Cenas de um linchamento que quase aconteceu

P.C. DE LESTER
Cerca de 60 clientes que faziam suas compras no Zaffari da rua Fernando Machado, num dos pontos mais movimentados de Porto Alegre, viveram uma hora de tensão e medo nesta quinta-feira, 14.
Eles assistiram ao que seria um linchamento, não fossem os dois seguranças do supermercado, que evitaram o crime.
Foi por volta de 18 horas, num dos horários de bom movimento desta loja que atende a uma populosa região do centro.
Um homem, com falha de dois dentes na frente, entrou correndo e gritando no supermercado. Teria uns 20 anos, vestia um moleton verde.
Atrás dele entrou um grupo de uns 20 jovens armados de guarda-chuvas, tijolos, canos… o teriam massacrado não fosse o segurança que estava na entrada.
O segurança levou socos e pontapés, mas impediu o linchamento até que chegassem outros funcionários. Mesmo assim, a violência parecia incontrolável, e mesmo depois, já passados quarenta minutos ou mais, quando apareceu o primeiro brigadiano.
Acossado entre dois caixas, protegido pelos seguranças, mas mesmo assim recebendo golpes de guarda-chuva, socos, pontapés, o fugitivo não se intimidava: “Tu já era meu, te marquei”, dizia para um rapagão que lhe aplicou um soco no rosto.
A situação só voltou ao controle quase uma hora depois, quando chegou uma viatura com três brigadianos. Mesmo assim, não foi fácil dissolver a turba que queria linchar o perseguido. “Tem que matar, se ele vai preso em dez minutos tá na  rua”, gritava um homem que se dizia da Polícia do Exército. Já dentro da viatura, o preso trocava insultos com seus agressores. “Tu vai morrer. Tu vai ser mulherzinha lá no Central”, gritavam uns rapazes através dos vidros fechados da viatura.
Os relatos que ficaram eram desencontrados. O perseguido teria agarrado uma jovem na altura da Reitoria, no parque da Redenção. Segundo uns, teria roubado sua mochila; segundo outros, teria abusado dela. Uma frase que os pretensos linchadores gritavam para as pessoas que queriam impedir o massacre, era: “Queria ver se fosse sua filha”.
Um senhor no caixa, depois que todos já haviam saído, comentou: “A violência está aí, só falta um estopim”.
O caso foi para a 1a Delegacia.
 

Nelson Rodrigues e a Globo

P.C.DE LESTER
Acabo de ver o jornal das 10, da Globo News.
Um espanto: seis comentaristas e uma clamorosa unanimidade. Uma simplificação espantosa.
Resumo: toda a crise que atinge a economia brasileira resulta dos erros da presidente Dilma.
E toda a crise política, que acaba por afastá-la do cargo, também é culpa exclusiva da inabilidade dela.
Nelson Rodrigues cunhou a frase: “Toda unanimidade é burra”.
Acho que, no caso, não é burrice, não. É manipulação mesmo!
Eles podiam disfarçar um pouco e colocar alguém para fazer um contraponto!
     

E no Cunha, não vai nada?

P.C.DE LESTER
O “Fora Cunha” é o unico bordão que frequenta manifestações dos dois lados, contra e a favor do impeachment de Dilma.
Talvez a única unanimidade nacional neste momento tumultuado seja o mal estar que ele provoca em todos: enquanto Eduardo Cunha permanecer na presidência da Camara, não se poderá levar nada disso a sério.
Mas ele está lá, entrando para mais uma semana triunfante. É o recordista em protelações na Comissão de Ética, com quase 200 dias empurrando o processo com as mais diversas manobras.
No STF onde estão meia dúzia de inquéritos incriminando Cunha, não há sinais de julgamento. Segundo O Globo, que ouviu ministros em reserva, o Supremo não quer julgar agora no calor do impeachment.
Até porque, segundo o jornal, a tendência entre os ministros do Supremo é absolver Cunha.
Junto ao “novo presidente” Cunha está ainda em melhor situação.
Na semana passada, começou a circular nas redes sociais um vídeo em que Michel Temer aparece numa reunião de evangélicos, dizendo que “Eduardo Cunha é um homem de fé”.
Quando recebe uma missão, Cunha cumpre sem hesitação, disse Temer no vídeo gravado durante a campanha de 2014.
Cunha se elegeu, tornou-se presidente, conduziu com maestria o impeachment que abre o caminho para o poder de Temer. O que terá ele a temer?
 
 
 

Precipitação de Temer lembra Auro Moura Andrade, em 1964

PC de Lester
Tem razão o Renato Rovai: o audio de Temer não vazou, foi propositadamente vazado pelo próprio Temer, para desfazer a ambiguidade que existe em torno do que seria um governo Temer.
Ele disse que foi “por descuido” quando viu a reação negativa.
Temer é, mal comparando, o Auro Moura Andrade, que declarou  vaga a Presidência na madrugada de 2 de abril de 1964,  quando o presidente João Goulart ainda estava em Porto Alegre.
Foi o ato que selou politicamente o golpe.
O “descuido” de Temer pareceu, no primeiro momento, um erro, porque escancarou a conspiração, que ainda não conta com os militares e corre o risco de perder a batalha da opinião pública.
Até a mídia que patrocina o golpe registrou: Jorge Bastos Moreno em seu blog no Globo disse que o “vazamento” foi um tiro no pé do impeachment.
Mas a coluna em que ele disse isso não ficou mais do que algumas horas na capa da versão on line do Globo. E, como se sabe, a política é como as nuvens no céu.
No céu da política brasileira, onde sopram ventos de tempestade, qualquer previsão é precipitada.  É provável que, com o auxílio obsequioso da imprensa, ele consiga transformar numa limonada esse limão.
Seu objetivo com o “vazamento” era ganhar expresso apoio de setores que podem galvanizar os votos dos deputados no congresso, principalmente os empresários e as oligarquias regionais, já que a mídia, para se livrar do PT, não descarta nem o Cunha.
Hoje parece que deu errado. Amanhã talvez se revele um acerto para seus propósitos, dependendo do que vier pela frente. Quem sabe quantos “vazamentos” vem por aí?

A Globo e o golpe: nas duas vezes anteriores ela mentiu

P.C. DE LESTER
No dia 2 de abril de 1964, o presidente da República, João Goulart, ainda estava em território brasileiro.
Havia desembarcado às 3h15 minutos da madrugada no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para decidir se resistia ou não à quartelada que se iniciara contra seu governo.
Nas primeiras horas da manhã, o presidente estava reunido com o comandante do então III Exército e os comandantes de todas as unidades da região Sul, mais líderes políticos como Leonel Brizola e outros.
Naquela manhã, o jornal o Globo circulava no Rio de Janeiro com a seguinte manchete no alto da página: “Jango Fugiu: A Democracia Está Restabelecida” e abaixo em letras garrafais: “EMPOSSADO MAZZILLI NA PRESIDÊNCIA”.
O Globo mentiu para encobrir um atentado a Constituição, que foi a posse forjada de Rainieri Mazzilli, o presidente da Câmara, quando o presidente da República ainda estava em território nacional.
Na calada da noite, o presidente do Senado, Auro Moura Andrade, numa sessão de três minutos, declarou vaga a presidência da República e elegeu Mazzilli para o cargo.

  • No dia 1º de setembro  de 1969, estreou o Jornal Nacional, “o primeiro noticioso em rede nacional de televisão” no Brasil

A principal notícia foi a doença do presidente Costa e Silva, há quatro dias com uma “crise circulatória”. O locutor Hilton Gomes disse que o presidente “passou bem à noite e está em recuperação”.
O presidente, na verdade, tivera uma isquemia cerebral. Estava prostrado na cama, semi- paralítico e mudo.  Os três ministros militares já haviam empalmado o poder, descartando o vice-presidente Pedro Aleixo.
O Jornal Nacional mentiu, encobrindo o chamado “golpe dentro do golpe”.
Portanto, quando William Bonner diz que os jornalistas da Globo não criam fatos, mas apenas os divulgam e que “sempre foi e vai continuar sendo assim” é bom botar o pé atrás.
Agora, toda a Globo está empenhada em dizer que o impeachment contra Dilma não é golpe. Não estará ela, novamente, tentando encobrir outro golpe?

Fiergs diz que impeachment pode ser a solução da crise política

PC de Lester
A crise politica do país é o tema da reunião do Conselho de Representantes da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, hoje, terça, às 18 horas. É uma reunião extraordinária,  convocada pelo presidente,  Heitor José Müller.
Segundo nota divulgada pela Federação, a “Economia não pode esperar”.
Segundo Muller, “o Brasil chegou a um impasse político que precisa ser resolvido com urgência, respeitando as possibilidades legais, entre elas o processo de impeachment previsto na Constituição. Do equacionamento da crise política depende a retomada da economia, hoje em forte declínio”.
Ou seja, para a Fiergs, o impeachment é pode ser a solução.
 

“O povo não é bobo”: a Globo brinca com fogo

PC DE LESTER
Alvo preferencial das manifestações contra o impeachmet, a Rede Globo viu voltarem às ruas as velhas palavras de ordem contra ela, a começar pelo ‘O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo´”, Globo golpista e outras, que remontam às Diretas Já.
O mais grave não está nas ruas, está nas redes sociais (as ruas talvez ecoem as redes sociais ou vice e versa).
O que se vê é uma rejeição crescente. Agora, além da rejeição que leva a não ver nada da globo, surge uma proposta de não comprar produto ou serviço anunciados na Globo. Por enquanto, parece uma ideia voluntariosa.
Mas quando uma revista como a Der Spiegl diz que a Globo está no centro de um “golpe frio’ que se arma no Brasil contra a democracia, se a democracia vencer, haverá lugar para a Globo?

Transporte público em Porto Alegre: os 21 centavos da discórdia

PC de Lester
Pedro Ruas e Luciana Genro, deputados do PSOL, entram com na Justiça com uma Ação Civil ´Pública buscando derrubar em definitivo o aumento da tarifa de ônibus na Capital.
Em 24 de fevereiro, com uma ação cautelar preparatória, eles obtiveram liminar que suspendeu o aumento. Ganharam 30 dias para justificar e garantir a suspensão.
O reajuste acima da inflação (15,3%) e a falta de aprovação do Conselho Municipal de Transporte Urbano (Comtu), são os argumentos principais da ação para anular o aumento.
O Conselho, depois que o aumento foi suspenso, se reuniu, votou e aprovou por 12 votos a 4, a “metodologia do processo tarifário da primeira licitação do transporte coletivo da cidade”.
Essa metodologia consistiu em buscar uma planilha que representasse um marco zero no calculo tarifário.
A partir daí, o índice da inflação e do reajuste dos trabalhadores determinariam percentual do aumento da tarifa.
O problema é que a planilha que seria o marco zero do cálculo da tarifa chegou ao valor de R$ 3,46 em julho de 2015, quando a tarifa praticada era R$ 3,25. Essa diferença de vinte e um centavos  é a origem do conflito.
Quando foi autorizado o reajuste, em fevereiro de 2016, com a inflação e o reajuste dos trabalhadores, os R$ 3,46 originais chegaram aos R$3,75 agora questionados.
Depois que o Conselho aprovou a metodologia do aumento, a prefeitura pediu ao Tribunal de Justiça a cassação da liminar do PSOL.
O prefeito José Fortunati anunciou em entrevista que iria pessoalmente ao presidente do Tribunal de Justiça para fazer ver “a gravidade da situação que está se criando na cidade”.
.Diante das negativas do Tribunal de Justiça (TJ), a prefeitura agora busca derrubar a liminar com recurso junto ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ), de acordo com a Procuradoria-Geral do Município (PGM).
Para complicar ainda mais a situação, os consórcios que operam o sistema de transporte público de Porto Alegre ganharam liminar na Justiça:  a prefeitura terá que pagar os R$ 0,50 de diferença em cada passagem. Cerca de um milhão de reais por mês.
Mas ainda não é tudo.
Segundo Zero Hora, “entre sexta e esta segunda-feira, sete empresas de ônibus de Porto Alegre pagaram o adiantamento salarial sem o reajuste de 11,81%, aprovado em fevereiro. Na semana passada, cinco já haviam tomado a mesma decisão. A Carris, empresa pública, emitiu os contracheques com o reajuste”.
Por enquanto, o sindicato dos rodoviários não fala em greve. Diz que está “estudando as medidas judiciais cabíveis”. Quer dizer, a greve é questão de tempo. Só a Carris não vai parar.