ADÃO PRETTO: Quando morre um guerreiro

Najar Tubino
Fica um vazio. Na vida de muita gente, na própria história . Um guerreiro não é um personagem comum. Mesmo morto continuará a sua história. Os guerreiros fazem a história. Os normais, simplesmente morrem.
No dia 5 de fevereiro morreu o deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores, do Rio Grande do Sul, Adão Pretto aos 63 anos, vítima de pancreatite – uma inflamação do pâncreas, um órgão do corpo humano, fundamental para degradação e o metabolismo de alimentos. Principalmente gorduras, ácidos graxos. Ele foi prefeito de Miraguaí, região do Alto Uruguai, dominado por pequenos produtores, e muito tempo atrás, por milhares de sem-terra.
Adão estava cumprindo o quinto mandato. Participava da Comissão de Agricultura, mas também se envolvia com quase todas as lutas sociais do povo brasileiro. Incluindo a ambiental.
No dia 15 de dezembro, ainda conversei rapidamente com ele, no lançamento do Movimento Gaúcho em Defesa do Meio ambiente, no plenarinho da Assembléia Legislativa. Tinha os olhos azuis, brilhantes, marca registrada em alguns descendentes europeus, no caso, italiano.
É uma perda muito grande, para quem conhece as estruturas políticas brasileiras. No momento, em que o novo corregedor da Câmera dos Deputados, apresenta seu castelo, travestido de hotel, que casualmente, não estava na sua declaração de bens, entregue ao Tribunal Eleitoral. Adão Pretto escreveu um texto de apresentação, no ano passado, num trabalho feito pelo seu gabinete em Brasília:
“ O povo sempre diz que está enjoado dos políticos, que tudo que é político é safado, é corrupto… muita gente boa tem dito que não vota mais e aí está o exemplo: por falta de apoio do agricultor e do trabalhador consciente, hoje, nós estamos em desvantagem. Todos nós temos que ter clareza de que qualquer mudança no Brasil vai vir das lutas do povo organizado. No entanto, é fundamental a nossa ocupação do espaço do parlamento também, pois é mais uma ferramenta em defesa das lutas do povo. Você tendo um deputado, um vereador, um prefeito, um governo que está do lado da luta do povo é muito melhor que você ter um inimigo ocupando estes espaços”.
Adão falava especificamente sobre as derrotas sofridas no Congresso Nacional, para a bancada ruralista, como o Projeto de Classificação do Fumo, o projeto que elimina a cobrança de imposto sindical da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), para os pequenos agricultores – só no Rio Grande do Sul são 40 mil famílias que estão sendo processadas pela CNA-, a questão dos índios e dos quilombolas, através do decreto do Governo Lula, que determina a demarcação de várias áreas em vários estados brasileiros e, na Comisão de Agricultura, eles entraram com oito projetos, para anular os decretos do governo e estão sendo aprovados um atrás do outro.
No escritório dele, em Porto Alegre, tem uma foto de um barraco, na verdade, quatro paus cobertos por folhas de palmeira, com a seguinte legenda: primeiro comitê eleitoral em Miraguaí. Acho que é da década de 1980 (1986). Não importa. Acho que é a definição da vida dele como político comprometido com as suas idéias, e com as entidades e organizações que sempre confiaram nele. Não é à toa que estava no quinto mandato.
No velório, na Assembléia Legislativa, o ex-prefeito e ex-governador, Olívio Dutra, atual presidente estadual do PT, dizia o seguinte:
– Agora é hora de confortar a família e seguir na luta. Não há outra coisa a fazer.
Como missioneiro, nascido em São Luiz Gonzaga, terra de pajadores, de poetas gaudérios, gaúchos que cantam o lamento do pampa, Olívio sabe que vai ser difícil superar a perda. Ocorre que o guerreiro morto era dos bons, muito bom. Aos que ficaram, que continuam na luta, só resta arregaçar as mangas, e trabalhar dobrado. No mínimo, para diminuir o vazio, e não dar espaço aos inimigos.

0 comentário em “ADÃO PRETTO: Quando morre um guerreiro”

  1. Quero parabenizar pela homenagem ao grande Adão Pretto, também quero resaltar que a informação de que ele foi prefeito de Miraguaí não procede, assim como esta cidade foi dominada por milhares de sem-terra algum tempo atrás também não é verdadeira. Agradeço a oportunidade e vamos procurar seguir os seus exemplos. Grato.

  2. quando morre uma pessoa como essa , o Brasil está perdendo um se humano de: qualidade de dignidade, resposabilidade, humildade e um guerreiro da paz.

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