Cada vez mais cientistas acreditam que o uso constante do telefone celular pode estar relacionado com o aumento dos casos de tumores cerebrais. Os estudos não são conclusivos, mas um ponto já é consenso: as crianças são muito mais sensíveis aos efeitos das radiações.
As grandes indústrias do setor já desembolsaram algumas centenas de milhões de dólares em estudos. Existem dois grandes projetos sobre a telefonia celular em andamento, envolvendo 16 países de quatro continentes.
Hoje, mais de três bilhões de pessoas utilizam a telefonia móvel. No Brasil, já são mais de 100 milhões de usuários, perto de 57% da população, segundo dados da Anatel, de fevereiro deste ano.
O pouco interesse no assunto deve-se à falta de informação, segundo o engenheiro Álvaro Augusto Almeida de Salles, um dos maiores especialistas em pesquisas sobre telecomunicações.
Chefe do Laboratório de Comunicações Eletro-Óticas do Departamento de Engenharia Elétrica da UFRGS, Salles coordena uma equipe de pesquisadores, que há mais de dez anos estuda os efeitos biológicos das radiações eletromagnéticas no organismo humano.
“Uma coisa é certa: está se usando amplamente uma tecnologia que ainda não se mostrou inócua à saúde”, adverte.
*Esta entrevista exclusiva ao jornalista Cleber Dioni Tentardini foi publicada na Revista JÁ em 2007. O professor falou sobre as duas grandes pesquisas em andamento, como os países estão lidando com as novas descobertas, os efeitos nas crianças e que medidas o Brasil deve adotar para prevenir os usuários dos perigos dessa tecnologia, que veio para ficar.
O que está claro nesse terreno, professor?
Uma coisa é certa: está se usando amplamente uma tecnologia que ainda não se mostrou inócua à saúde. Ao contrário, os resultados das pesquisas disponíveis mostram diversos efeitos danosos à saúde, inclusive câncer. Então, estamos servindo de cobaias. Como afirmou o doutor Leif Salford, neurocirurgião na Universidade de Lund, na Suécia, referindo-se às bilhões de pessoas no mundo que conversam pelos celulares, forçando livremente radiações eletromagnéticas para seus cérebros: “Esta é a maior experiência biológica na história do mundo”. Há pesquisas em andamento no várias partes. Em Naila, na Alemanha, e em Netanya, em Israel, os estudos mostram que o risco de novos casos de câncer é bem maior entre as pessoas que viveram durante dez anos num raio de 400 metros das Estações de Rádio Base (ERBs). Este estudo mostrou que não é mais possível assumir que não há relação casual entre emissões de rádio freqüências e o aumento de incidência de câncer.
Esses riscos já foram reconhecidos pelas empresas?
Não publicamente. São os efeitos biológicos, que nós chamamos de não-térmicos. Como falei no seminário em Brasília, em abril, já existem evidências científicas suficientes sobre os efeitos biológicos da radiação emitida pelos celulares. Por isso, não existe outra alternativa senão a adoção imediata do Princípio da Precaução. Principalmente pela disseminação dos celulares entre as crianças.
As crianças estão mais expostas à radiação dos celulares?
Crianças e adolescentes. Os efeitos são mais críticos que em adultos, especialmente porque nas crianças e adolescentes a espessura do crânio é menor e maior a penetração, a onda atinge a regiões mais internas do cérebro. Além disto, nas crianças verifica-se que o metabolismo é mais rápido e quaisquer efeitos danosos devem ser mais críticos, e normalmente, as recomendações de prudência e cautela são menos consideradas.
Há estudos com crianças?
O professor Ohm Gandhi, da Engenharia Elétrica e Computação da Universidade de Utah (EUA), publicou uma pesquisa sugerindo que os cérebros das crianças absorvem 50% a mais a radiação dos telefones móveis do que adultos. William Stewart, do Departamento da Saúde da Inglaterra, alertou há dois anos que crianças com idade inferior a nove anos não deveriam utilizar telefones móveis porque o tecido do cérebro é particularmente vulnerável e que o crânio em crescimento das crianças é menos espesso que aqueles dos adultos, e então menos resistente à radiação.
E as pesquisas sobre as Estações de Rádio-Base?
A população normalmente está bem afastada das ERBs e a distância é fundamental porque a radiação decai na medida em que a pessoa se afasta da antena. Mas é preciso meios eficazes para fiscalizar essas antenas. Então, o aparelho celular passa a representar o maior perigo, por estar encostado na cabeça. Mas o mais grave nisso é que os estudos trabalham com níveis de exposição à radiação bem abaixo dos limites permitidos. Nesse estudo de Naila, por exemplo, os níveis de radiação estavam cerca de 800 vezes menor.
O que acha da legislação de Porto Alegre?
Em Porto Alegre, a lei 8.706, de 14 de janeiro de 2001, proposta pelo então vereador Juarez Pinheiro (PT) obriga os fabricantes de aparelhos celulares a divulgar os níveis de radiação eletromagnética emitidos pela antena dos telefones e substituir os aparelhos cujo nível de radiação supere o limite aceito internacionalmente. Não vingou. Nessa mesma época surgiu um projeto de lei na Assembléia Legislativa gaúcha que tornaria obrigatório às operadoras de telefonia colocar adesivos nos aparelhos para advertir os usuários sobre os riscos à saúde, como nas carteiras de cigarro, mas não sei o que houve, deve ter sido engavetado.
O que significa o Princípio de Precaução
É um critério que já foi adotado em vários países diante do alto grau de incerteza científica frente aos potenciais riscos de determinada tecnologia, no caso, a telefonia móvel celular. Toma-se uma atitude preventiva sem esperar os resultados da pesquisa científica. Porque se os riscos existem, são sem dúvida problemas de Saúde Pública, e como tal devem ser tratados. A própria Organização Mundial da Saúde decidiu que já é hora de adotar o Princípio da Precaução sobre o uso do celular e do funcionamento das Estações de Rádio-Base.
Esse princípio tem amparo na legislação em vigor?
A Anatel é a reguladora. Ela precisa estabelecer normas mais rígidas do que está em vigor, já que os estudos apontam a possibilidade de ocorrer prejuízos à saúde dos usuários em níveis muito abaixo da radiação emitida hoje pelos aparelhos.
A Anatel adotou uma norma ineficiente?
Acontece que as normas existentes para os aparelhos celulares e para as ERBs prevêem somente os efeitos térmicos, de curta duração, que já foram comprovados, como o aquecimento dos tecidos internos do ouvido e de outras partes do corpo. Hoje, a Anatel utiliza a norma adotada pela ICNIRP, que estabelece a radiação emitida pelo celular, a Taxa de Absorção Específica (SAR) máxima permitida é de dois miliwatts por grama de tecido (2 mW/g), considerando-se a antena do parelho a uma distância mínima de dois centímetros da cabeça. Só que pesquisas recentes mostram repetidas vezes efeitos danosos à saúde em níveis de exposição substancialmente abaixo da norma ICNIRP.
Quem estipula a SAR?
Pela própria ICNIRP. SAR significa a potência por unidade de massa de tecido.
Em quanto a norma é superada?
Em muitas vezes. A dois centímetros você está no limite da norma. À medida que a antena se aproxima, esses valores começam a crescer, a ponto de que, a um centímetro, você já superou três ou quatro vezes a norma. E, quando a antena está encostada na cabeça, esse limite é superado entre cinco e dez vezes. A Anatel adotou esse limite em 1999 e já está na hora de adotar uma norma mais rígida, que proteja os usuários. O problema é que a norma existente está baseada somente nos efeitos térmicos, que já foram comprovados, mas a precaução vai além, justamente para proteger as pessoas do que pode ocorrer.
Qual é a norma mais rígida?
Sugerimos como limite de exposição aos campos eletromagnéticos 0,6 V/m, adotado em Salzburg, na Áustria. A norma suíça e italiana também são recomendáveis. Esse limite está sendo pleiteado na França, através de dois projetos de lei em tramitação na Assembléia Nacional.
Quais são os problemas com os aparelhos celulares?
São muito ineficientes. O principal problema é com a antena atualmente utilizada na grande maioria dos telefones móveis, que é do tipo monopólo convencional. Pior ainda nos aparelhos com antena interna. Quando está afastada de qualquer obstáculo, esta antena irradia simetricamente em torno de si mesma, em um plano perpendicular a ela. Quando está muito próxima á cabeça, perde a irradiação em simetria, em círculo, e cerca de 70% da energia que deveria chegar a uma ERB é absorvida pela cabeça, ficando menos de 30% para a função principal, que é a comunicação com a Estação mais próxima. E geralmente em potência elevada devido ao ajuste automático dos aparelhos. Nestas condições, os resultados medidos mostram que mesmo normas restritivas são substancialmente superadas. Essa tecnologia não foi dimensionada para operar próxima da cabeça, mas foi aproveitada de um tipo de antena que já existia, dos rádios portáteis, por exemplo.
Quais prejuízos dos efeitos térmicos?
Os mais notados são no olho. Quando há aquecimento, o globo ocular pode ficar esbranquiçado, que chamamos de opacidade, e se aproxima de uma catarata interna. E também pode haver casos de glaucoma. Esses efeitos são conhecidos há mais de trinta anos. E as normas como do ICNIRP são baseadas nesses efeitos.
Existem casos comprovados de glaucoma?
Alguns casos já foram relatados na literatura médica. O olho está mais exposto porque é um tecido muito sensível e a antena deve ficar distante mais de cinco centímetros do olho. A gente vê policiais, pessoal de organização de eventos usando aparelhos de comunicação na frente dos olhos…é um risco.
A Universidade Federal da Paraíba concluiu uma pesquisa sobre os efeitos da radiação, mas em ratos.
É. Dizem que houve redução em 26% na fertilidade dos animais expostos. Esses são efeitos biológicos.
Os não-térmicos?
É. Efeitos no sistema nervoso, no sistema cardiovascular, no metabolismo, em fatores hereditários, com problemas hormonais. As mais sensíveis são as células nervosas, neurônios e moléculas de DNA, os cromossomos. Se fosse só calor externo não tinha problema. Mas lá no cérebro as coisas podem estar acontecendo muito pior, porque você não tem sensores térmicos ali, então não percebe. Esses tecidos não se regeneram. Se você perder 10 mil neurônios de 100 mil nem vai notar, mas a médio e longo prazo vai sentir.
O que representa médio e longo prazos?
Médio prazo é cinco, dez anos. Tendo em vista que cerca de 3 bilhões de pessoas utilizam os terminais móveis, e no Brasil já são mais de 100 milhões, isto se tornou uma questão de saúde pública, e não existe outra alternativa responsável senão a adoção imediata do Princípio da Precaução. Caso isto tardar, já poderá ser tarde demais para a reparação dos danos. Qual será o custo disto? Quem pagará esta conta?
E qual seria a antena ideal?
O melhor seria uma antena diretiva, que emitisse energia no sentido oposto da cabeça. Como o farol do automóvel, que tem diretividade. Ele concentra energia num determinado facho. Então, a cabeça ficaria protegida. Já existem antenas assim, algumas já foram patenteadas. A Motorola está fazendo pesquisas com as antenas diretivas. Patrocinou um estudo no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em São José dos Campos, um projeto de 100 mil dólares, se não me engano. Mas isso nem precisaria porque eles já têm patente internacional dessas antenas, era só colocar em prática. Em 1995, esse tipo de antena não era novidade nos Estados Unidos.
Por que não estão disponíveis no mercado?
Realmente, eu tenho pensado bastante nisso, mas não tenho resposta. Como a norma é ultrapassada várias vezes, além de ser um problema de saúde pública, eu digo que também é um problema de direitos humanos e de defesa do consumidor. Porque os usuários têm o direito de serem informados sobre as normas e precauções. Mas, para muitos, isso não é conveniente que seja divulgado.
Essa nova antena poderia elevar o custo do produto?
Não seria um custo muito maior, cerca de 10 ou 20 dólares. Serviria até como um bom marketing para os fabricantes.
Mas aí os fabricantes teriam que substituir os atuais modelos?
É. Talvez seja uma estratégia mercadológica para vender mais do primeiro tipo e depois entrar com o outro. Quanto tempo eles tiverem, melhor. Não estou dizendo que essa é a estratégia. Agora, está comprovado que essa antena é um dos piores projetos de engenharia das últimas décadas, não há a menor dúvida.
Alguma semelhança com a indústria do cigarro?
Assim como ocorre há décadas com as indústrias de tabaco, agora é a vez das fabricantes de telefones celulares enfrentarem os tribunais de diversos países. Um dos primeiros processos, que abriu as portas para centenas de ações contra a indústria de telefonia móvel, iniciou em 2000 contra a Motorola. Advogados do neurologista norte-americano, Christopher Newman, 43 anos, vítima de câncer no cérebro, usaram a análise para sustentar uma ação de US$ 800 milhões. Michael Murray, de 35 anos: US$ 1,5 bilhões, Outras cinco causas, de mais que US$ 1 milhão cada, todos envolvendo tumores cerebrais associados ao uso do aparelho celular. Como disse o Veríssimo (L.F. Veríssimo, ZH, 1/3/2004): o cigarro, comprovadamente, mata. A venda de cigarro não é proibida porque os impostos pagos pela indústria do fumo são responsáveis por um naco gigantesco do orçamento estatal e o vício que mata sustenta boa parte das atividades do governo…
Que providências a Anatel poderia tomar?
A Anatel deveria emitir uma determinação para que os fabricantes medissem a SAR de todos aparelhos em uso no Brasil e divulgassem amplamente os valores. Os que estivessem acima da norma, de preferência uma mais rígida, deveriam ser recolhidos, uma coisa elementar.
O que falta, então?
Há muito interesse em jogo. Enquanto estiverem vendendo os aparelhos… Agora, o que precisa haver é uma imposição oficial que obriguem a fazer o negócio direito. Só que a Anatel tem que impor isso. Assim como deve mandar ser visíveis na caixa do celular os índices de radiação que o usuário está sujeito com aquele aparelho.
O representante da Agência que esteve lá no seminário em Brasília, Maximiliano Martins, declarou que o único efeito comprovado das ondas eletromagnéticas é o aquecimento dos tecidos.
Ele declarou que os limites da ICNIRP são 50 vezes abaixo da faixa considerada segura. Mas as pesquisas indicam que mesmo em níveis muito baixos os riscos são reais.O Relatório de Progressos do projeto Reflex, que envolve sete países, indica efeitos danosos a saúde em baixos níveis de exposição, e deu como exemplo as quebras simples e duplas nas moléculas de DNA. Do outro Projeto, chamado Interphone, envolvendo 13 países, ainda não existe o relatório final. Mas já foram publicados artigos que mostram pesquisas epidemiológicas onde aparecem aumentos de riscos de tumores cerebrais para usuários constantes de celulares.
O professor Renato Sabbatini, colaborador da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, disse que apenas 1% ou 2% dos estudos mostraram a possibilidade de algum dano às pessoas.
Essa é a opinião dele. Acontece que há estudos que comprovam a relação entre a exposição às ondas eletromagnéticas provenientes principalmente de celulares e de antenas de transmissão do sinal desses aparelhos com a maior incidência de câncer na população. O representante das operadoras (presidente-executivo da Associação Nacional das Operadoras Celulares, Ércio Alberto Zilli) reclamou do excesso de regras. Citou a existência de 174 decretos, leis e resoluções em seis estados, 141 municípios. Mas não vejo outra alternativa.
Fale mais do Projeto Interphone
Projeto iniciado em 2001, envolvendo os principais laboratórios em 13 países (Suécia, Finlândia, Dinamarca, Inglaterra, Alemanha, Noruega, Itália, França, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Israel, Japão). Alguns liberaram resultados dos estudos, sendo a maioria publicada na Revista Internacional de Oncologia. Todos fizeram pesquisas com pessoas que usam constantemente o aparelho celular a mais de dez anos. Dos sete estudos, cinco encontraram relação com o aumento de tumores cerebrais, dos tipos meningioma, glioma e neurinoma acústico. Um dos estudos, realizado na Universidade de Orebo, na Suécia, revelou que pessoas que utilizam o celular por mais de meia hora por dia, durante 10 anos, tem 310% de risco de desenvolver tumor no sistema auditivo (Neurinoma Acústico) e, durante 15 anos, o risco chega a 380%.
E o Projeto Reflex?
É um estudo financiado pela União Européia, envolvendo sete países (Alemanha, Áustria, Espanha, Finlândia, França, Suíça e Itália), e orçado em mais de 3 milhões de Euros), cujos resultados detectaram alteração no DNA e nos fibroblastos (uma das estruturas celulares) mesmo quando a exposição ao campo magnético ocorre em níveis menores do que os permitidos pela ICNIRP. O neurocirurgião Leif Salford e o biofísico B. Persson, da Universidade de Lund, na Suécia, mostraram que níveis muito baixos de exposição (SAR = 0,002 W/Kg, durante somente duas horas) podem alterar a Barreira Cérebro-Sangue, permitindo que substancias químicas penetrem em neurônios no córtex, no hipocampo e em gânglios basais do cérebro. Esta alteração permanecia ainda evidente quatro semanas após uma única exposição de duas horas. O professor Francisco Tejo, da Universidade Federal de Campina Grande, divulgou resultados de pesquisas que indicam que a exposição a campos eletromagnéticos, independentemente da intensidade, reduz em cerca de 40% a produção de melatonina, substância produzida pelo cérebro que tem a função de identificar e destruir células defeituosas. Sua atuação principal é na proteção contra o câncer de mama e de próstata. Quer mais?
Claro
O estudo de doutor Lennart Hardell, do Örebo Medical Center, na Suécia, mostrou que os usuários de telefones celulares apresentavam uma probabilidade 2,5 vezes maior para desenvolver tumores nestes lobos, no lado da cabeça onde o aparelho era normalmente operado. Em outros estudos ele verificou aumento do risco de câncer cerebral quando o telefone móvel é usado do mesmo lado da cabeça que o tumor, quando há excesso no número de horas de uso dos telefones móveis e com os anos de uso dos aparelhos. Outra pesquisa coordenada por Hardell, publicada em 2005, mostra que os usuários de celulares em áreas rurais tinham 50% a mais de riscos de desenvolver tumores cerebrais em comparação com os usuários dos locais urbanos. Essa probabilidade cresce para 250% para pessoas que usaram celulares durante mais de cinco anos. Os celulares digitais podem irradiar potência cerca de mil vezes maior quando estão em áreas onde o sinal é fraco, normalmente afastados das ERBs.
Quando os europeus começaram a se preocupar com essa tecnologia?
A Inglaterra foi um dos primeiros países a advertir os usuários contra o uso excessivo do aparelho, principalmente por crianças. O Ministério da Saúde britânico soou o alerta depois que o jornal de medicina Lancet publicou um artigo do médico Gerard Hyland, da Universidade de Warwick, onde ele afirmou que as freqüências do celular interferem nas freqüências do corpo humano e que os usuários com menos de 18 anos são vulneráveis a dores de cabeça, perda de memória e distúrbios do sono. Na Alemanha, estudos mostraram que as freqüências de rádio emitidas pelos celulares e torres poderiam provocar modificação genética em células e animais de laboratório, podendo chegar ao câncer.
Uma pergunta que parece óbvia: você usa celular?
Não, e estou sempre recomendando aos meus familiares que utilizem o menos possível.
Que tipo de recomendações o senhor pode deixar para o nosso leitor?
Falar o menor tempo possível no celular; não encostar o aparelho na cabeça quando estiver falando; quando for possível, levantar a antena ao máximo; e evita que crianças utilizem esse telefone. Se for utilizar fones de ouvido, manter o aparelho afastado do corpo.
Entenda melhor
Radiação eletromagnética – conjunto de ondas elétricas e magnéticas, que se propagam no espaço transportando energia. Alguns tipos: microondas, rádio, tevê, raios X, ultravioleta, infravermelho.
ICNIRP (Comissão Internacional de Proteção às Radiações Não Ionizantes) – organização formada por cientistas independentes de vários países que desenvolvem estudos de saúde e segurança sobre exposições a ondas de radiofreqüências.
IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineer) – organização fundada nos Estados Unidos por engenheiros eletricistas e eletrônicos, que trabalha no estabelecimento de normas e padrões e na edição de publicações técnicas.
SAR (Specific Absorption Rate) – Taxa de Absorção Específica, é a intensidade de radiação absorvida por grama de tecido do corpo.
MW/g – Miliwatts por grama de tecido. De acordo com a ICNIRP, a SAR máxima admitida de um aparelho de celular é de 2 mW/g, dependendo da intensidade emitida e respeitando uma distância mínima de dois centímetros da cabeça.
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OMS anuncia que uso de celular pode provocar câncer
A radiação emitida pelos celulares pode aumentar o risco de ocorrência de câncer, anunciou ontem a Organização Mundial da Saúde (OMS). A conclusão é de 31 cientistas de 14 países reunidos na Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC), da OMS.
A Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul é uma das pioneiras no Brasil a relacionar a exposição prolongada aos campos eletromagnéticos gerados pelas radiofrequências dos telefones móveis ao possível desenvolvimento de certos tipos de câncer. O professor Álvaro Augusto Salles, do Laboratório de Comunicações, é referência mundial no tema. “Era questão de tempo, um tempo que certamente já custou a saúde de muitas pessoas, inclusive crianças que ganham celulares como brinquedos”, adverte Salles.
A classificação da OMS como ‘possivelmente cancerígeno’, na mesma categoria do chumbo, escapamento de motor de carro e clorofórmio, pode fazer com que o corpo de saúde da Organização das Nações Unidas revise suas orientações sobre os aparelhos de telefonia móvel.
Os cientistas apontaram como possível risco de câncer cerebral o uso excessivo de celulares – cerca de 30 minutos por dia durante dez anos. Aumentaria em 40% o risco de uma pessoa desenvolver glioma – um tipo maligno de câncer no cérebro.
O responsável pelo grupo de trabalho OMS/IARC, Jonathan Samet, da University of Southern Califórnia, declarou que as provas reunidas até agora “são suficientemente sólidas (…)” para identificar “evidência limitada de carcinogênese em humanos”.
A conclusão do grupo de trabalho é que “é importante tomar medidas pragmáticas para reduzir a exposição a equipamentos como os fones de ouvido para celulares”.
Os fabricantes de celular disseram que a classificação da IARC não afirma que celulares causam câncer. “Os aparelhos produzem ondas de radiação não ionizada que são muito fracas para causar danos no DNA que causem tumores malignos”, alegam.
Mais investimentos para melhorar água consumida em Porto Alegre
É preciso investir de forma permanente em novas tecnologias para melhorar a qualidade da água consumida em Porto Alegre que, de maneira geral, é boa. Essa foi a ideia central apresentada hoje pela manhã na Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam), da Câmara Municipal, por especialistas da Universidade e de órgãos municipais e estaduais.
O público reduzido presente à reunião proposta pelo vereador Thiago Duarte (PDT), contrastou com a importante contribuição do professor Antônio Benetti, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, que falou sobre os perigos dos poluentes e os principais desafios para manter uma boa qualidade da água.
Segundo ele, o controle da transmissão de doenças por microrganismos patogênicos continua sendo o objetivo principal do tratamento da água. “Deve-se ter atenção especial com as cianobactérias, um conjunto de microrganismos que produzem toxinas e causam gosto e odor e são difíceis de controlar”, ensina Benetti. Ele adverte que, por ser um manancial desprotegido, o Guaíba enfrentará por um bom tempo esse que é um dos principais problemas do lago que abastece a capital.
Benetti lembrou dos episódios ocorridos em 2005 e 2006, que deixaram a água com a cor verde. “São organismos que provocam fotossíntese, mesmo não sendo algas nem plânctons, por exemplo.” De acordo com o professor, alguns desses compostos, alteram a atividade endócrina em peixes e suas funções sexuais. “São chamados perturbadores endócrinos como surfactantes. São analgésicos e hormônios sexuais, que acabam chegando aos mananciais”, exemplificou.
Outro contaminante altamente cancerígeno é o arsênico, segundo o especialista do IPH da UFRGS. Está presente nos poços artesianos e em resíduos de fertilizantes e na decomposição dos excrementos de animais criados em confinamento, como porcos, bovinos, ovinos e eqüinos. Esses materiais mais cedo ou mais tarde atingem mananciais e bacias hidrográficas. Ainda não foi detectado no Rio Grande do Sul.
O professor Benetti ainda criticou o alto consumo de água engarrafada no Brasil, que ocupa hoje a quarta posição entre os maiores consumidores. De 1997 a 2009, o país passou de 3,9 bilhões para 16,1 bilhões de litros consumidos, representando um crescimento de 310%. “É preciso mostrar que um terço da garrafinha de água é petróleo, a energia que se utilizou para produzi-la. O custo energético para se produzir um litro de água engarrafada é mil vezes maior que o custo empregado no tratamento da água da torneira”, explica.
Tecnologias avançadas
A diretora substituta da Divisão de Tratamento do DMAE, Sissi Maria Cabral, detalhou o trabalho desenvolvido pelo órgão municipal com a água proveniente do lago Guaíba. Munida de fotos em que mostram instalações e equipamentos antes e depois dos investimentos feitos, Sissi ressaltou que um dos motivos para a melhora da água em Porto Alegre foi a substituição de equipamentos e produtos químicos antigos por sistemas de última geração, permitindo eliminar e tratar preventivamente as infestações por mexilhão dourado nas tubulações, que estavam entupidas pela presença do parasita.
Também participaram da reunião o vice-prersidente do Comitê da Bacia do Gravataí, Maurício Colombo, que falou sobre planos e diagnósticos para o Gravataí, que é um dos 25 comitês da Bacia Hidrográfica do Guaíba, o vereador Carlos Todeschini, ex-diretor geral do DMAE, e representantes da Secretaria Estadual da Saúde, dos órgãos da Vigilância Sanitária do município e do estado, SMAM, SMIC e SMOV.
Ufrgs comemora 30 anos do Unimúsica com shows e debates
Criado em 1981 como uma iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS, que tinha como intenção abrir espaço para a produção musical universitária, o Unimúsica fez surgir junto com ele uma geração da qual fizeram parte grandes nomes do cenário musical gaúcho como: Nelson Coelho de Castro, Vitor Ramil, Totonho Villeroy e Nei Lisboa. De lá para cá, o projeto adotou um caráter mais didático proporcionando oficinas, debates, encontros com artistas, mostras cinematográficas e distribuição de materiais gráficos ao público.
Os espetáculos também passaram a ser idealizados segundo temas específicos como: piano e voz (2004), que tinha como objetivo resgatar a importância histórica da relação instrumento-canção, e contrapontos (2008), que colocava lado a lado músicos experiente e jovens artistas.
Em comemoração as três décadas de existência do projeto, o Departamento de Difusão Cultural da UFRGS dá início – no dia 1º de junho, às 20h, no Salão de Atos da Reitoria da Ufrgs – à série tempomúsicapensamento com Zélia Duncan e Arthur Nestrovski. Na data em questão, os artistas irão realizar um ensaio aberto. No dia seguinte, 2 de junho, ambos se apresentam também às 20h, no Palco do Salão de Atos. O repertório recupera algumas das canções cantadas em 2007, quando os mesmos criaram juntos o show Na linha de Cartola para o Unimúsica, além de outras músicas, que englobam trabalhos individuais e obras-primas do cancioneiro norte-americano e clássicos da música brasileira.
O tempo, foco da série deste ano, foi escolhido por ser o elemento por trás do resultado mostrado no palco. Quase que imperceptível, ele envolve tanto o processo criativo, fundamental para a o desenvolvimento de uma obra, quanto o esforço empregado para a manutenção de uma carreira artística e, principalmente, de um projeto cultural, que, no Brasil, tende a ter vida curta.
Zélia Duncan começou a cantar profissionalmente em 1981, mesmo ano em que o Unimúsica surgiu. A partir deste momento, deu início a uma sólida carreira que concilia qualidade artística e grande popularidade. Em 1990, gravou o primeiro disco, Outra luz, pelo qual recebeu duas indicações para o prêmio Sharp, como revelação e melhor cantora pop-rock. De lá pra cá, a cantora e compositora de voz inconfundível lançou muitos outros: Zélia Duncan (1994), Intimidade (1996), Acesso (1998), Sortimento (2001), Sortimento vivo (2002), Eu me transformo em outras (2004), Pré-pós-tudo-bossa-band (2005) e Pelo Sabor do Gesto, álbum de 2009 consagrado pela crítica, que rendeu à cantora uma indicação ao Grammy Latino e o prêmio de Melhor Cantora na categoria Pop/Rock da 21ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Para celebrar os trinta anos de carreira, Zélia Duncan prepara o lançamento do DVD Pelo Sabor do Gesto em Cena.
Arthur Nestrovski é atualmente o diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Formado em música pela Universidade de York (Inglaterra) e doutor em literatura e música pela Universidade de Iowa (EUA), foi articulista da Folha de São Paulo (1992 -2009) e editor da PubliFolha (1999-2009). Nestrovski é autor de Notas musicais, Outras notas musicais e Palavra e sombra, entre outros livros ? incluindo o premiado título de literatura infantil Bichos que existem e bichos que não existem (Cosac Naify, 2002, Prêmio Jabuti de Livro do Ano/Ficção). Voltou à atividade musical como violonista e compositor em 2004, apresentando-se e gravando com Zé Miguel Wisnik, Ná Ozzetti e Tom Zé, entre outros, no Brasil e no exterior. Em 2007, lançou os CDs Jobim violão e Tudo o que gira parece a felicidade, com composições próprias. Completam sua discografia o álbum Chico violão e o disco em parceria com o cantor Celso Sim, Pra que chorar.
Também compõem a programação da edição 2011 do projeto Unimúsica: o Trio 3-63, com uma homenagem, no dia 14 de julho, a Moacir Santos; Vitor Ramil, que sobe ao palco no dia 4 de agosto; Egberto Gismonti e a Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro sob regência de Antônio Borges-Cunha, que se apresentam no dia 1 de setembro; os duos brasileiros Ná Ozzetti e André Mehmari, Mônica Salmaso e Teco Cardoso e Izabel Padovani e Ronaldo Saggiorato com show marcado para o dia 06 de outubro; Renato Borghetti, Quarteto e Alegre Corrêa, que tocam no dia 10 de novembro; e Zé Miguel Wisnik, que encerra os trabalhos no dia 08 de dezembro. Qualquer alteração será comunicada previamente no site do departamento www.difusaocultura.ufrgs.br.
CONTATO
Lígia Petrucci – ligia@difusaocultural.ufrgs.br
Departamento de Difusão Cultural – Av. Paulo Gama, 110 Campus Central da UFRGS
Mezanino do Salão de Atos F: (51) 3308.30.34 difusaocultural@ufrgs.br
Seminário debaterá ditaduras do Cone Sul
Os 47 anos do golpe de 1964 serão lembrados no seminário Memória, Verdade e Justiça: Marcas das Ditaduras do Cone Sul , dias 30 e 31 de março e 1º de abril, em Porto Alegre.
O evento é promovido pela Escola do Legislativo, da Assembléia gaúcha, pelas secretarias estaduais da Administração e da Cultura, e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Participarão das mesas Maria do Rosário, Ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos; Raul Pont, deputado estadual; Luis Puig, deputado uruguaio; Sereno Chaise, prefeito da Capital cassado em 1964; Antenor Ferrari, ex-presidente da Assembleia Legislativa; Suzana Lisbôa, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos; Estela de Carlotto, presidente da Asociación Abuelas de Plaza de Mayo; Camilo Casariego Celiberti, filho de Lilián Celiberti, sequestrado em Porto Alegre em 1978; e Edson Teles, sequestrado em 1972.
No dia 30, o seminário começará no Memorial do Rio Grande do Sul (Rua Sete de Setembro, 1020, Centro), às 18h30. No dia 31, segue no Plenarinho da Assembleia (Praça Marechal Deodoro, 101, Centro), també, a partir das 18h30. No dia 1º de abril, termina no Salão de Atos II da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110, Centro), às 18h. As mesas serão precedidas por manifestações culturais. Todas as atividades são gratuitas e abertas à comunidade.
Programação:
30 de março, no Memorial do Rio Grande do Sul
18h30 – Pocket show: Cale-se: as músicas censuradas pela ditadura militar, promovido pelo Teatro de Arena
19h – Mesa: “Ditaduras de Segurança Nacional: o Sequestro de Crianças”
Convidados:
Camilo Casariego Celiberti
Edson Teles
Exibição de Documentário
Mediação: Ananda Simões Fernandes, Historiadora do Arquivo Histórico do RS
31 de março, na Assembleia Legislativa (Plenarinho)
18h30 – Apresentação musical: Raul Ellwanger, músico e compositor
19h – Mesa: “Memórias da Resistência no Rio Grande do Sul”
Convidados:
Raul Pont
Sereno Chaise
Antenor Ferrari
Mediação: Cesar Augusto Guazzelli, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFRGS, e Jeferson Fernandes, deputado, presidente da Escola do Legislativo
1º de abril, na UFRGS (Salão de Atos II)
18h – Intervenção teatral: Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
19h – Mesa: “Memória, Verdade e Justiça: Os Direitos Humanos e os Deveres do Estado”
Convidados:
Maria do Rosário
Suzana Lisbôa
Estela de Carlotto
Luis Puig
Mediação: Enrique Serra Padrós, professor do IFCH/UFRGS
OS PAINELISTAS
Antenor Ferrari – Advogado, deputado estadual pelo MDB, presidiu a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a primeira do Brasil, criada em 1980. Também foi presidente da Casa em 1983.
Camilo Casariego Celiberti – Filho de Lilián Celiberti, sequestrada em 1978 em Porto Alegre num operativo Condor que congregou o aparato repressivo uruguaio e brasileiro, conhecido como “o sequestro dos uruguaios”. Depois da denúncia do jornalista Luiz Cláudio Cunha e do fotógrafo J.B. Scalco, a operação foi desmanchada. Camilo (sete anos) e sua irmã Francesca (três anos) também foram sequestrados e levados para o Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul (Dops/RS). Camilo teve um papel decisivo ao confirmar o local do seu cativeiro em Porto Alegre: reconheceu o Arroio Dilúvio, que ele via do segundo andar do prédio da Secretaria de Segurança Pública, onde funcionava o Dops.
Edson Telles – Professor de Ética e Direitos Humanos do curso de Pós-graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo. Filho e sobrinho de presos políticos, aos quatro anos de idade foi sequestrado e levado para as dependências do Doi-Codi de São Paulo, juntamente com sua irmã, Janaína (cinco anos), e sua tia, Criméia de Almeida, grávida de oito meses. As crianças ficaram presas durante dez dias no centro de repressão, assistindo às sessões de tortura as quais seus pais foram submetidos. Em 2008, a família Almeida Teles ganhou na Justiça a ação declaratória contra o chefe do Doi-Codi/SP, Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Estela de Carlotto – Presidente da Asociación Abuelas de Plaza de Mayo. Sua filha foi sequestrada e enviada a um centro de detenção clandestino quando estava grávida de três meses. O corpo de sua filha lhe foi devolvido. Seu neto, no entanto, não lhe foi entregue. Até hoje, Estela segue em sua busca. A ditadura argentina sequestrou e expropriou a identidade de mais de 500 crianças. Até o presente momento, cerca de cem crianças tiveram suas identidades restituídas.
Luis Puig – Sindicalista, secretário de Direitos Humanos do Plenario Intersindical de Trabajadores – Convención Nacional de Trabajadores (PIT – CNT). Representante da CNT na Coordenação Nacional pela Anulação da Ley de Caducidad (lei de anistia similar à brasileira) e deputado do Partido por la Victoria del Pueblo (PVP), pela Frente Ampla.
Raul Pont – Deputado Estadual pelo PT. Historiador, foi líder estudantil e presidiu o DCE Livre da UFRGS, em 1968. Foi perseguido pela ditadura brasileira. Participou da fundação do jornal Em Tempo. Fundador do PT, atuou como deputado estadual constituinte, deputado federal e prefeito de Porto Alegre (1997-2000).
Sereno Chaise – Advogado e trabalhista histórico, foi cassado pelo Golpe Civil-Militar em 1964, quando era prefeito de Porto Alegre. Foi deputado estadual entre 1959 e 1963 pelo PTB. Foi um dos fundadores do PDT.
Suzana Keniger Lisbôa – Integrante da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. Seu marido, Luiz Eurico Tejera Lisbôa, foi o primeiro desaparecido político da ditadura a ser reconhecido oficialmente pelo Estado como assassinado pelo sistema repressivo.
Biodiversidade em palestra
Hoje, 21/7, das 18h as 19h30, acontece a primeira palestra do ciclo O Uso Sustentável da Biodiversidade, no Museu da UFRGS (Av Osvaldo Aranha, 277), com entrada franca.
A promoção é do Instituto Curicara (curicara.org.br), do Museu e do Centro de Ecologia da UFRGS. Mais informações pelos telefones 3308-3390 ou 3308-4022.
Congresso apresenta modelos e propostas culturais
Por Letícia Chiochetta e Camila Nunes, especial para o Jornal Já com colaboração de Caroline Tatsch
A efervescência cultural brasileira e seu mercado em expansão trazem cada vez mais o assunto para o foco das discussões. Acompanhando essa tendência, profissionais, estudantes e comunidade reuniram-se esta semana no Congresso Economia, Cultura e Sociedade para debater propostas de políticas públicas e modelos culturais para a sociedade.
Promovido pelo departamento de Difusão Cultural da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o evento reuniu importantes pensadores da área cultural brasileira e do exterior, como Claudia Toni, Teixeira Coelho e a inglesa Anamaria Wills, da Creative Industries Development Agency.
Na abertura das atividades, o representante do Ministério da Cultura, Paulo Brum Ferreira, destacou que nunca houve tanta liberdade de expressão no Brasil quanto nesse momento. Brum defendeu ainda a participação efetiva da comunidade na sugestão das propostas para o Plano Nacional de Cultura, em tramitação no Congresso Nacional.
O ciclo de conferências contou com a palestra da arquiteta e urbanista Heliana Comin Vargas. A professora da FAUUSP demonstrou preocupação com a valorização dos espaços públicos e defendeu que as interferências nas cidades devem estar de acordo com as necessidades de cada espaço: “Os empreendimentos precisam se adequar às realidades locais. Há necessidade de estudar, de respeitar e de ouvir a população local”, fundamentou Heliana.
No decorrer das palestras foram explanados diversos exemplos de projetos culturais bem-sucedidos e modelos de financiamento para a cultura. A antropóloga Rachel Gadelha apresentou ao público o caso da cidade de Guaramiranga, do interior cearense, que foi beneficiada economicamente com a criação de um festival de música instrumental. Também nesta linha, a administradora cultural Claudia Toni lembrou a cidade inglesa Gateshead e o desenvolvimento gerado pela implantação de um centro cultural na localidade.
Outro caso que instigou os participantes foi o modelo de funcionamento da agência inglesa CIDA (Creative Industries Development Agency), apresentado por Anamaria Wills. Com quase dez anos de existência e atuação em diversas partes do mundo, a gerente executiva da CIDA acredita que uma das singularidades de sua empresa é perceber que o trabalho com a indústria criativa não é igual aos demais negócios. Aponta, no entanto, a relevância da convivência direta com as mais diversas áreas. “Eu acho que esse contato pode ajudar os demais negócios a entender o nosso trabalho e nós também podemos auxiliá-los a trabalhar criativamente”, explicou.
No workshop Modelos de Financiamento para a cultura, a representante da região sul do Ministério da Cultura, Rosane Maria Dalsasso, explicou as novas propostas do MinC para a Lei Roaunet. Assunto que, de acordo com a estudante Nathalia Rezende, é extremamente atual e pertinente. A mestranda em Design pela PUC/RJ veio à capital gaúcha exclusivamente para participar do congresso e ficou satisfeita com a troca de informações e o diálogo estabelecido.
A democratização do acesso aos conteúdos também esteve presente na pauta do congresso. O músico e agitador cultural Richard Serraria expôs que a banda Bataclã FC optou por disponibilizar sua produção artística na internet como forma de expandir o alcance de seu trabalho. Na oficina que realizou, da qual também participou a documentarista e produtora de cinema Isabela Cribari, foram debatidos assuntos como propriedade intelectual e direito autoral, temática que despertou fervorosas discussões.
A problemática enfrentada pelos produtores de cinema no país foi outro assunto presente. Questões como a pirataria, a defasagem das leis de incentivo à produção audiovisual, as dificuldades de distribuição e a elevada carga tributária são alguns dos entraves à produção nacional do cinema.
No encerramento das atividades, Teixeira Coelho refletiu sobre os direitos culturais e as propostas de investimento em cultura. O pensador ainda manifestou sua oposição ao Plano Nacional de Cultura: “O novo projeto apresentado pelo governo é extremamente problemático para quem trabalha com cultura. É um retrocesso muito grande”, criticou Coelho.
O Congresso Economia, Cultura e Sociedade, de acordo com a Pró-Reitora de extensão da UFRGS, Sandra de Deus, é grande por seu valor reflexivo. “Fazer cultura é ainda extremamente caro para a sociedade brasileira, principalmente para uma universidade. E nós tivemos a ousadia de realizar um evento desta importância”, enfatizou. A coordenadora do evento, Carla Bello, ressaltou que o intuito do congresso, idealizado pelo Departamento de Difusão Cultural da UFRGS, era possibilitar a discussão sobre o fazer cultural e suas implicações na atividade econômica. “Trouxemos profissionais de diferentes áreas da cultura para gerar um debate diversificado”, assinalou.