Uma tragédia grega em território brasileiro

Talvez uma das questões mais interessantes quando se estuda a cultura e a literatura da Grécia Antiga é a questão da tragédia. Uma tragédia tipicamente grega é quando o herói de uma história se vê diante de um futuro sem opções que não lhe causem algum tipo de dor. A tragédia não é um destino traçado, não é um determinismo sobre o futuro: a liberdade de escolha está nas mãos do herói, que terá que decidir entre duas ou mais opções que lhe trarão algum prejuízo, até mesmo derramamento de sangue.
O Brasil vive agora uma situação claramente trágica no que se refere à política. O herói dessa tragédia é o povo brasileiro: ele quer uma mudança radical, mas o futuro lhe impôs, até o momento, poucas saídas que tragam essa mudança.
Dilma provavelmente não conseguirá mais governar o Brasil. Mesmo se conseguisse, a legalidade da sua eleição de 2014 está em jogo por conta da maquiagem fiscal que foi feita para que tudo parecesse estar bem. Como a própria Dilma diz, ela é uma “carta fora do baralho”.
Temer é o Vice-Presidente perfeito para o governo Dilma. Tão logo ela foi afastada, começou a governar exatamente igual a sua antecessora temporária: nomeação de ministros corruptos, altas taxas de juros que financiam os bancos, anúncios de medidas que não saem do papel, crise na opinião pública, etc. Na última pesquisa divulgada pela CNT/MDA, 62% dos entrevistados apoiam o Impeachment da Dilma, mas apenas 11,3% apoiam o governo Temer – um presidente sem apoio popular geralmente é um presidente decorativo.
A terceira opção à volta de Dilma e à permanência de Temer é a cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE e a convocação de novas eleições em 2018. Mas então em quem iríamos votar? Lula é apontado como favorito ao mesmo tempo em que esbanja um nível altíssimo de rejeição (qualquer coalizão em segundo turno o derrubaria); Aécio Neves é um playboy prepotente e incompetente; Marina Silva é completamente inexpressiva; Ciro Gomes é competente, mas seu vocabulário e a sua ideologia muitas vezes o levam a adotar discursos do século passado (ou retrasado); Bolsonaro, Levy Fidelix e afins podem seduzir algumas camadas da população, mas não têm cacife para vencer no Brasil – não somos um país fascista.
Como única saída, resta reiterar o que já vem sendo feito nas últimas eleições: votar nulo, em branco ou não votar. Nas eleições de 2014 o segundo colocado não foi Aécio Neves, mas sim os não votantes. Enquanto nossa democracia depender da escolha dos candidatos a partir dos partidos, e não da população, a única saída para essa tragédia é continuar avisando a classe política que não queremos o que eles nos oferecem. Ou nos representam, ou que se destruam. Por enquanto, estamos no trágico processo de destruição – por que duvidar que disso sairá algo bom, mesmo que incerto?

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