“Vampiro de Curitiba” vivia recluso. Não dava entrevistas, não recebia ninguém

Dalton Trevisan em uma de suas raras fotografias. nos anos 1970.Escritor curitibano Dalton Trevisan não dava entrevistas desde os anos 1970 — Foto: Divulgação/Prefeitura

Morreu nesta segunda-feira, 9 de dezembro, o escritor Dalton Trevisan, conhecido como “O Vampiro de Curitiba”. Ele tinha 99 anos (completaria 100 em junho de 2025) e vivia recluso num apartamento no centro da capital paranaense.

A causa da morte não foi informada.
Trevisan ganhou o apelido em 1965, quando lançou seu primeiro grande sucesso,  um  livro de contos  com o título  “O Vampiro de Curitiba”.
A familia informou que não haverá velório. O corpo
do escritor foi levado diretamente para o crematório Vaticano, em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba.
Dalton Trevisan começou a carreira literária com a novela “Sonata ao Luar” e ganhou destaque nacional com “Novelas nada exemplares”.

Sua obra é conhecida por retratar o cotidiano de forma concisa e popular, explorando as tramas psicológicas e os costumes urbanos.
Entre os muitos prêmios que ganhou, destacam-se o Jabuti e o Camões — os mais importantes para autores em língua portuguesa.

Vivia tão recluso, sem dar entrevistas ou receber visitas, que no comunicado oficial do prêmio Camões, a organização divulgou que não havia conseguido contato com Dalton Trevisan para avisá-lo da homenagem.
Poucas pessoas tinham acesso a ele. Em 2021, o escritor deixou de morar na casa onde sempre viveu, na esquina das ruas Ubaldino do Amaral e Amintas de Barros, no bairro Alto da Glória.
A saída do local se deu por questões de segurança e também de saúde. Desde então, o contista morava em um apartamento, no Centro de Curitiba.
“Sua reclusão pública contrastava com a vivacidade de sua escrita, que permanece como um marco da literatura brasileira contemporânea. Dalton deixa um legado de rigor literário, criatividade e uma visão aguda e implacável sobre o ser humano”, apontou a Secretaria de Cultura do Paraná.
De acordo com o comunicado da secretaria, Trevisan “desvendou como poucos as complexidades humanas e as angústias cotidianas da vida urbana”. “Dalton retratou com crueza a solidão, os dilemas morais e as contradições da classe média, com um olhar atento para os excluídos e marginalizados”, afirmou.

“O Vampiro de Curitiba criou uma obra enraizada na capital paranaense, elevando suas ruas e seus bairros a verdadeiros personagens. Livros como ‘O Vampiro de Curitiba’, ‘A Polaquinha’ e ‘Cemitério de Elefantes’ revelam uma Curitiba sombria, mas também lírica, onde a banalidade do cotidiano convive com dramas intensos”, disse a secretaria.