Um planeta alérgico e os falsos milagres

Ricardo de Paula*

Prevenção e consciência sobre riscos inerentes ao charlatanismo são cruciais na abordagem das alergias.

Asma, rinite, os gravíssimos choques anafiláticos, alergias alimentares, à lã, ao látex e a várias substâncias, as provocadas por poeira, ácaros, fungos e baratas, suas características, conseqüências, prevenção e tratamento. A sociedade convive cotidianamente com esses problemas, que afetam grande número de habitantes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as alergias acometem aproximadamente 30% da população mundial. Segundo o Ministério da Saúde, 35% da população brasileira, ou 66 milhões de pessoas, têm doenças alérgicas.

Um exemplo é a asma, que atinge 16 milhões de habitantes no Brasil e é a quinta maior causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS).  Segundo artigo publicado no site da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), a doença atinge de 150 milhões a 300 milhões de pessoas no mundo e consome parcela importante dos recursos da saúde. Estima-se que 15 milhões de portadores percam, periodicamente, um ano de vida saudável. Desde 1980, a ocorrência de asma cresceu 60% nos Estados Unidos, onde o problema consome US$ 6 bilhões por ano em assistência médica e atinge 11% da população.

É uma proporção semelhante à encontrada no Brasil. Calcula-se que 11,4% dos brasileiros tenham asma e um em cada três apresente alguns sintomas da doença, como dificuldade de respiração e “chiado no peito”. Os dados corroboram informações do ícone “Dicas” do site da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai): “No País, a asma é responsável, anualmente, por 400 mil internações hospitalares e dois mil óbitos”, grande parte ocorrida em razão do desconhecimento da doença, falta de programas de prevenção e dificuldade de acesso aos serviços médicos especializados.

As estatísticas relativas ao aumento dos casos de asma nos Estados Unidos provavelmente refletem a maior agressão por alérgenos, num mundo com meio ambiente cada vez mais comprometido e condições de vida prejudicadas pelo estresse e crescente contato com alimentos e produtos com maior índice de ingredientes químicos. Assim, torna-se fundamental difundir amplamente informações sobre alergias, as principais formas de prevenção e os tratamentos adequados. Infelizmente, contudo, campeiam, em proporção desmedida, informações equivocadas, “tratamentos” miraculosos, “curas” por meio da medicina alternativa (e nem sempre legal!), produtos “antialérgicos naturais” (nem sempre fidedignos!) e outros tantos problemas que desviam a população do foco científico correto. Mais do que nunca, a alergia é objeto dos “falsos milagres”.

Diante de estatísticas tão relevantes, dos problemas acarretados para a população, dos custos que o problema representa para o sistema de saúde, é imprescindível a prevenção, que pode ser feita por meio de melhor orientação da sociedade e de cuidados simples a serem adotados no dia-a-dia por pessoas alérgicas e no seu ambiente doméstico e de convivência. Mais do que nunca, o conceito de saúde, muito além de se caracterizar unicamente como a cura de doenças, deve ser entendido no contexto de um processo mais amplo e correto, de prevenção e vida saudável. Tal enfoque é muito melhor para a população e o País, refletindo-se num ganho em termos de qualidade de vida.

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