O Sonho de Francimar

Francimar deixou seus pais em uma comunidade distante dois dias de barco da cidade de Manaus, na época, estava com 13 anos, hoje está com 17. Veio à capital em busca de trabalho seguindo o exemplo de uma tia, com a qual divide a moradia. Conseguiu trabalho logo em seguida como auxiliar de serviços gerais em uma produtora de vídeo especializada em acompanhar turistas em passeios por Manaus e arredores. Há três anos ele foi promovido a cameraman, com isso, seu salário melhorou, subiu para R$ 400,00. Como ele mesmo diz: “Garraram confiança em mim e me pagaram um curso de filmagem…”.
O brilho nos olhos e a felicidade com que executa seu trabalho mostram que o jovem realmente gosta do que faz. Francimar é um exemplo de persistência e luta; trabalha durante o dia e estuda à noite. Ano que vem termina o segundo grau. Em 2005 estava praticamente passado em todas as matérias antes mesmo do fim do ano letivo. Ele não tem tempo para lazer, já que nos finais de semana também precisa estudar. Fala que diverte-se na hora de trabalhar na edição das imagens dos vídeos que são encomendados pelos turistas – é muita vídeo-cassetada! O valor do transporte e a distância permitem que ele visite os familiares somente uma vez ao ano – geralmente no Natal.
Navegar pelos Igarapés ouvindo seus relatos é melhor do que estar acompanhado de um guia turístico. Mesmo não gostando de história, geografia e ciências – suas matérias preferidas são matemática, física e química – Francimar demonstra ser um grande conhecedor da fauna e da flora locais. Além disso, discorre com facilidade sobre as ilhas, seus canais e a história da população ribeirinha.
De uma coisa Francimar está certo, pelo menos por enquanto: jamais deixará Manaus. Vontade de conhecer outros lugares também não tem. A idéia de distanciar-se do Rio Negro o assusta. Perder de vista as águas que o levam até seus pais e antepassados está fora de cogitação. Porém, como qualquer jovem, ele tem sonhos. Assim como sua vida, seus sonhos são modestos. Talvez o mais “audacioso” para ele mesmo, seja o de cursar uma faculdade, só não sabe ainda o que vai escolher. Da forma com que batalha, tenho certeza que conquistará seu espaço em uma Universidade Pública; e isso, mais que um sonho, é um direito seu adquirido por lei. Agora, só lhe falta decidir o curso.
Então, Boa Sorte Francimar!
Christian Lavich Goldschmidt
*escritor e ator

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