A avaliação é do jornalista Renato Rovai, editor da Revista Fórum. Embora não tenha ligação formal com o Fórum Social Mundial, a publicação paulista foi criada durante o evento, em 2001, em Porto Alegre.
Desde então, vem acompanhando os movimentos sociais e midiáticos inspirados na auto-gestão, ideia disseminada pelos Fóruns e até hoje pouco compreendida pela maioria da sociedade.
Leia o seu relato da entrevista do Mídia Ninja ao Roda Viva.
Pablo Capilé e Bruno Torturra estiveram na noite desta segunda-feira no Roda Viva da TV Cultura. Deram um show e uma aula de comunicação para uma bancada que parecia atordoada e sem conseguir entender o que está acontecendo por fora das corporações midiáticas.
A bancada do programa foi coordenada pela última vez por Mário Sérgio Conti, que será substituído pelo glorioso Augusto Nunes. Além dele, participaram do debate Eugênio Bucci, Caio Túlio Costa, Suzana Singer e Alberto Dinnes. Por parte de alguns, o espetáculo foi deprimente. Sem exagero.
Alberto Dines parece ter sido o único a entender o significado da Mídia Ninja. E foi também o único que tentou debatê-la como uma nova experiência jornalística e não como coisa de um grupo que precisa explicar de onde vem o dinheiro que o financia e a que partido seus integrantes estão vinculados.
Tudo que acontece por fora do mercado tradicional só pode ter algum vínculo com grupos políticos. E tem sempre algo de suspeito. Foi esse o recado que a turma dos jornalistas tentou mandar pra audiência. E foi desmoralizada na tese com respostas tranquilas e equilibradas de Torturra e Capilé.
Suzana Singer teve que engolir seco e ver Capilé relembrando uma coluna dela onde a ombudsmann da Folha chamava a atenção para o fato de o jornal não citar o PSDB num escândalo.
Muito mal
Mário Sérgio Conti também ouviu, quase que tossindo, Torturra dizer que a TV Cultura também não é tão independente assim até porque nunca tratou com transparência o caso da demissão de Heródoto Barbeiro. Pra quem não conhece a história, Heródoto foi demitido a pedido de Serra .
Eugênio Bucci foi muito mal. Quando se viu perdido decidiu fazer perguntas tão longas que parecia querer se auto-entrevistar. Ao falar de quanto se gasta em publicidade no governo tentou exagerar nos números dizendo que nos dados que Capilé trouxe não contabilizavam os recursos das estatais.
E contabilizavam. Falou do governo federal, mas não citou, por exemplo, os gastos do governo do Estado. Aliás, ele sempre se esquece desse “personagem” quando trata do assunto. Proporcionalmente o governo do Estado de São Paulo gasta muito mais com publicidade do que o governo federal.
O Roda Viva de ontem foi uma demonstração de como o jornalismo tradicional envelheceu algumas décadas nos últimos anos. Se fosse um jogo de futebol, o baile que a bancada tomou da dupla Capilé e Torturra teria sido mais constrangedor do que a que o Santos levou do Barcelona. Foi triste de ver.
Mas ao mesmo tempo também foi feliz. Tem coisa nova rolando. E o jornalismo não é mais refém da turma do mesmo de sempre. Hoje ele tá na mão de quem acredita na reinvenção
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Os NINJA e a democracia
Essas narrativas independentes dos Ninjas faz parte de um processo, de uma sociedade que se democratiza e reage a um sistema de mídia que não lhe dá as informações que ela precisa para avançar.
Os jovens captam essas necessidades, eles são as antenas para o futuro, os mais criativos agem, alimentam a reação da sociedade à tentativa do sistema de mantê-la presa no passado.
A questão, uma delas, é que os Ninjas estão na rua, lá onde a mídia não ia, bastando-lhe dar a versão de seus interesses. É importante, é fundamental.
Mas os grandes conchavos, aqueles que decidem sobre bilhões, continuam a acontecer nos gabinetes. E ali, na porta, só está por enquanto a mídia convencional, como sempre mais atenta aos seus interesses empresariais e corporativos do que aos fatos.
Desses fatos a gente talvez só venha saber depois, quando já será tarde. O que quero dizer? Que ainda falta muita imprensa na democracia brasileira (e falta muita democracia na imprensa brasileira).
O ano mais ninja da história
Uma das maiores surpresas das recentes manifestações populares foi a desenvoltura da chamada mídia ninja, formada por jovens equipados com celulares que transmitem audio e vídeo on line, gerando uma formidável anarquia informacional.
Ao contrário do que se pensou e se difundiu, essa rapaziada não opera solta no espaço. Ela tem comando, embora desfrute de uma autonomia rara na mídia convencional.
Só isso já bastou para transformar esses jovens repórteres-manifestantes em protagonistas centrais dos acontecimentos que marcaram 2013 como o ano mais louco do século XXI.
Dois cabeças do movimento, Pablo Capilé e Bruno Torturra, deram um depoimento extraordinário ao programa Roda Viva da última segunda-feira, dia 5. Com nomes que lembram codinomes, esses rapazes demonstraram possuir uma rara capacidade de argumentação, tanto que conseguiram escapar ilesos à maior parte dos questionamentos feitos por uma bancada de experientes perguntadores.
Sua articulação tem raízes no movimento estudantil, mas eles têm algo que os diferencia da maior parte dos jovens de hoje – ou muito dependentes dos pais ou completamente descolados das bases familiares: têm consciência social e correm riscos por isso.
Embora a palavra ninja lembre automaticamente os lutadores encapuzados do Japão, no Brasil de 2013 NINJA é uma sigla: Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. E por aí vamos com ousadia e criatividade.
Nada a ver, portanto, com siglas emergentes como CQC e Pânico na TV, que fazem arremedos de jornalismo temperados por um humor irresponsavelmente corrosivo.
Espaço independente
Segundo o depoimento de Capilé e Torturra, a base do movimento da Ninja começou a se formar há dez anos graças a jovens músicos sem vez no mundo do show business. Eles procuraram cavar espaços independentes da superestrutura que domina a TV, as gravadoras e à qual está atrelada a máquina publicitária.
Sobreviveram e cresceram, conseguindo estabelecer um circuito alternativo de festivais e shows durante os quais também rolam debates e seminários que discutem os problemas dos pobres e oprimidos pelo sistema. Em alguns casos, eles contam com patrocínios públicos, que não representam nem 10% de sua arrecadação.
Hoje há dois mil jovens ativistas que vivem em comunidades de até 30 pessoas que trabalham para se sustentar individual e coletivamente. O custo mensal de cada ativista é R$ 900. Um sucesso: até quando? Qual sua real motivação? Quais seus objetivos? Querem ser absorvidos pelo sistema? Ou desejam transformá-lo? O sistema e o governo são a mesma coisa?
Sua luta lembra a época da ditadura militar, quando muitos jovens e alguns veteranos se uniram para editar jornais alternativos, formar cooperativas de jornalistas, grupos de teatro e cinema. Os mais radicais caíram na clandestinidade e formaram grupos armados que acabaram sendo destruídos pelo regime militar. Até hoje se faz o rescaldo desse período. Aí está a Comissão da Verdade lutando para reunir depoimentos, documentos e provas de violações de direitos humanos em cadeias civis e dependências militares.
Sem patrimônio nem estrutura física, como acontece com a mídia convencional, a mídia ninja é engajada no ativismo dos direitos civis, políticos e econômicos. “Jornalismo pós-industrial”, falou Capilé, tentando explicar o fenômeno sem precedentes à vista na moderna história brasileira.
Seu grande diferencial, além do baixo custo operacional e do voluntarismo, é a habilidade no uso de ferramentas eletrônicas que, além de revolucionar a comunicação interpessoal, estão provocando mudanças profundas na relação da mídia tradicional com seus leitores, ouvintes e telespectadores.
O celular está para essa mídia revolucionária como o microfone móvel esteve para o rádio e a câmera ambulante para a TV. É lógico concluir que, daqui a algum tempo, todas as novas ferramentas estarão dominadas pelos trabalhadores da mídia convencional. Será a banalização de uma nova tecnologia de comunicação.
A pergunta que fica é até que ponto a mídia convencional ancorada na iniciativa privada terá interesse em operar como correia de transmissão de impulsos originários da base da sociedade?
Até onde se sabe pelos relatos da História, os interesses que movem a iniciativa privada estão longe demais do interesse público.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Nos corredores da história, o grito dos ricos ecoa mais alto que o gemido dos pobres”
HENRY THOMAS, historiador inglês, em A História da Raça Humana, de 1938
Midia Ninja cria polêmica e extrapola a internet
O assunto do dia na Internet brasileira foi a entrevista com o Mídia Ninja, no programa Roda Vida de ontem, na TV Cultura de São Paulo
TV Cultura
Colaborou muito pra a discussão que se trava sobre os caminhos da imprensa, e o que o público precisa dela. Quem não viu, não precisa esperar pela reprise. Está no ar.
O link é este
Mídia Ninja é convidada dos magistrados do Rio
Quem não puder estar no Rio de Janeiro às cinco horas da tarde desta 2ª-feira, poderá acompanhar ao vivo, pelo http://www.postv.org
É um serviço do canal do coletivo Mídia Ninja, convidado pela associação dos magistrados do Rio de Janeiro para transmitir um debate.
O canal ficou conhecido por transmitir ao vivo as manifestações populares deste outono-inverno e divulgar vídeos exclusivos nas redes sociais. E com acesso aos bastidores. A qualidade da imagem e do som (transmitidos por celular) é precária, e, ao menos no caso da ocupação da Câmara de Porto Alegre, saía do ar ou tirava o áudio sempre que os ativistas solicitavam.
A mesa-redonda “Discutindo o levante popular democrático” será entre os professores da PUC-Rio, Adriano Pilatti, coordenador do Instituto de Direito, e Ricardo Brajterman, participante das comissões de Direitos Humanos, de Direito Homoafetivo, e presidente da Comissão de Direitos Autorais, Imateriais e Entretenimento da OAB/RJ.
Com informações da Assessoria de Imprensa da Amaerj