A comunidade do bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, está experimentando um novo tipo de relação com a Brigada Militar, que vai além da repressão policial. É o policiamento comunitário, uma das ações que integram o Território de Paz do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), do Ministério da Justiça.
Instalado há dois meses na região, o Pronasci prevê uma série de medidas de segurança e cidadania que visam mudar a rotina dos moradores.
No Bom Jesus, bairro que é formado também por três grandes comunidades carentes, foram criados quatro postos de atendimento, com três policiais em cada, sempre próximos de postos de saúde e de associações comunitárias. O PM Carlos Moraes diz que o trabalho consiste em conversar frequentemente com os comerciantes, a comunidade escolar e moradores. “É uma forma de saber mais sobre o cotidiano das pessoas. Os dependentes químicos, por exemplo, são orientados para uma possível internação. É um serviço diário rotativo, feito com um micro-ônibus”, explica.
A vendedora Daiane da Silva, 29 anos, já nota a diferença. “Estou achando muito interessante. É um trabalho bem feito e intimida as pessoas que estão com a intenção de cometer algum crime, pois o policial está próximo”.
Outra ação em andamento é o Protejo – Projeto de Proteção dos Jovens em Território Vulnerável -, que oferece atividades culturais, esportivas e educacionais aos jovens de 15 a 24 anos. De acordo com balanço feito pela Fundação de Assistência Social e Cidadania, responsável pela ação em Porto Alegre, 2.067 jovens se interessaram em participar do Protejo. Nesta primeira etapa, mil jovens serão atendidos.
A estudante Jenifer Madelaine, 16 anos, está entre os inscritos. Ela espera que o Protejo possa tirar os jovens das ruas e do mundo das drogas. “É triste ver as coisas como elas estão. Tem meninos de 12 anos vendendo droga nas ruas. Com o Território de Paz, acho que tudo isso vai melhorar. Eu imagino que o Protejo seja algo bem legal e espero que depois dele jovens como eu tenham vontade de ser alguém na vida”.
O “Mulheres da Paz” é outro projeto muito aguardado pela comunidade de Bom Jesus. As inscrições devem ser abertas até o final do ano. Trezentas e vinte mulheres serão selecionadas e treinadas para identificar os jovens que correm o risco de entrar para o crime e encaminhá-los a projetos sociais. Cada mulher receberá um auxílio mensal de R$ 190.
Segundo a coordenadora do “Mulheres da Paz” em Porto Alegre, Beatriz Morem, o projeto trará inúmeros benefícios para a comunidade. “As mulheres serão orientadoras e mediadoras sociais, com informações sobre direitos que, geralmente, as pessoas não têm nesses locais”, enfatiza. Para saber como funcionará o projeto e a previsão de início das inscrições do “Mulheres da Paz” , as interessadas devem procurar a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana, que fica na Rua João Alfredo 607, bairro Cidade Baixa. Telefone: (51) 3289.7022.
Redução da criminalidade
O ministro da Justiça, Tarso Genro, ressalta que os resultados do Pronasci devem ser esperados a médio e longo prazo. “O Pronasci propõe uma mudança de paradigma, que é articular as políticas sociais com as questões de segurança pública, e isso não se faz de imediato.
O ministro ressalta a mais recente pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, responsável em monitorar e avaliar as ações do Pronasci nos Territórios de Paz, que diagnosticou queda de 70% da criminalidade em Santo Amaro, no Recife (PE), com menos de um ano de implantação do Programa.
“Ninguém acreditava que poderíamos reduzir esses índices de criminalidade e violência e eles têm sido reduzidos. É um esforço conjunto entre os governos federal, estadual e municipal, além da participação efetiva da sociedade civil e da própria comunidade”, acrescentou.
O que já está funcionando no Bom Jesus:
Núcleo de Justiça Comunitária: Moradores da comunidade podem procurar o Núcleo para conhecer os seus direitos e resolver conflitos sem precisar procurar a polícia ou a Justiça. O Núcleo funciona no Instituto Cultural São Francisco de Assis, Centro de Promoção da Criança e do Adolescente, Estrada João de Oliveira Remião, nº 4444 – Lomba do Pinheiro, Porto Alegre.
Núcleo Especializado no Atendimento de Mulheres Vítimas de Violência Doméstica: Orienta as vítimas e oferece acompanhamento jurídico. Está instalado na Rua Sete de Setembro, nº 666, Térreo – Centro, Porto Alegre.
Assistência Jurídica Integral ao Preso e seus Familiares: Em Porto Alegre, o projeto funciona na Rua Márcio Luís Veras Vidor, nº 10, sala 405 – Praia de Belas, Porto Alegre.
Benefícios para o policial
O Pronasci envolve também ações voltadas para o profissional de segurança pública. São disponibilizados cursos gratuitos para qualificar o atendimento à população e os participantes podem ter direito ao Bolsa Formação, um auxílio mensal de 400 reais concedido a policiais civis, militares, bombeiros, guardas municipais, agentes penitenciários e peritos.
Outro benefício são as condições especiais de financiamento habitacional oferecidas pela Caixa Econômica Federal. Os interessados devem procurar a agência central de Porto Alegre, que fica na Praça da Alfândega.
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CPI das Prisões já foi esquecida
“NEM O CAPETA FICA LÁ”
Elmar Bones
A CPI do sistema carcerário visitou 102 presídios, onde a imprensa só entra com autorização judicial. Mesmo assim ou talvez por isso, a imprensa pouco se interessou pelo assunto. Atenção foi desviada pelo factóide do indiciamento de 30 pessoas ( que seriam responsabilizáveis pelo caos) e o descrédito, que atinge as CPIs de modo geral, fez o resto. Um mês depois, é assunto esquecido.
Surpreendentemente, o jornal de circulação nacional que deu maior destaque foi a Folha Universal, órgão oficial da Igreja Universal do Reino de Deus, de distribuição gratuita. Na edição de 6 de julho a FU publicou quatro páginas, com os números gerais extraídos do relatório e depoimentos do relator, presidente da CPI e do fotógrafo que acompanhou os trabalhos.
440.000 presos
220.000 vagas
1.000 mortes por ano
30 mil fugas por ano
15 a 20% trabalham
5 a 7% são mulheres
“Ninguém faz idéia do caos que é o sistema penitenciário brasileiro.Nem o Hitler tratou tão mal os judeus”, disse o relator da CPI da Câmara dos Deputados que investigou as condições das prisões no pais, Domingos Dutra (PT-MA)
“Hoje a maior parte do crime é comandada da cadeia”, disse Neucimar Fraga (PRE-ES), que presidiu a Comissão. “Vimos homens dormindo com porcos, penitenciárias com lixo e esgoto, gente com doença de todo o tipo, pessoas dormindo dentro de banheiro…”
Além do relatório com denúncias detalhadas de violências, a CPI produziu um documentário de 40 minutos e fotos.
“Cada cadeia tem uma característica . Se eu for lhe contar qual a pior eu não consigo. Cada uma tem peculiaridades de mau-trato e um papel na agressão do ser humano”.
”Acho que só não vi o capeta porque é tão ruim que nem ele mora lá”, relata o fotógrafo Luiz Alves, da Câmara dos Deputados, que acompanhou a comissão nas vistorias. Lembra: cadeia de valparaiso (SP) com 40 pessoas numa cela onde não caberiam nem 12. Dos presos vivendo sobre poças dágua em Formosa (GO), das mulheres atulhadas em contêineres de navios no calor de Belém (PA).
“A gente via pessoas que estavam presas por pensão alimentícia, por furtos simples, junto com traficantes e assassinos. Você pega o ser humano e coloca em uma máquina de moer carne”..
CENTRAL DE PORTO ALEGRE, O PIOR DO BRASIL
O presídio Central de Porto Alegre ficou em primeiro lugar no ranking dos dez piores presídios do país, segundo o relatório da CPI. Ali estão empilhados 4.400 presos, num espaço que só caberiam 1.600.
Após a divulgação da lista, a governadora Yeda Crusius anunciou que o sinistro prédio seria desativado aos poucos e demolido. Antes que se conhecesse detalhes da decisão, o assunto saiu de pauta.
OS DEZ PIORES
Os piores dez presídios elencados pela CPI revelam que a mazela das prisões é nacional, com o destaque previsível do Rio de Janeiro, onde estão três entre os dez piores.
1- Presídio Central de Porto Alegre (RS)
2- Colônia Penal Agrícola do Mato Grosso do Sul
3- Empatados: Distrito de Contagem (MG)
Delegacia de Valparaíso (GO), 52ª.Delegacia de Polícia em Nova Iguaçu (RJ) e 53ª. DP DP de Duque de Caxias (RJ).
4- Empatados: Presídio Lemos de Britto, em Salvador (BA), presídio Vicente Piragibe (RJ), presídio Aníbal Bruno, de Recife (PE), Penitenciária Masculina Dr. José Mário Alves da Silva, o Urso Branco (RO), e Complexo Policial de Barreirinhas (BA)
5- Centro de Detenção de Pinheiros, em São Paulo
6- Instituto Masculino Sarasate, em Fortaliza (CE)
7- Penitenciária Feminina Bom Pastor, em Recife (PE)
8- Penitenciária Feminina de Santa Catarina
9- Casa de Custondia Masculina do Piauí
10- Casa de Detenção Masculina da Sejuc (MA).