O boletim Focus confirma a projeção de alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2020. No relatório do Banco Central, a mediana das expectativas para o IPCA deu um salto em um mês de 3,54% para 4,39%, na semana do Natal. O índice ficou acima da meta definida pelo governo, de 4% neste ano, e dentro da margem de tolerância, que varia entre 2,50% e 5,50%.
É a 19ª semana consecutiva que o mercado financeiro tem projeção de alta para a inflação deste ano. Em 10 de agosto, antes da primeira elevação na estimativa, era esperada alta de 1,63% do indicador no ano. Desde então, as estimativas vêm sendo continuamente elevadas. Em novembro passado o IPCA tinha avançado 0,89%, maior resultado para mês desde 2015, quando o indicador foi de 1,01%, conforme o IBGE.
O Grupo de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) segue na mesma linha e revisou a taxa de inflação de 3,5% para 4,4% em 2020. A expectativa é de que os preços dos serviços encerrem este ano com uma variação positiva de 2%. Já os preços monitorados devem apresentar alta de 2,5%, e os bens livres (exceto alimentos) de 2,6%. Em relação a 2021, a projeção de inflação passou de 3,3% para 3,4%.
Em janeiro, a situação não deve mudar. A Petrobras informou nesta segunda-feira (28/12) que vai elevar em 4% o preço médio do diesel em suas refinarias e em 5% o da gasolina a partir de terça-feira (29), em meio a uma alta do petróleo nas últimas semanas e desvalorização do real frente ao dólar nos últimos dias.
Uma consequência natural do aumento da inflação é o setor financeiro pressionar para o aumento da taxa de juros básicos, a Selic. A projeção no fim do ano é de 3,13% em 2021, acima da mediana da projeção anterior, que era de 3% e do patamar de 2% com que encerra 2020.
A inflação pesou mais para as famílias com renda baixa, entre um e três salários mínimo, por conta da parcela maior do orçamento destinada à alimentação em casa. A conclusão é do estudo “Inflação por faixa de renda familiar em 2020”, divulgada pelo Banco Central (BC). A alimentação em casa é o segmento que mais tem pressionado a inflação neste ano.
Segundo o estudo, a pandemia de covid-19 tem influenciado a inflação e os preços relativos no Brasil desde março. “Por um lado, distanciamento social, aumento do desemprego e retração da atividade deprimiram os preços de diversos serviços. Por outro, a depreciação cambial, os programas de transferência de renda e o aumento dos gastos com alimentação no domicílio pressionaram os preços dos alimentos”, diz a pesquisa.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em audiência pública virtual no Congresso Nacional que o fim do auxílio emergencial ajudará no controle da inflação. Chega-se à conclusão que, para Guedes, a forma de acabar com o aumento dos preços dos alimentos é que a população de baixa renda simplesmente deixe de comer.