“Abaixo a desigualdade”

Poucas vozes se contrapõem à mediocridade da política econômica do Brasil
O engenheiro metalúrgico Antonio Ermirio de Moraes (1928-2014), um dos herdeiros do gigantesco grupo industrial Votorantim, costumava dizer que para se desenvolver de verdade e de forma mais igualitária o Brasil precisaria investir prioritariamente, e a longo prazo, sem trégua, em educação – em todos os níveis, da base ao ensino superior.
Foi o que ele disse em 1980, respondendo a um grupo de jornalistas da revista Exame que o entrevistou por duas horas numa manhã de sábado (para não atrapalhar sua rotina do trabalho).

Quando lhe perguntaram qual o prazo desse plano educacional prioritário, ele falou genericamente em 30 anos “para começar”.
Decorrido esse prazo, pensava ele, as coisas estariam melhores, desde que as metas educacionais fossem mantidas, sem retrocesso.
Já se passaram quatro décadas desde aquele depoimento e o que vemos?
Estamos nos afastando rapidamente da qualidade perseguida durante o recente período de 14 anos em que governos progressistas investiram fortemente em educação.
Há um lamentável retrocesso que se manifesta em lances graúdos como o congelamento por 20 anos dos gastos orçamentários em educação (e saúde) determinado pelo governo Temer em 2016; e lances miúdos como a campanha obscurantista pela “educação sem partido”, um engodo pelo qual grupos de extrema direita pretendem obrigar professores a lecionar segundo a cartilha deles.
Num país que teve um Anisio Teixeira, um Paulo Freire e um Darcy Ribeiro, temos como ministro da Educação um paraquedista especializado em bajular militares e disposto a transformar escolas em quartéis.
Além de grandes universidades estaduais como a Unicamp, Unesp e USP, o Brasil tem atualmente 68 universidades federais, mais de 600 institutos federais e notáveis instituições particulares de ensino e pesquisa, mas não se guia pela criatividade e a ousadia.
Pelo contrário, regride ao insistir na prática de políticas econômicas concentradoras de renda e excludentes, tudo isso em nome da ideia fixa de favorecer o Mercado, essa instituição abstrata que despreza os seres humanos, só pensa em cifrões.
Mal comparando, ter na direção da economia nacional um economista como Paulo Guedes equivale a colocar um jagunço na gestão da agricultura e do meio ambiente. Pensando bem, não estamos longe disso.
Não será achatando salários e cortando direitos que se desenvolverá o país. Nessas bases, nem mesmo o mercado consumidor crescerá.
Em nome do Mercado, Guedes está levando o país a dar um tiro no pé.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“O Brasil precisa atacar o problema da desigualdade social. Esse é o problema mais urgente”
Danilo Miranda, diretor do SESC, no programa Roda Viva da TV Cultura de 25/02/2019.

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