O paradoxo

Ninguém reconhece ter cometido erros no exercício do poder.
Geraldo Hasse
A pouco mais de dois meses das eleições de 7 de outubro, nenhum membro dos partidos que estiveram no poder nos últimos anos ousou fazer a indispensável autocrítica. Algo do tipo: “Perdão, cidadãos e eleitores, erramos e queremos uma nova chance…”
Nada disso, são todos imaculados…
Ninguém tem coragem de dar o passo necessário para depurar a imagem do partido envolvido em falcatruas ou limpar o nome dos seus dirigentes e dos seus militantes.
Há centenas de processados, diversos condenados e muitos presos, mas o olhar de quase todos os eleitores se concentra numa única pessoa: Lula.
Condenado mais por indícios e evidências do que por fatos provados, o ex-presidente insiste em que foi condenado por motivações políticas vinculadas à luta de classes. Faz sentido, pois Lula é extremamente identificado com os pobres. Por isso, muitos dos seus simpatizantes o classificam como preso político.
Seria extremamente positivo se viesse à tona a verdade que os órgãos do Judiciário tangenciaram sem porém apresentar provas incontestáveis de corrupção e lavagem de dinheiro, as duas acusações que levaram Lula a ser sentenciado a 12 anos de prisão pelo juiz Sergio Moro.
Falta um clareamento do processo político hoje tumultuado por essa situação paradoxal em que o preferido dos eleitores para a Presidência da República é o prisioneiro mais falado do país.
Lula é o antípoda dos que, com escasso apoio popular, governam o país. “Lula ladrão” é o brado de guerra dos que não suportam ouvir o “Fora Temer”.
Também aqui vigora um paradoxo: nas duas campanhas eleitorais anteriores (2014 e 2010), Lula e Temer eram aliados. Agora estão em extremos opostos, sofrendo acusações pesadas dos órgãos do Judiciário.
Realmente, parece difícil provar que ambos praticaram crimes materiais, mas é notório que cometeram desvios morais como o de cortejar empresários poderosos, cumulando-os de benefícios; também fizeram festa para políticos suspeitos, fechando acordos espúrios com partidos de aluguel; e fizeram vista grossa para jogadas em estatais e ministérios.
Tenta-se justificar tudo isso alegando “necessidades de governança”, “pagamento de dívidas de campanha” e “sujeição à lógica de que os donos do dinheiro têm a palavra final”, cabendo aos pobres algumas migalhas como a liberação de financiamentos para a compra de casa própria, a concessão de bolsas de estudos, a oferta de remédios de graça, a inscrição no bolsa-família ou, seja, subsídio para não morrer de fome.
Num país rico em recursos naturais, livre de catástrofes, a desigualdade de renda é uma vergonha que Lula tentou diminuir e Temer trabalha para agravar.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Não é mais possível manter uma sociedade dividida entre o pequeno grupo do capital, que tudo tem, e a massa imensa do trabalho, a que tudo falta. Não é mais possível admitir a penúria no meio da opulência, a escassez no meio da abundância”.
(Getúlio Vargas em pronunciamento pelo rádio no dia 1-2-1954, comemorando o terceiro aniversário do seu governo).
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