A Revolucao Eólica (4): ENERGIA AINDA É CARA

Mapa com localização dos aerogeradores / Foto Cleber Dioni Tentardini
Mapa com localização dos aerogeradores / Foto Cleber Dioni Tentardini

O valor pago pelo governo federal às empresas que produzem energia eólica ainda é caro se comparado com as hidrelétricas. O preço é calculado por megawatt/hora (MW/h) de energia que abastece o sistema elétrico brasileiro. Em contratos mais antigos o MW/h chega a R$ 250,00, em média. Não dá para disputar com a hídrica, que custa cerca de R$ 70.
Mas o quadro está mudando agora. Com a pressão das empresas para que fosse realizado um leilão exclusivo de eólica, o governo pisou no freio e condicionou a compra dessa energia à redução das tarifas. Essa era uma antiga exigência da então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para que o negócio não prejudicasse o bolso do consumidor final, o cidadão.
E o resultado foi positivo. A energia eólica vendida no complexo de Cerro Chato, por exemplo, foi vendida a R$ 131 o MW/h, representando um deságio de 32%. Essa redução dos valores fez com que alguns projetos fossem retirados do leilão por inviabilidade econômica, do ponto de vista de seus diretores.
O aumento da competitividade provoca redução dos preços. Vale para qualquer setor. A Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) defende o programa 10-10, que significa 10 GW ao longo de 10 anos. Em países europeus, o programa é 20-20, isto é ter 20% da matriz energética com eólica em 20 anos.
O Plano Decenal de Expansão Energética (PDE) 2008-2017, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao MME, prevê investimentos de R$ 142 bilhões em geração de energia e significará a adição de 63.935 MW de capacidade instalada na matriz energética nacional. O único empecilho para a Aneel contratar mais energia eólica é o custo. Uma alternativa para reduzir o valor da energia produzida pelos ventos é reduzir os impostos que incidem sobre os equipamentos eólicos. O governo cobra uma taxa de 14% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Certificados de carbono
De acordo com a ABEEólica, está sendo projetada a instalação de 30 mil MW por volta do ano 2030, podendo ser estendida em função da perspectiva de venda dos “Certificados de Carbono”. Existem, atualmente, mais de 30 mil turbinas eólicas de grande porte em operação no mundo, com capacidade instalada da ordem de 31 mil MW.
A geração de energia a partir dos ventos no Brasil iniciou em julho de 1992. No Rio Grande do Sul, desde 1999 o governo tem prestado mais atenção ao potencial eólico regional.

A Revolucao Eólica (3):POTENCIAL EQUIVALE A DEZ ITAIPU

A energia gerada pelos ventos chamada de energia eólica é a fonte energética do futuro. A mais limpa, abundante e inesgotável dentre todas. É gerada em parques que concentram vários geradores – turbinas em forma de catavento ou moinho instaladas em regiões de ventos fortes.
Além de não prejudicar o meio ambiente, a energia eólica gera investimentos, rendimentos para a agricultura, tecnologias de ponta, é à prova de secas e gera empregos. Num país cuja matriz energética é baseada fortemente em hidrelétricas, a energia dos ventos complementa a matriz em períodos de pouca chuva e na entre-safra.
Também é utilizada para substituir combustíveis naturais (não renováveis e sujeitos a escassez), como o carvão, petróleo e gás natural, auxiliando na redução do efeito estufa e, consequentemente, no combate ao aquecimento global. Além disso, as usinas eólicas convivem com outras atividades como a pecuária e a agricultura.
Mesmo entre as fontes alternativas, é a que apresenta as maiores taxas de expansão no mundo, cerca de 26%. Foi a que mais cresceu em 2009, segundo o balanço do Conselho Global de Energia Eólica, aumentando a capacidade instalada de 120,8 gigawatts (GW) para 157,9 GW em todo o mundo.
O mercado de turbinas movimentou, segundo o Conselho Global, 63 bilhões de dólares em 2009.
E o Brasil é privilegiado nesse sentido. Pesquisas estimam que o potencial eólico no país chegue a 143 mil megawatts (MW) ou 143 GW *, mais de dez vezes o que é gerado pela Usina de Itaipú.
Hoje, a fonte eólica representa 0,4% da matriz nacional. Em 2006, a energia a partir dos ventos somava 271 MW. Em 2009 foram acrescidos 427 MW e, em 2010, estavam prometidos mais 684 MW, totalizando 1.423 MW ou 1,4% da matriz elétrica brasileira, que hoje é de 100 mil MW, abastecido principalmente pelas hidrelétricas. O litoral do Nordeste, o centro da Bahia, o norte de Minas Gerais e o extremo sul do Brasil apresentam grande potencial eólico.
No contexto mundial, a China apresentou o maior crescimento, dobrando a sua capacidade, com mais 13 GW em 2009. Os Estados Unidos têm o maior número de instalações de energia eólica, com 35 GW instalados, superando a Alemanha, com 22,2 GW. Espanha, Dinamarca, Índia, Itália, Holanda, Japão e Reino Unido estão acima ou próximos de 1 GW.
Fonte: Atlas Eólico Brasileiro, produzido pelo Centro de Pesquisas da Energia Elétrica (CEPEL), da Eletrobras.

A Revolução Eólica (1): BONS VENTOS TRAZEM DILMA EM ABRIL

Por Cleber Dioni Tentardini

Pelo menos uma visita oficial da presidente da República Dilma Rousseff ao Rio Grande do Sul já pode ser agendada por sua assessoria.
Será no final de março ou início de abril, quando começa a operar a Usina Eólica Cerro Chato, no município de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, a primeira no pampa gaúcho.
A usina é formada por três parques eólicos, cada um com 15 aerogeradores e capacidade para gerar 30 megawatts (MW), totalizando 90 MW, capazes de abastecer um município com mais 200 mil habitantes.
É um dos projetos que merecem especial atenção da ex-ministra das Minas e Energia, responsável pelo programa de energia eólica no país.
Conforme o diretor técnico da Eólica Cerro Chato, Luiz Antônio Zank, na inauguração serão acionados cinco aerogeradores da primeira fase da Usina (Parque 3).
Sua conclusão está prevista para maio, antecipando em nove meses o calendário, desde o início das obras, em agosto de 2010. A subestação coletora de energia e as linhas de transmissão devem estar prontas até o início de março.

Luiz Antônio Zank, diretor da Usina Eólica Cerro Chato | Foto Cleber Dioni Tentardini
Luiz Antônio Zank, diretor da Usina Eólica Cerro Chato | Foto Cleber Dioni Tentardini

“Sabemos que é uma meta bastante arrojada, alguns dizem que é quase impossível, mas ainda estamos trabalhando com essa data porque a viabilidade econômica desse projeto depende dele estar funcionando o quanto antes, até porque a energia ofertada foi muito barata”, explica.
Neste mês de janeiro começam a chegar ao município as torres e os aerogeradores. A conclusão dos três parques da usina está prevista para final de 2011 ou início de 2012, com contratos válidos por 20 anos e uma previsão anual de receita de R$ 38,9 milhões.
A Eólica Cerro Chato S/A, responsável pela implantação, manutenção e operação da usina, é controlada pela Eletrosul Centrais Elétricas, subsidiária da Eletrobras, tendo como sócia a empresa Wobben, do grupo alemão Enercon, um dos principais fornecedores de tecnologia em aerogeradores.
A estatal brasileira detém 90% dos R$ 400 milhões que estão sendo investidos no complexo.

Eletrosul leva nova energia à fronteira

Uma chuva de granizo abafou os aplausos no exato momento em que se encerrou o ato simbólico de inicio das obras da Usina Cerro Chato, a primeira que vai produzir energia eólica no pampa riograndense.
Como se fossem o sinal dos “novos tempos”, mencionados em todos os discursos, as pedrinhas brilhantes, que se acumularam no assoalho da tenda improvisada para o evento, também receberam uma calorosa salva de palmas.
O entusiasmo tinha motivos. O parque eólico que a Eletrosul começa a construir no município é o primeiro grande projeto que se concretiza em Santana do Livramento, depois de décadas em que os principais empreendimentos da cidade se frustraram.
Em qualquer conversa na cidade são lembrados os grandes naufrágios – do Lanifício Albornoz, Swift Armour, Cooperativa de Arroz, Coperativa de Lãs, Cooperativa de Carnes…Também é recorrente o êxodo santanense, provocado por milhares de jovens que deixam a cidade a cada ano em busca de oportunidades.
Para implantar a usina serão aplicados R$ 400 milhões.Isso inclui desde abertura de estradas e acessos, a instalação das torres e seus cataventos, até uma linha de transmissão para levar a energia eólica até a rede da CEEE.
Nesta segunda-feira, 21, a prefeitura já abre inscrições para selecionar os primeiros 300 operários para trabalhar nas obras, que começam em 30 dias. O prefeito Wainer Machado diz que já tem 1.500 trabalhadores capacitados para as novas oportunidades de trabalho que vão surgir.
Em 2011, quando começaram e girar os 45 cataventos gigantes, produzindo 90 megawatts/ano de energia elétrica, a usina vai pagar royalties aos proprietários dos campos onde estão instaladas as torres e reforçar os cofres da prefeitura com um acréscimo de pelo menos 5¨% na receita de impostos.
Além disso, com suas torres de 108 metros de altura em pleno pampa, o parque eólico será outro atrativo turístico para a cidade que já recebe milhares de pessoas por conta do free-shop de Rivera, a cidade uruguaia geminada com Livramento.