Eleita Mesa da Câmara para 2011

A vereadora Sofia Cavedon (PT) foi eleita ontem (15/12) para presidir a Câmara Municipal de Porto Alegre em 2011. Reeleita para o terceiro mandato, ela foi vice este ano.
A chapa única foi votada ontem por 36 vereadores. A posse da nova Mesa Diretora será  no dia 3 de janeiro.
Mesa Diretora 2011:
Presidente: Sofia Cavedon (PT)
1. Vice-presidente: DJ Cassiá (PTB)
2. Vice-presidente: Mário Manfro (PSDB)
1. Secretário: Toni Proença (PPS)
2. Secretário: Waldir Canal (PRB)
3. Secretário: Adeli Sell (PT)
Na mesma sessão, foram indicados os nomes dos líderes partidários e a composição das seis comissões permanentes da Casa, com a eleição de presidente e vice-presidentes, para 2011.
Também foram escolhidos os 19 parlamentares que devem participar das reuniões da Comissão Representativa que se reunirá durante o recesso parlamentar a partir de 4 de janeiro, sempre às quartas e quintas-feiras pela manhã.

PERFIL – Fernanda Melchionna: a vereadora sem papas na língua

Por Marcelo Gigante Ortiz
Na porta de entrada do gabinete, um cartaz não perdoa a governadora do Estado: “fora Yeda”, diz. Em uma parede, um retrato de George W. Bush acompanhado da afirmação: “procurado por crimes contra a humanidade”.
No centro de todos esses acessórios, a personalidade política combativa da mais jovem vereadora de Porto Alegre, Fernanda Melchionna (Psol). Vinda do movimento estudantil, a bibliotecária de 25 anos é admiradora de Che Guevara e Hugo Chávez, mas não se entusiasma com o líder norte-americano Barack Obama.
Por todos esses ingredientes, seria fácil taxar Fernanda de radical. Porém, quem a observar além das adjetivações poderá perceber uma jovem com boa capacidade oratória, acompanhada de um vocabulário rico e conhecimento sobre política. Certa ou errada defende suas ideias com paixão.
Essa paixão pela política teve início em 1997, quando a menina de Alegrete se mudou com a mãe para Porto Alegre. Na época, o governador do Rio Grande do Sul era Antonio Britto (ex-PMDB), que teve seu governo marcado pelas polêmicas privatizações da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) e da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).
“Aquela época me despertou. A luta do movimento estudantil, do grêmio da minha escola despertou em mim a necessidade de lutar contra a precarização e a venda do patrimônio público do Estado”, conta a vereadora. Na ocasião, ela tinha 13 anos e estudava no Sévigné, único colégio particular em seu histórico escolar.
Então a socialista se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) e iniciou a sua militância política, que não foi interrompida pela necessidade de retornar à cidade natal. Em Alegrete, onde o pai de Fernanda participou da fundação do PT local, ela ajudou na organização do partido e participou de campanhas eleitorais.
De volta a Porto Alegre, em 2001, Fernanda ingressou na Faculdade de Biblioteconomia da UFRGS e consolidou sua adesão ao movimento estudantil, chegando a coordenar o DCE da universidade posteriormente.“Foi um ano muito peculiar do ponto de vista da universidade federal(…).
Em diversas, o corte de investimento levou ao sucateamento brutal e a privatização branca”, critica a socialista, se referindo também ao aumento de linhas de crédito concedidas pelo governo a faculdades privadas, muitas vezes de qualidade duvidosa. Aliás, esse tipo de reclamação era comum entre os filiados do Partido dos Trabalhadores.
Porém, em 2003, a opção pelo PT se transformou em decepção. Ela abandonou a sigla e se juntou a Luciana Genro, Heloísa Helena e tantos outros que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade (Psol), do qual Fernanda nunca mais saiu. Ao justificar a mudança, a vereadora cita a frustração provocada pelas reformas da Previdência e Universitária, propostas pelo governo Lula na época.
Mas o atual Presidente da República não é o único alvo do arsenal de críticas da jovem. Mesmo sem ser provocada, ela lista diversas situações e personagens da política nacional que a incomodam.
Edmar Moreira (DEM), ex-corregedor da Câmara de Deputados e dono de um castelo, Daniel Dantas, banqueiro bem relacionado no meio político e investigado por crimes como lavagem de dinheiro e sonegação fiscal e o petista Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-candidato à presidência da Câmara, não são perdoados. Sobre o último, ela alfineta: “era advogado do movimento social e agora é advogado do Daniel Dantas, olha que degeneração política e moral”.
Em relação ao governo do Estado, Fernanda pega mais pesado. Além de questionar a eficácia do projeto da secretaria de Educação que vincula os benefícios dos professores a índices de desempenho e criticar o fechamento de escolas, a vereadora chama o grupo governante de “a quadrilha instituída lá no Palácio Piratini”. Continuando assim, não será difícil criar muitos adversários no mundo político.
Preferências
Porém, quem quiser enfrentar a jovem em um debate terá que estar bem preparado. Além de conhecer política, ela mostra ter bastante cultura. Por sua retina, já passaram a literatura de Jorge Amado, Gabriel García Márquez e Dostoiévski.
Ainda sobre livros que leu, Fernanda cita “O Abusado”, de Caco Barcellos e “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, de cunho social. E como não poderia deixar de ser, Marx, “O Manifesto Comunista” e “O Capital” (livro que ela ainda está lendo), e Eduardo Galeano, “As Veias Abertas da América Latina”, leituras obrigatórias para qualquer ativista de esquerda.
Sobre cinema, também preponderam filmes que exploram problemas sociais, embora estes não sejam todos. Na lista, encontram-se “Pão e Rosas”, que narra a situação de trabalhadoras imigrantes mexicanas nos EUA, “Coisas Belas e Sujas”, que fala sobre imigração e tráfico de órgãos, “Princesas”, que conta a estória de duas prostitutas que vivem na Espanha. Além destes, “Ensaio sobre a Cegueira”, do diretor brasileiro Fernando Meirelles e “Diários de Motocicleta”, que narra uma viagem que o estudante de medicina argentino Ernesto Guevara de la Serna fez pela América Latina, antes de se tornar um revolucionário.
Aliás, esse tal estudante, hoje conhecido como o revolucionário comunista Che Guevara, é um dos ídolos da moça. O motivo, “sonhar e acreditar que os sonhos se concretizem”, que era o que ele fazia segundo ela. Ainda na América Latina, a vereadora diz admirar o governo do venezuelano Hugo Chávez e enfatiza o sucesso dos números sociais de sua administração.
No Brasil, a vereadora se guia pelas correligionárias Luciana Genro e Heloísa Helena, por achar que elas não se venderam ao jogo sujo do poder. “Por serem mulheres também. A gente sabe da diferença de gênero que ainda existe na nossa sociedade”, completa, demonstrando um viés feminista.
Mas a admiração emprestada à Chávez e às colegas de partido não se estende ao novo presidente dos EUA, Barack Obama. Segundo a vereadora, a eleição do democrata foi uma negação dos norte-americanos à Guerra do Iraque orquestrada por George W. Bush, e só. Pela equipe econômica e pelas primeiras ações de Obama, a socialista acredita que ele se transformará em uma “frustração eleitoral”.
Fernanda, porém, não pretende frustrar seus 2.984 eleitores. Para isso, a aquariana de olhos verdes, que foi empossada vereadora com uma bandeira da Palestina nas costas, promete lutar contra o projeto do Pontal do Estaleiro, que permite a construção de residências em parte da orla do Guaíba.
Sobre o projeto ela afirma: “estão rasgando o Plano Diretor de Porto Alegre”. Outra preocupação da jovem é a regularização fundiária de 800 comunidades da cidade, que, segundo ela, não recebem a mesma atenção dos políticos que os projetos que mudam a fotografia da cidade.
Fora isso, restam algumas preocupações privadas, como uma eventual desorganização do gabinete, uma conta atrasada para pagar no banco e a dificuldade em diminuir, ou talvez um dia, acabar com o hábito de fumar. “Eu vou ver se consigo estabelecer uma meta diária e tentar controlar os cigarros por dia”, conta esperançosa.

PERFIL – Marcello Chiodo: do salão de beleza à Câmara

Por Marcelo Gigante Ortiz

Ele foi o último a chegar ao legislativo da capital. Após ficar com a terceira suplência do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o cabeleireiro Marcello Chiodo assumiu uma vaga na Câmara de Vereadores de Porto Alegre graças à saída de Elói Guimarães (PTB) para o executivo estadual. Admirador de Zambiasi e criador do projeto “Beleza ao Alcance de Todos”, Chiodo conseguiu se eleger em sua terceira candidatura.
O trabalhista de 40 anos fez 3401 votos na eleição de 5 de outubro e ficou em oitavo lugar entre os candidatos do PTB, partido que elegeu cinco vereadores. No dia em que os eleitos foram empossados, Maurício Dziedricki (PTB) e Dr. Goulart (PTB) pediram licença para assumir secretarias municipais, abrindo duas vagas. Chiodo era o terceiro suplente, portanto, ainda não era a vez dele.
Porém, a governadora Yeda Crusius chamou Elói Guimarães para a Secretaria Estadual da Administração e dos Recursos Humanos, abrindo mais uma vaga para os petebistas no legislativo municipal. Dessa forma, no dia 3 de fevereiro, Chiodo assumiu a sua cadeira, com promessas de ajudar os mais pobres, os idosos, os animais e a sua classe, os cabeleireiros.
O novo vereador é cabeleireiro há 20 anos. Após tentar, sem sucesso, ingressar nas faculdades de Administração de Empresas e Fisioterapia, ele começou a trabalhar com a mãe no salão dela. “Eu me apaixonei, nunca mais fiz faculdade nem nada e estou até hoje trabalhando de cabeleireiro”, conta o petebista, que disse sempre ter gostado de trabalhar com as mãos.
Foi atuando no ramo que o ariano de 1,77 e 80Kg conheceu sua esposa, com quem tem dois filhos, Marcelle, 15 anos, e João Gabriel, 8. “Conheci a minha mulher quando eu abri o meu salão de beleza. Ela era a minha secretária. Aí a gente casou”, comenta.
A preocupação com a aparência alheia se manifestou desde a infância no vereador. Ele diz que quando era pequeno implicava com o visual de um amigo seu. “Era Fernando o nome dele. Usava aquele cabelinho de príncipe que era todo redondinho, todo certinho. Eu achava aquilo horrível”, admite. De acordo com Chiodo, cortar o cabelo do amigo foi a sua primeira tarefa após se tornar cabeleireiro.
Bate-papo
Mas a clientela cresceu e através dela o cabeleireiro começou a conhecer alguns problemas da cidade. Como o salão de beleza é um bom lugar para o bate-papo, os clientes aproveitavam para comentar sobre problemas de calçamento, árvores que tinham que ser cortadas e tudo o mais. O vereador, inclusive, conta que foi após uma reclamação sua que a prefeitura resolveu abrir uma rua que atravessa a Borges de Medeiros pela Demétrio Ribeiro. A partir dos debates no salão, nasceu o interesse dele pela política.
Então, o petebista resolveu se candidatar a vereador em 2004 e, depois, a deputado federal em 2006. Mas antes de conquistar a vaga na Câmara em 2009, Chiodo iniciou o projeto social “Beleza ao Alcance de Todos”, um curso de estética realizado em vilas de Porto Alegre e um antigo desejo seu.
A intenção do projeto é proporcionar capacitação para o trabalho em salões de beleza a pessoas em situação de risco social. Para facilitar o ingresso dos alunos, ficou decidido que as aulas seriam dadas nas próprias comunidades. “As pessoas ficam conhecidas como cabeleireiras dentro da vila, vão criar uma clientela no próprio curso, vão abrir um salão perto de onde elas fizeram o curso, que é onde elas moram”, destaca Chiodo. Ele também cita a dificuldade em pagar o transporte como um impeditivo para que as pessoas se deslocassem.
Além de oito bairros, entre eles Belém Novo, Cohab Cavalhada, Glória e Lomba do Pinheiro, o projeto também foi realizado com meninas na exploração sexual e no presídio feminino Madre Pelletier. Dessa forma, as mulheres em tais condições tinham a possibilidade de ter uma fonte de renda e fortalecer a sua auto-estima. Com certeza, esse público ajudou o vereador-cabeleireiro a conquistar os seus mais de 3 mil votos.
Quem também ajudou Marcello Chiodo a se tornar vereador foi seu irmão Agnello. Por causa de um simples detalhe: os dois são gêmeos. Durante a campanha, Agnello ajudou a visitar as comunidades e a entregar santinhos. Mesmo que Chiodo sempre tenha deixado claro quem era quem, a figura pública do candidato duplicada pode ter ajudado na eleição.
E agora eleito, o vereador, que continua trabalhando em seu salão de beleza, quer estender o seu projeto social e dar dança nas praças para pessoas da terceira idade. Além disso, pretende ajudar a ONGs de animais e incentivar a castração dos mesmos. Ele também admite ter o objetivo de conseguir a regulamentação da profissão de cabeleireiros. “Se eu não conseguir agora, talvez a gente consiga como deputado futuramente”, declara, o que indica que o vereador do PTB tem a ambição de crescer dentro da política.
E porque o PTB? O vereador se diz uma pessoa equilibrada, nem muito de direita, nem muito de esquerda, que procura ouvir todos os lados para formar uma opinião e isso teria feito com que ele se identificasse com o partido. Além de usar as características pessoais como justificativa, Chiodo se declara admirador do senador Sérgio Zambiasi (PTB). “Pelo trabalho dele. É a mesma coisa que eu faço: atender aos pobres e aquelas pessoas que não tem condições”, afirma o cabeleireiro, que não cita outras referências e diz ainda estar conhecendo os políticos.

Projetos inúteis dominam a Câmara de Porto Alegre

Doze porcento das 1.442 proposições apresentadas entre 2005 e 2008 pelos vereadores de Porto Alegre são importantes para a Porto Alegre, seguindo os critérios da ONG Transparência Brasil.
Os estudos da instituição apontam que apenas 171 propostas que se tornaram lei se referiam a assuntos com impacto sobre a vida e a administração da cidade.
Foram 694 propostas aprovadas ao longo do período e mais de 500 delas (75%) diziam respeito a homenagens, concessão de medalhas, fixação de datas comemorativas e outros assuntos irrelevantes.
Outras 350 idéias sobre esses temas não passaram em plenário.
Metade dos parlamentares teve avaliação inferior a 10% de relevância em seus projetos e seis vereadores obtiveram nota zero.
Acompanhe a lista abaixo:
Margarete Moraes (PT) 33,3%
Carlos Todeschini (PT) 26,2%
Bernardino Vendruscolo MDB) 22,8%
Elói Guimarães (PTB) 22,7%
Professor Garcia (PMDB) 21,4%
Luiz Braz (PSDB)- 21,1%
Aldacir Oliboni (PT)- 20,7%
Neuza Canabarro (PDT)- 20,6%
Sofia Cavedon (PT)- 19,0%
Elias Vidal (PPS)- 17,9%
José Ismael Heinen (DEM) – 15,8%
João Antônio Dib (PP)- 15,0%
Maria Celeste (PT)- 14,7%
Alceu Brasinha (PTB)-13,8%
Ervino Besson (PDT)- 13,2%
Dr. Raul (PMDB) – 12,5%
Adeli Sell (PT) – 11,8%
Carlos Comassetto (PT) – 10,7%
Maurício Dziedricki (PTB) – 9,1%
Sebastião Melo (PMDB) – 8,8%
Claudio Sebenelo (PSDB) – 7,0%
Maristela Maffei (PCdoB) – 6,8%
Almerindo Filho (PTB) – 6,7%
Dr. Goulart (PTB) – 5,6%
Maria Luiza (PTB) – 3,1%
Haroldo de Souza (PMDB) – 2,9%
Nereu Davila (PDT) – 1,6%
João Carlos Nedel (PP) – 1,6%
Nilo Santos (PTB) – 0,0%
Guilherme Barbosa (PT) – 0,0%
Beto Moesch (PP) – 0,0%
Marcelo Danéris (PT) – 0,0%
Mauro Zacher (PDT) – 0,0%
Maristela Meneghetti (PP) – 0,0%