Higino Barros
A Confeitaria Maomé, conhecida em Porto Alegre pela qualidade de seus produtos, ambiente e atendimento, tem abrigado nos últimos tempos exposição fotográficas com o que há de melhor nessa área no Rio Grande do Sul. Nessa sexta-feira, dia três, ela abre às 18h30 uma mostra que tem como tema a cidade de Paraty, no litoral fluminense.
O significado de Paraty, na língua dos índios Guainás, quer dizer “alagado de mar, pequeno golfo ou jazida do mar”, segundo Teodoro Sampaio, em sua obra O Tupi na Geografia Nacional. A exposição tem obras de cinco fotógrafos:
Ale Freitas, Fernanda Virmond, Gutemberg Ostemberg, Jorge G. Lansarin e William K. Clavijo. A curadoria da mostra é do fotógrafo e apaixonado por Paraty, Fernando Pires que no texto abaixo discorre sobre a importância do local na história do Brasil e o olhar dos fotógrafos expositores sobre a cidade.
Uma vila chamada Paraty
“Entre as metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo existe um refúgio, uma “Villa chamada Paraty”
As fotografias desta exposição apresentam Paraty, uma cidade de beleza peculiar, que antigamente era reduto de índios Guaianás ou Guaianases. Também, porque foi justamente através das trilhas dos Guaianases, posteriormente chamadas de Caminho do Ouro, que Paraty vivenciou as suas eras de apogeu. “A Vila de Paraty teve, nos primeiros séculos de sua história, uma importância estratégica no cenário histórico brasileiro”.

Foi pelo seu porto, que escoava o ouro e as pedras preciosas vindas das Minas Gerais, e que partia para a Europa e por onde também passavam: ouro, café, cana, especiarias e africanos escravizados. Isolada por quase um século, o conjunto urbano de Paraty, hoje chamado Centro Histórico, com as suas trinta e três quadras, número relacionado à maçonaria, parou no tempo. Para a UNESCO, trata-se do município com “o mais íntegro conjunto arquitetônico brasileiro representativo da arquitetura dos séculos XVII ao XIX”.

Graças à preservação do seu patrimônio cultural, tornou-se, a partir da segunda metade do Séc. XX, um destino cultural e turístico, um refúgio perfeito entre a Serra do Mar e o Atlântico. Isso ocorreu também devido à construção das rodovias Paraty-Cunha e com mais ênfase com a Rio-Santos, quando Paraty passa a viver basicamente, além da pesca e comércio em geral, da principal fonte de sua nova economia – o turismo. Reconhece-se a preservação do seu patrimônio cultural através das suas artes, os seus estilos de vida – a gastronomia, a música e também o seu patrimônio natural – 61 praias, 65 ilhas, centenas de cachoeiras e cinco unidades de conservação de Mata Atlântica: Área de Proteção Ambiental do Cairuçu – APA Cairuçu, onde está a Vila da Trindade, a Reserva Ecológica Estadual da Juatinga e o Parque Nacional da Serra da Bocaina. E ainda, faz limite com o Parque Estadual da Serra do Mar. Ou seja, Paraty é Mata Atlântica por todo lado.

A condição especial de Patrimônio Misto conquistada recentemente em conjunto com Ilha Grande, já era reivindicado há mais de uma década por Paraty, principalmente pelo seu Patrimônio Imaterial – valorização dos conhecimentos tradicionais mantidos na cidade e nas suas comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas e caiçaras) que tanto acrescentam a sua diversidade cultural.

Polo turístico de fama internacional, o seu conjunto arquitetônico no Centro Histórico apresenta sutilezas históricas, memórias e lendas singulares extremamente interessantes, como os símbolos enigmáticos estampados nas fachadas de inúmeros sobrados, o rebaixamento do meio fio de algumas ruas, que permite até hoje a entrada e saída das águas do mar. Entrar então no Centro Histórico de Paraty é entrar em outra época, retornar ao século XVIII, cruzando uma fronteira onde o tempo e a velocidade mudam, pois até o caminhar é obrigatoriamente sereno/tranquilo, apropriado às pedras “pés-de-moleque” de suas ruas. É possível avistar dos telhados de algumas propriedades, os detalhes arquitetônicos chamados de eira, beira e tribeira, de onde se originou o ditado popular “sem eira e nem beira”, ou seja, aquele sujeito que “nada tem”, pois os moradores com muita posse possuíam a “tribeira” em seus telhados, que tratava-se em séculos passados de um “sinal superior de riqueza”.

Ao caminhar pelo Centro Histórico de Paraty experimenta-se não só os espaços, os aromas, a sonoridade de uma cidade do interior, mas também a energia dos seus sujeitos, sejam eles paratienses ou paratianos.”
Fernando Pires
Paratiense | Fotógrafo | Curador