Mujica pede integração da América Latina para uma defesa dos mais pobres

Em visita ao Estado, o presidente do Uruguai, José Mujica, foi recebido no Palácio Piratini e na Assembleia Legislativa.
Considerado uma liderança da esquerda no continente, as autoridades gaúchas trataram o presidente Mujica com todas as honras – ele recebeu homenagens e condecorações tanto do governador Tarso Genro, quanto da Assembleia Legislativa, através do deputado Adão Villaverde, presidente do parlamento gaúcho.
Aplaudido a cada manifestação, Mujica chegou a se emocionar no Palácio Piratini ao receber a ordem do Ponche Verde das mãos do governador Genro.
“Os países da América Latina sempre terão divergências. É da condição humana”, disse com voz baixa, de forma pausada e reflexiva, tom que pautou sua fala em todos os momentos. “Mas as diferenças se negociam aqui. Frente ao mundo não podemos estar divididos”.
Em seus dois discursos, na Assembleia e no Piratini, Mujica destacou a defesa dos pobres e a necessidade da integração da América Latina, principalmente na superação da crise econômica internacional.
Já na coletiva de imprensa, Mujica falou das possibilidades de acordo entre o seu país e o Rio Grande do Sul, citou causas que podem ser debatidas em conjunto como a questão da seca, que afeta a agricultura dos dois países.
Nas palestras, o presidente uruguaio defendeu que as classes menos favorecidas da sociedade não podem ser responsabilizadas por arcar com os custos da crise econômica que ataca os Estados Unidos e a Europa.
“Não podemos pagar o preço dessa, a crise não pode atingir os necessitados”, disse Mujica. O presidente afirmou ainda que se necessário “não vai cortar embaixo, se preciso, vai cortar em cima”, dos mais ricos.
Mas Mujica se mostrou otimista quanto à possibilidade de os países latino-americanos se manterem afastados do núcleo da derrocada econômica. “Teremos melhor capacidade de resistência em relação às últimas crises”.
Defensor da “unidade” das federações latinas, ainda comentou a necessidade de melhor articulação econômica entre os países do Mercosul para evitar episódios como os vetos argentinos sobre determinados produtos fabricados no Brasil, inclusive no Rio Grande do Sul, como automóveis e máquinas agrícolas.
“São contradições que existem no mundo dos negócios. Necessitamos de política fiscal convergente, acordos de macroeconomia. Argentina e Brasil têm que sentar e discutir isso. Se os sul-americanos querem ser alguma coisa no mundo, devemos ser defensores de nossas ações ordinárias”, disse o chefe de estado do Uruguai. Ao empresariado brasileiro foi pedido a liderança num processo de fortalecimento da integração na América Latina.
Ao comentar uma declaração do presidente francês, Nicolas Sarkozy, sobre um relatório do Fórum Fiscal Mundial que incluiu o Uruguai na lista de paraísos fiscais, respondeu, em tom de brincadeira: “acredito que o presidente francês teve uma briga com sua bonita mulher e o pegamos de mau humor. Coisas que acontecem. O Uruguai não vai declarar guerra a França, está tudo tranquilo”.
O assunto repercutiu no Uruguai nos últimos dias com especulações sobre interesses brasileiros e argentinos na inclusão do país como paraíso fiscal.
Homenagem dupla
Durante o evento na Assembleia, o deputado Adão Villaverde entregou a Mujica a Medalha do Mérito Farroupilha, a maior honraria concedida pelo Parlamento gaúcho. Pouco antes, no Palácio Piratini, o presidente uruguaio já havia recebido do governo estadual a Medalha do Ponche Verde.
Ao lembrar-se da história política do presidente Mujica, o governador Tarso Genro reconheceu que a trajetória de Mujica serviu de exemplo àqueles que lutaram pela democracia no Brasil: “a sua visita significa a sua história de dignidade, de luta. A sua história sintetiza a melhor rebeldia e o melhor amor com o povo latino-americano”, elogiou.
Comitiva inclui ministros, políticos e empresários
O presidente Mujica lidera nesta viagem ao estado uma comitiva de 140 pessoas, entre elas seis ministros, cinco prefeitos de municípios da fronteira, dois embaixadores e 74 empresários.
Tudo isso numa tentativa de aprofundar o processo de integração entre os dois países.
A vista do presidente continua nesta quarta-feira, ele terá encontros com empresário gaucho, na FIERGS. E, no final da tarde, na Casa de Cultura Mario Quintana, será desenvolvida uma programação de integração na área da cultura, com palestras e apresentações artísticas.

Servidores vão às ruas contra o pacote

Outdoors e cartazes assinados por 21 entidades de servidores públicos estaduais, e espalhados pelas ruas de Porto Alegre marcaram hoje o início das mobilizações contra os projetos que o governador Tarso Genro quer aprovar na Assembléia.
Amanhã, estão programadas diversas manifestações no Estado para exigir a retirada do pacote da Assembleia Legislativa que, segundo as entidades, ataca os direitos dos trabalhadores estaduais da educação.
Além da paralisação de um dia de aula, haverá vigília na Praça da Matriz, preparada por núcleos do CPERS/sindicato
A concentração será das 10h às 17h, As atividades, organizadas nos 42.núcleos do Sindicato, contarão com a participação de servidores de outras categorias do funcionalismo.
Os educadores não concordam com alterações na previdência estadual e no pagamento das Requisições de Pequeno Valor, as RPVs. Também são contra a criação de fundos de capitalização para os novos servidores.
As categorias entendem que ao separar os servidores entre atuais e novos, o governo acaba com o princípio da solidariedade.
No dia 22 deste mês, os trabalhadores da educação se reúnem em assembleia geral, a partir das 13h30, no Gigantinho, em Porto Alegre, para deliberar sobre a paralisação de trabalho nos dias em que os projetos de Tarso forem à votação no Legislativo.
O governador Tarso Genro, ao retornar de 17 dias no exterior, se mostrou confiante na maioria que tem na Assembléia e diz que os projetos serão aprovados. Nos próximos dias, ele terá um bom trabalho para evitar que os servidores ganhem a opinião pública. Aí,não tem maioria que segure.

Relatório mostra difícil situação da TVE

Pedro-Osorio_fund-piratini-300x225
Pedro Osório

O presidente da Fundação Cultural Piratini, Pedro Luiz Osório, coordenou durante três meses uma equipe técnica encarregada de fazer um diagnóstico sobre a TVE e a rádio FM Cultura. O relatório foi entregue na sexta-feira passada, dia 20, ao governador Tarso Genro e mostra a difícil situação por que passam as emissoras públicas.
O déficit no quadro funcional em todas as áreas chega a 57% e quase paralisou a programação da tevê e da rádio no final do ano passado. Uma ação do Ministério Público do Trabalho, em dezembro, provocou a demissão de 19 pessoas que ocupavam cargos de confiança por desempenho ilegal de função. Em dezembro, havia um repórter na TVE. Ainda não tem motoristas suficientes  para os sete carros e um caminhão. Teve que haver uma grande mobilização dos funcionários para manter a rede operando. Hoje, de um quadro de 371 pessoas, somente 168 estão trabalhando, entre concursados e CCs.
 
Redação TVE
Redação TVE

O último concurso ocorreu há pelo menos dez anos, durante o governo Olívio Dutra. E o pior é que o pedido feito ao governador para contratação emergencial de 99 funcionários pode estar comprometido. Com um orçamento de 17 milhões de reais para este ano, apenas 2,5%, ou 425 mil reais, é destinado a novos investimentos. A folha de pagamento consome 72,5% e o custeio leva 25%.
“Do ponto de vista administrativo, estava tudo desarticulado, sem gestão”, diz o presidente da Fundação Piratini, que tomou posse em 3 de janeiro após ocupar por dois anos a presidência do Conselho Delibertativo da entidade.
O documento elaborado pela nova direção detalha o total de recursos para investimentos não executados entre os anos de 2007 e 2010: 2 milhões de reais. Em 2008, por exemplo, foram investidos apenas 3,99% de um total de 117,9 mil reais. Em 2009 a conta melhorou: foram utilizados 24,76% de 928 mil reais.
“Se não utilizaram nem perto da metade dos recursos que estavam disponíveis, pode se afirmar que a TVE e a rádio ficaram sem investimentos nos últimos 4 anos”, ressalta Osório.
A precariedade da área técnica também ficou evidente no relatório. Das 40 retransmissoras da TVE, 30 estão fora do ar e apenas 3 tem condições plenas de passar a programação. A rádio opera com transmissor reserva, que só alcança algumas cidades da Região Metropolitana.
“Os equipamentos estão muito devasados, já não existem peças para reposição, e algumas coisas que eram novas, como um transmissor analógico adquirido no final do governo Olívio, nunca foram usadas e hoje estão abandonadas e, possivelmente estragadas”, criticou Osório.
Câmera no estúdio
Câmera no estúdio

Plano de reestruturação
Com o diagnóstico e mãos, o governador Tarso ordenou que secretários de Estado e funcionários da Fundação constituam uma comissão a fim de elaborar um plano para a reestruturação da TVE e da FM Cultura.
No próximo mês deve ser formalizado o contrato com a EBC – Empresa Brasil de Comunicação, vinculada ao governo federal, a nova dona do imóvel, o que vai trazer benefícios às emissoras. Além de não ter de desembolsar dinheiro para pagar o aluguel do prédio, 25 mil reais, nem por programas da TV Cultura, de São Paulo, cerca de 23 mil reais, serão feitas algumas obras emergenciais nas dependências do prédio e investimentos para qualificação de programas da TVE. É o caso do programa infantil regional Pandorga, que pode vir a ser veiculado pela TV Brasil na grade nacional.
Fotos: Cleber Dioni Tentardini

100 DIAS DE DILMA E TARSO: O QUE HÁ EM COMUM?

Elmar Bones
Os altos índices de aprovação que ambos registram são ainda reflexos da eleição. Só podem surpreender àqueles que acreditam no que a mídia tem dito, tanto lá como cá.
O problema da mídia é o mesmo de todos nós: uma certa perplexidade diante da nova realidade política do país. Não é fácil enxergar o novo.
Na mídia é mais grave porque de certa forma todos nós dependemos dela para entender o que está acontecendo.
Ela tem raízes mergulhadas no passado que o país quer superar. As lentes que está usando para olhar o presente estão contaminadas pelo mofo do velho regime.
Por isso não conseguiu (não quis) entender a candidatura Dilma Rousseff e apostou do início ao fim na sua inviabilidade. Deu com os burros nágua, na mais fragorosa derrota que sofreu, depois da crise do mensalão.
Por isso não entende os movimentos do novo governo.
O mesmo se dá com o governo de Tarso Genro, no Rio Grande do Sul. Para avaliar os seus cem dias, ponderam medidas e ações administrativas, contabilizam investimentos, soluções imediatas.
Fica em segundo plano o que é essencial no governo Tarso: o seu projeto de conciliação política, que nem chega a ser uma proposta nova. É uma demanda que o eleitorado já expressou.
Germano Rigotto já ganhou uma eleição com esse discurso. Yeda Crusius também deve sua vitória, em grande parte, ao fato de ser uma alternativa ao confronto naquele pleito.
Por razões diversas, nenhum dos dois levou à prática aquilo que o eleitorado esperava – uma verdadeira concertação no campo político, indispensável para que o Estado possa avançar.
Fazer aqui o que Lula fez no Brasil – criar um bloco hegemônico pluriparditário para viabilizar um projeto de desenvolvimento de longo prazo.
Tarso entendeu isso claramente e a novidade de seu projeto é que ele conseguiu convencer setores importantes do PT gaúcho a abrir mão do seu irredentismo.
Seu desafio principal é, em primeiro lugar, manter aglutinadas as forças políticas que o elegeram e, em seguida, ampliar essa base aproveitando a força indutora da aprovação popular.
Já Voltamos.

Comunicação terá foco nas midias alternativas

Na apresentação da entrevistada, faltou um detalhe importante e esclarecedor: Vera Spolidoro foi, por muitos anos, assessora de imprensa da Federaçao da Industria do Rio Grande do Sul, numa época em que toda a cobertura econômica no Estado passava pela travessa Leonardo Truda, onde funcionava a Fiergs.
Trechos:
“Queremos que a sociedade dialogue com o governo, que a crítica venha da sociedade, não necessariamente através das mídias tradicionais”.
“(Os cidadãos)…precisam ser não apenas consumidores, mas produtores de conteúdo”.
“O conselho (de Comunicação) está previsto na Constituição de 1988. Já se instituiu no âmbito do Congresso Nacional. Funcionou um tempo e depois não teve quem tocasse. No ano passado, na Conferência Nacional de Comunicação (Cofecom), ressurgiu a história do conselho. Houve uma reação muito forte das empresas detentoras de veículos de comunicação. Acho que não compreenderam bem o propósito. Por que podem existir conselhos de educação e de saúde, por exemplo, e quando se fala em conselho de comunicação ninguém assume? Não entendo isso. Acho que é mau entendimento. Não quero acreditar que seja má-fé”.
“Não é censura. Não é intromissão. Ao contrário, é permitir que as pessoas saibam o que estão consumindo em termos de informação, que tenham visão crítica e sejam produtoras de conteúdo. É isso que queremos. Temos uma proposta, vamos apresentá-la ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que vai ser o lugar dos grandes debates. Haverá uma câmara temática para comunicação. Todo mundo vai ter a oportunidade de falar: os proprietários de veículos, os jornalistas e a sociedade”.
“Vamos trabalhar bastante com mídias alternativas. E aí incluem-se blogueiros, rádios comunitárias, jornais de bairro e jornais de Interior. Quando se escolhe trabalhar com um tipo de veículo só porque tem mais audiência, acaba se eternizando esse meio e não se cria nenhuma oportunidade para que outros possam surgir. Então, morrem os jornais de bairro e as rádios comunitárias, porque ninguém coloca dinheiro. Qualquer pesquisa no Interior constata que o primeiro jornal que é lido é o da região. Com rádio é a mesma coisa. Eles ouvem antes a rádio comunitária. Aqui mesmo em Ipanema as pessoas ouvem a rádio comunitária. Vamos trabalhar muito fortemente nisso”.
“O conceito que a usamos na campanha provavelmente vai permanecer. A ideia é de que o Rio Grande do Sul está crescendo para nós, para o Brasil e para o mundo. Isso vai continuar. Não é um mero slogan, é uma nova diretriz de governo”

Vitória de Tarso abre nova era na política gaúcha

A eleição de Tarso Genro representa uma mudança histórica na política do Rio Grande do Sul. Não só pelo ineditismo da vitória no primeiro turno.
A maneira como foi construída a candidatura, a habilidade com que foi conduzida a campanha, a postura do candidato em seus movimentos para dentro e para fora do partido…
Está bem sinalizado o caminho para a reconstrução do projeto político do PT gaúcho, que se extraviou com o governo de Olivio Dutra e as sucessivas derrotas em Porto Alegre.
O projeto petista a partir da vitória de Tarso se reconstrói em bases mais amplas, com uma inserção mais consistente no plano nacional. E vai se expressar num projeto de desenvolvimento regional endógeno, cujas linhas centrais já foram explicitadas na campanha: respeito à diversidade regional, valorização da base produtiva local, nova política de incentivos, descentralização e participação.
Por fim e não menos importante a ascenção de um novo projeto político permitirá desalojar grupos e grupelhos partidários que se enquistaram na máquina pública e fizeram dela um puro e simples mecanismo de reprodução de seu poder.
É nesses pontos que se localizam os nichos de corrupção, que de tempos em tempos rendem escândalos. Com exceção do hiato do governo Olívio Dutra, esses grupos se revezam há mais de três décadas no poder.
A derrocada do PMDB no Estado é um fator que vai favorecer esta mudança.