Glenn Greenwald e a Vaza Jato

raul ellwanger
Glenn Greenwald conheceu certo tipo de jornalismo brasileiro, na
entrevista à TV Cultura de São Paulo.
Elaborador da maior façanha jornalística das últimas décadas em nosso país, pois mostrou o uso político pré-intencionado de um setor do Judiciário brasileiro (a operação orgânica que impediu um candidato de ser candidato), o norte-americano teve que recorrer a todas suas reservas de paciência, tolerância e elegância ante a
barragem de perguntas constrangedoras que suportou.
A reportagem Vaza-jato é da mesma família e magnitude dos casos
Watergate e Snowden, retomando a tradição do grande jornalismo de
serviço público, de compromisso com a verdade e sem contar com
nenhum grande veículo para iniciar sua divulgação.
Para fazer uma comparação, basta lembrar mais de dez anos de mau jornalismo que viveu nosso país a partir de 2005, com vazamento ilegal quase diário de
conteúdos de processos judiciais protegidos por sigilo, de divulgação
espalhafatosa de meros boatos ou supostas confissões nunca
referendadas (casos Palocci e Pinheiro), de promiscuidade e articulação
operativa entre policiais, promotores, juízes, jornalistas e mídia
monopólica (que operava como agencia de propaganda da Lava-jato).
Imaginemos, portanto, meia dúzia de jornalistas martelando duas horas
de ferozes perguntas em TV aberta sobre algum funcionário da família
Marinho, para que este explicasse como saiam dos autos sigilosos de um
processo sob segredo de Justiça em Curitiba informações que ganhavam
longos minutos no noticiário da mesma noite, muitas vezes sem sequer
tempo hábil para fazer tal percurso.
Os entrevistadores do programa Roda Viva perderam a oportunidade de
ilustrar seus espectadores, de dar-lhes elementos de análise, de permitir
que usem suas inteligências para chegar a conclusões próprias.
Tendo perdido os momentos iniciais do programa, fiquei estupefato quando o
mesmo andou e terminou sem que os ditos jornalistas tivessem inquirido
Greenwald sobre o conteúdo de suas revelações; sem que tivessem
adentrado e esmiuçado aquelas condutas ilícitas de juiz, promotor e
policiais, que mais deveriam defender a licitude das condutas de agentes
públicos; sem que se interessassem pelas reiteradas operações de
Dallagnol em dobradiça com a mídia para caluniar e promover o
linchamento prévio e o julgamento “nas ruas” de seus alvos e vítimas
escolhidos com antecipação; sem olhar o comando de Moro sobre o
conjunto da obra, desde o inquérito policial até a inércia de seus superiores; sem visualizar o uso controlado do tempo político para influenciar na eleição; sem ter curiosidade sobre as articulações com grupos de opinião e pressão construídos adrede; sem averiguar o manejo financeiro articulado desses grupos com várias empresas; sem duvidar do olhar benevolente de Dallagnol sobre estas mesmas empresas que doavam para seus grupos de pressão; sem olhar o lucro pessoal e o desvio de função da vários operadores.
Pois tais jornalistas se dedicaram a cercar o entrevistado com perguntas
ou insinuações de conduta ilícita, de interesse político, de rancor contra
certa mídia, de talvez ter pago pelas informações.
Deixaram de lado o gigantesco fato jornalístico e político da Vaza-jato, e focaram todas suas baterias na conduta do profissional, na pessoa, no método de divulgação.
Tentaram desacredita-lo, ao citar reiteradamente sua opção afetiva ou
antigos trabalhos como advogado. Passaram a formular perguntas
hipotéticas, tentando confundir o jornalista-advogado.
Por fim, na fala de um casal, perderam diretamente a compostura e repetiram os
argumentos dos próprios autores dos delitos revelados na Vaza-jato,
operando como ventríloquos dos próprios indigitados.
A subversão politizada de parte do Judiciário brasileiro, revelada pela
reportagem Vaza-jato, não foi objeto do programa Roda Viva. Teria sido
um grande, um histórico programa.
Ele foi armado para derrubar a pessoa do cidadão Glenn. Ficou do mesmo diminuto tamanho e insignificância de seus operadores, não por acaso alguns deles funcionários das mesmas mídias involucradas em delitos que procuravam assacar ao entrevistado.

Um comentário em “Glenn Greenwald e a Vaza Jato”

  1. Só para responder à jornalistas sujos, vai aí a matéria publicada na revista CRUSOÉ, por Felipe Moura Brasil. Crusoé, O Antagonista, O Antagonista+, Rádio Jovem Pan e vários outros órgãos de imprensa, são exemplo do jornalismo isento e honesto. Que sejam bons exemplos para o site JÁ, exemplo de imprensa marrom defensora incansável do lulopetismo, assim como 247, meio mundo, e alguns outros formados por jornalistas que insistem em viver nos anos 70.
    Glenn Greenwald foi um tuiteiro irrelevante na corrida eleitoral de 2018.
    Apesar de todo o meu trabalho de expor a demonização de Jair Bolsonaro na imprensa – que diluiu em rótulos, torcida contra e criminalização de atos futuros as críticas legítimas a declarações e comportamentos eventualmente grosseiros do então candidato -, preferi guardar prints que fiz de tuitadas de Glenn para um momento mais oportuno.
    Agora que ele faz a “conta-gotas”, nas palavras do atual ministro Sergio Moro, uma “divulgação sensacionalista” de supostas mensagens roubadas à Lava Jato, por meio de uma “invasão criminosa dos celulares de agentes públicos”, a oportunidade apareceu.
    Em 18 de agosto de 2018, de acordo com meu baú, Glenn já mostrava no Twitter a sua compreensão do que é o jornalismo:
    “Os jornalistas ainda não têm uma estratégia eficaz para bater Bolsonaro, e a entrevista [no programa] #RodaViva acabou de provar isso. É preciso desenvolver uma rapidamente.”
    O procurador Wesley Miranda Alves, da ala conservadora do Ministério Público, ironizou Glenn:
    “Pensei que o objetivo dos jornalistas e entrevistadores era extrair informação dos candidatos, a fim de que os eleitores pudessem formar sua opinião.”
    Glenn retrucou, evidenciando que confunde sua opinião com informação, como nas recentes matérias de seu site sobre supostas ilegalidades de Moro:
    “Certo. E a informação relevante e precisa é que Bolsonaro é uma grave ameaça aos princípios básicos da democracia, um mentiroso patológico e um fanático. O trabalho dos jornalistas é demonstrar isso, e não deixa[r] ele usar mentiras e propaganda para esconder isso.”
    Na semana passada, em entrevista à Jovem Pan, Glenn também opinou sobre a condenação de Lula no caso do tríplex:
    “Eu acho que eles [agentes da Lava Jato] escolheram isso, pois isso foi o [caminho] mais rápido possível para deixar ele [Lula] proibido de concorrer em 2018.”
    Glenn esclareceu não ter evidências que embasem esta opinião. Mas, a julgar pelas suas tuitadas, o trabalho dos jornalistas consiste justamente em demonstrar opiniões pessoais pré-concebidas, como acusadores que partem da conclusão rumo às provas, não o contrário.
    O show de paciência de Moro na CCJ do Senado, defendendo a legalidade de seus atos como juiz de primeira instância, mostrou, no entanto, que Glenn ainda não tem uma estratégia tão eficaz assim para bater o ministro mais popular de Bolsonaro.
    Ele precisa desenvolver uma rapidamente.
    Felipe Moura Brasil é diretor de Jornalismo da Jovem Pan.

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