O Rasputin dos Bolsonaros

Há um ditado latino que diz: “Credo quia absurdum”, ou seja, “Acredito porque é absurdo”. Nada, no fundo, mais coincidente entre esse dito latino e a existência impávida de um Olavo de Carvalho e de seus inúmeros discípulos a governarem o Brasil. Quando trabalhávamos – o Olavo e eu, no “Estadão”, certa vez, (e os absurdos ainda não lhe tinham subido à cabeça, pelo menos não eram visíveis) – ele me disse, acho que na mesa de um bar, que fazia horóscopos. Fiquei curioso e pedi-lhe que desenhasse meu mapa astral. Dadas as minhas parcas informações, juro que ele não previu nada que eu não adivinhasse. Mas como lhe contei pouco, acedi que seu “esboço de mapa astral” acabasse mesmo num mero palpite – ainda que com os astros não sei bem em que posição. Não me surpreendi nem me decepcionei, pois não acredito em horóscopos, mas me assustou um pouco vê-lo, tempos depois, já como autodenominado filósofo, a deitar falação no “Globo” e, mais tarde, a dizer asneiras, como organizador da extensa obra de Otto Maria Carpeaux, um dos maiores intelectuais que o Brasil já teve.
Tudo bem: ele aproveitou a deixa e nos raros momentos em que o li – inclusive numa inacreditável introdução que fez da obra de Carpeaux, – senti que o anticomunismo lhe caíra muito bem. Ele era incensado e, por fim, ei-lo como guru de uma das estirpes mais torpes que a política produziu nos últimos anos. Poderia ignorá-lo como muitos fazem (até para não lhe dar a importância que quase um milhão de pessoas lhe dispensam no Brasil, por lhe comprarem seus livros), mas dias atrás, pespeguei algumas “jóias” de seus, digamos, “pensamentos”. E então constatei em definitivo que o homem não batia nada bem da cabeça. Deu a entender que sabia ciência e afirmou que foi encontrado hidrocarboneto num planeta fora da nossa galáxia. Ou seja, os dinossauros, a evolução das espécies de Darwin, que dariam no petróleo, são histórias pra boi dormir. Para enfatizar – e este recurso é muito usado por ele – afirmou que petróleo como hidrocarboneto “era o cu da mãe” (ouvem-se risos na platéia, não se sabe se de algum Bolsonaro).
Ciência? Ele sabe que tudo começou no século XVIII e que, desde então, segundo ele, virou uma grande empulhação. Daí a teoria da relatividade. Einstein a inventou para não desmoralizar o que já estava feito. E citou um fato de que eu nunca ouvira falar (o que não quer dizer nada, porque não entendo do assunto) – que vários cientistas (não citou nenhum), tinham feito medições, e todas davam, em pontos diversos da terra, velocidades diferentes da luz (?). Conclusão: não se sabe se o universo é curvo. Ou plano. Os eclipses lunares seriam ilusões de ótica.
Sociologia, antropologia, magia negra, candomblé? O Olavo de Carvalho tem respostas prontas. Uma delas: o Saci Pererê e o Exu seriam uma mesma entidade. Nenhum dos dois têm qualquer coisa em comum, para quem conhece um mínimo das religiões indígenas sincretizadas, com a cultura negra (Saci Pererê) e o candomblé (Exu). Mas Olavo de Carvalho lança a hipótese que o furacão Katrina e o terremoto no Haiti aconteceram em ambos os sítios, porque lá eles cultuam o candomblé. Ao contrário do norte dos EUA, onde os negros são evangélicos e “ricos”, onde nada aconteceu.
Entenderam? Logo, nunca haverá qualquer hecatombe em tais lugares. E daí o castigo (não se sabe se do Deus Cristão ou de Alá, já que Olavo de Carvalho tem um passado islâmico). Mas o Príncipe Charles da Inglaterra estaria claramente empenhado em difundir o islamismo para acabar com o catolicismo. Portanto, é esperar e daqui a pouco todos estaremos lendo o Alcorão.
Onde as provas? Ninguém lhe exigiu nenhuma, assim como não se sabe de onde ele tirou a ideia de que a escola de Frankfurt, pregava a pedofilia. Em qual dos livros de Horkheimer, Adorno, Benjamin, Habermas e outros isso foi dito? Em qual? À falta de provas, entre uma baforada e outra, sobrevêm xingamentos: os que pensam o contrário que vão “pra puta que os pariu”, ou “tomar no cu”(sic)
Finalmente, uma última, mas não a derradeira: quem toma Pepsi Cola, consome abortos. O açúcar dos fetos nos tornaria a todos abortistas. Por que fetos humanos e não o velho açúcar, ninguém sabe. Ou melhor, talvez saiba a Coca-Cola, concorrente direta da Pepsi.
E esse é o guru da família Bolsonaro e de muitos de seus seguidores, incluindo os generais das Forças Armadas brasileiras. E que indicou dois autênticos imbecis para chefiar os Ministérios da Educação e das Relações Exteriores
“Credo quia absurdum”.
Não, não é pra rir.

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