Victor Douglas Nuñez

Victor Douglas Nuñez

Victor Douglas Núñez nasceu em Salto, no Uruguai, em fevereiro de 1930. Veio ainda na infância para o Brasil, crescendo no município de Iraí, no norte do Rio Grande do Sul. Ainda na adolescência, se mudou com a família para Porto Alegre, onde estudou no colégio Júlio de Castilhos. Ingressou no curso de direito da UFRGS, onde fez parte do movimento estudantil. Em meados dos anos 50 foi diretor da União Estadual de Estudantes, participando de campanhas como “O petróleo é nosso!”. Formado advogado, passou a atuar na advocacia trabalhista, sempre na defesa dos trabalhadores. Foi advogado dos sindicatos dos eletricitários, dos telefônicos, dos funcionários da Carris e dos radialistas, entre outros. Em agosto de 1961 coordenou o setor de comunicações da “Resistência Democrática”, movimento popular que se constituiu na espinha dorsal do movimento da Legalidade. Foi diretor da Associação Gaúcha de Advogados Trabalhistas (AGETRA) em 1974 e novamente em 1984.
 
Sombra e semente
À memória de Afranio Araújo
Tinhas que morrer como viveste:
De pé, como uma árvore.
Os ventos da raiva não te dobraram:
Só o raio te feriu o coração.
Esta louca e desatada tormenta
– que aprisiona a asa dos pássaros
E despetala borboletas-
Por mais que ruja seus ódios,
Passará.
Mas eu te choro, companheiro:
Não estarás no tempo que virá,
Quando os ventos sejam de flor e música.
Eu te choro, mestre:
Não verás o tempo novo
Em que de ensinar se prescinda.
Eu te choro, irmão,
Que viveste o sonho antigo
De fazer um mundo novo
E não partilharás da alegría vindoura.
Mais te choram os que tiveram fome
E comeram do pão da justiça
Que ajudaste a servir em suas mesas.
E, se não te choram os que rezando exploram,
Eles te respeitam a espada limpa.
Companheiro, mestre, irmão,
Ningúem passou por ti
Sem compartir-te.
Foste sombra frondosa,
E semente.
De luta, de vida, de sonho.
 
Guerreiro sem repouso
Um a um
– ainda o braço forte e a espada firme-
O coração vai nos levando.
Guerreiros sem repouso,
As duras armaduras pesam tanto
Que vamos morrendo sem feridas.
Quebrando lanças, no confronto sem fim
Deste combate, rompe-se o peito
E explode o coração.
Mas contigo foi muito cedo, companheiro
Tu, que tanto fizeste, sabes
Quanto ficou por fazer,
Até que os pobres sejam menos pobres.
Até que o pão seja alegre.
Eu te vi menino
– e já na mesma trincheira
Aprendendo com teu pai
a opção peos pobres,
– essa velha paixão de todos os santos.
Depois te vi crescer
– sempre ajudando a servir
O pão da Justiça
Na mesa dos mais pobres.
Na seara tão vasta, de tão poucos lidadores
Não te poupaste nunca,
Lutador incansável.
E não te vi morrer,
Homem de ferro e de flor.
Ninguém te viu morrer,
É só uma ausência.
Não morre o fogo,
A luz não morre:
– se renovam.
Choramos, sim,
Te choramos muito.
Mas já limpamos dos olhos
Toda lágrima, companheiro.
E, sem temor da morte,
Voltamos a teu bom combate
Luiz Heron Araujo.

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