Brasil tem renda baixa e alto desemprego

O desemprego no Brasil tem uma nova taxa recorde de 14,6% no trimestre encerrado em setembro, afetando 14,1 milhões de pessoas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), divulgada nesta sexta-feira (27/11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O índice de 14,6% corresponde a um aumento de 1,3 ponto percentual em relação ao 2º trimestre (13,3%), e de 2,8 pontos percentuais frente ao mesmo intervalo do ano passado (11,8%).

Segundo o IBGE, essa é a maior taxa registrada na série histórica iniciada em 2012 e corresponde a 14,1 milhões de pessoas. Ou seja, mais 1,3 milhão de desempregados entraram na fila em busca de um trabalho no país.

Tem ainda a população fora da força de trabalho, 78,6 milhões, atingindo o maior nível da série histórica, com altas de 1,0%, mais 785 mil pessoas, ante o trimestre anterior e de 21,2%, mais 13,7 milhões de pessoas, frente ao mesmo trimestre de 2019. São pessoas que, na semana da pesquisa, não procuraram trabalho por algum motivo.

E tem a população desalentada, definida como aquela que estava fora da força de trabalho por uma das seguintes razões: não conseguia trabalho, ou não tinha experiência, ou era muito jovem ou idosa, ou não encontrou trabalho na localidade. Chega a 5,9 milhões, outro recorde da série, com alta de 3,2%, mais 183 mil pessoas, frente ao trimestre anterior e de 24,7%, mais 1,2 milhão de pessoas, ante o mesmo trimestre de 2019.

Orçamento miserável

Além do crescente desemprego, outra pesquisa do IBGE mostra que mesmo antes da pandemia o orçamento de boa parte das famílias brasileiras já era miserável. Entre os 10% da população mais pobre, quase a metade da renda mínima – R$ 244,60 de um total de R$ 470,29 – não tinha dinheiro como origem, ou seja: bens e serviços gratuitos providos por governo, instituições e outros, como doações. É o que mostra a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018: Perfil das despesas no Brasil, do IBGE, divulgada esta semana.

A POF 2017-2018 é a sexta pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE sobre orçamentos familiares. A adoção do termo “família” nas publicações de resultados da POF é por amostragem, na qual são investigados os domicílios particulares permanentes. No domicílio, por sua vez, é identificada a unidade básica da pesquisa – unidade de consumo – que compreende um único morador ou conjunto de moradores que compartilham da mesma fonte de alimentação ou compartilham as despesas com moradia.

No Brasil, o gasto médio per capita com moradia é R$ 264,66. O maior componente dessa despesa é o aluguel estimado (R$ 202,08 ou 76,4%), seguido do aluguel (12,7%), condomínio (6,8%) e IPTU ou IPR (4,1%). As famílias no décimo de renda menor gastaram a maior parte (42,2%) do seu orçamento com o serviço de energia elétrica.

Os indicadores subjetivos da Pesquisa de Orçamentos Familiares mostram que 38,2% da população viviam em áreas afetadas pela violência ou vandalismo e 25,3%, em áreas com problemas ambientais.

A despesa per capita com saúde foi de R$ 133,23, sendo R$ 90,91 na forma monetária e R$ 42,32 na não monetária. A despesa não monetária representou 20,9% do total gasto com medicamentos e produtos farmacêuticos e 37,6% nos serviços de assistência à saúde. As famílias em que ninguém tinha plano de saúde chegam a 64,4%.

A pesquisa mostrou, ainda, clara conexão entre baixa renda e raça: 77,8% de toda a pobreza no país recai sobre famílias cuja pessoa de referência, chefe de família, se declarou preta ou parda. Essas famílias sobrevivem no mês com quase metade do orçamento de uma família cuja pessoa de referência é branca.

Desigualdade social

É importante complementar a Pesquisa de Orçamentos Familiares com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) sobre todas as fontes de rendas, divulgada em maio passado pelo IBGE.

A parcela dos 1% mais ricos dos trabalhadores brasileiros, integrada por 2,1 milhões de pessoas, recebiam R$ 28.659 mensais no ano passado, 33,7 vezes mais do que a metade mais pobre da população naquele ano (R$ 850), grupo que incluía 104,7 milhões de pessoas.

A desigualdade de renda no Brasil é alta e persistente por conta de fatores históricos e estruturais, como a herança escravocrata, o patrimonialismo a partir de recursos estatais, os empregos públicos antes com a possibilidade de aposentadoria com o último salário, as políticas de crédito público subsidiado voltadas a grandes grupos econômicos, etc.. E para complementar, uma estrutura tributária regressiva, onde se cobra proporcionalmente mais impostos de quem ganha menos.