Crédito da foto: 24 Ana Letícia Meira Schweig
Crédito da foto do Gerson Karaí Gomes: Eduardo Schaan.
Documentário com músicos de três territórios Guarani no Rio Grande do Sul foi exibido à comunidade indígena na noite de sábado, 29/01, em primeira mão, na aldeia localizada em Maquiné, no Litoral Norte. No dia 03 de fevereiro, próxima quinta- feira, o filme poderá ser visto no Canal de YouTube do Coletivo Comunicação Kuery, seguido de comentários do diretor Gerson Karaí Gomes: https://www.youtube.com/channel/UC1JchWSZ0BwFkIkpochYE3A
A obra é uma produção de comunicação Kuery em parceria com as produtoras Blue Bucket Films & Content e Tela Indígena Produções Artísticas, viabilizado pela Secretaria de Cultura do Estado do RS.
Trailer oficial: https://vimeo.com/657497236
O relato abaixo é da Assessoria de Comunicação do filme.
“A noite do sábado dia 29 de janeiro de 2022 vai ficar na memória para o povo Mby’á Guarani. Além de ter realizado um encontro entre três comunidades do Rio Grande do Sul, que coincidentemente marcava os cinco anos da retomada do território na cidade de Maquiné, no Litoral Norte, a exibição do filme-documentário Mby’á Nhendu – O som do espírito Guarani encheu as lideranças de orgulho.

Nessa localidade, são 60 hectares e cerca de 75 indígenas que vivem de tudo o que plantam ou criam. Cerca de 80% de seu sustento é viabilizado no local. O cacique André Benites (que prefere não ser identificado com seu nome Guarani) informa que, aos poucos, estão conseguindo ter melhorias no local, inclusive a escola e a estrutura geral das casas construídas por eles mesmos.
Na escola da aldeia Tekoa Ka’aguã Porã, a tela foi o único ponto de luz que encantou todos os convidados. O curta-metragem mostra os ensinamentos e a relevância da sonoridade no universo musical Mbyá Guarani. Foi apresentado em primeira mão, justamente, para quem o ajudou a registrar a riqueza da cultura indígena na música. Dirigido pelo cineasta, também indígena, Gerson Karaí Gomes, a obra foi produzida em 2021 e finalizada em janeiro de 2022. Trata-se de um filme viabilizado pelo edital Pró-Cultura RS FAC (Fundo de Apoio à Cultura), Governo do Estado do Rio Grande do Sul – Lei 13.490/2010.

O diretor Gerson Karaí Gomes: Foto: Eduardo Schaan/ Divulgação
Gomes, com a colaboração do coletivo Comunicação Kuery e a co-produção da Blue Bucket Films e Tela Indígena, captou entrevistas com as lideranças das três aldeias participantes (duas de Maquiné e uma de Camaquã) e percorreu um pensamento comum entre eles: o respeito pelas reflexões sobre religiosidade, política e meio ambiente que estão presentes na música dos Mbyá. Ao longo de 18 minutos, os depoimentos sensibilizam visões sobre aspectos da cultura Guarani. “Desde a primeira fase do contato com as lideranças, tudo foi negociado. Há limites que cada comunidade estabelece para se mostrar, visto que muitas coisas não podem ser divulgadas, inclusive parte das músicas sagradas”, comenta o diretor.

Segundo ele, as negociações são mais discutidas internamente entre lideranças, comunidade e equipe Guarani em sua própria língua. Depois, há uma comunicação geral. “Mesmo assim, essas lideranças consideram importante divulgar a perspectiva, a cultura, a música e os conhecimentos próprios dos Mbya Guarani para os não indígenas”, entende Gomes, satisfeito com o resultado. A tradução Guarani-Português é de Eliara Antunes.
A colaboração entre equipes de profissionais indígenas e não indígenas surgiu ainda em 2019, após alguns projetos de mostras e exposições de arte indígena. Desde então, os processos de pesquisa, conversas e contato com as lideranças dos territórios Guarani se adaptaram ao ritmo imposto pela pandemia covid-19. Quando puderam ter contato pessoal, as equipes totalizaram entre 3 e 4 dias de trabalho em cada uma das aldeias Tekoa Ka’aguã Porã (Maquiné), Tekoa Yvyty (Maquiné) e Tekoa Yvy’ã Poty (Camaquã). Além do diretor, a fotografia, a assistência de fotografia e a captação de som são atividades de profissionais do coletivo Kuery.
Mby’á Nhendu – O som do espírito Guarani é um filme que faz parte do projeto “Jerojy, Jeroky: em busca das músicas do céu e da terra”, coordenado há algum tempo pelo coletivo Comunicação Kuery. O grupo surgiu em 2013 a partir da necessidade apontada pelas lideranças indígenas de registrar a vida e o cotidiano nas aldeias impactadas pelas obras de duplicação da BR-116, no trecho entre Guaíba e Pelotas, no Rio Grande do Sul. O coletivo já produziu diversos vídeos, de vários formatos. Em 2018, lançaram o documentário Ka’aguy Rupa, que já foi exibido na Mostra de Cinema Tela Indígena. O processo de formação em audiovisual no qual estão envolvidos o(a)s agentes de comunicação, visa a ampliação da autonomia Mbyá-Guarani na utilização dos meios de produção e realização cinematográfica, portanto, vale ressaltar que, além do documentário finalizado, o processo de realização representa troca de conhecimento e educação.
“Durante a fase de gravações, realizávamos, à noite e após o trabalho, exibições de cinema em paredes de escolas e casas para as comunidades acompanharem outros filmes indígenas. Nos últimos anos, o cinema tem sido aliado nas lutas dos povos indígenas e há outras experiências cinematográficas, como em retomadas de terras e áreas de conflito, em que exibições foram realizadas por apoiadores como forma de fortalecer a comunidade”, salienta o diretor do documentário.”