ARNO KAYSER/ Roessler, um pioneiro

O homem moderno não tem mais tempo de meditar. Seu interesse máximo é enriquecer o mais rapidamente possível. Não tem mais tempo para procurar contato com a natureza que cura todos os males”.

Henrique Luiz Roessler 13/10/61.

Esta frase, que poderia ter sido escrita neste exato instante, é uma das muitas do pioneiro dos pioneiros da ecologia brasileira e patrono da Fepam.

Nos anos 30, graças à pressão da Sociedade de Amigos das Árvores, o presidente Getúlio Vargas sancionou o primeiro conjunto de leis que formataram a legislação de proteção da natureza no século 20.

Essa legislação previa um cargo de delegado voluntário de caça e pesca a ser exercido por servidor público. Para esse cargo um gaúcho, nascido em 1896, em Porto Alegre, mas criado na Rua da Margem em São Leopoldo, junto ao Rio dos Sinos, se apresentou de forma corajosa e generosa.

Foi assim, em 1939, que Roessler iniciou sua trajetória pública em defesa da natureza. Investido na função ele passou a fazer fiscalizações, emitir documentos educativos e organizar uma rede de colaboradores em todo o sul do Brasil. Com o fim de formalizar o compromisso de adesão dos colaboradores a causa Roessler criou, em 1953, o juramento de proteção natureza. Documento célebre de referência para todos que militam na causa da defesa do meio ambiente.

Com base nesse grupo de apoio, tornou-se uma figura quase mítica e onipresente aparecendo onde menos era esperado para surpreender depredadores da natureza.

Seu trabalho foi tão eficiente que passou a ser uma figura polêmica, com defensores e detratores, na opinião pública, imprensa e até mesmo na Assembleia do RS.

Nas ruas de sua terra natal era comum gritarem ”olha que o Roessler te pega” quando alguém era flagrado maltratando algum animal ou planta.

Ao fim de 1954 ele foi demitido do cargo por conta de pressões políticas que chegaram ao Rio de Janeiro.

Como resposta ele cria, no dia 01 de janeiro de 1955, a União Protetora da Natureza (UPN), provavelmente a primeira entidade com esse carácter no país.

Com o apoio de seus simpatizantes ele começa uma nova fase de atuação, agora muito mais centrada na conscientização, pois lhe foi vedado o poder de multar e apreender.

Passou a fazer palestras em escolas, pois devotava grande esperança na educação dos jovens. Também passou a produzir cartazes com belos bicos de pena de usa própria lavra com mensagens em prol da defesa da natureza e atacando os seus inimigos.

Mas o que realmente o projetou em larga escala foi o trabalho como cronista de jornal. A partir de 1957 passa a publicar artigos no Correio do Povo. Foram mais de 300 artigos que contribuíram muito para formar a consciência ecológica do povo gaúcho.

Abrangendo diversos temas eles alternavam denúncias, reflexões filosóficas e descrições da beleza da nossa natureza.

Esses artigos foram reunidos em duas publicações. Uma pela Editora Martins Livreiro em 1986 e outra em 2005 pela Fepam

Esse trabalho prosseguiu até o dia de sua morte, em 14 de novembro de 1963, pouco antes de completar 66 anos.

Sua obra foi tão marcante que, além de deixar uma massa crítica que gerou toda uma geração de militantes ecologistas, seu nome passou a ser indicado para nominar ruas, praças, pontes e parques em diversas cidades do país.

Por conta de seu pioneirismo em defesa da proteção ambiental seu nome foi também dado à Fepam, cujo nome oficial é Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler.

Uma justa homenagem e uma fonte de inspiração para todos os seus servidores.

Arno Kayser

Agrônomo ,Ecologista e Escritor

Leituras para conhecer mais sobre Roessler:

Centeno, Airton, Roessler, o primeiro ecopolítico, Porto Alegre, JA Editores, 2006;

Malta Pereira, Elenita, Roessler o homem que amava a natureza, São Leopoldo, Oikos, 2013

Roessler, Maria Luiza, O homem do rio – biografia íntima de Henrique Luiz Roessler, Porto Alegre, AGE Editora,1999.

Roessler, Henrique Luiz, O Rio Grande do Sul e a Ecologia, Porto Alegre, Martins Livreiro, 1986

Roessler, Henrique Luiz, O Rio Grande do Sul e a Ecologia, Porto Alegre, Fepam, 2005

 

Deixe um comentário