Pesquisadora da Zoobotânica encontra planta rara descrita no século 19

Limosella australis encontrada em Quintão /Fotos Rosana Senna

Cleber Dioni Tentardini
A bióloga Rosana Senna, coordenadora da Seção de Botânica do Museu de Ciências Naturais, na Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, encontrou uma planta rara, que foi descrita uma única vez no Brasil, há 150 anos, pelo Barão de Capanema.
Esta segunda coleta registrada da espécie ocorreu em dezembro de 2015, mas só agora teve confirmado seu reconhecimento pelo Instituto de Biociências da Ufrgs, em artigo publicado nesta terça-feira, 11, na Revista Brasileira de Biociências. O texto é assinado por Rosana e por sua colega botânica na FZB, Andréia Carneiro.

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Bióloga Rosana com colega no trabalho em campo/Divulgação

Rosana encontrou a planta no Balneário de Quintão, município de Palmares do Sul. Analisou em laboratório e através de pesquisas localizou apenas uma coleta de Limosella australis no Rio Grande do Sul, que pertence ao Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
A coleta foi realizada no século 19 por Guilherme Schüch, Barão de Capanema (1825-1908), um engenheiro e naturalista do segundo império brasileiro, que tinha um apurado interesse em botânica, e a maioria de suas coletas está depositada no herbário no RJ.
A Limosella australis é um gênero aquático caracterizado por plantas de pequeno porte que habitam solos lamacentos e encharcados.
Espécie encontrada em uma calçada alagadiça
Espécie encontrada em uma calçada alagadiça

É possível que o material de Limosella, coletado por Capanema seja oriundo do Litoral Norte gaúcho, sustenta a bióloga. “A partir do ano de 1865, Capanema, então diretor da Repartição Geral dos Telégrafos no Brasil, esteve em Torres para início da implantação da telegrafia no estado, mesmo ano da coleta de Limosella.
O gênero ocorre na América, desde o Canadá, até a Argentina e Antilhas, e na Europa, África, Ásia, Austrália, Nova Zelândia
“As plantas de Limosella australis são de difícil percepção no ambiente devido ao tamanho reduzido e flores diminutas entre as folhas filiformes. E ainda, quando observadas em campo, desprovidas de flores e frutos, podem ser confundidas com algumas espécies de juncus, que também podem ocorrer em ambientes urbanos associados às áreas úmidas litorâneas”, alerta a bióloga.
O material testemunho, que serviu de base para descrição morfológica, foi depositado no herbário Prof. Dr. Alarich Schultz (HAS) da FZB.
A bióloga Josy Matos, da Seção de Botânica do MCN, ressalta que a descoberta mostra a importância da manutenção das coleções de espécies para a ciência. Segundo Josy, diversos trabalhos científicos utilizam as informações de herbários para relacionar as espécies nessas coleções com a época em que foram coletadas e suas áreas de distribuição.
“Assim ficamos sabendo onde elas encontravam condições adequadas para viver, ou até mesmo o estado de conservação do ambiente na época, podendo fazer comparações com as mesmas áreas nos dias de hoje”, destaca.
A botânica acrescenta que, além da importância para a ciência, este tipo de informação serve para ajudar a entender quais as melhores áreas para a conservação das espécies e seus habitats, o que auxilia nos processos de licenciamento ambiental e na tomada de decisões dos governantes.
(Cleber Dioni Tentardini)

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