O maior desafio do governo Lula é rever o modelo econômico implantado a partir de 2016. Que modelo é esse?
Neoliberalismo é o rótulo genérico, mas ele tem muitas nuances. Numa delas, poderia ser chamado de neocolonialismo.
Ele vem de antes e vem de longe. Teve suas bases lançadas no governo Collor, continuidade nas privatizações do governo FHC, aprofundamento desde 2016, depois de um hiato petista que não abalou sua base ideológica.
Privatizações, desregulamentação, estrito controle dos gastos do governo, redução do Estado e dos serviços públicos, para abrir espaço aos negócios privados, que seriam o motor da economia e do desenvolvimento social.
Pelo mundo inteiro, a começar pela Inglaterra de Tatcher, esse modelo teve suas bases teóricas destroçadas pela realidade que produziu: concentração de renda, desigualdade, estagnação econômica. Mas seus defensores no Brasil desenvolveram um discurso que, com o “auxilio luxuoso” da mídia, se tornou dominante: a receita ainda não foi aplicada inteiramente e mesmo assim já tem resultados, portanto, o que precisa é aprofundá-la.
De fato, em seis anos desse regime, com uma pandemia no caminho, é fácil embaralhar os dados e valer-se dos indicadores macro-econômicos, devidamente sob controle, para mostrar que a economia está no caminho certo e que, portanto, é preciso manter o rumo e aprofundar o projeto.
Esse discurso já está nos editoriais. Indício do que vem pela frente.
Valeu a pena o empenho de boa parte dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral, da imprensa velha, do jornalismo militante, dos artistas/intelectuais de manifesto.
O esforço para eleger o único político considerado de esquerda que não sofre de raquitismo eleitoral produziu as mais improváveis parcerias. Uma delas: Guilherme Boulos, acusado de vadiagem por Henrique Meirelles, está de mãos dadas com Henrique Meirelles, acusado por Boulos de “explorador do povo brasileiro”. Outros namoros atraíram para o palanque de Lula os banqueiros do Plano Real, classificado pelo PT como uma “pura tapeação”, ou José Sarney, considerado por Lula em 1988 “o maior ladrão do Brasil”.
As cerejas do bolo foram o vice Geraldo Alckmin (que em 2018 garantiu que Lula queria mais um mandato para voltar à cena do crime) e Fernando Henrique Cardoso, responsabilizado por deixar-lhe no colo uma “herança maldita” que nunca existiu. Há poucos anos, FHC achava que o PT quebrou o Brasil.
Essa babilônia brasileira pariu o terceiro mandato do homem que assombrou o país por 42 anos, oito dos quais na Presidência e mais cinco com o codinome Dilma Rousseff. O que podemos esperar é, por exemplo, “a volta dos bancos públicos como fomentadores de projetos escolhidos politicamente para beneficiar setores de empresários amigos”. as tentativas de reverter privatizações; fortalecimento dos sindicatos, com a marcha à ré da reforma trabalhista feita no governo Temer; tentativa de ingerência na autonomia do Banco Central; explosão de gastos públicos; BNDES colocado para financiar projetos em países amigos; recuos nos marcos regulatórios de diversos setores; ideologia de gênero e muito mais.
Será inevitável o esforço para a restauração da política externa da canalhice, em benefício a países governados por ditadores ou tiranetes como o nicaraguense Daniel Ortega, o venezuelano Nicolás Maduro, da Venezuela, e a argentina Cristina Kirchner. Lula, pelo que ele próprio vem dizendo aos gritos e há meses, é contra tudo o que foi posto em prática por este governo e deu certo. Volta a vigorar, agora, o Brasil da senzala, com os donos do ‘Estado’ no papel de senhores de engenho e com a população escalada de novo para trabalhar, pagar imposto e sustentar a casa-grande”.
Será o primeiro presidente brasileiro eleito depois de ter sido condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Após a campanha eleitoral mais desonesta que já se viu na história política deste país, com a imposição de uma ditadura judiciária que violou todo o tipo de lei para lhe devolver a presidência, o líder supremo da esquerda nacional volta a mandar no Brasil. Com ele não vêm “os pobres”, nem um “projeto de justiça social”, e nenhuma das coisas cheias de virtude de que falam as classes intelectuais, os parasitas que lhe dão apoio. Voltam a mandar os donos do Brasil do atraso . Conseguiram convencer a maior parte do eleitorado, segundo os números da autoridade que controla as eleições, que é uma boa ideia colocar de novo na presidência da República um cidadão condenado pelos crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro. Começa agora o pagamento da conta — e quem vai pagar, como sempre acontece, são os brasileiros que têm menos. A campanha eleitoral de 2022 foi uma fraude jurídica e política como jamais se viu neste país. O STF e os advogados de Lula, pagos com os bilhões do “Fundo Eleitoral” que foi extorquido do pagador de impostos, deram a si próprios o poder de violar as leis e a Constituição Federal para “defender a democracia”.
Voltam , junto com o corrupto condenado, as empreiteiras de obras públicas, que governaram o país nos quase 14 anos da era Lula-Dilma — a turma do “amigo do amigo do meu pai” e você sabe muito bem quem mais. Voltam os eternos donos das estatais, que passaram esses últimos quatro anos longe delas — um desastre que jamais tinham experimentado antes. Foi um período em que as estatais deram lucro; o que poderia haver de pior para quem ganha bilhões com os seus prejuízos, como foi regra na era PT? Voltam mesmos que confessaram livremente os seus crimes na Operação Lava Jato, devolveram fortunas em dinheiro roubado e fizeram do governo Lula, com base em provas materiais, o mais corrupto da história do Brasil. Agradecem a volta os advogados criminalistas que defendem corruptos e o crime organizado, a mídia, que voltará a receber verbas bilionárias em publicidade oficial pagas com dinheiro dos impostos; só a Globo, nos governos do PT, levou R$ 7 bilhões em valores corrigidos. É a vitória do Brasil da licença-prêmio, dos aumentos automáticos para o funcionalismo público e dos “penduricalhos” que fazem as castas mais elevadas do judiciário terem salários mensais de R$ 100.000 ou mais, sempre com uma explicação legal para isso. Ganham, com Lula, os 12 milhões de funcionários públicos de todos os níveis — é uma população inteira de eleitores, e a maioria vota no PT, por questões elementares de interesse pessoal.
Ganha, em suma, o Brasil do antitrabalho — as classes que não admitem o mérito, o esforço e o talento individuais como a base da prosperidade pessoal, do crescimento econômico e da igualdade social. Em vez disso querem “políticas públicas” que sustentem o seu conforto e, como sempre, deixem a pobrada exatamente como está, com umas esmolas e a ficção de que “o governo” morre de preocupação com eles.