Desde 2014, 7,2 milhões de pessoas entraram em situação de pobreza nas metrópoles brasileiras

A nona edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles levantou dados preocupantes sobre a situação da pobreza nas metrópoles brasileiras. Entre 2014 e 2021, a taxa de pobreza subiu de 16% para 23,7%, o que em termos absolutos se traduziu em uma elevação de 12,5 milhões para 19,8 milhões de pessoas.

Em apenas sete anos, 7,2 milhões de pessoas entraram em situação de pobreza nas metrópoles brasileiras. Em relação à extrema pobreza, no mesmo período a taxa mais do que dobrou, variando de 2,7% para 6,3%. Em termos absolutos, foi um aumento de 2,1 para 5,2 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza nas nossas grandes cidades.

O estudo é fruto de uma parceria entre a  Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o Observatório das Metrópoles e a RedODSAL. Os dados utilizados são provenientes das PNADs Contínuas anual, do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita total. O recorte utilizado no estudo é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE.

As regiões metropolitanas concentram quase 40% da população brasileira — mais de 80 milhões de pessoas. Todos os dados estão deflacionados para o ano de 2021, de acordo com o IPCA. O estudo trabalhou com a linha de pobreza definida pelo Banco Mundial para países de renda média alta, caso do Brasil.

Durante a pandemia da Covid 19, não somente as desigualdades aumentaram, como a média de rendimentos caiu e atingiu os menores valores da série histórica. O rendimento médio no conjunto das regiões metropolitanas, em 2019, era de R$ 1.935; em 2020, ele caiu para R$ 1.830; e, em 2021, chegou a R$ 1.698. Em Porto Alegre, a renda média caiu de R$ 2.218 para R$ 1.947.

No ano de 2014, os 40% mais pobres das regiões metropolitanas brasileiras tinham renda média de R$ 515. Cinco anos depois, em 2019, essa cifra caiu para R$ 470. Já no contexto da pandemia, em 2021, a renda média havia chegado a R$ 396. A média de renda dos 40% mais pobres no conjunto das metrópoles brasileiras vem se recuperando lentamente, de modo que no 4º trimestre de 2021 seus rendimentos médios ainda eram 8,9% menores em relação ao patamar imediatamente anterior à pandemia.

A partir do 1º trimestre de 2020, a taxa dos moradores de nossas metrópoles que viviam em domicílios cuja renda média per capita do trabalho era de até ¼ do salário-mínimo sofreu um crescimento expressivo. No auge da pandemia esse percentual chegou a 29,7%, valor mais alto da série histórica. No 4º trimestre de 2021, baixou para 23,4%.  

Também no 4º trimestre de 2021, 26,7% das crianças de até cinco anos de idade em nossas metrópoles viviam em lares com rendimentos do trabalho inferiores a ¼ do salário-mínimo per capita. No auge da pandemia esse percentual chegou a 32,2%. Em termos absolutos, temos hoje 1,6 milhões de crianças nessa situação, o que é um número maior que o da população total de Regiões Metropolitanas como as de Natal, João Pessoa, Maceió e Florianópolis, entre outras.

Segundo Marcelo Ribeiro, professor do IPPUR-UFRJ e um dos coordenadores do estudo, “mesmo num momento de crescimento da média de renda geral, como aquele que se deu entre 2015 e 2019, a tendência foi de redução ou estagnação da renda dos mais pobres, o que significa que apenas os mais abastados se aproveitaram do aumento de recursos naquele período”. Por essa razão, conforme também mostra o estudo, a tendência tem sido de aumento das desigualdades nos últimos anos. Tendência esta que foi agravada durante a pandemia. 

Os coordenadores do estudo enfatizam que uma série de fatores explicam a piora dos indicadores sociais nas regiões metropolitanas brasileiras ao longo dos últimos anos, incluindo o aumento da taxa de desocupação entre 2014 e 2017, a redução da atividade econômica naquele período, a estagnação dos programas de transferência de renda em termos de valores de corte e número de beneficiários, a perda do poder de compra do salário mínimo e, nos últimos anos, o choque da pandemia e o aumento da inflação.

Segundo Marcelo Ribeiro, “diante de um quadro de tamanha gravidade, é preciso agir com urgência no sentido de estimular a criação de empregos e, também, de garantir que o Estado consiga atender aos mais pobres com políticas sociais robustas, bem desenhadas e sustentáveis”.

Média da renda domiciliar per capita*, por estratos de rendimentos – Região Metropolitana de Porto Alegre  (Em R$)
Porto Alegre                    4° trim. 2019            4° trim. 2020                   4° trim. 2021
40% mais pobres                   332                            230                                     258
50% intermediário               1.706                          1.533                                   1.557
10% superiores                   7.927                           6.870                                  6.699
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (IBGE).
Nota: (*) Calculado a partir da renda domiciliar per capita habitual bruta de todos os trabalhos (valores constantes, 4º trimestre 2021 / IPCA).

Com assessoria de Comunicação PUCRS