PINHEIRO DO VALE
Afastada Dilma Rousseff da presidência da República, levando consigo o PT para a oposição, volta ao primeiro plano uma agenda da reforma política, defendida, aliás, por todos os grandes partidos e temida pelas pequenas agremiações, tanto as ideológicas como as de aluguel.
A maior incógnita dessa possível evolução está na reorganização da esquerda, caso vingue a proposta aparentemente invencível de uma reforma partidária no curto prazo.
Nos meios políticos há o temor de que a reorganização venha pela via da Justiça Eleitoral, daqui a dias sob o comando do último ministro nomeado por Fernando Henrique Cardoso, o paulista Gilmar Mendes, que assume a presidência do TSE.
Neste caso, supõe-se que Mendes daria um canetaço proibindo as coligações partidárias nas eleições proporcionais, o que, por si só, precipitaria o desbloqueio desse tema no Congresso.
Sem o guarda-chuva das grandes legendas, desaparecem do cenário parlamentar quase todos os partidos que atualmente têm suas mini representações no Congresso.
Nas agremiações de direita a extinção das legendas de aluguel varre quase todos os micros partidos criados para obter tempo em televisão nos horários eleitorais das eleições e engordar as quotas de cada bloco no rateio do Fundo Partidário.
Na esquerda é um tumulto.
No segmento conservador, sem grandes definições ideológicas, essa reacomodação é tranquila.
Na esquerda essa cirurgia tráz graves consequências, pois tira de cena partidos ideologicamente definidos e com grande tradição nas lutas política do País, tanto em tempos normais como na clandestinidade em ditaduras.
O mais notório perdedor é o PCdoB, o Partido Comunista do Brasil, herdeiro direto dos fundadores da esquerda revolucionária no Brasil, há quase 100 anos, desde a década de 1920.
Outro perdedor importante é o filho pródigo do PT, o PSOL, duro opositor da presidente Dilma Rousseff, mas que teve uma participação decidida na campanha contrária ao golpe recém-aplicado pelo vice-presidente em exercício Michel Temer.
Fundado pela então deputada gaúcha pelo PT, Luciana Genro, para se opor ao presidencialismo de coalizão do presidente Lula, o PSOL evoluiu e se desenvolveu em vários pontos do Brasil, avançando para se tornar um partido nacional. Esta carreira pode ser interrompida.
Esta evolução do PSOL se concretizava depois do êxito de sua candidata nos debates televisivos nas últimas eleições presidenciais de 2014. O PSOL se colocava como alternativa à esquerda do PT, uma posição disputada por outras mini legendas que, no entanto, jamais conseguiram passar das esferas corporativas ou estudantis.
Esta barreira foi ultrapassada, mas com nova legislação das coligações provavelmente esse partido perderá sua representação parlamentar com bandeira própria.
Tudo seria facilmente resolvido se a esquerda se articulasse com facilidade, tal como o PMDB, por exemplo, que tem grande experiência na formação de frentões.
Entretanto, nesse segmento as composições são difíceis, como dizia Gaspar da Silveira Martins, autor da célebre frase “ideias não são metais que se fundem”.
A convivência entre esses aliados sempre foi complicada. É um desafio de engenharia política abrigar todos sob uma mesma legenda, principalmente sob a hegemonia do PT.
Porém, depois do fracasso do modelo de coalização, tido como o principal responsável pelaq ueda da presidente Dilma, pois é um monstrengo ingovernável, as restrições de acesso ao parlamento tendem a se impor, eliminando os pequenos partidos.
Os chefões da política, que foram os inventores do sistema de legendas de aluguel, pesando o resultado do custo e benefício, tendem a se conformar com o final dessa fórmula rotulada de esdrúxula.
Na esteira dessa primeira reforma podem levar a reboque e se acrescentar outros dispositivos, como um semiparlamentarismo com eleições antecipadas, com dissolução da Câmara no caso de desabarem as maiorias parlamentares, preservando a presidência da República, que seria mais cerimonial que executiva.
Também pode mudar o sistema proporcional, com a reserva de 50 por cento da Câmara para o voto distrital.
Neste caso haveria antecipação das eleições, como está sendo proposto. Se for assim, não é de se descartar uma interrupção do processo de impeachment em curso no Senado, convocando-se à presidente Dilma para presidir a transição, pois ela seria uma figura neutra nesse cenário.
Esta seria uma saída, pois a solução judicial, pelo TSE, com a proibição das coligações proporcionais, somente poderia entrar em vigor depois do pleito de 2018.
Até lá o País viveria nas incertezas de um presidencialismo de coalizão sem um presidente com força suficiente para implementá-lo.
Se Dilma não pode mexer os pauzinhos com 54 milhões de votos, que se dirá de Michel Temer, sem nenhum.