Primeiro poder

Chegamos a um ponto em que grupos de mídia detentores de concessões públicas de canais de rádio e televisão, operando em rede, com veículos impressos e digitais adquiriram o poder maior sobre o país.
De um lado, monopolizam as verbas, baseados no alcance que as concessões de rádio e tevê lhes garantem. Ampliam seu alcance e eliminam concorrentes.
De outro, se arvoram reformadores sociais. Investigam, julgam, condenam e, quando necessário, constrangem juízes, policiais, deputados, senadores, governadores, que ousam discordar de seus julgamentos apressados e moralistas.
No Brasil tudo está em crise: a política, a polícia, a justiça, a economia, as empreiteiras, tudo isso está nas manchetes.
Mas a crise da mídia, que talvez seja a maior de todas, não está na pauta daqueles grupos que têm os meios para chegar à grande massa dos brasileiros. Não rende um rodapé.
Como pode uma mídia ter receita para a crise de todos, se não consegue olhar para a sua própria crise, que talvez seja a primeira de todas?
Uma mídia que há três anos se alimenta de vazamentos ilegais, tem a dizer o quê sobre corrupção?
Será descabido pensar que o “primeiro problema” da nação está exatamente nesse “primeiro poder” de pés de barro?
É enredo que vem de longe, Brizola denunciou e, na campanha de 1989,  num arroubo prometeu cassar a concessão da Globo. Foi derrotado na eleição.
Lula, quando eleito, fez que não viu o problema e achou, talvez, que poderia cooptar os barões da mídia para um governo popular.
Engavetou todos os projetos para estimular a diversidade na mídia, conformou-se aos cinco ou seis grupos dominantes… Hoje eles são os seus algozes, êmulos de seus algozes.
Retaliar, hostilizando os jornalistas da Globo, por exemplo, como sugerem algumas lideranças populares, é um equívoco.
A imprensa só vai mudar quando aparecer uma outra imprensa chamando seus leitores para uma outra pauta…
Enquanto as alternativas se limitarem a manter um “fogo de barragem” ao bombardeio diário da grande mídia, a situação não se altera no ritmo que a democracia precisa.
 
 
 

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