Margarete Moraes*
Muitas pessoas ao morrer permanecem vivas naqueles que as amaram, na memória daquilo que ensinaram e transmitiram. Enquanto alguém lembrar delas, suas vidas continuam, e nem a morte pode interrompê-las.
Outras pessoas fazem parte da memória da cidade. Estão inscritas naquilo que criaram. É uma memória de todos, parte da vida da cidade. É neste grupo que se inscreve Carlos Maximiliano Fayet, arquiteto que deu vida à idéia de um teatro popular no coração da cidade. O Araújo Vianna, antes na Praça da Matriz, veio para a Redenção composto em seus traços: aberto, pleno, tão disponível que, em sua primeira versão, tinha a protegê-lo apenas as paredes laterais, e por teto o céu, que muitas vezes fez parte do espetáculo, para o bem e para o mal.
Mas, tal como a cidade a sua volta, o Araújo teve que se adaptar ao tempo e aos novos tempos. Foi preciso repensa-lo. E, de novo, coube ao arquiteto Fayet, com o carinho do criador para com a sua criatura, dar-lhe uma cobertura, deixando a chuva e o ruído do lado de fora.
Nesta semana Porto Alegre perdeu um de seus desenhistas. O Araújo, em involuntária solidariedade, acompanha a perda, esquecido pela cidade para a qual foi erguido. Há mais de dois anos fechado, o auditório Araújo Vianna está entregue às pombas, que o ocupam e emporcalham, excluído de seu destino.
Em setembro Porto Alegre recebe o Porto Alegre em Cena. Seria uma bela homenagem a Fayet que espetáculos para grande público acontecessem em nosso maior teatro, o único erguido para a arte ser para todos, sem exclusão social, e não em casas distantes do centro e locadas a altos preços.
A cidade não merece este esquecimento. Homenageemos o arquiteto Carlos Fayet com palmas, renovadas a cada espetáculo em nosso auditório Araújo Vianna.
*Vereadora PT/Porto Alegre, ex-secretária da Cultura de Porto Alegre