P.C. de Lester
Na véspera da decisão da Câmara sobre a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a imprensa estrangeira está dando as manchetes que a nacional tem escamoteado. El Pais: “Cunha é o preço vergonhoso que a oposição aceitou pagar”.
“A imprensa estrangeira e parte da nacional se estarrece na hora de descrever a ficha corrida dele e dos aliados que comandarão o Big Brother da destituição até domingo na Câmara”, diz Flávia Marreiro no espanhol El País.
“Os aliados do vice-presidente Michel Temer tentam acalmar os mais desconfortáveis garantindo que, ao menos, Cunha não será mais presidente da Câmara depois que o serviço estiver feito. Pode ser, mas não faltará em seu círculo quem avalie que seria burro tirar um político tão competente e com um comando ímpar da Casa justamente quando se promete aprovar projetos que necessitam de grande número de votos”.
The New York Times, maior jornal do mundo, foi ainda mais fundo. Disse que Dilma, honesta, está sendo julgada por incriminados como Eduardo Cunha, que, nesta sexta-feira, foi denunciado por mais um delator, que o acusou de receber propina de R$ 52 milhões em 36 parcelas”
A imprensa nacional ainda mantém o “fator Cunha” como um dado secundário, que pode passar batido, diante da importância que é tirar Dilma da presidência.
Mas aos poucos uma parte da opinião pública não partidarizada começa a se dar conta do que pode significar esse “pacto com Cunha”.
Na terça-feira a comentarista política da RBS, Carolina Bahia, disse na Gaúcha que colhera em fonte segura a informação de que estava fechado um acordo para blindar Cunha, depois do impeachment, sem lhe tirar o poder real.
Cunha deixaria a presidência da Câmara, que seria assumida por Rogério Rosso, aliado de Cunha que presidiu a Comissão que acolheu o impeachment na Casa.
Sob a proteção do foro privilegiado e com sua imensa capacidade de manobrar nos bastidores, Cunha enfrentaria os processos por corrupção no Supremo.
Rosane de Oliveira, no estúdio em Porto Alegre, brincou, quando a colega encerrou o seu relato: “Vou ter que tomar um Engov para aguentar essa notícia”.
Curiosamente, o fato não voltou mais à pauta, a não ser por comentários de passagem: “Não convém esquecer que Cunha está incriminado na LavaJato”.
Agora, de fora para dentro, está ficando claro o risco de ficar nas unhas do Cunha.
Pelo menos para quem acredita que o item 1 da agenda brasileira deve ser manter e ampliar o combate à corrupção.