Nação Zumbi trouxe Da Lama ao Caos de volta ao Opinião em Porto Alegre na noite de ontem

Capa "Da Lama ao Caos"

Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui?
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
O orgulho, a arrogância, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios os que destroem o poder bravio da humanidade
Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi!
Antônio Conselheiro!
Todos os Panteras Negras
Lampião, sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia

Parecia impossível não se arrepiar ao ecoar das frases da abertura com “Monólogo ao pé do Ouvido”, dessa vez com o timbre mais intenso de Jorge du Peixe, quase inaudível com a plateia lotada cantando junto. Mesmo revisitada em muitos shows da Nação Zumbi, revisitar “Da Lama ao Caos“, álbum de lançamento de Chico Science e Nação Zumbi, trouxe quem viu o saudoso Chico Science e gerações que só ouviram falar para cantar, pular, vibrar e viver um pouco do movimento Manguebeat, na noite de ontem no Opinião. 

Os arranjos levemente mais pesados, alinhados ao timbre de Jorge Du Peixe, atenderam fielmente ao que se esperava do show, que não contava com nenhuma tentativa de cópia dos shows dos anos 90. Muito melhor que isso, a referência de que Chico Science permanece vivo se mostrou em algumas poucas frases e no chapéu de palha do cantor, morto num acidente de carro em 1997.

E quando o álbum comemora seus 30 anos, percebe-se que a Nação Zumbi segue em forma, seguindo seus conceitos de valorizar (e espalhar) a cultura pernambucana, ainda tão surpreendente aos olhos gaúchos. Não só por mencionar o companheiro de Movimento Mangue Fred Zero Quatro, do Mundo Livre SA, compositor de “Computadores fazem Arte”, mas também por ressaltar a parceria musical muito comum pelo Recife, enfatizando que o baterista é da Academia da Berlinda, banda que claramente também bebe da fonte do mangue. Mais que isso, o maracatu é reverenciado em diversos momentos do show, desde os tambores virarem frontmen, até a presença da indumentária, propagada ao grande público pelo clipe de “Maracatu Atômico“, que apareceu em palco inicialmente em “Salustiano Song” – música em homenagem ao Mestre Salustiano, do Maracatu-, ao lado da primeira aparição no show de Maciel Salú e sua rabeca, instrumento muito pouco mencionado por aqui e tão nordestino.

Com um bis de 5 músicas, sem saída de palco, com “Foi de Amor“, “Manguetown“, “Meu Maracatu Pesa uma Tonelada“, “Quando a Maré Encher” e “Maracatu Atômico“, o show durou mais de uma hora e meia e trouxe um suspiro de esperança com seus gritos de ordem e suas letras politizadas reflexivas, na ponta da língua de todas as gerações que estavam no show, que até esqueceram seus celulares no bolso e apenas viveram (e dançaram) o momento.