Geraldo Hasse
Este ano a dívida pública brasileira está completando 200 anos. Começou com 2 milhões de libras esterlinas emprestados pelos Rottschild ingleses ao governo do imperador Pedro I.
A grana foi usada para pagar Portugal, que se colocou como credor do valor negociado. O Brasil independente
sofreu na origem com uma facada internacional que vem se perpetuando. E assim estamos até hoje.
Aquela dívida original foi sendo rolada e ampliada até o valor atual da ordem de R$ 6,5 trilhões, cujo “serviço”
(juros e amortizações) nos custou mais de R$ 1,89 trilhões bilhões em 2023.
Está previsto que no final deste ano a dívida pública passará de R$ 7 trilhões. Uma merreca impagável! E fica o ministro Haddad buscando fazer economia dos recursos disponíveis no Tesouro Nacional e o Lula manobrando para conseguir grana do Orçamento, para investir em educação, saúde e infraestrutura. A única despesa que se aproxima do valor da dívida pública é a da previdência (R$ 867 bilhões em 2023), menos da metade.
Esta é um direito social de milhões de brasileiros, enquanto a dívida pública é uma armação em favor
de rentistas, banqueiros e especuladores/investidores em títulos do Tesouro.
Não se entende por que a diplomacia brasileira não pega o touro pelos chifres.
Na última vez em que surgiu uma oportunidade de dar um chega-pra-lá nas sanguessugas grudadas em nossas pernas subdesenvolvidas, o ministro da Fazenda Pedro Malan elevou os juros da dívida para 49% ao ano.
Foi temporário, até voltar à normalidade dos juros de dois dígitos, bem acima da prática internacional (hoje está em
pouco mais de 11%).
Nessa época, em pleno governo do príncipe FHC, Malan
legou à posteridade uma frase histórica: “O rabo está balançando o cachorro”.
Continua balançando e, em lugar do Malan, está no comando do BC o neto do raposão Roberto Campos. Até quando essa espiral de agiotagem vai continuar sufocando a capacidade de desenvolvimento do
Brasil?
Hoje, por incrível que pareça, são mulheres que reclamam justiça nesse campo. Há anos a auditora fiscal aposentada Maria Lucia Fatorelli advoga a realização de uma auditoria da dívida.
Segundo ela, a dívida já foi paga há anos e o Brasil está sendo simplesmente bicado pelos abutres do
mercado financeiro.
Fatorelli deu uma bem-sucedida consultoria ao
Equador, mas aqui entre nós quase não lhe dão ouvidos.
Agora está sendo lançado pela Boitempo no Brasil o livro A Ordem do Capital, da italiana Clara E. Mattei, que afirma que a austeridade fiscal praticada pelo governo brasileiro é um biombo que protege os rentistas e espolia as classes trabalhadoras.
No site Outras Palavras, a autora afirma que o
maior problema do Brasil é o endividamento público, mas as autoridades nacionais parecem indiferentes a esse escândalo “normalizado” por todo mundo, da mídia ao parlamento, passando pelo TCU, a Procuradoria Geral
da República e demais servidores da república.
Enquanto vai pagando a dívida, o Brasil vai privando a população brasileira de investimentos em melhorias sociais e obras materiais.