Inauguração do Projeto Memória ArqUrbRS e lançamento de livro no IAB/RS

 

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB RS) promove no dia 18 de maio (terça-feira) o evento virtual de Inauguração dos Espaços do Projeto Memória ArqUrbRS e lançamento do livro “E se as cidades fossem pensadas por mulheres”, da editora Zouk. A transmissão será realizada a partir das 19 horas pelo Facebook do IAB RS.

A inauguração terá apresentação de Rafael Passos, presidente do IAB RS e de Letícia de Cássia, gestora do projeto Memória ArqUrb RS – Edição LAB, tendo como convidadas Beatriz Araujo, secretária da Cultura do RS e Márcia Bertotto, diretora do Centro de Memória IAB.

Já o lançamento do livro terá mediação da arquiteta Paula Motta, vice-presidente do IAB RS e a participação das autoras Laura Sito, Mariana Félix e Misiara Oliveira.

SAIBA MAIS:

A memória do IAB RS, materializada em seu acervo e a base para estruturação de novos caminhos traça novos começos, preservando objetos de arte, acervos bibliográficos e documentais. Com esse intuito e que em 2019, o IAB RS realizou uma parceria com o curso de Museologia da Fabico/UFRGS, para realização de uma série de atividades, visando a organização do seu arquivo, organização e implementação de uma nova biblioteca a fim de ampliar seu público.

A proposta foi elaborada e encaminhada pela Pangea Cultural, escritório de gestão cultural e social para o Edital SEDAC no10/2020, Edital de Concurso Aquisição de Bens e Materiais e recebeu recursos da Lei no 14.017/2020, Lei Aldir Blanc. Assim, o projeto possibilita o debate interdisciplinar, a partir da estruturação física da Biblioteca Comunitária Arquiteta Enilda Ribeiro (BiCAER) e do Arquivo Histórico Demetrio Ribeiro (AHDR), equipamentos projetados para a educação para o patrimônio.

Os espaços são integrados dentro do prédio Solar do IAB RS, localizado no Centro Histórico de Porto Alegre e têm como objetivo desenvolver práticas socioeducativas acerca da arquitetura e do urbanismo, por meio da pesquisa, educação para o patrimônio, direitos humanos, preservação da memória e convivência comunitária, em prol da cidadania de crianças, jovens e adultos.

SERVIÇO:
O que: Evento virtual de Inauguração dos Espaços do Projeto Memória ArqUrbRS e lançamento do livro “E se as cidades fossem pensadas por mulheres”
Quando: Dia 18 de maio (terça-feira) às 19 horas
Onde: Facebook do IAB RS (https://www.facebook.com/IABRS )

Fotógrafo Jorge Aguiar põe o projeto Click da Kombi para rodar

 

Higino Barros

O fotógrafo Jorge Aguiar, natural de Porto Alegre, 65 Anos, coloca para funcionar no final de maio um sonho profissional que começou há 20 anos, fruto de sua experiência de 45 anos como fotógrafo. O projeto Click da Kombi, em que realiza oficina gratuita para moradores de comunidades carentes. Aguiar leva o Click da Kombi à Viamão, Cachoeirinha e Guaíba. Os detalhes e datas dos cursos estão no card de divulgação.

O JÁ Porto Alegre enviou perguntas ao fotógrafo , que respondeu por email.

PERGUNTA: Quem é Jorge Aguiar?

RESPOSTA: Eu me realizo nas periferias, documento as minhas guerras urbanas, eu sou de alto risco… sem lenço, sem documento, somente uma câmera nas mãos.” Esse é Jorge Aguiar por ele mesmo. Seria muita pretensão defini-lo, mas eu arriscaria afirmar que esse é um daqueles fotógrafos que capturam a riqueza onde ninguém a vê. É nas coisas simples e cotidianas, nas culturas e tradições que se extinguem, nos sofrimentos anônimos, na poeira da estrada, nas lutas silenciosas e na
explosão das batalhas que ele encontra sua expressão máxima. Ladrão de instantes, congela para sempre o presente na sua caixa de Pandora, para depois abri-la e nos surpreender com a sua dor. A velocidade perfeita, a abertura exata, a composição sensível, a emoção lapidada no latejar das veias, com o peito aos saltos, e eis que o presente, esse prisioneiro do nunca antes e do nunca mais, se faz eterno. Emoção e domínio. Esse é o Jorge Aguiar”. Texto Lidia Fabrício

Foto: Lidiane Heins/ Divulgação

Trabalho há 45 anos com Fotojornalismo. Há 25 anos desenvolvo o Projeto Luz Reveladora Photo da Lata em periferias ministrando oficinas pinhole para jovens e adultos em áreas de vulnerabilidades sociais. Ganhador do Prêmio Direitos Humanos UNESCO em 2003-Projeto Photo da Lata e autor do Projeto Click da Kombi Escola de Fotografia Itinerante.

PERGUNTA:  Conte um pouco da suas andanças pelo mundo.
RESPOSTA: É muito difícil falar em primeira pessoa, mas tenho uma caminhada de um flaner pelo mundo observando o comportamento humano, sem pressa de chegar.

PERGUNTA: É conhecida sua admiração pelo fotógrafo Sebastião Salgado. O que gosta no trabalho dele?

RESPOSTA: O trabalho Trabalhadores
E mais alguém? Cartier-Bresson

PERGUNTA: O que é o Projeto Click da Kombi? Apresente para quem não conhece.

RESPOSTA: Idealizado há mais de 20 anos quando fiz uma vaquinha virtual e com a ajuda de milhares de amigos consegui adquirir a kombi, surgindo assim, o Click da Kombi – Escola de Fotografia Itinerante, que é um laboratório itinerante e levo educação e cultura das artes da fotografia para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

PERGUNTA: Qual tua motivação?

RESPOSTA: É o resgate da alto-estima e a capacitação profissional dando
acesso à cultura e a arte de fotografar, promovendo solidariedade e expressão com base em valores humanos.
PERGUNTA: Qual público alvo?

RESPOSTA: Não tem limites de idade

PERGUNTA: Qual é a percepção dos alunos sobre fotografia?

RESPOSTA: Os alunos se encantam com a arte de fotografar, abrindo um novo olhar e muitos deles seguem a carreira de fotógrafos comunitários.

PERGUNTA: Tiveste recusas de financiamento cultural para esse projeto da Kombi. O que aconteceu? O que tens a dizer sobre júri, critério de julgamento e os projetos de financiamento cultural em si?

RESPOSTA: Não falarei sobre isso.
PERGUNTA: Como tem sido fazer fotografia de rua, presencial como a tua, em tempos de pandemia?.
RESPOSTA: Muito difícil porque não tem como para ir nas periferias. Todo o meu trabalho é presencial, caminhar nas vilas, falar com as pessoas É nesse momento humanamente impossível.

Da série Manaslisas da Periferia. Jorge aguiar/ Divulgação

Volta “Naves Poéticas”, esculturas tridimensionais iluminadas, de Fabio Rheinheimer.

A exposição Naves Poéticas, do arquiteto, artista visual e curador Fábio André Rheinheimer, está de portas abertas para receber o público no Espaço Cultural Correios, em Porto Alegre. O local havia sido fechado, em função do agravamento da pandemia, logo após a inauguração da exposição. Agora, os visitantes têm até o dia 21 de maio para conferir as esculturas tridimensionais iluminadas de Rheinheimer.

Fábio André Rheinheimer,.

A exposição é formada por 20 obras feitas com materiais como lâminas de acrílico rígido e LED. O artista compõe sua obra de formas e luzes, produzindo um grande efeito cenográfico. Pelas características de transparência e luminosidade, as obras podem ser expostas como elementos de decoração ou paisagismo.

No ano passado, Rheinheimer completou 33 anos de carreira artística com a exposição “A Tempestade”, em cartaz em Porto Alegre e em São Paulo. Também foi o curador da exposição “Múltiplos Olhares”, que apresentou diferentes visões de 28 fotógrafos. Também desenvolveu sua primeira galeria virtual, utilizando seus conhecimentos como arquiteto.

Exposição:

Projeto Naves Poéticas (2014|2020), objetos de Fábio André Rheinheimer

Visitação: até 21 de maio

Horários: de segunda a sexta das 10 às 17h.

Local: Espaço Cultural Correios, Av. Sete de Setembro, Nº 1020, Praça da Alfândega – Centro Histórico, Porto Alegre

Visitas podem ser agendadas pelo email espacocultural-rs@correios.com.br. Novo protocolo permite até seis pessoas por vez no Espaço Cultural Correios.

“Como um músico de jazz”. Marcos Monteiro e sua exposição na Galeria da Escadaria.

 

Higino Barros

Dia 1º de Maio, a Galeria Escadaria , no viaduto da Borges de Medeiros, abriga sua segunda exposição, desde que foi aberta em abril de 2021, em plena pandemia do Corona Virus. Agora será a vez de Marcos Monteiro, 65 anos, natural de Bagé, fotógrafo, produtor cultural e idealizador da galeria em espaço aberto, justamente quando as artes visuais receberam um duro golpe com a interrupção de atividades presenciais. Atualmente algumas galerias em espaço fechado de Porto Alegre recebem presencialmente, com rígidos protocolos de saúde.

Monteiro pegou sua câmera fotográfica nesse período e foi para as ruas. O resultado pode ser visto na exposição “Ir/real”. A fotógrafa Dani Remião que o ajudou a selecionar as fotos, define o trabalho “como um músico de jazz, Marcos mantém um equilíbrio entre o planejado e o improviso, que requer domínio da técnica fotográfica e criatividade para os ajustes em tempo real.”

Todas as fotos trazem os locais onde foram fotografadas e a técnica utilizada.

Abaixo, a entrevista que o fotógrafo concedeu ao JÁ Porto Alegre:

PERGUNTA:  Quem é Marcos Monteiro?

RESPOSTA:  Marcos Monteiro, publicitário, designer gráfico, produtor cultural e fotógrafo autoral. Produtor e idealizador do projeto musical Chapéu Acústico, Produtor e idealizador da exposição coletiva anual a céu aberto Street Expo Photo, Idealizador e curador da Galeria Escadaria.

PERGUNTA:  De onde veio a ideia da atual exposição?

Estou fechando um ciclo de sete anos de trabalho autoral na fotografia e como meta busco a cena ideal para compor o inesperado, seja na rua ou outros lugares, saio sem roteiros em busca de cenas bem compostas e iluminadas, uma espécie de planejamento com improviso, a partir daí a sensibilidade e a intuição me conduzem. A exposição Ir/real é uma síntese desse processo traduzida em 33 imagens onde busco transpor minha alma pelas lentes de uma câmera.

PERGUNTA:  Qual a participação da Dani Remião na curadoria?

RESPOSTA: A Dani é docente em artes e com sua grande experiência me ajudou a entender melhor esse meu processo artístico o que facilitou muito a elaboração e concepção da exposição.

PERGUNTA: O que há de programação para a galeria Escadaria?

RESPOSTA: Em maio teremos a minha exposição, em junho e julho a exposição “Pantanal, beleza ameaçada” de Daisson Flack e Douglas Fischer, em agosto a exposição da fotógrafa portuguesa Fernanda Carvalho. Os meses de setembro, outubro e novembro estão quase fechados.

PERGUNTA:  E projeto do Chapéu Acústico,  parceria com a Biblioteca Pública Estadual??

RESPOSTA: O projeto musical Chapéu Acústico está nas mãos da pandemia, assim que pudermos voltar a preencher espaços fechados com segurança, retornaremos.

PERGUNTA: Como está sendo produzir  arte em tempo de pandemia?

RESPOSTA: A Street Expo Photo 2020/21 nos mostrou que apesar da pandemia podemos com responsabilidade construir exposições de arte a céu aberto com segurança. A escadaria da Borges se mostrou um lugar fantástico para esse tipo de exposição e foi durante a pandemia que criamos essa que é a única galeria a céu aberto do Estado com a aceitação da população de Porto Alegre.

PERGUNTA: O que vale destacar no período?

RESPOSTA: A Galeria Escadaria veio para preencher um lugar importante na cidade e apesar de não termos vigilância os porto-alegrenses tem dado um exemplo inigualável de cidadania e respeito a arte, isso não tem preço.

A apresentação da mostra, por Dani Remião:

“Ir | real

Ir, a ação em busca da imagem; real, a cena fotografada; irreal, a sensação ilusória criada pelo artista. Morador do Centro Histórico de Porto Alegre, Marcos Monteiro faz de suas caminhadas pelo bairro seu momento de criação artística.As ruas, seu ateliê a céu aberto. E é este mesmo local que o artista elege como galeria para expor sua obra.

As fotografias surgem de um olhar atento, espera pacienciosa, disparo preciso e sensibilidade inquestionável. Guardam em si o tempo de espera do artista pelo momento da sobreposição natural de camadas de imagens em superfícies refletoras, do surgimento de sombras na paisagem, da inscrição de rastros de movimento no quadro fotográfico; o tempo de espera pela cena imaginada se fazer visível.

Em uma época de passos rápidos e corrida contra o tempo, especialmente no centro de toda grande cidade, o artista não tem pressa. Marcos imagina, se posiciona e espera. Aguardar é parte fundamental de seu processo criativo.

A obra dialoga com a estética de Cartier-Bresson e o momento da essência da cena que se busca extrair do fluxo temporal. Para o artista francês, a fidelidade do fotógrafo em relação aos fatos se faz no ato da não interferência na cena. Da mesma forma, a essência do momento para Marcos Monteiro está no que lhe é dado “à la sauvette” no momento do ato fotográfico. Suas imagens resultam de refino composicional e instantes sublimes do acaso.

Como um músico de jazz, Marcos mantém um equilíbrio entre o planejado e o improviso, que requer domínio da técnica fotográfica e criatividade para os ajustes em tempo real.

O artista capta um instante, mas conta uma aventura, que se abre para a narração e para a ilusão. Cada imagem carrega consigo uma história que se mantém nas lembranças de Marcos e em suas longas conversas quando conta sobre suas caminhadas fotográficas pela cidade. Ou na imaginação de quem observa suas fotografias e se deixa conduzir pela poesia dos ambientes que se fundem em um espaço de entressonho.

E nesse espelho do real e do irreal da fotografia, as imagens de Marcos Monteiro são reflexos da cidade, de seus moradores e de si mesmo.”

Dani Remião

Evandro Fióti fala sobre “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, no FADE TO BLACK Festival

 

Luta, esperança, sensibilidade e poder coletivo. O documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, disponível na Netflix, além de jogar luz na importância que a cultura negra teve (e tem) na história e na construção do Brasil, potencializou a presença da negritude no streaming. Pela primeira vez, Evandro Fióti, que assina a produção da obra, falará em um evento sobre o processo de elaboração do trabalho. O papo inédito será no dia 10 de abril, encerrando a programação do FADE TO BLACK Festival. As credenciais, com vagas limitadas, estão disponíveis em: www.fadetoblackfestival.com

Idealizado pela cineasta Gautier Lee, o FADE TO BLACK Festival ocorrerá de 06 a 10 de abril, no formato virtual, reunindo mais de 30 painelistas entre nacionais e internacionais que atuam na criação de narrativas negras do audiovisual no Brasil e também no cenário internacional. Entre alguns nomes estão confirmadas as presenças de:SUE-ELLEN CHITUNYA, uma das coordenadoras de pós-produção de filmes da Marvel Studios, STEFON BRISTOL, diretor do longa A Gente Se Vê Ontem (Netflix) e parceiro de Spike Lee, RAE BENJAMIN, roteirista da série de sucesso Bridgerton (Netflix), e a atriz e multiartista ZEZÉ MOTTAcomo convidada especial.

Para mais detalhes da programação completa acesse: www.fadetoblackfestival.com e as redes sociais do evento: Instagram @fadetoblack_festival, Facebook @fadetoblackfestival  e Twitter @fadetoblackfes1.

O FADE TO BLACK Festival é contemplado pela lei Aldir Blanc de incentivo às produções culturais (Lei federal nº 14.017/2020), idealizado pela produtora audiovisual Gautiverse, de Gautier Lee, e realizado em parceria com a Reina Produções. Além disso, o FADE TO BLACK Festival conta com parceiros internacionais: Organization of Black Screenwriters, Black Film Space, Black Film Allegiance, Black Femme Supremacy Film Fest e parceiros do mercado nacional: Macumba Lab, APAN, Revista Exibidor, Griottes Narrativas, Frapa, Rota, Roteiraria, Películas Negras/Saturnema Filmes, Cabíria, ABRA e Serie Lab.

 

Humor, grosso e gaúcho, de Bier em tempos de pandemia

 

O universo da cultura em geral e das artes visuais, em particular, foi duramente atingido pelas consequências da COVID 19.  O mundo das publicações impressas artísticas , como o de quadrinhos, cartuns, charges também pagaram o preço da pandemia e estiveram praticamente paralisados ao longo de 2020. Agora alguns de seus principais protagonistas retomam às atividades. Entre eles, o cartunista gaúcho Augusto Bier, cujo trabalho é focado na existência do gaúcho do campo, idealizado pelo imaginário construído no discurso dos Centro de Tradição Gaúcha. Bier  atualmente promove o relançamento de “Rio Grosso”, álbum de seus cartuns, que custa R$ 50,00, prefaciado por Santiago, e pode ser adquirido através do Facebook  do autor, que remete o exemplar pelo Correio.

Aqui, Bier faz uma apresentação do seu trabalho:

“Os cartunistas Santiago, Byrata (Brasil), Crist e Fontanarrosa (Argentina)
são os mitos fundadores dos meus desenhos de humor sobre gaúchos.
Ainda nos tempos de internato comprei o primeiro livro de Santiago,
“Humor Macanudo” (1976) e, dois anos depois, durante o serviço militar
obrigatório, consegui um exemplar de “Gauchíssima Trindade”, com
cartuns de Santiago, Crist e Fontanarrosa. A revista “Xirú Lautério”, do
Byrata, me chegou às mãos em 1980, em Santa Maria. Em 1982, já
cursando jornalismo na PUC, Airton Ortiz, da Editora Tchê!, convidou-me
para ilustrar o livro de causos “Rapa de Tacho, do Apparicio Silva Rillo
(campeão de vendas da feira daquele ano). Já contaminado pelos mestres,
aquilo marcou meu início como desenhista de humor na abordagem do
gaúcho tradicional.


Apesar da picardia e irreverência do material produzido nas várias
manifestações culturais, eu me perguntava por que aquela quase
escatologia não encontrava eco no desenho de humor. Afinal, as
narrativas e representações verbais muitas vezes passavam dos limites
sem que a moralidade fosse evocada na defesa da boa família gaúcha.
Talvez houvesse uma linha imaginária acordada implicitamente entre o
que era humor e o que era desrespeito. E isso poderia ser um freio para a
produção editorial de algo mais picante.
Muito tempo depois, em 1999, na pesquisa para uma dissertação de
mestrado (UFRGS/Fabico) sobre Estudos Culturais, encontrei alento num
artigo do jornalista Ney Gastal (1987). Ali ele relata que, entre 1959 e
1960, durante um congresso tradicionalista em Cachoeira do Sul, o então
jovem Antonio Augusto (Nico) Fagundes, no intuito de combater o tédio
das palestras, começou a rabiscar os versos daquela que seria considerada
uma das maiores obras da chamada “Poesia Chula” do Rio Grande do Sul,
intitulada “Comendo Égua”. A obra foi finalizada em parceria com Jayme
Caetano Braun (Chimango), Apparicio Silva Rillo (Magro), Claudio Oirandi
Rodrigues (Tio Manduca), Telmo de Lima Freitas e Glaucus Saraiva.
Depois de verificar a obra, pensei: eu também posso brincar com esse tipo
de coisa – só que desenhando.”  Bier.

 

 

O BOM MOÇO E O SEU RIO GROSSO!- Prefácio de Santiago.

” Desde que o mundo é imundo o gaúcho cultiva a malícia, a sacanagem, a empulha, a bufonaria, a picardia (sem ou com trocadilho!), o obsceno, o
licencioso, o desbocado, a impudícia, o fescenino, a brejeirice, a indecência com pouca ciência, a bandalheira fuleira, o nome feio ás vezes com a mãe no meio, o baixo calão na língua do peão, a boca de latrina proibida pra menina. Enfim tudo isso que, em bom português e, melhor ainda, em gauchês, se chama a velha bagaceirice campeira!  Desde que a natureza ou o próprio homem mal intencionado e, com uma pá, inventou o desnível do terreno, que o gaúcho vive aos trancos e nos barrancos com a sua montaria, logicamente desmontado nesse momento de paixão telúrica! Claro que essa hora crucial, pouco cial e muito cru, de puro furor selvagem, ensejou milhares de gracejos, sem traquejos, sobejos em rusticidade e primarismo ancestral. No barranco, no flanco, de tamanco ou de lenço branco, vemos o nosso gentílico do sul em posição muito pouco gentil, até quase vil, mas em prazeres mil.  É farto o imaginário e o repertório visual das façanhas amorosas do nosso campeiro, em peripécias com a china, com a pecuária equina, muar, bovina e ovina, com recursos manuais e digitais, nos pensamentos encardidos ou até com o próprio colega de lides campeiras e de pelegos calientes!

Pois o nosso talentoso Bier, com seu precioso,preciso e atrevido traço, sem régua e sem compasso, nada mais fez que registrar tudo isso nesse gargalhejante e galhofeiro “Rio Grosso do Sul” (título que o nosso estado conservador e reacionário bem merece!). Saiam, portanto, de perto quando o Bier erige sua pena furibunda com muita fúria e pouca bunda, para emprenhar a folha em branco com a sua mordacidade e irreverência sem cerimônias. O rebento que arrebenta a boca do balaio é sempre a risada de galpão, sonora e desabrida, ordinária e lupanar, pois o nosso
indiscreto desenhista levanta a ponta do poncho e mostra que, embaixo dos pelegos, acontecem muitas façanhas que pouco servem
como o modelo à toda Terra!

Ainda cabe dizer o mais importante e agora a sério: o Bier é um dos grandes desenhistas de humor do Brasil. Aqui ele contrasta expressivamente os temas toscos com seu traço elegante, de estilo bastante pessoal e fluente – aliás, é um dos raros que muitas vezes desenha sem esboçar a lápis e caracteriza tipos humanos com enorme riqueza pitoresca”.  Santiago

BIER RESPONDE:

Pergunta: Para quem não conhece, quem é Bier?

RESPOSTA: Augusto Franke Bier, 61 anos, natural de Santa Maria da Boca do Monte (RS). Cartunista publicando desde os 15 anos. Jornalista formado pela PUC-RS, especialista em Educação pela UNIJUÍ e mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS. Vários prêmios no Brasil e exterior. Além de ter publicado em diversas coletâneas, é autor de três livros solo: Alles Blau e Alemão Blau – personagem de tiras de humor – e Rio Grosso do Sul, com cartuns sobre o gaúcho “tradicional”. Foi diretor do Museu de Comunicação Hipólito da Costa e trabalhou na imprensa do
Sindbancários por quase 30 anos.

PERGUNTA: Humor de galpão quase não tem mulher. Claro, galpão é um universo masculino. Como é a representação feminina nesse universo.? Há espaço para humor feminino?

RESPOSTA: Culturalmente, o galpão é ambiente masculino, e isso é uma metáfora de todo o arcabouço do tradicionalismo. Talvez porque dois terços da história do RS tenham transcorrido em tempos de guerra, no qual homens e mulheres tinham funções bem distintas e definidas pelo patriarcado machista do latifúndio. No entanto, a mulher sempre esteve presente nesse ambiente – como objeto de discursos -, mas dificilmente ao vivo. Eram os discursos sobre a mulher ideal, a china cobiçada, a escrava… As condições sociais e econômicas da maioria dos homens eram tão precárias, que misturavam esses valores com a apologia da zoofilia, a alternativa que restava. Então, eu acho que a mulher começa a ganhar espaço quando a literatura, a arte e o humor passam a representar a sua caminhada, e isso, bem ou mal, ganha impulso através da fundação do MTG, em 1949. A mitologia criada sobre o gaúcho gentílico, paradoxalmente, colocou luz sobre a figura da mulher, mesmo que de forma estereotipada. O riso obrigou o gaúcho a se olhar diante do espelho e descobrir que, de certa forma, ele podia rir de si mesmo. E que, sem a mulher, isso não seria possível.

PERGUNTA: A questão do comportamento é muito explícita nesse trabalho. Comportamento é a matéria prima de humor?

RESPOSTA: Humor é a representação do comportamento humano, e cada cartum, cada anedota, é uma interpretação. Herrera Flores afirma que, com o riso, que exige sempre pelo menos duas pessoas compartilhando, inseridas numa zona comum de entendimento, celebramos o triunfo da pulsão da vida (eros) sobre a pulsão da morte (tanatos). Isto é, mais do que um fenômeno psicológico e social, o riso também é um fenômeno cultural. Seu funcionamento é uma demonstração da inteligência em que o ser humano consegue entender o deslocamento de sentidosa ponto de cair numa armadilha. Essa armadilha narrativa termina com uma
surpresa, e o leitor (ou ouvinte) não tem outra saída a não ser rir. Eu acho que esta é a melhor parte de se viver em sociedade.

PERGUNTA: No teu trabalho há o gaúcho urbano, da cidade, com a picardia e o espalhamento que tem o gaúcho do campo?

RESPOSTA: Antes é preciso dizer o que eu entendo por “gaúcho”. É todo aquele que nasce no RS, seja ele de origem lusa, castelhana, alemã, italiana, judaica, palestina… Trata- se de uma inserção com a qual o MTG ainda lida precariamente. Já o tipo humano que abordo nos cartuns do livro Rio Grosso, por exemplo, está pousado justamente no que vejo de caricatural na mitologia gauchesca . É o humor jogado num cenário que se julga muito sério e superior, que é o do tradicionalismo. A figura representa o gaúcho bombachudo, falastrão, mulherengo, livre e valente idealizado pelo MTG. É um tipo humano que já desapareceu. Agora temos patrão e peão em dois ambientes: nas lides rurais, com empregadores e assalariados, e nos Centros de Tradição Gaúcha e piquetes, onde uma igualdade idealizada e irreal ainda é celebrada ritualmente. Como gaúcho da cidade, circulei muitas vezes no ambiente tradicionalista e as pesquisas me ajudaram a ter um olhar mais atento sobre o assunto.

PERGUNTA: Como é fazer humor em tempo de pandemia?

RESPOSTA: Fazer humor em tempos de pandemia é um desafio desgraçado, porque a concorrência da estupidez de algumas pessoas e das autoridade é concorrência desleal. Por outro lado, se não tivéssemos riso, seria ainda pior.

PERGUNTA: Teu trabalho atual é influenciado pelos momentos de crise que chegamos?

RESPOSTA: A charge tem como principal matéria prima o noticiário. Enquanto o cartum é uma piada desenhada sobre costumes, a charge é uma linguagem editorial e tem a vida muito mais curta, que pode morrer no dia seguinte. Nem sempre o jornalismo e a realidade se coadunam, então é recomendável que o espírito crítico e o
conhecimento do humorista estejam acima da média.

PERGUNTA: A questão das redes sociais para o teu trabalho. Como funciona?

RESPOSTA:  As redes sociais dão muito mais amplitude para o nosso trabalho, mas geralmente remuneram bem menos. O desparecimento dos suportes em papel, por exemplo, encolheram drasticamente esse mercado, culturalmente ligado ao porte físico do objeto. Muito do que publico é por necessidade vital de continuar produzindo intelectualmente, sem ganhos financeiros.

PERGUNTA: O que tu imagina para o humor pós pandemia?

RESPOSTA: Sobre a pandemia? Um dia nós NÃO vamos rir disso tudo!

Gravação inédita mundial de obra de Beethoven, no violão de Daniel Wolff

Higino Barros
A ilustração de gravação da obra de Ludwig van Beethoven pelo violinista gaúcho Daniel Wolff já dá uma pista da intimidade do músico com o compositor alemão.  Daniel toca seu instrumento, Ludwig van anota e os dois trocam informações musicais, saboreando um vinho tinto. O cenário é uma sala despojada com tapetes no chão, piano com partitura aberta e parede pintada em tom azul com enfeites iguais brancos.
Pois agora o classificado de “magnífico” Romance op. 40, de Ludwig van Beethoven, tem sua primeira gravação mundial, com arranjo do solista Daniel Wolff, acompanhado pela Orquestra do Instituto de Artes da UFRGS, com regência de Carlos Völker-Fecher.

Aqui o link para pre-save do Romance Op. 40, de Beethoven, que será lançado dia 10/03: https://tratore.ffm.to/romanceop40. 
Ele será disponibilizado nas plataformas de streaming no dia do evento.
O projeto foi idealizado e gravado durante a pandemia de Covid-19, “demonstrando que a força colaborativa dos artistas pode render belos frutos mesmo em condições adversas”, como ressalta o material de divulgação do trabalho.
Abaixo Daniel Wolff fala de seu encontro com a obra de Beethoven:
Pergunta: Beethoven em violão. Como começou isso para você?
Daniel Wolff: Eu, desde meus primórdios com o violão, me interessei em adaptar obras originalmente escritas para outros instrumentos, para que eu também pudesse tocá-las. Comecei adaptando obras mais fáceis de Bach e fui, pouco a pouco, evoluindo, aprendendo mais sobre como fazer isso. Anos mais tarde, este seria o tema de minha tese de doutorado.
Eu tinha arranjado, no final da década de 90, uma sonata de Beethoven para dois violões, que gravei em um disco lançado na Alemanha, em duo com Daniel Göritz:
Esse arranjo foi publicado pela editora alemã Margaux (https://www.amazon.co.uk/Sonata-Op31-No-2-Margaux/dp/3733304470). Contente com a boa receptividade e críticas favoráveis que esse arranjo obteve, comecei a fazer outros, durante quase 20 anos, que foram os que gravei em 2020 no disco Beethoven for Guitar.

Foto: Manuel Pose Varela / CCK/ Divulgação
Pergunta:  Quais são as dificuldades de execução e “facilidades”?
DW: Beethoven explorava muito bem as possibilidades idiomáticas de cada instrumento. A dificuldade é encontrar a melhor forma de reproduzir isto no violão, ou seja, adaptar para a técnica violonística uma escrita pensada para outro instrumento, sem descaracterizar o efeito sonoro original.
Pergunta:  É comum, raro ou existe já Beethoven em violão?
DW: Há vários arranjos da música dele para violão, a maioria dos quais soa como uma caricatura da obra original. Mas há também alguns muito bem escritos, inclusive feitos por compositores violonistas do século XIX, que viveram em um período próximo ao de Beethoven.
Pergunta:  Ele compôs para violão?
DW: Vou colar aqui um trecho de uma comunicação de pesquisa minha, publicada nos anais do congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM) de 2019, que responde a tua pergunta:

Beethoven nunca compôs para violão. Contudo, ele certamente estava familiarizado com o instrumento, pois conviveu com compositores violonistas, como Mauro Giuliani e Anton Diabelli. Um relato da soprano Antonie Adamberger (1790-1867), sobre fato ocorrido durante os ensaios de Egmont, em 1810, nos permite supor que o compositor chegou a fazer alusão à sonoridade do violão em ao menos uma de suas obras:

“Um dos senhores de mais idade expressou a opinião de que as canções que o mestre [Beethoven] escrevera para orquestra, buscando determinados efeitos, deveria ser acompanhada ao violão. Então ele [Beethoven] balançou a cabeça de maneira cômica e, com olhos flamejantes, disse, ‘Ele sabe!’” (FORBES, 1967, 485, tradução minha). Outra possível alusão ao violão ocorre na canção An die Geliebte, WoO 140, escrita em 1811-12 provavelmente para Antonie Brentano (cujo prenome, coincidentemente, é o mesmo da cantora de Egmont). Brentano era uma consumada violonista e, talvez por esta razão, a canção foi publicada “com acompanhamento de piano ou guitarra [i.e., violão]”, caso único na produção de canções de Beethoven (SOLOMON, 1987, 238).

Foto: J.L. Waxemberg/ Divulgação

Pandemia é tema de canção nos dez anos de parceria entre Raul Elwangger e Daniel Wolff

Higino Barros

Há 40 anos, Raul Elwangger faz parte da geração de músicos que vem compondo a trilha sonora urbana e rural gaúcha. Desde “Pealo de Sangue” gravada por interpretes do quilate de Mercedes Sosa, Raul disse a que veio. Já Daniel Wolff, mais novo, integra o que há de melhor na tradição do violão brasileiro, que mistura popular com considerável conhecimento erudito,  Pois os dois se juntaram agora, em tempos de pandemia, e lançam o álbum “Na Rua da Margem”  que celebra dez anos de parceria da dupla.

O trabalho intercala canções inéditas com releituras de sucessos anteriores em arranjos focados principalmente no instrumento de ambos: o violão e tem participação especial de Fernanda Krüger. O álbum conta também com diversos convidados , como Ayres Potthoff, Nelson Coelho de Castro, Giovanni Berti, Cristina Capparelli, Rodrigo Alquati, Veco Marques, Elieser Fernandes e Viktoria Tatour. As músicas são todas de autoria de Daniel e/ou Raul, incluindo parcerias com Ferreira Gullar, Pery Souza e Fernanda Krüger.

Nas entrevistas abaixo, com perguntas em comum, os dois músicos falam de “Na Rua da Margem” e de outros temas.

Foto Elenice Zaltron/ Divulgação

ENTREVISTA COM RAUL ELWANGGER

Pergunta: Como se deu o encontro musical de vocês? Em que ano e
circunstâncias?
RE: Foi um caso de interesse reciproco espontâneo. Assisti a alguns
concertos do Daniel, em especial um que teve repertório muito
apreciado por mim (Joaquin Rodrigo com a OSPA) e fomos
travando amizade, até que Daniel me convidou a compor e
cantar em seus discos que tiveram um estilo ligado à musica
popular. A partir disso, confiamos em que poderíamos ter um
álbum realizado a 4 mãos, e criamos Na Rua da Margem, ao qual
somamos Fernanda Kruger.

Pergunta: O que há em comum (e diferente) no trabalho de vocês?
RE: A música erudita, sua criação, execução e docência, é a praia
artística do Daniel. No meu caso, é a música popular, com a
esperança de criar uma MPB com personalidade própria aqui do
sul. Sendo as praias diferentes, cremos que podem se inter-
estimular, alimentando com riquezas de uma praia as potencialidades da outra, como aliás fizeram Dvorak ou Gnatalli.
Nessa aventura nos jogamos, estamos nesse percurso, para mim
bastante prazenteiro pois fui estudante do Instituto de Belas
Artes quando criança e do Conservat[orio Manuel de Falla em
Buenos Aires quando adulto.

Pergunta: Música em tempos de pandemia. Como tem sido?
RE: Como atividade pública, social, de desfrute, de convívio, tem sido
péssimo, ou nem sequer “tem sido”. Como profissão e fonte de
renda, tem sido um desastre, aumentado pela irresponsabilidade
da maioria dos governantes e uma parcela da população que os
segue. Como compositor, já tenho o hábito do trabalho solitário
e individual, onde a ouriversaria atenta em cada nova criação-
arranjo-poesia, é fonte de riqueza interior e ajuda o decorrer
destes tempos sinistros.

Pergunta: Qual maior prejuízo? A ausência de público, a perda econômica,
e outras?
RE: Vivemos uma grande perda, em todos os sentidos; uma perda
cultural que afeta cada escaninho da vida. Perdemos: VIDA!

Pergunta: Algo mais ?
RE: Tem sido um privilegio trabalhar com a Fernanda e o Daniel.
Espero ter contribuído. Falamos de Porto Alegre, das pestes que
nos assolam, prestamos homenagens, resgatamos e relemos
canções (com Pery Souza e Ferreira Gullar), mesclamos técnicas
eruditas e populares, Daniel com seus solos outorgou um status
qualificado às canções, convocamos músicos populares e
eruditos para tocar. Para mim, que desde os tempos da Frente
Gaúcha da MPB ando em busca de uma música “nossa”, é um
importante novo passo.

Foto; Tiago Becker/ Divulgação

ENTREVISTA COM DANIEL WOLFF

Pergunta: Como se deu o encontro musical de vocês? Em que ano e circunstâncias?
DW: Eu, desde adolescente, já era admirador do trabalho musical do Raul. Em 2008,participei de um arranjo de um show dele com a Orquestra de Câmara da ULBRA. A partir daí, fomos nos aproximando e, em 2010, fizemos uma turnê juntos no Rio Grande do Sul, tocando músicas nossas em arranjos para dois violões (estes arranjos foram agora gravados no
disco Na Rua da Margem). A seguir, fizemos duas canções juntos, uma gravada no meu disco Canção do Porto (2014), outra no álbum Iberoamericano (2018), e o Raul participou dos shows de divulgação de ambos os discos. Eu toquei também em uma canção num disco dele.
Em 2020, decidimos compor novas canções juntos e gravá-las junto com as músicas que já tocávamos antes. O resultado é o disco Na Rua da Margem.

Pergunta: O que há em comum (e diferente) no trabalho de vocês?
DW: Eu tive uma formação formal mais completa (faculdade de música, mestrado, doutorado, pós-doutorado) enquanto o Raul teve um aprendizado mais instintivo. Isto aparece em nossos estilos, que se complementam lindamente. Ambos temos uma preocupação em lapidar bem o trabalho, revisar cada letra, cada nota, cada harmonia, várias vezes.

Pergunta: O que define o trabalho atual. Ele se caracteriza como?
DW: Diferente dos meus discos anteriores, nos quais algumas canções tinham acompanhamento de grupos maiores (banda, orquestra de cordas, big band), este é um disco mais intimista, com arranjos camerísticos, com poucos instrumentos.

Pergunta: Música em tempos de pandemia. Como tem sido?
DW: Em 2020, pela primeira vez em mais de 25 anos, não viajei ao exterior para tocar e dar cursos de música. Foi um ano bem diferente. Mas consegui participar em eventos internacionais por video conferência, o que me permitiu algumas coisas que antes eram impossíveis. Por exemplo, em um dia de julho, dei aula em Nova Iorque pela manhã, participei de uma mesa redonda na Argentina à tarde e toquei um concerto em Nova Iorque à noite.

Pergunta: Qual maior prejuízo? A ausência de público, a perda econômica, e outras?
DW: Certamente, a perda econômica e a ausência de público são os maiores prejuízos. Mas também sinto muita falta do contato pessoal, fazer música junto a outras pessoas. A tecnologia de videoconferência ainda não permite um ensaio de qualidade, em tempo real, feito à distância.

Foto: Elenice Zaltron/ Divulgação

FICHA TÉCNICA

Técnico de som: Tiago Becker

Mixagem: Daniel Wolff e Marcos Abreu

Masterização: Marcos Abreu

Capa: Luiz Jakka

Gravado em outubro e novembro de 2020 no estúdio Soma (Seiva do Peito e Cabana de Santa-fé utilizam material gravado no estúdio Ted áudio em 2013 e 2018, respectivamente).

LINKS PARA OUVIR O DISCO

YOUTUBE

https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kc22oguRuWTHq68DWxlQD3NLFmhlLNfzM

SPOTIFY:

https://open.spotify.com/album/5tS1DbMPDmvjD59Lchy7HE?si=lYB1oSFbTSWTBI10pd0Nbw

APPLE MUSIC:

https://music.apple.com/br/album/na-rua-da-margem/1553527852

TRATORE

https://www.tratore.com.br/um_cd.php?id=28947

Escadaria da Borges ganha galeria de fotografia a céu aberto, permanente

Higino Barros

Num final de tarde ensolarada do início de 2018, o produtor cultural e fotógrafo Marcos Monteiro, 65 anos, estava sentado no bar Armazém, na parte alta da Escadaria da avenida Borges de Medeiros, quando lhe ocorreu a ideia: fazer na extensa parede do prédio à sua frente, do outro lado da avenida, uma exposição de fotografia à céu aberto. Assim nasceu e foi realizada naquele ano a primeira Street Expo Photo.  O evento deu certo, já ocorreu em três ocasiões e agora a partir de março, o local terá exposições durante todo o primeiro semestre de 2021 e que deve prosseguir no segundo semestre. A primeira será do fotógrafo Gilberto Perin e outras três estão agendadas. Todos os protocolos de segurança contra a Covid 19 são obedecidos.

Marcos Monteiro. Foto; Gilberto Perin/ Divulgação

Abaixo, o produtor Marcos Monteiro fala sobre o assunto.

Pergunta: Como surgiu a ideia da galeria a céu aberto na Escadaria da Borges?

Resposta: Desde a primeira da Street Expo Photo em 2018 pensei na possibilidade de tornar a escadaria numa galeria a céu aberto. Nesse meio tempo a ideia foi tomando forma e veio acontecer agora. A inspiração vem do grafite, que foi uma das primeiras expressões de Arte na Rua (Street Art) em Nova York. Essa cultura começou de forma subversiva e hoje ganhou relevância pelo significado e pelo questionamento a ambientes sociopolíticos. Hoje no Brasil existem poucas galerias de rua.

Pergunta:  Qual a programação para o primeiro semestre de 2021.

Resposta:  Em março na inauguração apresentaremos a exposição Gilberto Perin e em abril uma exposição com fotos minhas . Em junho teremos a exposição Pantanal com Douglas Fischer e Daisson Flach e em julho a exposição da fotógrafa portuguesa Fernanda Carvalho.  As datas posteriores estão em tratativas.

Pergunta: Como é a primeira exposição?

Resposta : A exposição de abertura da temporada é de Gilberto Perin, chama-se, Retratos. São fotos de conhecidos, amigos, atrizes, atores, artistas visuais, escritores . O artista afirma que “reeencontrar rostos sem máscaras foi um pequeno oásis nesses tempos difíceis.”

Pergunta: Como tem sido fazer e produzir cultura em tempos pandêmicos?

Resposta: Meus principais projetos em sua maioria sempre foram ao ar livre e com a chegada da pandemia ganharam maior relevância.

Pergunta: O projeto de interiorizar as exposições de rua. Em que pé está?

Resposta:  Ano passado fizemos uma parceria com a prefeitura de Canela/RS para realizar uma exposição de rua na cidade, porém com a pandemia reagendamos para o primeiro semestre deste ano.

Pergunta: Como reage o público diante das obras expostas na rua? Qual foi a experiência nos eventos que você promoveu?

Resposta: Nossos museus e galerias recebem menos de 1% da população da cidade, a arte sempre foi elitizada e eu quis quebrar esse paradigma. Em 2016 criei juntamente com o Gilberto Perin, a Mosaicografia no Largo Glênio Peres em frente ao Mercado Público, onde circulam cerca de 200 mil pessoas diariamente. Houve previsão de que os painéis não iriam durar dois dias e no final da exposição não houve um único incidente, nada foi danificado. A Street 2020/2021 não teve vigilância e durante os 30 dias também não ocorreram incidentes. Isso prova que o povo sabe admirar  e respeitar arte.

Pergunta: E qual a expectativa para a galeria a céu aberto na Escadaria?Resposta: A Galeria veio para ocupar nosso tão machucado viaduto Otávio Rocha, onde acontecem outros eventos culturais que, aos poucos, vão dando vida ao nosso viaduto. Ele completou 88 anos de existência em dezembro de 2020. Merece ser mais valorizado.

 

Júlio Zanotta,dramaturgo e escritor. Foto Gilberto Perin/ Divulgação

O pequeno oásis do fotógrafo Gilberto Perin:

“Conhecidos, amigos, atrizes, atores, artistas visuais, músicos, escritores, desconhecidos, gente. Os retratados nos convidam, ternamente, a viajar nos sentimentos que podem despertar em nós. Para mim, essas imagens soam como um ato de libertação e resistência em novos tempos de convivência, esperança e saúde, reencontrar rostos sem máscaras foi um pequeno oásis nesses tempos difíceis.”

Morgana Kretmann, atriz e escritora. Foto: Gilberto Perin/ Divulgação

-Foi Uma grande alegria receber o convite de Marcos Monteiro para inaugurar o espaço no viaduto como uma galeria com programação constante e renovada. Uma galeria aberta para que o público possa ver os mais diferentes olhares artísticos”.

Vaneza Oliveira, atriz . Foto Gilberto Perin/ Divulgação

Quem é Gilberto Perin:

Fotógrafo, diretor de cena, roteirista. Exposições individuais recentes no MARGS (Porto Alegre), Lisboa (Portugal) e Genebra (Suíça). Tem dois livros de fotografia: “Camisa Brasileira” e “Fotografias para Imaginar. Possui obras em museus, entidades culturais e coleções particulares, no Brasil e Exterior; além de fotos publicadas em jornais e revistas brasileiras e estrangeiras; e também fotografias que ilustram capas de livros. Formado em Comunicação Social pela PUC-RS.

FICHA TÉCNICA:

RETRATOS – fotografias de Gilberto Perin

-De 1º a 31 de março de 2021 – aberta 24 hora por dia.

-Galeria da Escadaria, no Viaduto Otávio Rocha, centro histórico

de Porto Alegre, RS. São 32 dois retratados em 14 painéis de 2x1m.

Alguns dos retratados: Julio Zanotta Vieira, Xadalu, Mario Vargas Llosa, Edu K., Otto Guerra, Vagner Cunha, Fernando Baril, Leandro Machado, Vaneza Oliveira, Yang Liu e Morgana Kretzmann.

 

 

Júlio César, de Shakespeare: a atualidade de um texto escrito há quatro séculos

 

A coleção de 20 volumes com obras de William Shakespeare apresentada pelo psicanalista, escritor e intelectual Luiz-Olyntho Telles da Silva. Hoje, o 14º volume.

JÚLIO CÉSAR

p/William Shakespeare

Tradução interlinear, introdução e notas de Elvio Funk

Porto Alegre, Editora Movimento, 2017, 192p.

Em coedição com a UDINISC, Santa Cruz do Sul, RS.

Júlio César, peça que Shakespeare escreveu há 417 anos, pode ser lida à luz da realidade política contemporânea.

Na verdade, é uma peça tão atual, que alguns diretores, desde 1930, a tem representado com as características de personagens de nossa época, como Hitler, Mussolini, De Gaulle, Fidel Castro, e mesmo Margareth Thatcher.

Toca, também, na sensível e sempre abordada questão da educação: Júlio César se queixa que Cássio é um homem perigoso, pois lê muito, pensa demais e vê com muita clareza as verdadeiras intenções por trás das ações dos homens.

Para César, o que o povo precisa para ser boa massa de manobra é estar bem gordo, ter circo e ler pouco ou nada.

Ato I, cena 2 – César:

[…] Se eu estivesse sujeito a ter medo,

não sei se o primeiro homem que eu evitaria

não seria aquele magrela, Cassio. Ele lê muito,

é um grande observador, e vê com muita clareza

as verdadeiras intenções por trás das ações dos homens.