A avaliação é do jornalista Renato Rovai, editor da Revista Fórum. Embora não tenha ligação formal com o Fórum Social Mundial, a publicação paulista foi criada durante o evento, em 2001, em Porto Alegre.
Desde então, vem acompanhando os movimentos sociais e midiáticos inspirados na auto-gestão, ideia disseminada pelos Fóruns e até hoje pouco compreendida pela maioria da sociedade.
Leia o seu relato da entrevista do Mídia Ninja ao Roda Viva.
Pablo Capilé e Bruno Torturra estiveram na noite desta segunda-feira no Roda Viva da TV Cultura. Deram um show e uma aula de comunicação para uma bancada que parecia atordoada e sem conseguir entender o que está acontecendo por fora das corporações midiáticas.
A bancada do programa foi coordenada pela última vez por Mário Sérgio Conti, que será substituído pelo glorioso Augusto Nunes. Além dele, participaram do debate Eugênio Bucci, Caio Túlio Costa, Suzana Singer e Alberto Dinnes. Por parte de alguns, o espetáculo foi deprimente. Sem exagero.
Alberto Dines parece ter sido o único a entender o significado da Mídia Ninja. E foi também o único que tentou debatê-la como uma nova experiência jornalística e não como coisa de um grupo que precisa explicar de onde vem o dinheiro que o financia e a que partido seus integrantes estão vinculados.
Tudo que acontece por fora do mercado tradicional só pode ter algum vínculo com grupos políticos. E tem sempre algo de suspeito. Foi esse o recado que a turma dos jornalistas tentou mandar pra audiência. E foi desmoralizada na tese com respostas tranquilas e equilibradas de Torturra e Capilé.
Suzana Singer teve que engolir seco e ver Capilé relembrando uma coluna dela onde a ombudsmann da Folha chamava a atenção para o fato de o jornal não citar o PSDB num escândalo.
Muito mal
Mário Sérgio Conti também ouviu, quase que tossindo, Torturra dizer que a TV Cultura também não é tão independente assim até porque nunca tratou com transparência o caso da demissão de Heródoto Barbeiro. Pra quem não conhece a história, Heródoto foi demitido a pedido de Serra .
Eugênio Bucci foi muito mal. Quando se viu perdido decidiu fazer perguntas tão longas que parecia querer se auto-entrevistar. Ao falar de quanto se gasta em publicidade no governo tentou exagerar nos números dizendo que nos dados que Capilé trouxe não contabilizavam os recursos das estatais.
E contabilizavam. Falou do governo federal, mas não citou, por exemplo, os gastos do governo do Estado. Aliás, ele sempre se esquece desse “personagem” quando trata do assunto. Proporcionalmente o governo do Estado de São Paulo gasta muito mais com publicidade do que o governo federal.
O Roda Viva de ontem foi uma demonstração de como o jornalismo tradicional envelheceu algumas décadas nos últimos anos. Se fosse um jogo de futebol, o baile que a bancada tomou da dupla Capilé e Torturra teria sido mais constrangedor do que a que o Santos levou do Barcelona. Foi triste de ver.
Mas ao mesmo tempo também foi feliz. Tem coisa nova rolando. E o jornalismo não é mais refém da turma do mesmo de sempre. Hoje ele tá na mão de quem acredita na reinvenção
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Guerrilheira ambiental Giselda Castro, um exemplo de cidadania
A morte de Giselda Escosteguy Castro aos 89 anos no domingo 4/3, no final verão mais quente de Porto Alegre nos últimos 50 anos, sugere o quanto estava certa a mais brava das militantes gaúchas ao juntar as bandeiras do feminismo às causas do movimento ambientalista, ao lado de Augusto Carneiro e José Lutzenberger (1926-2002), fundadores da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), criada em 1971.
“O Lutzenberger usou essas militantes como escudo para ganhar espaço na imprensa e na sociedade – ele era um estranho no ninho”, diz o jornalista Elmar Bones, que editou em 2002 o livro Pioneiros da Ecologia – Pequena História do Movimento Ambiental no Rio Grande do Sul. Claro que havia a recíproca: as mulheres se aproveitaram da garra e da lucidez de Lutz para ampliar o alcance de suas lutas, originalmente restritas a causas como o aleitamento materno, o uso da pílula anticoncepcional, a luta contra o machismo e a favor dos direitos civis em geral.
Por serem mais ou menos ricas, Giselda e suas mais constantes companheiras Magda Renner e Hilda Zimmermann chegaram a ser tratadas como “as madames das Três Figueiras”, bairro da elite econômica de Porto Alegre, mas sua dedicação a causas comunitárias extrapolou as fronteiras da alienação característica dos anos do “milagre econômico” (1968/1973).
Sua militância adquiriu conotação de contestação às práticas do capitalismo dito selvagem, já que a maioria dos empresários no Brasil e no mundo se comprazia na patrolagem do meio ambiente, não respeitando encostas, banhados, mangues nem áreas de marinha no litoral e em cursos d’água.
Num momento em que poucas mulheres mais jovens se engajaram na luta armada contra a ditadura, elas usaram as palavras como armas. E segundo diversos depoimentos Giselda era a mais indignada, aquela que encabeçava as iniciativas, numa mistura impressionante de destemor, discernimento e pragmatismo.
“Antes burgueses conscientes do que uma elite irresponsável ou uma classe média indiferente à cidadania”, diz Celso Marques, ex-presidente da AGAPAN. Para ele, Giselda, Magda e Hilda foram “exemplos de cidadania”.
Fã de Giselda Castro e suas companheiras de ativismo civil, Marques lembra-se de ter participado de uma caravana de ambientalistas que foi a um evento internacional em Washington em 2001, na época dos primeiros confrontos entre o Fórum Econômico de Davos e o Fórum Social Mundial de Porto Alegre.
As intervenções brasileiras foram marcantes. Enquanto Giselda Castro exigiu que o Banco Mundial deixasse de emprestar dinheiro a governos e empresários predadores do meio ambiente, o cacique indígena matogrossense Ailton Krenak apelou para uma rica metáfora: segundo ele, os brancos são navegadores que se esforçam para furar o fundo da própria embarcação em que navegam – a Terra.
Interessante a mudança de foco e de imagem dessa aguerrida militância de Porto Alegre. Completamente despida de suas cores políticas originais, a entidade criada por elas (Ação Democrática Feminina Gaúcha, contrária ao vermelho do comunismo e, portanto, a favor do golpe de estado contra o governo do presidente João Goulart) converteu-se no Núcleo Amigos da Terra, uma instituição ecológica com ramificações internacionais.
A nova identidade começou a surgir em 1983, quando a ADFG assumiu a representação no Brasil da Amigos da Terra, criada anos antes nos EUA. Nos anos 1990, criou-se na entidade uma ala jovem que praticamente asssumiu a sua direção, enquanto as pioneiras refluíam para a retaguarda, de onde só saíam a pedido, em momentos muito especiais.
A geóloga Lucia Ortiz, atual coordenadora do NAT, lembra que no Fórum Social Mundial de 2001 Giselda Castro fez uma exposição sobre as relações entre os governos e as entidades internacionais como o Banco Mundial. Foram manifestações como essa que levaram à adoção de novos parâmetros na concessão de financiamentos para projetos governamentais e empresariais.
Com 80 sócios contribuintes em Porto Alegre, o NAT trabalha no momento em torno da Conferência Rio+20, marcada para junho próximo no Rio, onde serão discutidos os avanços e recuos das políticas ambientais no Brasil e no mundo. Ali Giselda e outras certamente serão lembradas como atletas exemplares de uma corrida de revezamento sem limites.
Precursoras
Sem querer/querendo, Giselda e suas companheiras foram pioneiras na defesa dos direitos dos contestadores numa época em que reuniões com mais de meia dúzia de pessoas eram vistas como subversão da ordem vigente. Como é da natureza da maioria dos civis, elas tinham medo de gente fardada, mas se sentiam à vontade nos ambientes de poder e mando.
Assim, antes de qualquer manifestação de rua, visitavam as autoridades para pedir proteção. Fizeram parte, à sua maneira, do movimento de resistência à ditadura. Foram as formiguinhas precursoras dos protestos globais contra as desigualdades criadas pela voracidade do mundo empresarial.
Tiveram a intuição de que não se podia ficar de braços cruzados enquanto o equilíbrio do meio ambiente corria perigo diante da aliança entre a voracidade empresarial e os incentivos das autoridades militares, nos idos de 1970.
Quando achavam que era preciso reclamar ou reivindicar, mobilizavam-se, pediam audiência e davam seu recado. No livro Pioneiros da Ecologia, Giselda Castro conta que ela e Magda Renner foram recebidas em 1976 pelo presidente Ernesto Geisel em Brasília. Prepararam-se para dar o recado em cinco minutos e cair fora. O assunto era planejamento familiar.
A conversa se estendeu por quase uma hora. Nenhuma das partes encontrava o jeito de encerrar. Nervosa, preocupada com a agenda do presidente, Giselda deixou cair a bolsa no chão. Agachou-se no mesmo momento em que o general fez o mesmo. O choque de cabeças foi inevitável. “Foi um momento memorável”, concluiu Giselda, lembrando-se do final da audiência.
Geisel: “Se as senhoras não têm mais nada a dizer eu vou pedir licença”.
Giselda: “E o senhor tem alguma coisa para nos dizer?”.
Geisel: “Tenho. Continuem trabalhando.”
(Geraldo Hasse, Sul21)
Convivência pacífica e troca de experiências marcam o acampamento da juventude
Por Francisco Ribeiro
Fotos – Andressa Konzen
O Acampamento Intercontinental da Juventude, no Parque da Harmonia, recebeu cerca de três mil pessoas, a maioria estudantes universitários, de 19 a 25 anos, durante o Fórum Social Temático, que se encerra neste domingo.
São provenientes de todos os estados brasileiros e também da América Latina – argentinos, chilenos, costa-riquenhos, paraguaios, venezuelanos, uruguaios –, mais alguns poucos europeus, como espanhóis e até um russo, que durante cinco dias debateram temas concernentes ao Fórum, trocaram experiências em diversas áreas de atuação, namoraram e assistiram muitos shows.
Segundo Isabel Bretanha – funcionária pública responsável pela organização do acampamento – até a manhã de sábado, penúltimo dia do Fórum, não havia sido registrado nenhum incidente pelos 150 seguranças que patrulham a área: “o que prova o bom entendimento entre as pessoas, apesar da diversidade de comportamentos e opiniões políticas”, salientou. Para ela, a proibição de venda de bebida alcoólica na praça de alimentação “colaborou para coibir os excessos, tão comuns entre jovens”.
Quem entra no acampamento logo percebe que não se trata de um camping comum. O fotógrafo João Dias, ao fazer um plano geral, disse que pela associação de diferentes grupos de pessoas “tinha a impressão de estar diante de um mix de Woodstock de esquerda com feira hippie”.
Não chega a ser bem isso. Há muita música, mas não apenas rock. Ouve-se rap/hip hop, reggae, MPB, música latina, clássica. Também não há somente esquerdistas, como prova o coloridíssmo grupo underground evangélico do Ministério João 3: 16, uma espécie de cristão-hippies.
De resto, Organizações, coletivos, partidos políticos que desfraldam suas faixas, demarcando o seu território, sempre aberto a novas adesões. Há muita oferta de artesanato, botons, camisetas e, claro, muita disposição para uma boa discussão política. Tudo num ambiente limpo, organizado, cheio de banheiros químicos para que ninguém se aperte, pias para lavar roupa e louças. Muita oferta de comida a preços nem tão camaradas, e muitos preferem andar alguns poucos quilômetros e fazer compras nos supermercados.
Entre os brasileiros, chama atenção a quantidade de estudantes cariocas. E isso ocorre porque – sendo consenso que o FST é uma previa dos grandes debates que ocorrerão em junho, na capital fluminense, por ocasião da a Rio + 20 – as principais universidades públicas do estado do Rio de Janeiro – UFRJ, UERJ e UFF – atenderam as reivindicações dos seus acadêmicos, disponibilizando diversos ônibus para que viessem a Porto Alegre.
“Como estudante de geografia, os debates sobre as questões ambientais e desenvolvimento sustentável são fundamentais”, diz Danilo Santana, 24 anos, da UERJ, que tem tatuado no peito uma foice e um martelo: “isso é do tempo em que eu era um ultra, não é mais o caso”, esclarece, bem humorado.
Também da UERJ, Mariana Busch, 19 anos, estudante de Direito – integrante do Coletivo Levante! –, diz que veio ao FST porque é socialista e quer construir um mundo melhor: “o Fórum também é um ótimo espaço para dialogar com outros grupos, como indígenas, trabalhadores rurais”, acrescenta.
Já o chileno Gastón Urrutia, da Universidad del Bio-Bio, Concepción, Chile, salienta que a troca de experiências na área da educação “foi muito rica e servirá para traçar novas abordagens e ações na América Latina”.
Um Fórum, dois mundos: legitimidade do Fórum Social Mundial é questionada
Por André Guerra
Ativistas ligados a movimentos sociais alegam que o FSM teria se transformado em um “megaevento”.
“A coisa toda me parece, cada vez mais, um megaevento, como uma Olimpíada ou Copa do Mundo: um formato fechado, uma periodicidade definida e um alto investimento para acontecer. O fórum se tornou um evento que não faz a pergunta necessária: será que ainda está realmente servindo como espaço de organização para os movimentos sociais?”, critica Rodrigo Guimarães Nunes. Ele é PhD em filosofia pela Universidade de Londres, editor da revista internacional Turbulence e membro do Comitê Popular da Copa de Porto Alegre.
Guimarães Nunes tem um histórico considerável em participações no Fórum Social Mundial: participou ativamente na organização de todas as edições de Porto Alegre, desempenhando várias funções de 2001 a 2005. Em 2003 e 2005, ele foi organizador do Acampamento Intercontinental da Juventude e, em 2005, organizador do espaço Caracol Intergalactika. Além disso, Guimarães Nunes participou dos Fóruns Sociais Europeus de Paris (2003), Londres (2004) e Atenas (2005). No Fórum de Londres, ele esteve envolvido no processo de organização do evento principal e dos espaços autônomos.
Representatividade social
“A partir de 2004, o movimento global entra em refluxo, e a dinâmica do FSM se descola, se torna auto-referencial. Nesse meio tempo, ele passou a funcionar menos como um espaço de articulação a serviço dos movimentos, e mais como uma ferramenta na mão de seus organizadores, que passam a se posicionar como ‘mediadores’ entre os movimentos e os governos, usando o fórum para se cacifarem politicamente”, analisa Guimarães Nunes.
Em outras palavras, os ativistas consideram que, justamente quando a verdadeira representatividade social do fórum diminuiu, ele teria começado a se fazer passar por legítimo “representante” das reivindicações por transformações sociais. Um exemplo disso seria a apresentação de governos progressistas eleitos como a realização das reivindicações sociais de dez anos atrás. Na visão dos ativistas, isso seria uma forma limitada de compreender os anseios dos movimentos populares.
“O fenômeno da ‘falsa representação’, que ocorreu desde o início, se torna mais forte quando o movimento global recua. Daí a prática, por exemplo, de abrir os fóruns com a presença de presidentes como Hugo Chávez, Evo Morales e etc. Nada contra eles, mas o problema é que, se quisermos ter mediadores entre nós e o governo, gostaríamos de poder escolhê-los, e não tê-los indicados pela organização do fórum”, explica Guimarães Nunes.
Para os ativistas, o espaço deveria resgatar a capacidade de mobilização social, colaborando para identificação coletiva das dinâmicas necessárias às transformações sociais e ultrapassar a questão meramente eleitoral.
“Não quero diminuir em nada os muitos méritos desses governos progressistas, mas o FSM deveria servir para a organização e fortalecimento dos movimentos sociais entre si. Parece que ninguém, dentro do FSM, se pergunta por que os movimentos estão cada vez menos interessados no fórum, por que as lutas mais novas não veem nele um espaço relevante e etc.”, alerta Guimarães Nunes.
Esvaziamento popular
Como exemplo do que representaria um “esvaziamento” do fórum, Guimarães Nunes lembra que eventos ocorridos no mundo, em 2001, influenciaram diretamente o engajamento popular no fórum de 2002. Entre os eventos citados, ele traz as manifestações ocorridas em Gênova, na Itália, contra a reunião do G-8. Em função do encontro das potências, durante os dias 19 e 22 de julho daquele ano, o movimento antiglobalização organizou dezenas de protestos nas ruas de Gênova. Os protestos foram reprimidos com grande violência pela polícia local, resultando na morte do manifestante italiano de 23 anos, Carlo Giuliani, atingido pelo disparo feito por um policial contra a multidão.
“Compare: 2001 foi o ano da dura repressão ao G8, do 11 de setembro e da crise da Argentina. Em 2002, Porto Alegre estava cheia de italianos, estadunidenses e argentinos, gente comum, não lideranças ou intelectuais. Eram pessoas que consideravam aquele espaço importante. Se fosse hoje, você teria uma pessoa da Espanha, uma da Tunísia, uma do Egito e uma dos Estados Unidos, todas convidadas pelos organizadores para contar algo sobre a Primavera Árabe, sobre o Occupy. Mudou o FSM ou mudou o mundo? Principalmente o mundo, mas o FSM não acompanhou”, pontua Guimarães Nunes.
Isolamento
Os ativistas também levantam a questão de o fórum ter se tornado um evento estruturalmente dependente de grande apoio financeiro e governamental, o que inviabilizaria a função de promover o diálogo e a democratização das relações onde isso fosse realmente necessário.
“O fórum tornou-se uma dinâmica independente dos ritmos e das demandas dos movimentos sociais: para se viabilizar, ele necessita de um alto investimento, tornando-se dependente de financiadores. Uma coisa que ninguém parece perceber é que jamais ocorrerá um FSM num local em que esteja havendo um conflito mais intenso. E isso é óbvio. Como ele depende de altos investimentos e do apoio dos governos locais, ele só pode ir a lugares ‘amigos’. Mas uma convergência de forças como um fórum mundial não seria muito mais importante em um lugar onde estivesse ocorrendo um conflito?”, questiona Guimarães Nunes.
Novos horizontes
Os ativistas pontuam, ainda, que o FSM seria um espaço de um movimento mais amplo, criado pelos movimentos sociais a partir de seus próprios espaços de convergência. Para os ativistas, eventos dessa linha deveriam partir de “questões mais imediatas, organizados pelos interessados mais diretos, com metodologia apropriada a seus fins e sem ter ambições de ser aquilo que engloba todas as outras manifestações”. Além disso, eles enfatizam que o fórum não possui a mesma relevância produzida em suas primeiras edições.
“O FSM foi uma experiência enriquecedora nessa história e ainda há muitas lições para extrair de sua trajetória, de seus erros e acertos. Mas, atualmente, ele vale muito mais por aquilo que foi há dez anos atrás do que por qualquer relevância efetiva que realmente ele tenha hoje”, encerra Guimarães Nunes.
Diretor-geral da ONU abre programação do Fórum Social Temático
Garantir acesso a alimentos em quantidade e qualidade para todas as populações é o tema da primeira atividade do Fórum Social Temático (FST), que começa na terça-feira (24), às 8h30, com a palestra do diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano, no Palácio Piratini, em Porto Alegre.
Está será a primeira atividade de Graziano no Brasil após assumir o cargo.
O colóquio “A importância da sociedade civil para a Segurança Alimentar e Nutricional” contará com a participação do governador Tarso Genro; do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e conselheiro do CDES nacional Alberto Broch; do presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea) do RS, Miguel Medeiros Montaña; e do conselheiro do CDES-RS, Sérgio Schneider, professor associado do Departamento de Sociologia da Ufrgs.
A atividade é organizada pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social gaúcho, com apoio do Consea e da FAO.
Preparando a Rio+20
O tema segurança alimentar e nutricional está entre as questões prioritárias do documento inicial da Conferência Rio+20, divulgado pela ONU no dia 10 de janeiro, que reúne contribuições de diversos países e vai nortear as discussões durante a Conferência, em junho de 2012, no Rio de Janeiro.
Dilma vem, mas vai ter que ouvir
Está confirmada a participação da presidente Dilma Rousseff no Fórum Social Temático (FST), que acontece entre os dias 24 e 29 de janeiro nas cidades de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo. Ela será a estrela do painel “Diálogos da Sociedade Civil com os Governos”, no dia 26 de janeiro, às 19 horas, no Gigantinho. A presidente vai dividir o palco com seu colega uruguaio José Pepe Mujica – que volta a Porto Alegre dois meses depois de ter sido recebido pelo governador Tarso Genro.
O nome do debate no qual os mandatários latino-americanos vão estar não é decorativo. Nele será aberta uma janela para que as organizações possam apresentar ideias e proposições sobre os rumos de cada um dos países e do bloco regional como um todo.
“Estamos discutindo uma metodologia de trabalho para permitir essas intervenções. Mais do que saber o que os países pensam em fazer queremos que o Estado ouça os movimentos sociais”, pontua o presidente da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT-RS), Celso Woyciechowski, que pertence ao Comitê Organizador do evento.
Escutar as demandas das organizações vai ser um desafio para Dilma Rousseff. A presidente vem sendo atacada por movimentos ecologistas por estar a frente de um governo cujas políticas de desenvolvimento – assim como as costuras partidárias necessárias no governo de coalizão – muitas vezes atropelam o cuidado com o meio ambiente.
A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e a recente aprovação do novo Código Florestal certamente serão alvo de questionamentos. “A presença das presidente representa a possibilidade que teremos de apresentar nossas críticas ao modelo de desenvolvimento do Brasil e da maior parte do mundo, que não é sustentável. E Belo Monte está no centro dessa discussão”, alfineta Woyciechowski.
Outro elemento indicativo de que a presidente deve estar preparada para ser questionada é o fato de que o Fórum Social Temático é um evento preparatório para a Cúpula dos Povos da Rio+20, a conferência que vai refletir sobre as duas décadas que se passaram desde a Eco92.
Apesar de o lema deste ano ser mais amplo – Crise capitalista, justiça social e ambiental – o FST vai ser dominado por atividades relacionadas à preservação da natureza. Mesmo debates que abordem os demais assuntos anunciados no subtítulo do evento serão abordados sob a ótica ecologista.
Um exemplo será o Fórum Mundial da Educação, um encontro paralelo que também está ligado ao Fórum Social Mundial. Ainda que a discussão se centre, naturalmente, no sistema educacional e suas problemáticas, ela será atravessada pelo tema meio ambiente.
“Sabemos que educação e meio ambiente estão fortemente relacionados. Nosso desafio vai ser justamente mostrar esse vínculo, como os problemas na natureza afetam a educação e como podemos trabalhar diante dessa realidade”, analisa o coordenador do evento, Albert Sansano Estradera.
Também fazem parte da programação atividades do Fórum Mundial de Saúde e do Fórum de Mídia Livre.
Cidades, habitação e água como subtemas
Outro exemplo de que todas as discussões serão permeadas pela temática da Rio+20 é a forma como as atividades nas cidades da Região Metropolitana foram organizadas. Ainda que tratem de questões diversas, elas estão intimamente ligadas à ecologia.
Em Canoas, os seminários vão abordar a questão das Cidades; São Leopoldo concentrará as abordagens sobre Habitação e Novo Hamburgo sediará as reflexões sobre Água.
Assembleia dos movimentos sociais, que será realizada no dia 28, às 13h, no mezanino da Usina do Gasômetro, vai definir os encaminhamentos para a Rio+20. “Queremos entregar um documento com propostas concretas de acordos para este outro evento”, ponderou outro organizador do FST, Mauri Cruz.
Novos líderes terão espaço próprio
Além dos chefes do Executivo brasileiro e uruguaio, o Fórum Social Temático vai receber participantes tradicionais do evento – mais de 400 conferencistas estão sendo esperados.
“Teremos aqueles convidados históricos como Leonardo Boff, Boaventura de Souza Santos, Ignacio Ramonet e Frei Betto”, anunciou o membro do Comitê Organizador, Mauri Cruz.
São ativistas que deverão atrair um público estimado entre 20 e 50 mil pessoas. O destaque, entretanto, para Cruz, serão os encontros diários com as “novas lideranças políticas mundiais”, como ele se refere.
Trata-se dos protagonistas dos movimentos contemporâneos que mais tem questionado o modelo econômico e político mundial vigente. São membros do Ocuppy Wall Street, que condena a concentração de riquezas e de poder nas mãos dos integrantes do sistema financeiro, dos Indignados, cuja mobilização pede uma renovação nas ideias e propostas dos governos europeus, e integrantes das revoluções que deram origem à chamada Primavera Árabe, a sequência de manifestações populares que derrubou ditaduras longevas em países como Egito e Líbia e que mantêm a população vigilante em outras nações do norte da África e do oriente Médio.
“Será uma troca muito rica entre os jovens de hoje e os que protagonizaram a ECO92, que já estão mais velhos”, aponta Cruz.
As conferências dos novos líderes mundiais acontecerão diariamente das 12h às 14h no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, no final da tarde, na Casa de Cultura Mario Quintana.
A programação completa do Fórum Social Temático pode ser acessada aqui: http://www.fstematico2012.org.br/imagens/programacao.pdf
Por Naira Hofmeister
Fórum terá discussão sobre Comunicação
Dias 27 e 28 de janeiro, acontece na Casa de Cultura Mário Quintana, a terceira edição do Fórum de Mídia Livre. O evento deve atrair profissionais da comunicação, blogueiros, usuários e criadores de softwares livres – que discutirão maneiras para uma maior apropriação tecnológica por parte da população, e como usarem a comunicação como ferramenta de democracia.
O encontro se dará juntamente com o espaço Conexões Globais, dedicado a oficinas e práticas de comunicação com uso de internet, e que visa entender como ações globais de Cidadania podem ser conectadas através de mídias como a internet e redes sociais.
No Fórum de Mídia Livre o objetivo, segundo os organizadores, é uma construção de propostas estratégicas para a democratização da mídia, longe de um debate corporativo entre pequenos meios. Participarão organizações como Intervozes, Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e Fórum Nacional pela Democratização da Mídia (FNDC), movimento Blog Prog (blogosfera progressista), além de publicações como Revista Fórum e Viração, entre outros.
Os encontros terão contribuições de palestrantes da América Latina e presenças vindas da primavera árabe – que farão uma ponte com o I Fórum de Mídia Livre no mundo afro-árabe, programado para este primeiro semestre.
A programação geral do III Fórum de Mídia, que está entre as atividades alternativas do Fórum Social Temático, poder ser conferida no site www.forumdemidialivre.org
FST 2012 abre calendário de eventos preparatórios para Cúpula dos Povos
O Fórum Social Temático 2012 será o primeiro de uma série de eventos preparatórios para a Cúpula dos Povos, em junho, no Rio de janeiro.
A Cúpula dos Povos será uma reunião paralela de movimentos e ativistas sociais e ambientais que vão apresentar propostas alternativas ao documento produzido na cúpula das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável, a Rio +20.
No FST 2012, 9 Grupos Temáticos já estão reunidos em torno dos temas relevantes à questão do desenvolvimento sustentável.
Quem quiser participar da discussão pode se inscrever em dialogos2012.org.
Confira abaixo, a agenda de eventos:
24 e 29 de janeiro de 2012
Fórum Social Temático
Tema: Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental
Porto Alegre e Região Metropolitana – RS
Fórum Mundial de Educação Temático Justiça Social e Ambiental
Porto Alegre e Gravataí, RS
www.forummundialeducacao.org
28 a 31 de março
VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental
Centro de Convenções
Salvador – BA
http://midiasocial.rebea.org.br/foruns-de-ea
15 a 23 de junho de 2012
Cúpula dos Povos na Rio+20 Por Justiça Social e Ambiental
Aterro do Flamengo
Rio de Janeiro – RJ
www.cupuladospovos.org.br
20 a 22 de junho de 2012
Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento sustentável – RIO+20
Riocentro Convention Center
Rio de Janeiro – RJ
www.rio20.info/2012
Abertas inscrições para o Acampamento da Juventude do FST 2012
Faltam 28 dias para ter início o Fórum Social Temático 2012 – o evento está previsto para ocorrer de 24 a 29 de janeiro. O prazo único de inscrições, porém, termina bem antes – na primeira sexta-feira do próximo ano, dia 6 de janeiro.
Esta é a data limite tanto para quem deseja apenas assistir à programação quanto para aqueles que pretendem desenvolver iniciativas no encontro – atividades autogestionárias, participação como voluntário ou mesmo garantir espaço para a própria barraca no Acampamento da Juventude.
O Acampamento da Juventude ocupará o tradicional espaço já ocupado em outras edições de Fóruns, no Parque Harmonia, região da orla do Guaíba, em Porto Alegre. O valor da inscrição é de R$ 20,00 e dará direito à participação nas atividades do FST 2012.
Todos os participantes receberão uma bolsa e uma caneca de plástico reciclada. Para fazer a sua inscrição, entre em http://www.fstematico2012.org.br/acampamento.
A organização do FST 2012 aproveita para lembrar que inscrições para todas as demais modalidades de participação no FST 2012 só terão validade quando feitas no site oficial do evento, em http://www.fstematico2012.org.br
A edição do FST tem como temas Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental e é preparatória à Cúpula dos Povos da Rio+20 – em maio e junho de 2012, no Rio de Janeiro. Os debates irão contemplar questões relacionadas a movimentos sociais em todo o mundo, desigualdades políticas e sociais, além da situação econômica e ambiental.
O Comitê Organizador do FST destaca a necessária reinvenção do mundo, com respostas para o agravamento da crise social nas economias centrais e contra a desigualdade e a crise ambiental. Porto Alegre e Região Metropolitana serão o ponto de encontro para tais debates.
O objetivo do comitê e “tornar a capital gaúcha sede permanente de discussões, onde se possa debater e refletir sobre as desigualdades e injustiças políticas e sociais, fazendo um contraponto ao Fórum Econômico realizado em Davos, na Suíça”. A ideia é firmar Porto Alegre como referência nesses temas e que todos os anos o debate por outro mundo possível, que se consolidou desde o primeiro FSM, no ano de 2001, aconteça aqui, independentemente de se realizar em qualquer outra parte do mundo.
Outros destaques do FST serão o Fórum Mundial de Educação, a Feira de Economia Solidária e a Aldeia da Paz, que pretendem servir como exemplos de espaços de sustentabilidade ambiental e social.
Os Grupos Temáticos se encontrarão em Porto Alegre nos dias 25 e 26 de janeiro de 2012 para a sistematização dos debates. Nos dias 27 e 28 de janeiro haverá articulação dos vários diálogos entre si ao redor dos eixos temáticos. Para estes encontros já estão confirmadas mais de 200 atividades.
As ações podem ser promovidas por pessoas ou entidades e precisam se encaixar em um dos quatro eixos temáticos fundamentais do evento:
Eixo1 – Fundamentos éticos e filosóficos: subjetividade, dominação e emancipação.
Eixo 2 – Direitos Humanos, povos, territórios e defesa da mãe terra.
Eixo 3 – Produção, distribuição e consumo: Acesso às riquezas, bens comuns e economia de transição.
Eixo 4 – Sujeitos políticos, arquitetura de poder e democracia.
As atividades podem acontecer em uma das quatro cidades que receberão o FST 2012, sendo elas Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo. O proponente deve também escolher a cidade onde realizará sua ação, entre as quatro.
Os acampados vêm aí
O Acampa Sampa já discute como trazer o movimento para o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. O movimento global dos acampados atrai cada vez mais adeptos mundo afora.
No Brasil, chegou por São Paulo, centro financeiro da América Latina. Instalou-se dia 15 de outubro no Vale do Anhangabaú, sob o Viaduto do Chá, onde há 27 anos teve início o movimento das Diretas Já, que marcou o processo de redemocratização do país.
Agora, a juventude acampada questiona que democracia é esta. O protesto prolongado declara-se apartidário e pela não-violência, “anticapitalista sem necessariamente ser socialista”, e quer alertar para a baixa representatividade das instituições democráticas, as mazelas sociais e ambientais.
Como ocorreu quando a população foi às praças pedir eleições diretas em 1984, não adianta querer se informar sobre o movimento lendo os grandes jornais. Os acampados espalham seus princípios pelas redes sociais da Internet, mas não são virtuais, e têm endereço.
As 1.500 pessoas do Acampa Sampa ainda não chamaram a atenção da grande imprensa. Só da polícia paulista. No máximo, a televisão noticia “protestos contra a redução dos subsídios à saúde e educação” na Inglaterra, e devido à crise financeira na Grécia.
Nem Caco Barcellos, o mais inquieto e atento repórter da TV Globo, conseguiu furar o bloqueio. O seu programa “Profissão Repórter” conseguiu mandar uma equipe para Londres, e depois Grécia, e ele próprio reportou de Nova York o Occupy Wall Street.
Mas nenhuma informação sobre o Acampa Sampa, que continua com uma base sob o Chá, passou três semanas em plena avenida Paulista e desde 5 de dezembro está em frente à Assembléia Legislativa.
O início foi em 15 de maio, na Espanha, e alcançou os Estados Unidos com a ocupação de Wall Street. No dia 15 de outubro várias redes sociais incentivaram marchas e acampadas em pelo menos 900 cidades de 82 países.
São Paulo foi uma delas. Segundo os organizadores, o que os une “é o sentimento de que o povo não tem poder na política”. Militantes de partidos políticos que apareceram no Acampa Sampa com faixas e bandeiras foram vaiados até se retirarem.
Confira fotos no site do movimento
Por Patrícia Marini