Cleber Dioni Tentardini, texto e fotos
Visitei o Cais Mauá em duas tardes deste mês de abril. Consegui vencer o muro de concreto com quatro metros enterrados e dois metros de altura, por acessos liberados pelo estacionamento da Estapar, interditado pela PGE faz algum tempo.
Eu queria ver o estágio das obras do Embarcadero, no Armazém 7, ao lado da Usina do Gasômetro, e saber da situação dos demais armazéns, alguns tombados, outros listados pelo patrimônio histórico, assim como a situação do pórtico central e dos guindastes gigantes.
Além da missão de reportar e da difícil tarefa de fotografar com um celular, confesso que estava com saudade daquele cenário junto ao Guaíba – e aposto que centenas têm o mesmo sentimento -, onde estive em diversas oportunidades, entrevistando de estivador a governador.
E o que vi é desolador. Espaço nobre da Capital está à deriva. Armazéns sujos, prédios com vidros quebrados, pastiçal no calçamento e a população privada do famoso ancoradouro onde desembarcaram os casais de açorianos em 1752, e que nos séculos seguintes se tornou canal de ligação com o mundo, por onde entravam e saíam as pessoas e as mercadorias. Foi o motor dos períodos de maior prosperidade de Porto Alegre.
O armazém 7, que já teve projeto prevendo sua demolição, resistiu a esse intento e foi incluído do projeto do Cais Embarcadero, que certamente formaria, ou formará, um corredor cultural até a Usina. Nenhum sinal de trabalhadores, apenas alguns contêiners numa pequena parte pavimentada ao lado de um provável futuro atracadouro.
Não percorri os três quilômetros de extensão do Cais Mauá. A certa altura, um vigia me interpelou, alertando que aquela parte estava interditada. Mas a empresa que ganhou a concessão para revitalizar o Cais já se afastou ou foi afastada, portanto voltou a ser área pública, argumentei. Não importa, eu só poderia ter acesso ao lago na entrada do Catamarã. Um cais interditado e abandonado, até quando?
Confira mais fotos do Cais Mauá: