(Editorial do jornal JÁ Bom Fim ed. Janeiro/fevereiro)
Aos poucos vai ficando claro o forte deslocamento político que as eleições de 2010, aliadas a algumas circunstâncias fortuitas, provocaram no Rio Grande do Sul.
O Partido dos Trabalharores, depois de dez anos alijado, volta ao centro do poder, determinando um alinhamento inédito, que ficou bem nítido com a posse dos novos deputados que vão compor a Assembléia Legislativa até 2014.
Consequência do pleito e de algumas coincidências, o PT tem hoje no Estado: o governador, o presidente da Assembléia, onde é o maior partido, base da maioria do governo. Foi o partido que mais cresceu, com quatro novos deputados.
Tem a presidente da Câmara Municipal, as principais prefeituras da Regiao Metropolitana e o comando das principais estatais, federais e estaduais.
Até a prefeitura, que já foi um baluarte adversário, hoje está políticamente mais próxima do partido.
Some-se a isso a circunstância de que, como poucas vezes ocorreu na história do Estado, é o mesmo partido da presidente da República.
Isso dá a dimensão do fenômeno. Cabe, no entanto, a pergunta: que PT é esse.
Já Voltamos.
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ADÃO PRETTO: Quando morre um guerreiro
Najar Tubino
Fica um vazio. Na vida de muita gente, na própria história . Um guerreiro não é um personagem comum. Mesmo morto continuará a sua história. Os guerreiros fazem a história. Os normais, simplesmente morrem.
No dia 5 de fevereiro morreu o deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores, do Rio Grande do Sul, Adão Pretto aos 63 anos, vítima de pancreatite – uma inflamação do pâncreas, um órgão do corpo humano, fundamental para degradação e o metabolismo de alimentos. Principalmente gorduras, ácidos graxos. Ele foi prefeito de Miraguaí, região do Alto Uruguai, dominado por pequenos produtores, e muito tempo atrás, por milhares de sem-terra.
Adão estava cumprindo o quinto mandato. Participava da Comissão de Agricultura, mas também se envolvia com quase todas as lutas sociais do povo brasileiro. Incluindo a ambiental.
No dia 15 de dezembro, ainda conversei rapidamente com ele, no lançamento do Movimento Gaúcho em Defesa do Meio ambiente, no plenarinho da Assembléia Legislativa. Tinha os olhos azuis, brilhantes, marca registrada em alguns descendentes europeus, no caso, italiano.
É uma perda muito grande, para quem conhece as estruturas políticas brasileiras. No momento, em que o novo corregedor da Câmera dos Deputados, apresenta seu castelo, travestido de hotel, que casualmente, não estava na sua declaração de bens, entregue ao Tribunal Eleitoral. Adão Pretto escreveu um texto de apresentação, no ano passado, num trabalho feito pelo seu gabinete em Brasília:
“ O povo sempre diz que está enjoado dos políticos, que tudo que é político é safado, é corrupto… muita gente boa tem dito que não vota mais e aí está o exemplo: por falta de apoio do agricultor e do trabalhador consciente, hoje, nós estamos em desvantagem. Todos nós temos que ter clareza de que qualquer mudança no Brasil vai vir das lutas do povo organizado. No entanto, é fundamental a nossa ocupação do espaço do parlamento também, pois é mais uma ferramenta em defesa das lutas do povo. Você tendo um deputado, um vereador, um prefeito, um governo que está do lado da luta do povo é muito melhor que você ter um inimigo ocupando estes espaços”.
Adão falava especificamente sobre as derrotas sofridas no Congresso Nacional, para a bancada ruralista, como o Projeto de Classificação do Fumo, o projeto que elimina a cobrança de imposto sindical da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), para os pequenos agricultores – só no Rio Grande do Sul são 40 mil famílias que estão sendo processadas pela CNA-, a questão dos índios e dos quilombolas, através do decreto do Governo Lula, que determina a demarcação de várias áreas em vários estados brasileiros e, na Comisão de Agricultura, eles entraram com oito projetos, para anular os decretos do governo e estão sendo aprovados um atrás do outro.
No escritório dele, em Porto Alegre, tem uma foto de um barraco, na verdade, quatro paus cobertos por folhas de palmeira, com a seguinte legenda: primeiro comitê eleitoral em Miraguaí. Acho que é da década de 1980 (1986). Não importa. Acho que é a definição da vida dele como político comprometido com as suas idéias, e com as entidades e organizações que sempre confiaram nele. Não é à toa que estava no quinto mandato.
No velório, na Assembléia Legislativa, o ex-prefeito e ex-governador, Olívio Dutra, atual presidente estadual do PT, dizia o seguinte:
– Agora é hora de confortar a família e seguir na luta. Não há outra coisa a fazer.
Como missioneiro, nascido em São Luiz Gonzaga, terra de pajadores, de poetas gaudérios, gaúchos que cantam o lamento do pampa, Olívio sabe que vai ser difícil superar a perda. Ocorre que o guerreiro morto era dos bons, muito bom. Aos que ficaram, que continuam na luta, só resta arregaçar as mangas, e trabalhar dobrado. No mínimo, para diminuir o vazio, e não dar espaço aos inimigos.
Porto Alegre desenha "pior dos mundos" para o PT
Elmar Bones
Com sua candidata em queda nas pesquisas, militância retraída e caciques fazendo corpo mole. o Partido dos Trabalhadores corre o risco de ficar fora do segundo turno, pela primeira vez em 20 anos e, pior do que isso, pode ficar sem escolha, tendo que votar nos seus adversários históricos.
É claro que embora estejamos a menos de 20 dias do primeiro turno da eleição, o quadro eleitoral não está fixado e pode mudar radicalmente. Como diz a própria candidata, Maria do Rosário, “o PT é bom de chegada”.
O alto índice, acima dos 30%, dos que na pesquisa espontânea declaram não saber em quem votar, é um indicativo de que o quadro é volátil. Mas a tendência não se altera.
Na última pesquisa, divulgada nesta segunda-feira pelo Correio do Povo, por exemplo: os indecisos chegam a 31,6% na espontânea. Na estimulada, os que não sabem em quem votar caem para 11,2%.
Ou seja, mais de 20% dos consultados apontam um candidato, quando os nomes são apresentados. E aí, é natural, a maioria (6,7%) aponta Fogaça, que está na prefeitura há quatro anos e é com certeza o nome mais conhecido de todos.
Em segundo lugar, é lembrada a candidata Manuela D´Avila, do PCdoB/PPS, cara nova de ascensão fulminante, que faz uma campanha de grande visibilidade. Para ela, vão 6,1% dos votos dos indecisos quando os nomes são apontados.
Maria do Rosário, a candidata petista, na estimulada ganha apenas 3,8% em relação à indicação espontânea. E na comparação entre uma modalidade ou outra (estimulada e espontânea), aumenta a distância entre ela e Manuela, o que também é natural, uma vez que a tendência dos indecisos é sempre ir para a novidade ou para “o nome da hora”.
“Essas pesquisas nunca nos ajudam, mas a verdade é que essa guria está na nossa frente e a situação é muito difícil”. O comentário da vereadora Margarete Moraes, em campanha pela reeleição, domingo no Brique da Redenção, é um indicador.
O certo é que para reverter o quadro, Rosário terá que tirar votos de Fogaça, que se mantém estável na liderança ou de Manuela, que já teve 6 pontos abaixo da candidata petista e hoje, em ascensão, leva mais de 5 pontos de vantagem.
Fogaça parece mais vulnerável e aí entra a esperança petista de um “efeito Rigotto”. De qualquer forma o horizonte não é tranquilo numa capital que se tornou quase marca registrada da “administração popular”.
Para complicar tudo, as denúncias de um ex-assessor, jogando farinha grossa no ventilador petista. O caso tem todas as características de uma armação, mas no clima em que se vive terá suas consequências na campanha.
Se ficar fora do segundo turno, o PT ficará na contingência de apoiar seus adversários históricos do PPS, que estão na coligação com Manuela, candidata do PCdoB, aliado não menos histórico dos petistas.
Aliás, o PPS dividido entre Fogaça e Manuela é o único dos partidos concorrentes que já está garantido no segundo turno.
Candid. Espont. Estim. Dif.
Fogaça 22,5 29,2 6,7
Manoela 15,4 21,5 6,1
Maria 12,2 16,o 3,8
Luciana 3,8 4,8 1,o
Onyx 3,6 6,4 2,8
Outros – – –
Não sabem 31,6 11,2 20,4
Fonte: Correio do Povo, 15.09