Novo mundo das criptomoedas, blockchain, token, desafia o sistema – Parte I

Por trás das criptomoedas, genérico para moedas digitais descentralizadas, está um mundo ainda pouco explorado pelos investidores mais conservadores. Nomes como blockchain, token e Web3 são pouco compreensíveis para quem não é um nerd da computação. No entanto, não é mais possível ignorar essa nova realidade digital do mercado financeiro. Em 2021, as criptomoedas e moedas digitais estão desafiando o sistema bancário tradicional, incluindo suas reservas.

O banco central da China estuda o uso de moedas digitais em pagamentos internacionais, desafiando o dólar. O yuan digital da China é uma moeda do banco central, o que o diferencia das criptomoedas, que geralmente são descentralizadas. Não são emitidas ou sustentadas por governos. O “e-yuan” é emitido e regulado pelo banco central e seu status de moeda corrente é garantido pelo Estado chinês.

Já no mundo das finanças descentralizadas, as pessoas, empresas e comunidades são livres para criar seus próprios sistemas financeiros através de contratos inteligentes. Para executá-los existe a Blockchain. Um livro contábil digital compartilhado e imutável que facilita o processo de registro de transações e o rastreamento de ativos em uma rede de negócios. Uma rede de blockchain pode acompanhar pedidos, pagamentos, contas, produção, entre outras coisas. Como os membros compartilham uma visualização única dos fatos, é possível ver completamente todos os detalhes de uma transação, o que oferece maior confiança e novas eficiências e oportunidades.

Já existem diversas empresas e comunidades criando seus próprios tokens, cada um com seu propósito e oportunidades. No universo dos investimentos, token é o registro de um ativo em formato digital. Foi o uso da criptografia, e das redes descentralizadas das criptomoedas, que impulsionou este mercado de tokens. De fato, quase tudo pode ser transformado em token, ou seja, ganhar uma representação em formato digital.

Startups desenvolvem softwares e criam aplicativos Web3. Cada vez mais a denominação é usada para se referir à evolução de uma internet mais inteligente, aberta e distribuída, que envolve o uso de blockchain, computação descentralizada e criptomoedas.

Essa é a grande diferença em relação às Big Techs. A exposição pública no Facebook e as conversas privadas do WhatsApp, são controladas por Mark Zuckerberg, fundador e CEO dos dois aplicativos. Ele domina mais de 70% do mercado de redes sociais, com códigos fechados. Detém todos os dados dos participantes e os utiliza comercialmente e, de certa forma, politicamente.

Eduardo Erlo, gaúcho, 30 anos, é formado em Ciência da Computação e especialista em criptomoedas. Trabalha há cinco anos como consultor internacional e coordena, no Brasil, há quase um ano o marketing do aplicativo da Status Network (Status.im). Para ele, o primeiro passo para entrar nesse mercado é ter muita calma e estudar para entender como esse mundo funciona. “Assim todos terão real autonomia em tomar suas decisões, e não precisarão confiar em terceiros para controlar seus ativos”, ensina.

A Status, criada em 2017 por Carl Bennetts e Jarrad Hope, está registrada em Zug, Suíça, conhecida pelos baixos impostos que atraíram empresas, bilionários e atletas. No cantão de Zug, um dos menores da Suíça, está o “Crypto Valley”, um local no estilo do Vale do Silício dos Estados Unidos para empresas emergentes que operam e inovam no mundo das tecnologias de blockchain e criptografia.

Não existe uma sede. Suas equipes trabalham ao redor do mundo no formato definido como trabalho descentralizado. Há colaboradores trabalhando remotamente em todos os continentes.

Erlo explica que o aplicativo multifunções permite chat privado entre usuários, transferências de criptomoedas e acesso ao mundo da blockchain Ethereum, plataforma de código aberto. “Além de funcionar como carteira de criptomoedas, a plataforma possibilita que os usuários conversem entre si de forma totalmente privada, acessando a internet de forma anônima, independente, e sem interferência de terceiros.”

O aplicativo criptografado e descentralizado só se envolve com as criptomoedas da rede Ethereum, que não inclui o Bitcoin. O ethereum é a segunda criptomoeda mais conhecida e negociada depois da Bitcoin. Acumula ganhos de 667% do início de 2020 para cá, na cotação em dólar. Em meados de janeiro de 2021, seu valor chegou a cair 24%, num sinal de como esse mercado é volátil.

A tecnologia da blockchain, conforme Erlo, não permite apenas a criação e transferência de criptmoeda, mas também o registro descentralizado de informações. “Isso nos possibilita ter uma nova visão sobre o mundo. A privacidade e a proteção do indivíduo são direitos básicos e cruciais. Na era da tecnologia, tem ficado cada vez mais difícil se blindar de empresas que extraem o máximo de informações possíveis em decorrência de publicidades e incentivos financeiros.”

Erlo ressalta que não há solução mágica para a preservação da privacidade: “A Status está constantemente evoluindo e procurando maneiras novas e inovadoras de fornecer maior privacidade e garantias de segurança e esses princípios são garantidos graças a alguns recursos adotados na plataforma. O futuro, apesar de incerto, parece brilhante, em que a liberdade de acesso a sistemas financeiros justos para todos se mostra possível.”