoridades locais e funcionários da Eletrosul, o executivo mandou um recado à população. “Toda essa energia que será gerada aqui tem de servir para reforçar a energia dos santanenses, que nunca imaginaram, dez ou vinte anos atrás, que os ventos que levantavam nossas pandorgas na semana santa, serviriam para produzir atividade econômica e renda ao nosso município”, ressaltou Cusódio.

Eletrosul era proibida de investir

Durante seu discurso, o diretor de Engenharia e de Operação da Eletrosul, que já contabiliza 21 dos 48 anos de idade como funcionário da estatal, lembrou que a medição dos ventos no Estado começou em 1999, no governo Olívio Dutra, para produzir o Atlas Eólico do Rio Grande do Sul, e que os estudos em Santana do Livramento iniciaram somente em 2005, quando a Eletrosul deixou de ser proibida por lei de realizar investimentos para geração de energia elétrica.

Em 2005, o ex-presidente Lula enviou uma medida provisória ao Congresso, elaborada pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que reorganizava o setor elétrico no país e retirava as estatais do Plano Nacional de Privatizações, incluindo a Eletrosul.

Ainda em 2005 dois funcionários da Eletrosul foram designados para vir a Santana do Livramento todos os meses fazer as medições de vento, inicialmente na Coxilha Negra e, depois, Cerro Chato, e hoje estamos aqui inaugurando algo que é consequência de ações técnicas e políticas”, observou o diretor, lembrando que além da construção da subestação coletora de energia em 230 mil volts, estão sendo instaladas 75 linhas de transmissão ao longo de 25 quilômetros, da campanha até a zona urbana.
Isso, por si só, é um grande investimento, mas faremos mais porque já fomos autorizados pelo governo federal a construir uma linha de transmissão e uma subestação de 500 mil volts em Candiota para incrementar a interligação energética Brasil-Uruguai”, completou.

A Revolução Eólica (7): PROJETOS TIVERAM APOIO DO BNDES

A região Nordeste foi a grande vencedora do primeiro leilão de energia eólica realizado no Brasil, com 66 projetos aprovados. Entre as vantagens dos projetos concorrentes dos estados nordestinos é que a maioria conta com financiamentos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Rio Grande do Norte foi o primeiro colocado, com 23 novos empreendimentos eólicos, num total estimado de 657MW de potência instalada. Os empreendedores vencedores no RN foram Petrobras, Dobrevê Energia (Grupo Mawee), Consórcio Brasil dos Ventos (Furnas, Eletronorte, Bioenergy e JMalucceli), CPFL (Santa Clara) e Gestamp (na Serra de Santana).
O Ceará aparece em segundo lugar com 542,7MW, a Bahia possui 390MW e Sergipe tem outros 30MW. No Sul, somente o Rio Grande do Sul venceu, com 186MW.
O leilão negociou 753 MW médios de 71 empreendimentos, ao preço médio de R$ 148,39/MWh.. Esses projetos representam uma capacidade instalada de 1.805,7 MW (ou 783 MW médios de garantia física), localizados entre os estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Rio Grande do Sul e Sergipe.
Esse volume é o triplo do montante de energia eólica em operação no País hoje, que soma 602 MW de potência. Entre as empresas que venderam energia estão a Petrobras, a CPFL Energia (com sete usinas), a Renova Energia. A estimativa do governo é de que os investimentos nos projetos somam R$ 9,4 bilhões.
Uma alternativa para compensar a baixa competitividade das empresas de energia eólica do RS seria realizar leilões regionalizados. Outra, seria melhorar as condições de financiamento dos projetos já aprovadas, da empresa Ventos do Sul e da Eletrosul.

Estado Projetos(nº) Potência Quant comprada Pr(MWmédio) Invest(R$)  
RN 23 657 286 150,96 3087,900
CE 21 542,7 218 150,40 2550,690
BA 18 390 171 145,19 1833,000
RS 8 186 68 141,87 874,200
SE 1 30 10 152,50 141,000

 

A Revolução Eólica (6): ENERGIA LIMPA A R$131

No primeiro leilão de energia eólica do País, que aconteceu via internet no dia 14 de dezembro de 2009, a Eletrosul e sua sócia, a Wobben, venderam a energia que será produzida pelos três parques eólicos do Cerro Chato, em Santana do Livramento, por R$ 131,00 por megawatts/hora, representando um deságio de 31,7% em relação ao teto estabelecido que era de R$ 189,00 – vencia quem oferecesse o menor preço. A previsão anual de receita é de R$ 1.928.520,00.
O sucesso da Eletrosul no leilão de eólica foi comemorado pelo presidente da empresa, Eurides Mescolotto. “Quase oito horas e depois de 75 lances conseguimos marcar definitivamente a entrada da Eletrosul e do Sistema Eletrobrás na área de energia eólica, o que para nós representa um grande sucesso. E num momento em que o mundo está discutindo novas alternativas de energia limpa, a energia eólica é um dos mais promissores segmentos no setor de geração de energia na região Sul”, disse o executivo.
Foram contratados 753 MW médios de energia em 71 empreendimentos no país. O prazo para entrada em operação comercial da usinas é julho de 2012 e os contratos serão válidos por 20 anos. O leilão representou um acréscimo de 1.805,7 megawatts (MW) de potência ao Sistema Interligado Nacional.
Para o diretor de Engenharia da Eletrosul, Ronaldo Custódio, os ventos da região Nordeste são considerados os melhores, mas os da região Sul são mais constantes. “Outro fator positivo no Sul é que existem mais acessos de conexões à rede de energia elétrica, o que nos garantiu vantagem competitiva na formulação do preço”.
Ronaldo lembra ainda, que o número expressivo de projetos participantes garantiu uma disputa acirrada entre os proponentes. “Com a concorrência, a sociedade é quem sai ganhando, porque teremos tarifas mais adequadas para os consumidores”.

A Revolução Eólica (5): MEDIÇÃO DOS VENTOS COMEÇOU HÁ DEZ ANOS

Desde 2002 a Eletrosul realiza medições sistemáticas dos ventos no Rio Grande do Sul. A partir de 2005, a estatal elaborou dois projetos eólicos para Santana do Livramento: Cerro Chato e Coxilha Negra.
Este último aguarda definição do governo para disputar novo leilão. Caso o Coxilha Negra se concretize, com a instalação de 200 aerogeradores capazes de produzir 400 MW, essa região do pampa, a meio caminho de Quaraí, vai se tornar uma dos maiores pólos de geração de energia renovável produzida pelos ventos.
O projeto da Usina Cerro Chato foi contemplado no primeiro leilão de energia eólica, promovido em dezembro de 2009 pela Empresa Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Considerado um sucesso por especialistas e pelo Governo, o leilão confirmou as expectativas do Ministério de Minas e Energia quanto aos preços praticados e quantidade de energia contratada.
O lance ofertado para a energia produzida no Cerro Chato foi de R$ 131,00 por megawatts/hora e representou um deságio de 31,7% – vencia quem oferecesse o menor preço.
O valor alto do megawatt/hora era um dos grandes empecilhos para que projetos de energia eólica participassem dos leilões do governo, que envolviam várias fontes de energia. Para se ter uma ideia, o preço do MWh de energia hídrica no Brasil é de R$ 70, em média, enquanto o MW/h da eólica custava R$ 250,oo.
Mas esse valor pode ser mais baixo, uma vez que o potencial e a intensidade de ventos no Brasil são maiores que na Alemanha, por exemplo. Lá, se produz energia elétrica a partir de ventos de 5 a 6 metros por segundo, enquanto aqui são considerados de 6 a 9 m/s.
O expressivo número de projetos habilitados – 339 no total – sinaliza a abrangência que o setor deve conquistar nos próximos anos, principalmente com a entrada em operação de 71 novas usinas eólicas, que devem gerar juntas, pouco mais de 1.800MW ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Para o diretor de Engenharia da Eletrosul e especialista em energia eólica, Ronaldo Custódio, o preço de venda da energia oferecido pela estatal pode ser creditado a dois fatores: os investimentos que a Eletrosul vem realizando ao longo dos últimos quatro anos no estudo e desenvolvimento de projetos eólicos e a engenharia econômico-financeira da proposta comercial, “que vão resultar numa rentabilidade adequada e que contribuíram para tornar a nossa participação no certame mais atrativa”, explica o diretor.
Outro fator de diferenciação está na composição das torres que sustentarão os aerogeradores. “Ao contrário do usual, vamos utilizar concreto, produzido na região. Isso permitiu uma redução dos custos”. Segundo o diretor, esta tecnologia já vem sendo utilizada pela Enercon com sucesso em outros empreendimentos.
Ronaldo lembra ainda, que o número expressivo de projetos participantes garantiu uma disputa acirrada entre os proponentes. “Com a concorrência, a sociedade brasileira foi a grande vencedora, pois o leilão produziu tarifas mais adequadas para os consumidores”.
Com um litoral com mais de nove mil quilômetros de extensão, o Brasil apresenta condições ideais para aumentar a participação desta fonte renovável de energia na matriz energética brasileira.
Para o diretor, os ventos da região Nordeste são considerados os melhores, mas os da região Sul são mais constantes. “Outro fator positivo é que no Sul existem mais acessos de conexões à rede de energia elétrica, o que nos garantiu vantagem competitiva na formulação do preço”, completa o dirigente.

A Revolucao Eólica (4): ENERGIA AINDA É CARA

Mapa com localização dos aerogeradores / Foto Cleber Dioni Tentardini
Mapa com localização dos aerogeradores / Foto Cleber Dioni Tentardini

O valor pago pelo governo federal às empresas que produzem energia eólica ainda é caro se comparado com as hidrelétricas. O preço é calculado por megawatt/hora (MW/h) de energia que abastece o sistema elétrico brasileiro. Em contratos mais antigos o MW/h chega a R$ 250,00, em média. Não dá para disputar com a hídrica, que custa cerca de R$ 70.
Mas o quadro está mudando agora. Com a pressão das empresas para que fosse realizado um leilão exclusivo de eólica, o governo pisou no freio e condicionou a compra dessa energia à redução das tarifas. Essa era uma antiga exigência da então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para que o negócio não prejudicasse o bolso do consumidor final, o cidadão.
E o resultado foi positivo. A energia eólica vendida no complexo de Cerro Chato, por exemplo, foi vendida a R$ 131 o MW/h, representando um deságio de 32%. Essa redução dos valores fez com que alguns projetos fossem retirados do leilão por inviabilidade econômica, do ponto de vista de seus diretores.
O aumento da competitividade provoca redução dos preços. Vale para qualquer setor. A Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) defende o programa 10-10, que significa 10 GW ao longo de 10 anos. Em países europeus, o programa é 20-20, isto é ter 20% da matriz energética com eólica em 20 anos.
O Plano Decenal de Expansão Energética (PDE) 2008-2017, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao MME, prevê investimentos de R$ 142 bilhões em geração de energia e significará a adição de 63.935 MW de capacidade instalada na matriz energética nacional. O único empecilho para a Aneel contratar mais energia eólica é o custo. Uma alternativa para reduzir o valor da energia produzida pelos ventos é reduzir os impostos que incidem sobre os equipamentos eólicos. O governo cobra uma taxa de 14% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Certificados de carbono
De acordo com a ABEEólica, está sendo projetada a instalação de 30 mil MW por volta do ano 2030, podendo ser estendida em função da perspectiva de venda dos “Certificados de Carbono”. Existem, atualmente, mais de 30 mil turbinas eólicas de grande porte em operação no mundo, com capacidade instalada da ordem de 31 mil MW.
A geração de energia a partir dos ventos no Brasil iniciou em julho de 1992. No Rio Grande do Sul, desde 1999 o governo tem prestado mais atenção ao potencial eólico regional.

A Revolucao Eólica (3):POTENCIAL EQUIVALE A DEZ ITAIPU

A energia gerada pelos ventos chamada de energia eólica é a fonte energética do futuro. A mais limpa, abundante e inesgotável dentre todas. É gerada em parques que concentram vários geradores – turbinas em forma de catavento ou moinho instaladas em regiões de ventos fortes.
Além de não prejudicar o meio ambiente, a energia eólica gera investimentos, rendimentos para a agricultura, tecnologias de ponta, é à prova de secas e gera empregos. Num país cuja matriz energética é baseada fortemente em hidrelétricas, a energia dos ventos complementa a matriz em períodos de pouca chuva e na entre-safra.
Também é utilizada para substituir combustíveis naturais (não renováveis e sujeitos a escassez), como o carvão, petróleo e gás natural, auxiliando na redução do efeito estufa e, consequentemente, no combate ao aquecimento global. Além disso, as usinas eólicas convivem com outras atividades como a pecuária e a agricultura.
Mesmo entre as fontes alternativas, é a que apresenta as maiores taxas de expansão no mundo, cerca de 26%. Foi a que mais cresceu em 2009, segundo o balanço do Conselho Global de Energia Eólica, aumentando a capacidade instalada de 120,8 gigawatts (GW) para 157,9 GW em todo o mundo.
O mercado de turbinas movimentou, segundo o Conselho Global, 63 bilhões de dólares em 2009.
E o Brasil é privilegiado nesse sentido. Pesquisas estimam que o potencial eólico no país chegue a 143 mil megawatts (MW) ou 143 GW *, mais de dez vezes o que é gerado pela Usina de Itaipú.
Hoje, a fonte eólica representa 0,4% da matriz nacional. Em 2006, a energia a partir dos ventos somava 271 MW. Em 2009 foram acrescidos 427 MW e, em 2010, estavam prometidos mais 684 MW, totalizando 1.423 MW ou 1,4% da matriz elétrica brasileira, que hoje é de 100 mil MW, abastecido principalmente pelas hidrelétricas. O litoral do Nordeste, o centro da Bahia, o norte de Minas Gerais e o extremo sul do Brasil apresentam grande potencial eólico.
No contexto mundial, a China apresentou o maior crescimento, dobrando a sua capacidade, com mais 13 GW em 2009. Os Estados Unidos têm o maior número de instalações de energia eólica, com 35 GW instalados, superando a Alemanha, com 22,2 GW. Espanha, Dinamarca, Índia, Itália, Holanda, Japão e Reino Unido estão acima ou próximos de 1 GW.
Fonte: Atlas Eólico Brasileiro, produzido pelo Centro de Pesquisas da Energia Elétrica (CEPEL), da Eletrobras.

A Revolucao Eólica (2): CATAVENTOS GIGANTES VIRÃO EM 1.200 CARRETAS

Aerogeradores virão em 1.200 carretas
Começam a chegar, ainda em janeiro, os equipamentos das torres e dos aerogeradores do primeiro parque da Usina Eólica do Cerro Chato. Serão necessárias 1.200 carretas para transportá-los.
A Wobben é a fabricante dos geradores, a mesma que forneceu para a Usina em Osório e da futura eólica de Tramandaí.
As peças vem da Alemanha para serem montadas na Wobben, sediada em Sorocaba, São Paulo, e depois enviadas para a fronteira.
As torres são formadas por vários anéis de concreto, fabricados em Gravataí, também o mesmo fornecedor de complexo eólico de Osório.
A partir de determinada altura, as torres são formadas por anéis metálicos até chegar aos aerogeradores, cujo centro estará a 108 metros do chão, chegando a 149 metros de altura no ponto mais alto da pá.
Cada uma das três pás que compõem o aerogerador possui 41 metros de comprimento.
A disposição das torres segue critérios estabelecidos pelos medidores de vento, os anemômetros, e não ficarão alinhados como em Osório. A distância entre as torres varia muito, de 300 metros a 1.000 metros.
Segundo o gerente-administrativo das obras, o carioca Nélio Catarina Pinto, as 15 cavas onde serão erguidas as torres já estão prontas, duas já estão tendo suas bases concretadas.
Cada base possui um diâmetro de 18 metros, onde estão sendo utilizados 450 metros cúbicos de concreto e 55 toneladas de ferro.

Inauguração de Candiota à espera de Lula e Dilma

A usina Candiota III já opera a plena carga, mas a inauguração oficial depende da agenda do presidente Lula.
Projetada há mais de 30 anos, Candiota começou a sair do papel com os acordos de cooperação firmados por Lula com o governo chinês em 2004.
A negociações foram conduzidas pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que provavelmente também estará presente na inauguração, prevista para dezembro.
Um banco estatal chinês financiou os 420 milhões de dólares da obra. Os equipamentos foram fornecidos por oito fabricantes chineses, assim como da China veio a equipe técnica que comandou a montagem.
A usina é uma terceira unidade do complexo termelétrico Presidente Médici, no município de Candiota (RS) onde estão as maiores reservas de carvão do Rio Grande do Sul. Vai consumir 1,7 milhão de toneladas de carvão por ano, para gerar 350 MWh.
O China Developement Bak, banco estatal chinês, financiou integralmente o projeto e o grupo Citic montou e vai entregar a usina funcionando.
Os equipamentos foram fabricados em oito locais na China. Não há associação com os chineses. Eles financiam e constroem a usina. No final entregam a obra pronta e a usina é integralmente da CGTEE, subsidiária da Eletrosul.
Todo o maquinário da usina foi feito na China por oito fabricantes da região de Harbin, na fronteira com a Sibéria.
Os equipamentos saiam da China pelo porto da Dalian e vinham direto a Rio Grande, de onde foram transportados por carretas para Candiota.
Pelo volume do investimento, pelo número de empregos e pelos reflexos em diversos setores, a obra deve dar uma sacudida na estagnada economia dos 14 municípios da região, uma das mais pobres do Estado.
Mais de 1.600 trabalhadores foram empregados nas obras civis e outros 500 trabalharam no transporte e montagem dos equipamentos.
Outro efeito direto da obra será o aumento da produção de carvão, principal e polêmica matéria prima da região. Para abastecer a usina com cerca de 1,7 milhão de toneladas ano, a Companhia Riograndense de Mineração teve que dobrar sua produção.
Também a produção de calcáreo, mineral abundante na região, vai se expandir. Ele será usado no processo de eliminação do enxofre, que sobra da quemia do carvão e ocasiona a chamada “chuva ácida”.
Estima-se em trinta ou quarenta mil toneladas o consumo de calcáreo por ano pela usina.
A inauguração da Candiota III é o último capítulo de uma novela que começou em 1981, com o projeto de seis termelétricas para aproveitar as grandes reservas de carão da região.
Era uma prioridade da Companhia Estadual de Energia Elétrica. As duas unidades implantadas formam a termelétrica Presidente Médici, hoje em plena produção.
A terceira, que seria uma usina independente, em outro local próximo, foi paralisada logo no início. Equipamentos foram encomendados e fabricados, mas o dinheiro foi desviado para outra finalidade. As peças ficaram 20 anos em depósitos na França.
Em 1997, a CEEE foi privatizada e transferiu suas usinas térmicas para uma nova empresa, a Companhia Geradora Térmica de Energia Elétrica (CGTEE) depois incorporada pela Eletrobrás.
No novo contexto, o projeto da terceira usina de Candiota se tornou viável. A CEEE pagou 90 milhões de dólares (incluindo custos de armazenagem e do seguro) e as peças estocadas na França foram transferidas para o Brasil no ano 2000.
O projeto foi retomado, não mais como uma usina a parte, mas como uma ampliação da Termelétrica Presidente Médici.
Um consórcio de quatro empresas foi selecionado pelo grupo chinês que comanda o projeto, para as obras civis da nova usina de Candiota. Três do Rio grande do Sul –Brasilia Guaíba, Ernesto Woebke e Construtora Tedesco – e uma do Rio de Janeiro, a Delta.
Um dos principais desafios da Ernest Woebke, especializada em pré-moldados e torres, foi construir uma chaminé de concreto com 200 metros de altura.
Números do Projeto
(Investimento em US$(
Obras Civis 117 milhões
Equipamentos 150 milhões
Serviços 163 milhões
TOTAL 420 milhões
Capacidade: 350 MW
Consumo de Carvão: 1,7 milhões de toneladas/ano

Justiça corta royalties que Osório recebia da Petrobras

O município de Osório deixou de receber cerca de R$ 650 mil reais em maio por conta da decisão do Superior Tribunal de Justiça que lhe negou o direito de continuar recebendo royalties petrolíferos no litoral norte do Rio Grande do Sul, onde a Petrobras desembarca o petróleo levado por duto para a refinaria Alberto Pasqualini em Canoas.
O prefeito de Osório Romildo Bolzan Jr., que é advogado, mandou o Jurídico da Prefeitura recorrer mas, já prevendo o corte dos royalties neste e nos próximos meses, ordenou uma revisão do programa de obras na cidade. “Vamos ter de apertar o cinto”, diz Bolzan, que vivia uma fase de opulência orçamentária invejada por outros prefeitos.
A contenção reduzirá principalmente a pavimentação e a iluminação de ruas. Atingirá também um projeto de urbanização do entorno da Lagoa do Marcelino, o corpo d’água mais próximo do centro. Deve ser afetada parcialmente, ainda, a obra de saneamento básico da cidade, o mais importante investimento do município, sustentado basicamente pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
Se ficar mesmo sem os royalties do petróleo, Osório perderá cerca de R$ 8 milhões no orçamento anual, dinheiro que vinha pingando nos cofres da prefeitura graças a uma liminar impetrada em 2002 contra a Agência Nacional de Petróleo (ANP), que lhe nega o direito ao benefício porque o município não possui monobóia – instalação portuária flutuante para recebimento de petróleo. Pela rigorosa interpretação da ANP, apenas Tramandaí teria esse direito no Rio Grande do Sul.
Embora o processo seja “complexo, muito difícil” (palavras do prefeito), o Jurídico de Osório vai continuar reivindicando o direito aos royalties, pois tem instalações de armazenagem e bombeamento de petróleo, na divisa com Tramandaí, no litoral. Na realidade, é graças a esses equipamentos que o petróleo garante ao município outros R$ 3 milhões mensais oriundos do Fundo de Participação no ICMS, do qual Osório é o quinto maior beneficiário, logo atrás de Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul e Gravataí.
Mesmo sem os royalties petrolíferos, Osório continua sendo uma das prefeituras mais ricas do Rio Grande do Sul, com um orçamento bruto de R$ 180 milhões este ano. Além do petróleo, as outras grandes fontes de receitas do município no século XXI foram as obras de duplicação da BR-101 Sul, a construção do parque eólico da Ventos do Sul (o primeiro do estado, em vias de duplicação) e a própria produção de eletricidade a partir do vento.

Portugueses vão investir R$ 2 bilhões em energia no Brasil até 2012

Geraldo Hasse
O parque eólico de Tramandaí ainda não saiu da horizontal, ou seja, está na fase da construção das estradas de acesso e de ligação entre as 31 torres de suporte dos aerogeradores com potência total de 70 MW.
Até agora nenhum megaguindaste chegou ao Jardim Atlântico, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Como aconteceu na implantação do parque eólico de Osório, cinco anos atrás, é mínima a movimentação de pessoas e máquinas nas proximidades das dunas entre Oásis do Sul e Jardim do Éden, dois bairros da zona sul de Tramandaí.
Na prática, ainda não começou para valer o desembolso de R$ 350 milhões pela dona da obra – a EDP Renováveis, controlada pela Eletricidade de Portugal, que entrou no Brasil em 1992, quando comprou a Escelsa, de Vitória.
Além de controlar a distribuidora Bandeirante, em São Paulo, a EDP é dona de alguns cataventos com potência de 13,8 MW em Santa Catarina.

O investimento no litoral norte gaúcho é uma parcela menor dos R$ 2 bilhões que a EDP promete aplicar em energia no Brasil até 2012.
Os principais fornecedores de equipamentos são os mesmos da usina de Osório. Toda a tecnologia, incluindo os aparelhos geradores, é da alemã Wobben Windpower.
As torres prémoldadas estão sendo construídas em Gravataí pela Woebcke, também contratada para fornecer outras 150 torres para a expansão de Osório e as novas usinas de Palmares do Sul (do mesmo controlador da usina osoriense) e Santana do Livramento, tocada pela Eletrosul.
A área de 832 hectares reservada para o parque eólico, junto à Lagoa da Custódia, está envolta em controvérsias, não apenas porque o projeto da usina foi embargado pela Fepam e pela Patram, mas porque esteve durante muito tempo sob controle da outrora próspera imobiliária Kury & Padilha, cujo sócio mais notório era Eliseu Padilha, ex-prefeito tramandaiense, ex-ministro dos Transportes e um dos principais dirigentes do PMDB gaúcho.
Fazendo uma ligação com o passado, muita gente afirma que Padilha seria o único dono da área. A informação é desmentida por um corretor imobiliário de Oásis do Sul.
Ele afirma que, a exemplo do parque eólico de Osório, os cataventos de Tramandaí pagarão arrendamento a diversos proprietários.
Praticamente deserta há 40 anos, quando foram iniciados os loteamentos de Nova Tramandaí, Oásis do Sul e Jardim do Éden, essa região tem hoje 390 comerciantes, seis mil moradores fixos e atrai 60 mil veranistas do Natal ao Carnaval.