Diretor da ONU defende que investimentos devem priorizar as cidades

O subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretor executivo da UN-Habitat (Agência das Nações Unidas para temas urbanos), Joan Clos, disse nesta quinta (23), em Porto Alegre, que é preciso lançar uma base de cooperação entre governos locais e federais para a discussão de um novo modelo de distribuição de verbas que coloque as cidades como prioridade de investimento.
Segundo, Clos, os efeitos da crescente urbanização dos grandes centros estão se tornando cada dia mais evidentes. Em 2050, 70% da população mundial, estimada em nove bilhões de pessoas, viverá nas áreas urbanas. “Não há precedentes históricos para esse movimento. Se não agirmos rápido, não teremos tempo de preparar as cidades para essa mudança e grande parte dessa população será vítima da desigualdade, do desemprego e de conflitos sociais. Será uma catástrofe humanitária”, diz Joan Clos.
Para evitar essa situação, Clos defende uma inversão de prioridades dos governos federais para que grande parte dos tributos arrecadados seja destinada a governos locais.
“As cidades são a maior fonte de renda para um país. Cerca de 80% do PIB das nações são produzidos em áreas urbanas. No entanto, os investimentos nas necessidades desses centros ficam em segundo plano. É necessário convencer a sociedade que o investimento local deve ser prioritário em relação ao investimento nacional”, afirma o diretor-executivo da UN-Habitat.
Clos alerta também que, pela primeira vez na África subsaariana, há uma grande migração do campo para a cidade, sem que haja o correspondente processo de industrialização, o que gera um problema inédito para os governos e planejadores urbanos. “Atualmente, cerca de 60% dos habitantes das cidades dessa região vivem em favelas e a população deve dobrar em dez anos. Como conciliar o crescimento urbano sem a geração de empregos formais pelas indústrias?”
Clos falou na mesa redonda “Cidades em transição são centros de crescimento e oportunidades”, realizada nesta quarta-feira, 23. O debate faz parta das atividades do 10º Congresso Mundial Metropolis – Cidades em Transição. Na plateia, mais de 50 prefeitos e várias autoridades municipais de cidades de todo o mundo.

Porto Alegre receberá mais de R$ 3 bilhões até 2014

Se estão certas as previsões do secretário especial da Copa, Ricardo Gothe, a capital gaúcha vai recebero maior volume de investimentos de sua história até a Copa do Mundo de 2014.
Serão mais de R$ 3 bilhões somando-se os projetos voltados para a Copa e outros investimentos publicos e privados, com recursos já garantidos.
Em 2011, somenta a Prefeitura vai investir quase R$ 700 milhões em projetos ligados ao mundial de futebol, mais projetos do PAC e outros, como o Socioambieltal, por exemplo.
Das obras para a Copa do Mundo o maior investimento será nos chamados projetos de mobilidade urbana, que exigirão maisd de R$ 1 bilhão. Incluem além de obras rodoviárias, um sistema de corredores expressos para ônibus com sete linhas e quatro portais.

Acionostas da Aracruz decidem processar diretor que especulou com derivativos

Em assembléia geral extraordinária, na segunda-feira, 24 de novembro, os acionistas que controlam 96,5% do capital votante da Aracruz Celulose decidiram responsabilizar o diretor financeiro Isac Zagury pelos prejuízos que a empresa sofreu nas “operações com derivativos, acima dos limites previstos na Política Financeira”.
A administração da empresa irá agora avaliar com advogados especializados a forma adequada para a proposição da ação.
A Aracruz foi uma das empresas brasileiras que mais perdeu com a crise financeira que fez desabar as bolsas desde setembro. Estimou-se entre R$ 900 milhões e R$ 2 bilhões os prejuízos da empresa nas operações com derivativos.
O abalo no caixa – numa hora em que o crédito ficou restrito – obrigou a empresa a suspender seus investimentos no Rio Grande do Sul. Inclusive a ampliação de sua fábrica em Guaíba, um projeto que previa US$ 2,5 bilhões de investimentos no Estado até 2011.
As perdas financeiras embaralharam também as negociações com o Grupo Votorantim, que pretendia assumir o controle da Aracruz. A Votorantim foi outro grupo brasileiro que teve perdas na casa dos bilhões com o tombo das bolsas.
(Da redação, com Aracruz Notícias, 321)

“Negócio entre VCP e Aracruz não altera projetos de celulose”

Elmar Bones
O presidente da Aracruz, Carlos Aguiar, disse nesta quarta-feira que as negociações com a Votorantim não devem influir nos três grandes projetos de silvicultura e celulose programados para o Rio Grande do Sul e que totalizam investimentos de US$ 4,5 bilhões.
“Quem decide essas coisas é o mercado”, afirmou Aguiar. “Se forem mantidas as tendências atuais, os três projetos irão em frente, se o mercado mudar nos próximos dois ou três anos, eles podem ser revistos”.
Até o momento, apesar da desaceleração da economia chinesa e da crise americana, o mercado mundial de celulose se mantém aquecido, com demanda crescente e, portanto, com espaço para aumentos de produção. “Há lugar para todos os projetos em andamento no Brasil”, disse o executivo.
Quanto ao negócio entre as duas gigantes da celulose nacional, o que ocorreu até agora, segundo Aguiar, foi uma proposta do grupo Votorantim para comprar as ações da Aracruz que pertencem ao grupo Lorentzen.
Erling Lorentzen, empresário norueguês, hoje com mais de 80 anos, é um dos fundadores da Aracruz e tem 28% do capital da empresa, pelos quais a Votorantim Celulose e Papel (VCP) ofereceu R$ 2,7 bilhões.
A proposta foi aceita, mas a conclusão do negócio depende da anuência do outro sócio controlador, o Banco Safra, que também tem 28% do capital da Aracruz e pelo contrato de acionistas tem preferência na compra das ações.
Segundo Aguiar, o banco pode simplesmente manter sua posição atual e deixar que a VCP, que já tem 28% das ações da Aracruz, se torne controladora. Mas pode também o Safra exercer o direito de preferência e se tornar o controlador da empresa.
Pode ainda ocorrer um acordo entre o Safra e a Votorantim para fundir Aracruz e VCP, dividindo ambos o controle. Não é descartável, ainda, segundo Aguiar, a hipótese de o Safra preferir vender também a sua parte na Aracruz para a VCP, que ficaria sozinha no negócio.
O Safra têm até o dia 4 de novembro para se manifestar.

Pólo de celulose pode ficar pela metade

Aracruz já constrói nova unidade em Guaiba
Elmar Bones
Desde 2003, quando três dos maiores grupos do setor – Aracruz, VCP e Stora Enso – apresentaram seus projetos, o Rio Grande do Sul vive na expectativa de US$ 4,5 bilhões de investimentos que seriam necessários para construir as três fábricas de celulose e plantar cerca de 300 mil hectares de eucalipto, para garantir a matéria prima.
Até agora, o único que avançou de acordo com as previsões foi o projeto da Aracruz, que partiu da antiga Riocell em Guaíba e já iniciou a construção, no mesmo sítio, de uma nova unidade que vai elevar sua produção de 450 mil toneladas/ano para 1,25 milhão de toneladas ano. A previsão é de que entra em produção em 2011.
A VCP por enquanto limitou-se a comprar terras e a produzir mudas para o plantio dos eucaliptos. Já tem cerca de 100 mil hectares adquiridos, boa parte já plantados, mas a fábrica ainda não tem projeto preciso. Nem o local está definido. Sabe-se que será na Zona Sul, provavelmente em Rio Grande.
No meio, comenta-se que a real prioridade da VCP é a unidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, onde adquiriu um projeto que era da International Paper.
Com o controle da Aracruz, a VCP ganha automáticamente uma grande fábrica no Rio Grande do Sul, cujas obras já estão em andamento. Haverá espaço para outra fábrica do mesmo grupo no Estado?
Quanto à Stora Enso, ainda não conseguiu vencer a etapa da compra de terras. Já comprou 46 mil hectares, mas não conseguiu regularizar pois são terras em área de fronteira, sob uma legislação especial, com restrições à propriedade de estrangeiros.
Começou o plantio de eucaliptos, mas não chegou aos 20 mil hectares plantados e teve que suspender em virtude das dificuldades com o licenciamento e com a legalização das terras compradas.
Uma fonte ligada à empresa diz que a disposição é deslindar a situação até o final deste ano. Caso contrário, o projeto pode ficar comprometido. Além das questões ambientais, que geram críticas fortes, as denúncias de compra ilegal de terras tem repercutido internacionalmente, gerando inclusive protestos na Finlândia, sede da empresa.
Setor fica na mão de dois gigantes
A concentração de empresas no setor de celulose/papel é uma tendência mundial, assim como já ocorreu na Petroquímica, onde Braskem e Quattor engoliram os concorrentes e passaram a dividir o mercado nacional.
A competição internacional exige escala e por conta disso há um movimento de incorporações e fusões que, no caso brasileiro, se define em torno de dois grupos: o grupo Suzano que abriu mão de suas posições na petroquímica para concentrar investimentos na celulose; e agora a Votorantim, que com o controle da Aracruz, torna-se a maior do setor no país, uma das maiores do mundo.
Ao comprar as ações dos herdeiros de Erling Lorentzen, empresário norueguês, um dos fundadores da empresa, a VCP fica com 56% do capital votante da Aracruz e passa a responder por uma produção total de 4,6 milhões de toneladas de celulose por ano.
Somados os investimentos, incluindo os plantios florestais no Rio Grande do Sul e a implantação de duas fábricas no Estado, o grupo será o maior do país, ultrapassando a Suzano Celulose, mesmo com as duas novas unidades anunciadas no Piauí e Maranhão.
Mercado já esperava o anúncio *Por Carlos Matsubara
O anúncio de que a VCP pretende comprar 28% do capital votante da Aracruz pertencentes à Arapar, holding da família Lorentzen, não chegou a causar surpresa no meio. O negócio já era comentado nos bastidores há algum tempo.
Em abril, quando caiu o poder de veto do BNDES para venda a estrangeiros, começaram as conversas de uma possível absorção da Aracruz Celulose por um dos seus sócios. A Suzano também aparecia como uma das prováveis compradoras da Aracruz.
A VCP já integrava o bloco de controle da Aracruz, com 28% das ações ordinárias e investiu R$ 2,71 bilhões para comprar a parte da família Lorentz. O desfecho, porém, ainda depende da Arainvest Participações, do Grupo Safra, que também integra o bloco de controle da Aracruz com 28% das ações ordinárias.
E é por esta posição que a VCP aguarda para se pronunciar, segundo afirmou a assessoria de imprensa.
Empresa nasceu à sombra dos incentivos fiscais
A Aracruz, que nasceu Aracruz Florestal, foi uma das primeiras empresas nascidas à sombra os incentivos fiscais para reflorestamento, criados depois de 1964. O Tesouro Nacional abria mão de uma parcela do Imposto de Renda de Pessoas Físicas para criar negócios diretamente gerados pela iniciativa privada.
As primeiras quotas da Aracruz Florestal foram subscritas por dirigentes de grandes empresas: Walter Moreira Sales (Unibanco), Fernando Portela (Banco Boa Vista), Oscar Americano Filho (CBPO, construtora), Otavio Lacombe (Construtora Paranapanema) Olivar Fontenelle (Casa Slooper) e Erling Lorentzen (Norsul, navegação).
Boa parte do capital inicial foi aplicada na compra de cerca de 7 mil hectares de terras no município de Aracruz, no Espírito Santo. As terras pertenciam à Companhia de Ferro e Aço de Vitória (Cofavi) que nunca havia conseguido explorar convenientemente os eucaliptos ali plantados muitos anos antes, para produzir carvão vegetal.
O armador Erling Lorentzen aderiu à Aracruz Florestal não apenas para se tornar sócio de um empreendimento sem riscos, mas porque viu ali a grande oportunidade para um emigrante vindo da Noruega.
Além de navios, o dono da Norsul, tinha canais direto de acesso às fontes de tecnologia nos países escandinavos, a vanguarda mundial da industria de transformação da madeira. Em 1978, saiu a primeira carga de celulose da Aracruz. Com uma produção anual de 400 mil toneladas, era a maior indústria de celulose do Brasil e uma das maiores do mundo, desenvolvendo avançada tecnologia para produção de eucalipto para celulose.
Era um projeto tripartite, envolvendo capital estrangeiro, capitais nacionais e dinheiro público. Como outros grandes projetos implantados pelos governos militares no período 1964/81, a Aracruz teve inspiração, incentivo e apoio da União. O BNDES entrou com 42% do capital do empreendimento, no qual mantém até hoje uma participação de 12,5%. (Do livro Eucalipto:Histórias de Um Migrante Vegetal, Geraldo Hasse, JÁ Editores.