O escritor e jornalista Eduardo Galeano será candidato ao Parlamento do Uruguai nas próximas eleições de 26 de outubro, de acordo com a agência de notícias argentina Telam. Galeano deverá integrar uma das listas partidárias que apoiam a pré-candidatura da atual senadora Constanza Moreira à Presidência da República. Ainda não se sabe se ele será candidato a deputado ou senador.
Opera Mundi
Opera Mundi
Sexta, 21 de Fevereiro de 2014FAÇA DO OPERA MUNDI A SUA HOME PAGE
BUSCA
RECEBA NOSSA NEWSLETTER
AMÉRICA DO SUL
21/02/2014 – 11h19 | Rafael Reis | Montevidéu
Eduardo Galeano será candidato ao Parlamento do Uruguai
O autor do célebre livro “As veias abertas da América Latina” se candidatará pela coalizão de esquerda Frente Ampla
O escritor e jornalista Eduardo Galeano será candidato ao Parlamento do uruguai nas próximas eleições de 26 de outubro, de acordo com a agência de notícias argentina Telam. Galeano deverá integrar uma das listas partidárias que apoiam a pré-candidatura da atual senadora Constanza Moreira à Presidência da República. Ainda não se sabe se ele será candidato a deputado ou senador.
Leia mais:
Mujica quer que cidadãos do Mercosul possam ter residência permanente no Uruguai
Wikicommons
Ainda não se sabe se o escritor uruguaio Eduardo Galeano será candidato a deputado ou senador nas eleições locais
Galeano nasceu em 3 de setembro de 1940 na cidade de Montevidéu, Uruguai, e viveu exilado primeiro na Argentina e depois na Espanha durante a ditadura uruguaia. Foi procurado por várias ditaduras do Cone Sul, em países onde suas obras chegaram a ser censuradas. É autor de um dos livros que é referencia para a esquerda latino-americana, As veias abertas da América Latina.
Leia mais:
Após legalizar maconha, Uruguai pretende regular álcool e mídia em 2014
Além de publicar obras de alcance mundial como Memórias de Fogo, O livro dos abraços e História da Ressureição dos Papagaios (adquira exemplar na Livraria Opera Mundi), recebeu os prêmios José Maria Arguedas, outorgado pela Casa das Américas de Cuba, e o Stig Dagerman, um reconhecimento sueco aos escritores que se destacam por suas obras literárias
Leia mais
Presidente do Uruguai se reúne com negociadores das FARC em Cuba
Deputados uruguaios indicam José Mujica para Nobel da Paz
O que o brasileiro médio sabe da América Latina?
Em visita a Mujica, Lula pede aproximação entre presidentes latino-americanos
Constanza Moreira, cientista política de 53 anos, com pós-graduação no Brasil pela Unicamp (Universidade de Campinas), competirá com o ex-presidente Tabaré Vazquez nas eleições internas da Frente Ampla, que no dia 1° de junho decidirá o candidato da coalizão de esquerda de cara às eleições de outubro.
Leia mais:
Após lei do aborto, Uruguai vai oferecer fertilização assistida no sistema público de saúde
A pré-candidatura de Constanza Moreira busca uma renovação nos quadros políticos da Frente Ampla e possui forte apoio dos movimentos culturais. “Tanto ele (Galeano) como [o músico] Daniel Viglieti estão tendo um papel ativo na campanha e estarão nas listas que apresentaremos a partir deste espaço”, afirmou Moreira. “Eles estão atuando como porta-vozes culturais dessa candidatura e deste espaço. São referentes políticos muito queridos e que se animaram a vir para nosso lado”, destacou.
Pesquisa
Segundo a última pesquisa eleitoral, publicada essa semana pela Consultora CIFRA, a Frente Ampla tem o apoio de 45% do eleitorado, enquanto os partidos tradicionais Partido Nacional, 28% e o Partido Colorado 15%. O Partido Independente aparece com 2%.
Apesar da disputa interna entre os pré-candidatos da coalizão governista, Tabaré Vazquez e Constanza Moreira, a maioria dos analistas políticos confirmam que o candidato da Frenta Ampla deverá ser o ex-presidente Vazquez. Nestas eleições, o maior desafio para Frente Ampla será obter a maioria parlamentar que conquistou nos últimos dois pleitos eleitorais.
Tag: sequestro dos uruguaios
Justiça nega indenização a ex-agente do DOPs
Para a relatora da apelação, desembargadora Marilene Bonzanini Bernardi, “não se verifica a intenção do escritor de macular a reputação do servidor, apesar de satirizar e criticar seu modo de agir.”
E ainda: “Não é possível limitar a criatividade e liberdade de escritores que abordam tema delicado como esse, pois se corre o risco de constranger o espírito investigativo dos repórteres e de encobrir informações necessárias para a fundamentação de nossa consciência crítica.
A magistrada ressaltou também estar presente, nesse caso, o interesse da sociedade e da própria história ao conhecimento, ainda que parcial, dos fatos ocorridos em recente período político, conhecido pelo lado negro da intolerância, da prepotência e da ausência de liberdade.
A 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul negou ontem à tarde indenização por danos morais ao inspetor aposentado do Dops gaúcho, João Augusto da Rosa, contra o jornalista Luiz Cláudio Cunha, autor do livro Operação Condor: O Sequestro dos Uruguaios — uma reportagem dos tempos da ditadura, e contra a editora L&PM.
Envolvido no sequestro dos militantes uruguaios Universindo Díaz, Lílian Celiberti e seus dois filhos ainda crianças, Camilo e Francesca, ocorrido em 1978, o ex-agente da repressão que usava o condinome Irno se considera injuriado em duas linhas, pinçadas num texto de 450 páginas: “Nem parecia um policial. Tinha a cara e o focinho de um burocrata medíocre e exótico de algum escritório infecto de contabilidade da periferia”.
No julgamento de primeira instância, em que perdeu, o ex-policial alegou que fora tratado como um animal. No dia 6 de julho do ano passado, a juíza Cláudia Maria Hardt, da 18ª Vara Cível do Foro de Porto Alegre, julgou improcedente a ação do seqüestrador do DOPS, que ela define como “triste episódio contado no livro (…) relato pertencente a um tempo (que foi) ‘página infeliz da nossa história’, nas palavras do próprio Chico Buarque”.
Na apelação, o servidor aposentado da Segurança Pública defendeu que a publicação utiliza palavreado acusatório e ofensivo contra sua pessoa, o que levou a população a acreditar novamente que ele era um criminoso. Ressaltou que o livro o aponta como autor do crime, sem informar a respeito de sua absolvição em processo criminal no então Tribunal de Alçada (grau recursal). Apontou, ainda, que foram publicadas fotos suas sem seu consentimento.
A defesa do escritor e da editora afirmou que o livro é baseado em reportagens já publicadas na Revista Veja, portanto nada de novo a respeito do apelante foi divulgado, incluindo-se as fotos. E enfatizou que a publicação limita-se a narrar fatos ocorridos.
Para a relatora da apelação, desembargadora Marilene Bonzanini Bernardi, não se verifica a intenção do escritor de macular a reputação do servidor, apesar de satirizar e criticar seu modo de agir.
Citando sentença da magistrada de 1º Grau, Juíza de Direito Cláudia Maria Hardt, observou que a pretensão da obra foi clara: expor ao publico profunda pesquisa acerca de fatos ocorridos em época em que tais informações não poderiam ser publicamente difundidas sem retaliações. Assim, nos tempos, atuais, tem-se que a liberdade de manifestação, quando exercida regularmente, não denigre o direito à imagem. Enfatizou que a ausência de menção ao recurso que absolveu o servidor no Tribunal de Alçada por falta de provas não afasta essa conclusão, já que a obra traz uma coletânea de reportagens de todo um acontecimento, não sendo centrada no autor da ação.
A magistrada referiu que não é possível limitar a criatividade e liberdade de escritores que abordam tema delicado como esse, pois se corre o risco de constranger o espírito investigativo dos repórteres e de encobrir informações necessárias para a fundamentação de nossa consciência crítica.
Ressaltou ainda estar presente, nesse caso, o interesse da sociedade e da própria história ao conhecimento, ainda que parcial, dos fatos ocorridos em recente período político, conhecido pelo lado negro da intolerância, da prepotência e da ausência de liberdade.
Os desembargadores Iris Helena Medeiros Nogueira e Leonel Pires Ohlweiler acompanharam o voto da relatora.
Sequestro dos Uruguaios
O livro “O Sequestro dos Uruguaios” reconstitui com riqueza de detalhes um dos episódios emblemáticos dos regimes militares que assolaram o continente sulamericano, na segunda metade do século passado.
O seqüestro foi uma operação conjunta e clandestina de policiais brasileiros e uruguaios, perpetrada em novembro de 1978.
As vítimas, Universindo Díaz e Lílian Celiberti e os dois filhos menores de Lílian, foram apanhados em Porto Alegre e entregues na fronteira aos agentes da repressão uruguaia. Díaz e Celiberti eram militantes de uma organização de esquerda que combatia a ditadura no Uruguai e que estavam refugiados no Brasil.
Um detalhe impediu que a operação fosse um êxito completo, como foram muitas outras. Um telefonema anônimo para a redação da revista Veja, em Porto Alegre, levou Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo João Batista Scalco a um apartamento no bairro Menino Deus, onde os dois uruguaios estavam morando. “Está ocorrendo um seqüestro”, disse o informante.
Quando os dois jornalistas chegaram ao apartamento, Lílian e Universindo já estavam nas mãos dos agentes da repressão, que aguardavam para apanhar outro militante – Hugo Cores, o chefe do grupo.
Lílian abriu a porta, mas não conseguiu falar nada. Dois homens que estavam no interior do apartamento apareceram, de armas na mão. Um colocou a pistola na cabeça de Cunha e o outro fez o mesmo com Scalco.
Os jornalistas se identificaram e depois de breve interrogatório foram liberados, com a recomendação da nada falarem, pois se tratava de uma operação para apanhar uruguaios ilegais no país.
O seqüestro seguiu seu curso. Em poucos dias, os dois uruguaios e as crianças estariam em Montevidéo, nas mãos dos agentes da ditadura uruguaia.
Outro detalhe seria decisivo para desvendar toda a história: Scalco, experiente fotógrafo de futebol, reconheceu o homem que apontou a arma para sua cabeça. Era o ex-atacante do Inter, conhecido como Didi Pedalada, que se tornara agente do Dops.
A partir desta pista, os jornalistas desvendaram a operação. O segundo homem seria idendificado quase dois anos depois – era João Augusto da Rosa, que usava o codinome de Irno.
A identificação de Didi foi cabal e ele chegou a ser condenado. Mas a identificação de Irno, através de fotografias, foi insuficiente. Embora denunciado pelo promotor e condenado em primeira instância, ele foi absolvido, em recurso, por falta de provas.
As provas que poderiam ser decisivas contra ele – o testemunho dos seqüestrados – não puderam ser usados. Quando ele foi absolvido, Lílian Celiberti e Universindo Dias, estavam incomunicáveis no cárcere da ditadura uruguaia.
Justiça julga recurso de ex-agente do DOPs contra jornalista
Hoje, a partir da 14 horas, a 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul julga o recurso do inspetor aposentado do Dops gaúcho, João Augusto da Rosa, que move ação por danos morais contra o jornalista Luiz Cláudio Cunha, autor do livro Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios — uma reportagem dos tempos da ditadura.
Participam da sessão as desembargadoras Marilena Bonzanini, relatora do processo, Íris Helena Medeiros Nogueira e o desembargador Leonel Pires Ohlweiler.
Envolvido no sequestro dos militantes uruguaios Universindo Díaz, Lílian Celiberti e seus dois filhos ainda crianças, Camilo e Francesca, ocorrido em 1978, o ex-agente da repressão que usava o condinome Irno se considera injuriado em duas linhas, pinçadas num texto de 450 páginas: “Nem parecia um policial. Tinha a cara e o focinho de um burocrata medíocre e exótico de algum escritório infecto de contabilidade da periferia”.
No julgamento de primeira instância, em que perdeu, o ex-policial alegou que fora tratado como um animal.
Jornalista absolvido em processo por dano moral
O jornalista Luiz Cláudio Cunha foi absolvido no processo por dano moral, movido pelo ex-policial do Dops gaúcho, João Augusto da Rosa.
A juíza Cláudia Maria Hardt, da 18ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre, não aceitou o argumento de que a publicação do livro “Operação Condor: O Sequestro dos Uruguaios” fere o direito à honra e à imagem do ex-agente da repressão política. Segundo o militar, o livro omitiu sua absolvição durante inquérito policial de 1983.
O livro Operação Condor: O Sequestro dos Uruguaios conta a história do sequestro de Lílian Celiberti, seus dois filhos menores e Universindo Díaz, ocorrido em Porto Alegre, em novembro de 1978. Lilian Celiberti depôs como testemunha no processo.
A obra recebeu o troféu Jabuti e Menção Honrosa do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, em 2009. E foi também agraciado em Havana no Prêmio Casa de Las Américas de 2010.
A juíza entendeu que não houve abuso por parte do jornalista ao escrever o livro porque não há como negar que existiram abusos cometidos pelas autoridades instituídas durante o período do regime militar brasileiro.
“São inúmeras as compilações históricas e os relatos dos que vivenciaram a etapa em que o país esteve distanciado da democracia. Inegáveis as arbitrariedades, os excessos e as violências infligidas a muitas pessoas”, fundamentou a juíza.
Sobre a liberdade de imprensa, ela lembrou que o período foi marcado pela censura que impedia que tais fatos viessem a público. “Não se pode desconsiderar as restrições impostas à imprensa naqueles momentos em que muitos dos direitos irmanados com a dignidade humana e a liberdade foram deixados de lado”, ressaltou.
Para a juíza, somente são toleráveis as restrições à liberdade de imprensa quando comprovado o abuso de direito, o que não é caso.
“O texto foi produzido a partir do relato de vítimas, testemunhas oculares, fotografias e investigação, tencionando desvendar os acontecimentos prévios e posteriores ao ocorrido dentro do apartamento nº 110 do número 621 da Rua Botafogo em Porto Alegre”.
E mais: “Aqui, não há que se reconhecer a intencionalidade por parte do jornalista réu de ter escrito esse livro com o exclusivo intuito de ofender a reputação do autor. A pretensão foi clara: a de expor ao público profunda pesquisa acerca de fatos ocorridos em época em que tais informações não poderiam ser publicamente difundidas sem retaliações. Assim, nos tempos atuais, tem-se que a liberdade de manifestação, quando exercida regularmente, não denigre o direito à imagem”.
A juíza reforçou, ainda, que não existe novidade nas informações e fotos publicadas pelo livro. Segundo ela, o próprio militar admitiu já ter visto o material em jornais e revistas. E ainda que na época da publicação isso não foi questionado na Justiça. “Aliás, consigno que das inúmeras personalidades citadas durante a narrativa, somente o autor, ao que se saiba, sentiu-se ferido em seu íntimo a ponto de promover demanda judicial ressarcitória”, disse a juíza.
A pretensão não prospera, porquanto a obra literária questionada não vai além de uma narrativa dos fatos, com fundo crítico, amparada na liberdade de informação, não se consubstanciando em efetiva tentativa de ofender o demandante”.
Por fim, a juíza afirmou que a obra não visou exclusivamente degradar a honra do autor como um dos personagens participantes do relato. Por isso, ela julgou improcedente o pedido do policial para ser indenizado. E determinou, ainda, que o autor pague R$ 2.000 de custas processuais e honorários.
Processo nº: 001/1.09.0102774-3 (CNJ:.1027741-24.2009.8.21.0001)
Natureza: Ordinária – Outros
Autor: João Augusto da Rosa
Réu: Luiz Claudio Fontoura da Cunha e L&PM Editores
Juiz Prolator: Juíza de Direito – Dra. Cláudia Maria Hardt
Data: 06/07/2010
Acusado do sequestro diz que não é "animal"
Foram estas duas linhas, pinçadas num texto de 450 páginas, que levaram o ex-agente do Dops gaúcho João Augusto da Rosa a processar por danos morais o jornalista Luiz Cláudio Cunha.
Cunha é autor do livro “O Sequestro dos Uruguaios”, que reconstrói com riqueza de detalhes um dos episódios emblemáticos dos regimes militares que assolaram o continente sulamericano, na segunda metade do século passado.
O seqüestro foi uma operação conjunta e clandestina de policiais brasileiros e uruguaios, perpetrada em novembro de 1978.
As vítimas foram Universindo Díaz e Lílian Celiberti, militantes de uma organização de esquerda que combatia a ditadura no Uruguai e que estavam refugiados no Brasil.
Apanhados em Porto Alegre, junto com os dois filhos menores de Lílian, eles seriam entregues na fronteira aos agentes da repressão uruguaia.
Um detalhe impediu que a operação fosse um êxito completo, como foram muitas outras.
Um telefonema anônimo para a redação da revista Veja, em Porto Alegre, levou Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo João Batista Scalco a um apartamento no bairro Menino Deus, onde os dois uruguaios estavam morando. “Está ocorrendo um seqüestro”, disse o informante.
Quando os dois jornalistas chegaram ao apartamento, Lílian e Universindo já estavam nas mãos dos agentes da repressão, que aguardavam para apanhar outro militante – Hugo Cores, o chefe do grupo.
Lílian abriu a porta, mas não conseguiu falar nada. Dois homens que estavam no interior do apartamento apareceram, de armas na mão. Um colocou a pistola na cabeça de Cunha e o outro fez o mesmo com Scalco.
Os jornalistas se identificaram e depois de breve interrogatório foram liberados, com a recomendação da nada falarem, pois se tratava de uma operação para apanhar uruguaios ilegais no país.
O seqüestro seguiu seu curso. Em poucos dias, os dois uruguaios e as crianças estariam em Montevidéo, nas mãos dos agentes da ditadura uruguaia.
Outro detalhe seria decisivo para desvendar toda a história: Scalco, experiente fotógrafo de futebol, reconheceu o homem que apontou a arma para sua cabeça. Era o ex-atacante do Inter, conhecido como Didi Pedalada, que se tornara agente do Dops.
A partir desta pista, os jornalistas desvendaram a operação. O segundo homem seria idendificado quase dois anos depois – era João Augusto da Rosa, que usava o codinome de Irno.
A identificação de Didi foi cabal e ele chegou a ser condenado. Mas a identificação de Irno, através de fotografias, foi insuficiente. Embora denunciado pelo promotor e condenado em primeira instância, ele foi absolvido, em recurso, por falta de provas.
As provas que poderiam ser decisivas contra ele – o testemunho dos seqüestrados – não puderam ser usados. Quando ele foi absolvido, Lílian Celiberti e Universindo Dias, estavam incomunicáveis no cárcere da ditadura uruguaia.
“Ele me chamou de medíocre e com focinho. Quem tem focinho é animal, eu não sou animal”, afirmou João Augusto da Rosa, o Irno, quando a juíza Maria Claudia Hardt perguntou por que razão estava processando o jornalista.
A estratégia de seu advogado não previa remexer no caso, mas apenas fixar-se na suposta ofensa por ter sido chamado de medíocre e, segundo sua interpretação, de animal. “Tenho filhos e netos”, justificou o ex-policial.
Mas a audiência, na pequena sala da 18ª. Vara Cível, no Fórum de Porto Alegre, nesta quinta-feira, 4 de fevereiro, tornou-se uma verdadeira viagem no tempo, com a reconstituição de toda a história, principalmente dos detalhes que levaram à identificação de João Augusto da Rosa, como um dos homens que estavam no apartamento da rua Botafogo, há 32 anos atrás.
Além de Luiz Cláudio, foram ouvidos Lílian Celiberti, o fotógrafo Ricardo Chaves e o jornalista Pedro Maciel. “Sim, eu o reconheço”, disse Lílian, categoricamente, quando a juíza perguntou se ela conhecia o homem de óculos, calvo, de bigode e cavanhaque que estava sentado a dois metros dela, na sala de audiências. Foi a primeira vez que ela fazer o reconhecimento de um dos seus seqüestradores.
Visivelmente decepcionado ao final da audiência, o ex-policial reclamou que em vez de discutir a ofensa de que ele foi alvo no livro, “trouxeram toda essa história outra vez”. Falando aos repórteres no saguão do fórum ele repetiu: “Não fui, não sou e nunca serei animal”.
Jornalista processado por livro sobre sequestro
Está marcada para 4 de fevereiro, na 18a. Vara em Porto Alegre, a primeira audiência do processo que o policial aposentado João Augusto da Rosa, o Irno, move contra o jornalista Luiz Cláudio Cunha, autor do livro “O Sequestro dos Uruguaios”, um dos lançamentos mais premiados em 2009.
Irno, segundo o jornalista, era um dos policiais que estavam num apartamento do Menino Deus, em Porto Alegre, em novembro de 1978, para sequestrar os uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Dias.
Irno seria o chefe da operação e foi ele quem apontou a pistola para a cabeça do jornalista, que com o fotógrafo J.B. Scalco, surpreendeu a ação em pleno andamento.
Reconhecido e identificado pelos jornalistas, o policial chegou a estar preso, mas foi inocentado em 1983, por falta de provas.
Na ação judicial, por dano moral (indenizatória), ele alega que foi ridicularizado no livro em que Luiz Claudio Cunha reconstrói toda a história 30 anos depois.
Alega também que não é mencionada sua absolvição e que foram publicadas fotos suas sem autorização.
“Não menciono a absolvição porque minha história termina em 1980, com a condenação do Didi Pedalada, o outro policial que flagramos no apartamento. Quanto às fotos, todas já foram publicadas pela imprensa na época, são públicas, portanto”.
Para se defender, o jornalista convocou o testemunho de Lilian Celiberti, que hoje vive em Montevidéo.
Pela primeira vez, depois de 30 anos, ela estará frente a frente com o homem que, segundo o relato de Cunha, comandou o sequestro, um dos mais rumorosos casos da repressão política nos anos das ditaduras do Cone Sul.
Quando Irno foi absolvido, em 1983, Lilian estava presa no Uruguai. “Irno foi absolvido por falta de provas porque a principal prova contra ele estava no pau de arara naquele momento”, resume Cunha.
Um seqüestro disputa o Açorianos
Geraldo Hasse, especial para o JÁ
Está completando um ano de boa carreira comercial e grande sucesso de crítica o livro de Luiz Cláudio Cunha sobre o fracassado sequestro dos uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Diaz praticado em novembro de 1978 em Porto Alegre por militares uruguaios e policiais brasileiros mancomunados num lance clandestino, da Operação Condor, conchavo terrorista das ditaduras do Cone Sul.
Lançado na Feira do Livro de Porto Alegre em novembro de 2008, O Sequestro dos Uruguaios vendeu 2524 exemplares até 1 de dezembro de 2009, segundo Ivan Pinheiro Machado, sócio-diretor da L&PM, a maior editora do Sul, que nos últimos anos se especializou na edição e venda de livros de bolso (pocket books).
“Pessoalmente achei que venderia mais, até pela grande qualidade do livro”, afirma Pinheiro Machado, “mas estes assuntos do tempo da ditadura estão cada vez mais distantes dos jovens de hoje, mesmo porque são fatos ocorridos há 30 anos”. Segundo Pinheiro Machado, o mercado brasileiro não segue o padrão dos EUA e da Europa, onde os prêmios alavancam as vendas de livros.
Denso e brilhante, o livro ganhou dois prêmios (Herzog e Jabuti) e é finalista de mais um – o Açorianos, com premiação prevista para esta segunda, 14 de dezembro. Apesar do inegável sucesso de critica, O Sequestro não se manteve nas vitrines das livrarias, disputadas por mais de dois mil títulos novos a cada mês. De qualquer forma, a marcha das vendas indica que o livro poderá ter em 2010 uma terceira edição de dois mil exemplares. É bastante para um livrão de 460 páginas sobre um assunto pesado, mas pouco para a qualidade da obra.
Segundo livro de Cunha em 40 anos de jornalismo – ele começou em 1969 como repórter da Folha de Londrina e publicou em 1985 Assim Morreu Tancredo, baseado no testemunho do jornalista Antonio Britto –, O Sequestro poderia ser um relato enfadonho nas mãos de outro redator. Nas unhas de Cunha, virou quase um romance. Como um carcará do jornalismo, ele pega-e-mostra algumas das cobras mais venenosas das ditaduras militares sulamericanas. Com informações precisas e metáforas preciosas, mergulha nos porões e “oficinas” dos países onde trabalharam os artífices do terror paramilitar.
Se tivesse ficado apenas no caso que testemunhou em Porto Alegre como repórter da revista Veja, em 1978, já seria um bom serviço, mas ele vai muito além do caso Lilian Celiberti.
Rico em detalhes sobre os métodos de interrogatório policial-militar, aponta quem estava por trás, como mentor e instrutor da tortura de prisioneiros. O pau-de-arara pode ser um invento brasileiro, mas a maquininha de choque elétrico tinha o patrocínio dos americanos da CIA.
Além de dissecar a lógica militar que determinou a montagem do monstruoso esquema de extermínio de adversários e dissidentes políticos, o livro desvenda os mecanismos políticos por trás das operações policiais-militares contra inimigos dos regimes ditatoriais sulamericanos.
Também apresenta e descreve os principais agentes desse processo. Uma das personagens centrais é Carlos Alberto Brilhante Ustra, unanimemente apontado como um mestre da tortura na Rua Tutóia em São Paulo.
Em Porto Alegre destacou-se o delegado Pedro Seelig, peça-chave no sequestro de Lilian e Universindo. Constam dos textos os nomes de diversos operadores dos serviços condenados pela Convenção Internacional dos Direitos Humanos.
Além dos atores centrais, o livro expõe o comportamento de coadjuvantes civis como os governadores gaúchos Synval Guazelli e Amaral de Souza, a quem o patrão da imprensa Breno Caldas (Correio do Povo) atribuía uma deficiência de um palmo e meio na estatura física e moral.
Não há como negar: Cunha aproveita a oportunidade para retocar o perfil de algumas autoridades que no passado posaram como democratas e, no fundo, eram capachos dos ditadores de plantão.
Quem diria que o simpático Guazelli foi o autor secreto da Lei Falcão, o sistema de propaganda eleitoral criado pelo general-presidente Geisel?
Tempos sombrios
Nesse ajuste de contas, o jornalista vinga também a imprensa humilhada por anos de arrogância e mentira. Predominam os perfis de alguns dos maiores canalhas da moderna história política do continente, mas aparecem também alguns mocinhos como o advogado Omar Ferri e o ativista civil Jair Krischke.
Com mais de 1 milhão de caracteres (o que daria uns seis pocket books), O Sequestro tira de letra o risco de ser prolixo. Não há trechos obscuros. Tampouco excessos ou lacunas. É claro e denso como deveriam ser todos os textos jornalísticos. Não lhe faltam frieza, distanciamento ou imparcialidade mas, sem dúvida, é um livro tocado de ponta a ponta pela paixão de narrar com precisão.
Além de objetividade, sua maior qualidade é a contextualização histórica. Graças à qualidade da matéria-prima e aos bons temperos usados, muitos trechos configuram ricas crônicas dos (maus) costumes daqueles tempos sombrios.
A maior parte focaliza acontecimentos ocorridos no Brasil, mas o autor reuniu tanto material que compôs um painel das safadezas antidemocráticas praticadas também no Uruguai, na Argentina e no Chile.
O relato do sequestro em si termina na página 338, mas Cunha acrescenta dois anexos terríveis. No primeiro, que daria um substancioso pocket book, ele enche 40 páginas sobre o Uruguai antes e depois da ditadura. No outro, o leitor tem um extra de 70 páginas sobre as raízes, motivações e práticas da Operação Condor, que alguns jornalistas e historiadores ainda acreditam que não existiu. Cunha demonstra que o bicho não só voou como pegou muita gente.
Foi liderada pelo coronel chileno Manuel Contreras, chefe da DINA (o serviço secreto da ditadura de Pinochet), que se articulava informalmente com os serviços secretos dos países vizinhos – o Brasil ajudava, mas tomando cuidado para não sujar as mãos com o sangue das milhares de vítimas de tantas operações. Extraoficialmente, porém, havia muitos brasileiros envolvidos na sujeira até o pescoço.
Assim, a pretexto de recontar uma história da qual foi protagonista involuntário trinta anos antes, o jornalista nascido em 1951 em Caxias do Sul faz um balanço das maldades praticadas por militares e civis à sombras das ditaduras de direita que assombraram a América Latina por vários anos na segunda metade do século XX.
Seu livro é uma referência, um documento básico que merece ocupar um lugar de honra nas estantes de professores, estudantes, donas de casa e pais de família, engajados politicamente ou não. Um livro que não pode faltar nas bibliotecas universitárias e de escolas secundárias, nos sindicatos e nas sacristias, nas repartições públicas e militares.
Em especial, não pode faltar nas estantes das escolas de jornalismo e nas redações em geral. Perfeita lição de jornalismo, história e literatura, O Sequestro tem conteúdo e dá gosto ler.
Paradoxalmente, é um livro corajoso que começa com uma confissão de medo. Cunha e o fotógrafo JB Scalco tremiam dentro do carro depois de serem calçados a pistola no apartamento de Lilian Celiberti, na rua Botafogo, em Porto Alegre, onde tudo começou, numa tarde chuvisquenta de novembro de 1978.
Parece distante no tempo – foi de fato no fim da ditadura militar –, mas em termos históricos esses 30 anos decorridos de lá para cá são um pequeno fragmento na marcha da civilização.
Uma edição espanhola está sendo negociada com uma editora de Buenos Aires. Em seguida virá a edição em inglês. Vertido em outras línguas, é provável que o livro ganhe mais alguns prêmios, abrindo caminho para uma versão cinematográfica dessa história de espionagem e terror, que expõe pela primeira vez detalhes ignorados por diversos livros sobre as ditaduras conectadas antes do Mercosul.
Se vier o filme, ele bem que poderia começar com uma cena ocorrida numa tarde de novembro de 2008 na Feira do Livro do Porto Alegre. A fila de autógrafos do livro O Sequestro dos Uruguaios fazia a volta na lateral do prédio do Memorial do Rio Grande do Sul.
De repente, destoando do clima de desconcentração do ambiente (ali se festejava mais uma vez o fim da ditadura militar), uma senhora colocou gravemente diante do autor Luiz Cláudio Cunha um exemplar em que se destacava, numa folheta de cartolina, o nome da pessoa a quem devia ser feita a dedicatória: In Memorian de Didi Pedalada.
Cunha se levantou para ficar à altura da futura leitora.
– Por que o senhor escreveu isso? – perguntou a mulher.
– Quem é a senhora? – quis saber o jornalista.
– Eu sou a viúva do Didi Pedalada…
– Escrevi para mostrar que esse e outros episódios do tempo do Didi Pedalada foram praticados com a cobertura de muitos governantes.
– Mas tinha que colocar no livro o nosso endereço?
– Não me diga que a senhora mora no mesmo lugar?!
– Sim, aquela casa era a única coisa que tínhamos.
Tenso mas aliviado ao ver que se tratava mais de um desabafo do que de uma cobrança, Cunha sentou-se e escreveu a dedicatória possível aos descendentes do ex-jogador de futebol Didi Pedalada, um dos participantes do sequestro de Lilian Celiberti em novembro de 1978, em Porto Alegre. Na frase, lembrou que muitos agentes da história não sabiam o que estavam fazendo, apenas cumpriam ordens.
Enxugando as lágrimas, a viúva pegou o livro e retirou-se. A fila voltou a andar.
Fato de 30 anos atrás deixa uma bomba na Feira do Livro
Elmar Bones
A 54a.Feira do Livro, que termina domingo, 16, deixará em Porto Alegre uma bomba de efeito retardado: o livro do jornalista Luiz Claudio Cunha, editado pela LPM, reconstituindo o “sequestro dos uruguaios” ocorrido em novembro de 1978, fato que abalou as ditaduras uruguaia e brasileira e que lançou seus primeiros estilhaços ali mesmo na Praça da Alfândega, em meio às barracas da Feira.
Na abertura da feira daquele ano, o governador Synval Guazzelli foi encurralado pelos repórteres para falar de um assunto do qual vinha fugindo nos últimos dias – a denúncia de que dois adultos (Universindo Dias e Lilian Celiberti) e duas crianças (Camilo, 8, e Francesca, 3, filhos de Lilian) haviam sido sequestrados em Porto Alegre e levados para Montevidéo por uma ação conjunta de policiais uruguaios e brasileiros.
O livro tem 472 páginas, e reconstitui os fatos num ritmo de reportagem, sem buscar isenção, nem distanciamento. O repórter está envolvido desde o primeiro minuto, quando numa tarde de novembro de 1978, acompanhado do fotógrafo J.B. Scalco, bateu num apartamento na rua Botafogo, no Menino Deus, e foi recebido por uma pistola. O autor do livro está do lado de cá da pistola, que como se descobriu depois, a partir do testemunho dele e de Scalco, estava a serviço de uma organização criminosa, que eliminava dissidentes à sombra das ditaduras do continente. Por isso, Luiz Cláudio é impiedoso com todos aqueles que estavam do lado de lá, o da pistola.
O livro, lançado dia 7, com autógrafos na feira, detonou uma série de eventos em Porto Alegre e, de certa forma fez o mundo político local reviver os dias sombrios daqueles tempos “em que adversários eram punidos com a tortura, o desaparecimento e a morte”.
Lilian e Universindo vieram de Montevidéo para homenagens na Assembléia Legislativa, na Ordem dos Advogados, deram dezenas de entrevistas em rádios, jornais e tevês. Lembraram a prisão, as torturas, nominaram os algozes, repudiaram as ditaduras e reitararam sua gratidão aos jornalista, advogados, defensores de direitos humanos e parlamentares que alimentaram a campanha, que não só desvendou o sequestro. Também salvou a vida deles, dos raros que escaparam das garras da Operação Condor.
Luiz Claudio Cunha, que vive em Brasilia, voltou para casa. Lilian, Universindo, Camilo e Francesca voltaram para Montevidéo, onde vivem. O livro ficou como uma bomba silenciosa, demolidora de biografias que se reconstruiam sob a poeira do tempo.