ELMAR BONES
Quem acha que o mais baixo índice de aprovação da história do presidencialismo brasileiro é impeditivo para uma candidatura de Michel Temer nas eleições deste ano, pode começar a rever sua opinião.
Os últimos movimento do presidente são indicativo mais do que claro de que ele trabalha com afinco para viabilizar-se, deslocando o ministro Henrique Meirellles, que seria o nome do continuísmo apoiado pelos bancos e parte do empresariado.
Há muito que “assessores palacianos” confidenciam aos repórteres a intenção do presidente impopular, citando as “conquistas” de seu governo: a queda da inflação, queda dos juros, melhoras na economia, embora mais aparentes do que reais.
Essa espetaculosa intervenção no Rio de Janeiro, anunciada nesta sexta-feira, e o novo Ministério da Segurança que vem sendo trabalhado nas últimas semanas, são sinais evidentes dos ardis presidenciais.
A questão da Segurança Pública é o tema mais sensível no país hoje. E a situação do Rio de Janeiro, beirando o caos, é emblemática.
Além do mais, com este lance surpreendente, Temer tira o foco da reforma da Previdência, cuja aprovação é improvável a esta altura.
Segurança é a área onde o governo federal mais tem investido e da qual estão reféns os governadores de todos os Estados, muitos deles já comprometidos com programas de ajuste fiscal, que dependem basicamente da boa vontade do Planalto.
Há 16 ou 18 governadores buscando assinar os termos de adesão ao programa federal, que implica em suspensão temporária dos pagamentos da dívida com a União, entre outros benefícios.
Quando, ao assinar o tempo de posse em substituição a Dilma Rousseff, Temer ergueu a caneta à altura dos olhos, posando para os fotógrafos, e não foi um gesto casual. Ele tem a caneta e sabe o que fazer com ela quando se trata de cuidar dos seus próprios interesses.
Além do mais, ele não tem nada a perder. Tem o maior partido do país em estrutura (o PMDB) e a banda podre de outros partidos toda em suas mãos. Mesmo que não chegue lá, terá votos suficientes (e tempo de televisão) para se cacifar e, no segundo turno, ser decisivo na disputa final.
Não se pode esquecer que as forças patrocinadoras do golpe de 2016, que tirou Dilma de cena, tem uma dívida, que não é pequena, com ele.