O golpe passou e ninguém viu

ANDRES VINCE
Dizem os entendidos que, lá pelo final do século XV, os índios não avistaram a chegada das caravelas no horizonte porque seus cérebros não conseguiam processar aquela imagem, pois, jamais haviam visto nada que tivesse qualquer semelhança com aquilo que vinha chegando pelo mar. Portanto, a chegada dos invasores passou despercebida.
Não era uma questão de inteligência, era um fenômeno mais profundo. Apenas quando os estrangeiros desembarcaram na praia, teriam sido notados pelos índios, pois ali, haveria uma semelhança óbvia.
Verdadeira ou não, quinhentos anos depois, a teoria de que os nativos deste lado do continente não conseguem distinguir algo que não conhecem, mesmo diante dos seus narizes, ganhou um notável reforço.
O golpe passou e ninguém viu, pelo menos a grande maioria não. E quando essa maioria escuta falar em golpe fica logo à espera dos tanques nas ruas. Não (re)conhecem esse novo tipo de golpe. Afinal, o silêncio do STF atesta que tudo é constitucional.
Só não vê quem não quer o recrudescimento da violência contra as minorias e, em especial, contra as mulheres. Quem acha que isso não tem nada a ver com as mudanças no comando do país não pode estar falando sério. O governo que usurpou o poder, claramente, está se lixando pras políticas sociais. Claramente, está envolvido em falcatruas até o pescoço. Claramente, mandou uma imensa banana pras políticas públicas em prol das minorias. Claramente, está recebendo tratamento diferenciado da imprensa.
São essas e outras tantas coisas, claramente erradas, que, por mais mobilizado que se esteja, não se consegue combater. A população já não distingue mais o certo do errado, só quer conseguir chegar no fim do mês com alguma coisa pra pôr na mesa. Crise econômica é o ingrediente perfeito pra silenciar o povo.
Hoje, no Brasil, temos no comando dos poderes executivo e legislativo, só gente citada nas delações dos executivos da Odebrecht. Não escapa um. E não é só. Ainda tivemos dois ministérios criados para acomodar mais um delatado, não sem antes fazer uma “média” nomeando uma mulher negra para os Direitos Humanos, pasta essa disputada a tapas, como se sabe.
Salário mínimo sem ganho real, caça aos direitos trabalhistas, tungada na aposentadoria, aumento vertiginoso do déficit, desemprego a galope, atividade econômica em franca retração, ataque aos direitos indígenas, entrega da soberania nacional… São tantas ações, claramente, danosas à população que o resultado de 6% que consideram a atual administração como boa/ótima é pra lá de surpreendente.
Esses 6% aí, não viram nem as caravelas, nem os invasores levando todas as riquezas, bem na cara deles.
 

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