LISIANE ACOSTA* / Testagem rápida da Dengue é importante, também, para o manejo ambiental

*PhD Saúde Coletiva

Após vinte anos de trabalho na vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, auxiliando na publicação do Boletim Epidemiológico das Doenças Transmissíveis do município, o qual registra toda a história da Dengue na cidade, me pergunto o porquê de a testagem rápida da dengue ainda não ser valorizada na orientação ágil em ações de controle ambiental, além de ser uma definição diagnóstica clínica rápida?

Com a identificação do vetor Aedes Aegypti em 2001 e dos primeiros casos autóctones em maio de 2010, uma importante discussão na Capital foi trabalhar na agilidade de ações ambientais direcionadas à presença do vetor e da circulação do vírus, principalmente.

Os objetivos eram usar o inseticida de forma que não gerasse resistência e não agredisse muito o ambiente, pois ele elimina também outros insetos, e conseguir chegar o mais rápido possível na área para impedir a transmissão, através de diagnósticos rápidos de casos suspeitos de Dengue, agilizados com a compra de testes tipo Ns1(antígeno Dengue), realizados no início dos sintomas e com alta especificidade. Além disso, foram distribuídas armadilhas em pontos com maior prevalência de casos e vetores para detectar o vírus já no vetor, agindo antes mesmo de ter casos em humanos.

Também a divulgação de locais de potencial risco sempre foi uma grande preocupação, tendo em vista a ação da população, e foi criado o site de geolocalização de focos e casos estratificados por graduação de risco .

Apesar de todas essas ações, ocorreram três grandes surtos (2013, 2016 e 2019) e duas epidemias 2022 e 2023 com mais de 5 mil casos confirmados em cada ano, descritos no Plano Municipal de Contingência Dengue, Zika e Chikungunya de 2023. O subtipo viral nos surtos foi o DENV1 e o DENV 2 em 2023.

Hoje, o município se encontra no nível 2 de alerta, com 455 casos, segundo a Secretaria Estadual de Saúde no painel de casos de Dengue, e está com 85 agentes de endemias, segundo o mesmo site, que, com certeza, possuem mais condições de trabalho agora que nos momentos de pandemia do COVID de 2020 a 2023.

Sabemos da complexidade de controle de doenças transmissíveis, especialmente as que se relacionam ao meio ambiente e determinantes sociais em saúde. Por essa razão, todos os fatores que possam auxiliar nesse momento devem ser disponibilizados, como a testagem rápida para Dengue.

O Ministério da Saúde do Brasil aderiu a essa tecnologia e a disponibilizará, conforme noticiou o jornal Zero Hora, em 13/3/2024. Portanto, cabe às  secretarias Estadual e Municipal de Saúde a utilizar, visando não só um diagnóstico precoce de casos, mas uma celeridade nas ações de controle dos vetores, primordial sempre neste agravo.

Pense comigo, se ao procurar um serviço de saúde com sintomas de Dengue, o diagnóstico fosse em 20 minutos, com todos os cuidados clínicos e demais exames realizados naquele momento, você certamente se cuidaria melhor e ao chegar em casa revisaria todo o ambiente, eliminando prováveis criadouros do mosquito e logo receberia o agente da dengue para auxiliar no controle ambiental da sua região. Portanto, a testagem rápida, além de agilizar o procedimento clínico, balizaria um rápido manejo ambiental.