
Por Tiago Lobo
No fórum Dogolachan, localizado na primeira camada da Deep Web, uma parte da internet invisível aos motores de busca como o Google, adolescentes intitulados Incels (celibatários involuntários na sua linguagem), trocam informações e pedem dicas de forma anônima. Os assuntos variam desde a compra facilitada de armas, esquemas de bombas caseiras, tipos de ácidos para agredir pessoas, até troca de conteúdo pedófilo e dicas para planejar e cometer atentados terroristas.
Há um espaço, inclusive, que funciona como um confessionário. Um “padre” responde às confissões dos usuários. Um deles pede, por exemplo, ajuda após 9 dias de celibato para se livrar do vício pela masturbação que teria o tornado “impuro”…
O fórum é terreno fértil onde apologia ao crime é rotina. De lá que partiram incentivos para tragédias que mobilizam o país desde o final dos anos 90.
Até novembro de 1999, “tiroteios em massa” não eram uma realidade no Brasil. Isso era tido como um problema da terra do Tio Sam, nada Tupiniquim.
A partir de 20 de abril daquele ano o chamado “Massacre de Columbine” inundou a pauta na imprensa internacional: dois adolescentes mataram 12 alunos e um professor, feriram outras 21 pessoas para depois se suicidarem em uma escola do Colorado, Estados Unidos. Desde 1996 os adolescentes alimentavam um site onde compartilhavam mapas e estratégias sobre o jogo de tiro “Doom”. No final de 97 já havia conteúdo sobre como construir bombas caseiras e postagens que descreviam o ódio que a dupla sentia da sociedade.
Na noite de 3 de novembro, pouco mais de 6 meses depois de Columbine, cerca de 30 pessoas assistiam ao filme O Clube da Luta na sala 5 do cinema do Shopping Morumbi, em São Paulo. Um estudante de medicina de 24 anos começou a atirar até esvaziar o pente de uma submetralhadora, matando três pessoas e ferindo outras quatro. Ele foi imobilizado quando ficou sem munição e logo em seguida foi detido pela polícia.
Advogados de defesa, na época, tentaram alegar insanidade, o que o tornaria ininputável: alguém que não tem discernimento sobre certo e errado, e possibilitaria o cumprimento da pena em um hospital psiquiátrico. Alegaram também que ele havia sofrido influência de um jogo de tiro, o clássico Duke Nukem: não colou e ele foi condenado a 120 anos e seis meses de prisão.
Um psiquiatra contratado pela família afirmou que o jovem sofria de Transtorno de Personalidade Esquizoide (TPE), caracterizado pelo distanciamento e desinteresse no convívio social e uma gama limitada de emoções em seus relacionamentos interpessoais.
Membro de família da classe média alta de Salvador, o “atirador do shopping” começou a apresentar indícios de depressão e ideação suicida aos 13 anos: queixava-se à mãe que não tinha amigos. Aos 15, durante um intercâmbio nos E.U.A, foi mandado de volta pela família que o acolheu no exterior por conta da sua agressividade e, ao retornar, passou a agredir fisicamente os próprios pais chegando a fraturar a costela de um deles.
Por recomendação médica, foi morar sozinho em São Paulo, para ter “uma vida social independente”. Na faculdade de medicina (seguindo os caminhos do pai), ingressou como aluno brilhante e foi decaindo. Introspectivo e com reações desproporcionais às brincadeiras dos colegas foi ficando sozinho. Um professor o definiria como uma pessoa “apática, diferente”. Nas primeiras férias da faculdade tentou suicídio, depois teve que sair da pensão onde morava por agredir um colega, na sequência ameaçou o porteiro de um apartamento que os pais lhe alugavam e passou a ter alucinações.
Cinco dias antes do crime, resolveu largar a medicação psiquiátrica por conta própria e fazia uso frequente de cocaína. A polícia encontraria 37 papelotes da droga no apartamento do estudante, que não pagava o condomínio havia dois meses.
Três anos depois do julgamento, a pena foi reduzida a 48 anos e nove meses de prisão por uma tecnicalidade da legislação. Hoje ele segue preso, institucionalizado no Hospital de Custódia e Tratamento de Salvador, destinado a doentes mentais.
Logo após ser detido, policiais do 96º DP perguntaram se havia alguma namorada ou amigos para avisá-los da situação do atirador. “Eu não gosto de ninguém”, ele respondeu.
A primeira escola
A cidade de Taiúva, a 363 km de São Paulo foi o palco para o primeiro tiroteio em massa dentro de uma escola que o Brasil registra. Às 14h40min do dia 27/01/2003, um jovem de 18 anos armado com um revólver calibre 38 e 105 projéteis invadiu o pátio da sua ex-escola e disparou quinze vezes contra alunos, professores e funcionários. Após ferir cinco estudantes, zelador e vice-diretora, se matou com um tiro na cabeça. Uma das vítimas ficou tetraplégica.
O colégio estadual Coronel Benedito Ortiz, cena do crime, foi frequentado pelo atirador durante toda sua vida escolar. À época a diretora da escola, Maria Luiza Gonçalves Oliveira disse para a imprensa que eram muito amigos e que “ele nunca deu problemas, era educado, sempre andou bem vestido”.
A polícia concluiu que o atirador teria cometido o crime motivado por revolta, devido ao bullying que sofria por ter “problemas com peso”. Em 1999, segundo a diretora Oliveira, o jovem conseguiu emagrecer quase 30 quilos.
Filho único de família simples, o pai trabalhava no campo e a mãe dona-de-casa, o atirador de Taiúva era tido como bom aluno, sem problemas com disciplina e sem inimigos. Saía pouco e não tinha namorada.
Luto nacional
O caso que teve maior repercussão na imprensa e comoção pública, levando a então presidente Dilma Roussef a decretar luto nacional, teve início na manhã de 7 de abril de 2011.
Um rapaz com 23 anos, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, invadiu a instituição armado com dois revólveres calibres .32 e .38 e abriu fogo contra alunos deixando 12 crianças mortas (10 meninas e 2 meninos) e 17 feridas. Uma sobrevivente que foi entrevistada pela TV Record logo após o crime revelou que o assassino atirava nas meninas para matar e nos meninos para ferir.
Após ser baleado na perna por um policial, o atirador se matou.
Os investigadores apuraram que a motivação seria vingança por conta do bullying que sofria. O jovem já havia chamado de “irmão” o atirador que matou 32 pessoas na Universidade Virginia Tech, nos E.U.A., em 2007. Este último venerava os autores de Columbine. O autor do massacre em Realengo também se identificava com o atirador de Taiúva.
Ele chegou a deixar um vídeo onde dizia ter sido vítima de “bullying”. “Muitas vezes, aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto debochavam, se divertiam com as humilhações que eu sofria sem se importar com meus sentimentos”, declarou em a nota suicida. Nela também havia instruções de como deveriam ser feitas a retirada de seu corpo e o sepultamento. Nenhuma pessoa “impura” poderia tocar no cadáver. Análises do computador do jovem mostraram que ele constantemente fazia pesquisas sobre terrorismo e se identificava com Osama Bin Laden.
15 dias após o massacre nenhum familiar compareceu ao Instituto Médico Legal para liberar o corpo do atirador: ele foi enterrado como indigente.
Padrões se repetem
Mesmo com um intervalo de tempo, parece que o efeito de um atentado em massa se desdobra em cascata.
Em setembro de 2011, 5 meses após Realengo, uma criança de 10 anos atirou contra sua professora e, em seguida, cometeu suicídio na escola Professora Alcina Dantas Feijão, no município de São Caetano do Sul, do ABC paulista. O crime ocorreu às 15h50min, após uma discussão em sala de aula. A arma foi um revólver calibre .38 que pertencia ao pai da criança, um guarda civil. Ambos foram socorridos com vida, mas após duas paradas cardíacas o menino foi declarado morto às 16h50. A professora sobreviveu. Os investigadores chegaram a afirmar que o menino era “manco”, que sofria gozações dos colegas e esta seria a motivação do crime, mas abandonaram a tese.
Em outubro de 2017 um adolescente de 14 anos matou dois colegas e feriu outros quatro ao disparar uma pistola .40 da mãe, que assim como o pai, era policial militar. O crime ocorreu no Colégio Goyases, em Goiânia (GO). Segundo os colegas, o jovem era constantemente chamado de “fedorento”.
Este ano, o ataque ocorrido na escola paulista Raul Brasil, em Suzano, no dia 13 de março, deixou 10 mortos e 11 feridos, por dois jovens encapuzados que abriram fogo nas dependências da instituição. Suspeita-se que os atiradores tenham sido frequentadores do Dogolachan, onde são celebrados como heróis.

Acompanhe as reportagens da série:
Autor: Elmar Bones
Repressão aos crimes virtuais desafia polícia gaúcha

Por Tiago Lobo
Ameaças inspiradas no atentado de Suzano pegaram as forças policiais do RS de surpresa. Desde junho de 2010, com a criação da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), foi a primeira vez que a Polícia Civil Gaúcha teve que investigar possíveis tiroteios em massa no Estado. Com falta de efetivo e investimento em tecnologia, a Civil conseguiu reagir antes que o pior acontecesse.
Com aproximadamente 500 procedimentos abertos, entre inquéritos e termos circunstanciados, a pasta comandada a pouco mais de um mês pelo Delegado André Anicet, conta apenas com quatro policiais entre inspetores e escrivães. Apenas um deles possui formação em área relacionada: sistemas de informação.
A DRCI atua a partir de denúncias. Entre os principais casos estão golpes na internet (estelionato) e extorsão sexual – quando uma pessoa é chantageada por alguém de posse de fotos nuas, por exemplo.
As ameaças pelo estado vieram à tona a partir da repercussão de Suzano. Até então, segundo o delegado e o inspetor Amaral, que está há 3 anos na delegacia, ameaças de tiroteios em escolas não eram uma realidade no RS.
A escalada começou a partir do alerta à Rede Marista. A maioria das ameaças partiram de adolescentes passando trotes. A polícia segue recebendo e apurando denúncias, mas o volume vem caindo.
Os autores podem responder por apologia ao crime, ameaça, associação criminosa e até responder por ato terrorista. Mobilizar forças de segurança a partir de um mero trote e provocar alarde e pânico na sociedade também é crime.
O delegado revela, com certa cautela, que de todas as denúncias recebidas até agora, duas eram potencialmente mais preocupantes. Anicet ressalta que mensurar potencial é difícil, mas nestes dois casos os autores teriam meios para perpetrar um ataque – ambos já foram identificados e detidos.
“O caso do colégio Marista foi uma mera ameça, uma Fake News”, revela o delegado.
A apuração de crimes praticados na internet começa com algumas técnicas específicas de coleta de dados e informações. Em dado momento do inquérito ela se torna um trabalho de investigação tradicional.
Atualmente o próprio delegado pode solicitar à plataformas como Facebook, Twitter e outras redes sociais, assim como empresas de telefonia, dados cadastrais de um suspeito. Informações mais detalhadas que permitam o rastreio do endereço de IP de um computador, por exemplo, ainda requerem ordem judicial. O que é visto como um entrave em casos urgentes.
Apesar do efetivo reduzido, a DRCI não age sozinha. Além das delegacias locais da Polícia Civil que atuam nas investigações, ela conta com relatórios do Gabinete de Inteligência Estratégica e da Secretaria de Segurança Pública para fazer cruzamentos de dados e estabelecer, por exemplo, se as ameaças às escolas do estado possuem alguma conexão entre si.
Investigações em andamento, mas pelo tom do delegado não parece ser o caso.
A Polícia Civil do RS ainda não possui tecnologia para rastrear usuários na Deep Web, como no fórum Dogolachan, de onde já partiram algumas ameaças, por isso as investigações contam com a ajuda da população. Denúncias levam aos autores.
Apesar disso o Delegado ressalta que, ao contrário da crença popular, “não é verdade que a Deep Web é irrastreável. Não temos estrutura pra isso no momento, mas é possível”.
O WhatsApp, por exemplo, também não é invisível ao monitoramento da polícia. Ela não pode acessar o conteúdo de trocas de mensagens por conta da criptografia da ferramenta, mas consegue saber quem e quando um suspeito se comunicou com outro pelo aplicativo.
“Acredito que o futuro da criminalidade é digital”, afirma o delegado. Pelo visto o da investigação também: o inspetor Amaral, por exemplo, conta que pediu para integrar a DRCI após alguns anos na Homicídios. Ele realizou uma capacitação via Ministério da Justiça para operação de um software desenvolvido pela polícia Canadense para rastrear conteúdo pedófilo na surface (a internet que todos nós navegamos) e Deep Web.
O caso de maior repercussão nos últimos três anos da pasta foi gerado por desinformação:
“A Baleia azul se tornou potencialmente ofensiva por causa da mídia”, opina o Inspetor.
A exposição da imprensa levou o DRCI a instaurar um inquérito para investigar se havia organização criminosa nesse caso. Suspeitos foram monitorados, identificados e apurou-se que não havia crime.
O “jogo da Baleia Azul” foi um boato que chegou ao Brasil em 2017, com a ideia de que levaria crianças a cometerem suicídio, o que supostamente já havia acontecido na Rússia.
Mas fique tranquilo: tudo não passou de um boato que a imprensa repercutiu sem apurar devidamente. Em audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, o presidente da ONG Safernet, Thiago Tavarez, esclareceu que “essa notícia falsa que nasceu na Rússia e chegou ao Brasil de forma sensacionalista e alarmista acabou servindo de gatilho para um efeito de imitação”. Com a “Boneca Momo” (google it) não foi diferente.
Se apenas cinco servidores compõem uma das delegacias mais importantes em um momento de repercussão de tiroteios em massa planejados e incentivados pela Deep Web, o inspetor Amaral relata a sua surpresa ao se deparar com a estrutura da delegacia da mesma pasta no Rio de Janeiro, capital. 30 policiais, plantão 24h, atendimento especializado e estrutura qualificada.
“Eles estão anos-luz na nossa frente”, afirma Amaral.
Além de conduzir investigações, a delegacia ainda presta atendimento ao público: mas nem todas as pessoas que visitam a delegacia são vítimas ou deveriam estar lá… Muitas vezes não há crime: “Qual a legislação aplicável para lançar um site?”, “como deixar meu site seguro?”, “celulares que falam sozinhos” e etc despendem um tempo dos policiais para assuntos que não são trabalho de polícia.
Pergunto aos dois: com o atual efetivo da delegacia de repressão a crimes informáticos é possível dar conta? Eles não hesitam e despejam um “não” com certa frustração.
“Acho que o maior investimento em termos de Polícia e repressão deveria ser em tecnologia e pessoal. O caso Marielle, por exemplo, foi praticamente uma investigação cibernética”, defende o delegado. “Esperamos ter mais gente agora com um novo concurso. A equipe é pequena”.
“Há motivo para pânico?”, pergunto: “as pessoas tem que ter o cuidado de sempre e se suspeitarem de alguma coisa denunciarem”, é a recomendação do delegado Anicet.
Denuncia de ameaças de tiroteios em massa podem ser feitas pelo telefone 08005102828
Cartão de crédito consignado, mais uma brecha para endividar aposentados
A Caixa Econômica Federal acaba de lançar o cartão de crédito consignado.
A taxa de juros ficará em 2,85% ao mês e é baixa se comparada a do cartão de crédito tradicional que muitas vezes supera os 15%.
O limite será de até 1,4 vez o valor recebido mensalmente e só valerá para aposentados do INSS, ou seja, se a pessoa recebe R$ 2 mil de benefício o seu limite será de R$ 2,8 mil.
Como regra oficial, aposentados, pensionistas e servidores públicos podem se endividar com o consignado em até 30% do que recebem mensalmente.
“O grande problema é que, esta é mais uma ferramenta para os aposentados se endividarem. A regra dos 30% não vale para este cartão de crédito consignado, ou seja, a dívida poderá ser somada. Na prática, vamos supor que uma pessoa ganha R$ 2 mil e já no limite de R$ 600,00 por mês de dívida. Ela ainda poderá ficar devendo mais R$ 2,8 mil neste novo cartão de crédito”, explica o financista Fabrizio Gueratto.
Apesar da taxa de juros no cartão consignado da Caixa ser de 2,85% é importante lembrar que, a poupança, rende neste mesmo período apenas 0,38%.
Outro ponto importante é o endividamento da população brasileira. “Atualmente,temos mais de 60% das famílias brasileiras endividadas. É o maior patamar desde 2015. O cartão de crédito é o principal motivo para 78% das famílias. Em muitas destas famílias o aposentado virou a única fonte de renda e este possui muita facilidade para conseguir dinheiro emprestado. Esses fatores combinados acabam virando uma bola de neve. Além disso, grande parte destes recursos é para o consumo, o que é pior ainda. Dívida somente em uma emergência, entretanto, dentro do planejamento financeiro, esta possibilidade já deveria estar prevista e uma reserva financeira já precisava ter sido guardada. Infelizmente o brasileiro vive como se não houvesse amanhã e acha normal estar endividado”, comenta.
O cartão de crédito pode ser uma boa alternativa para o acúmulo de benefícios como milhagens e cashback. “Por exemplo, se uma pessoa vai comprar um saco de pão na padaria, não importa se ela pagará em dinheiro ou no cartão de crédito ou débito. O valor será o mesmo. Já que não tem a possibilidade de desconto, neste caso, é melhor pagar pela forma que gera mais benefício, no caso, o cartão de crédito. Porém, ele só é útil para quem tem controle dos gastos. Hoje as próprias bandeiras dos cartões oferecem aplicativos em que é possível controlar o limite em tempo real. Um passo importante seria a obrigação da instituição financeira em fornecer gratuitamente um curso de educação financeira, com o conteúdo fiscalizado pelo Banco Central, antes de qualquer brasileiro pegar um empréstimo”, finaliza Fabrizio Gueratto, do Canal 1Blhão Educação Financeira.
(Com informações da Assessoria de Imprensa)
Manifesto pede que governo rescinda contrato com Cais Mauá
A Associação dos amigos do Cais Mauá (Amacais) divulgou nesta segunda, 15, um manifesto intitulado “A hora do Cais”.
O documento afirma que o Governador do RS, Eduardo Leite, tem nas mãos a oportunidade de “enfrentar com coragem, lucidez e devoção ao interesse público a questão que há anos angustia a comunidade gaúcha”.
A Amacais indica, como o jornal JÁ mostrou na reportagem “Cais Mauá quer renegociar contrato que descumpre há nove anos.”, que os atrasos e descumprimentos contratuais são unicamente devidos “à incapacidade do empreendedor” e alerta para “vários delitos graves na gestão do Consórcio”.
Tais como o descumprimento da obrigação de preservação e manutenção dos bens tombados sob sua responsabilidade; a não apresentação das garantias financeiras para execução do projeto, exigidas no Edital; a inadimplência do Consórcio Cais Mauá no pagamento dos aluguéis e arrendamentos previstos; a negligência na manutenção da constituição acionária e da identidade técnica e administrativa do consórcio que venceu a licitação.
O documento aponta que diversas irregularidades do processo estão judicializadas, com investigação em curso da Policia Federal sobre supostas fraudes na captação de recursos junto aos fundos de pensão e uma Ação Civil Pública questionando a validade da lei que liberou o regime urbanístico para o projeto vencedor da licitação.
O manifesto critica o judiciário e chama de “deplorável” a postura do jornal Zero Hora: “espanta-nos a morosidade e a displicência com que as autoridades judiciárias tratam assunto de tamanha gravidade para a identidade e o destino desta Capital”.
“No contexto em que empresários “tubarões” agridem a cidade e o estado, em que autoridades “bananas” contemporizem indefinidamente com postergações, degradações e descumprimentos do projeto, e jornalistas “lacaios” não cessam de adular a empresa e negligenciar a investigação das causas desta catástrofe evidente, parece ser muito honrosa a alcunha de “caranguejo” para distinguir aos cidadãos e cidadãs que, com tenacidade infatigável, não abrem mão de zelar pelo bem público, às claras, com fatos concretos e o melhor dos bons propósitos: propiciar a superação deste drama insólito e a imediata retomada da revitalização do cais do porto”.
Faça o download do manifesto: Amacais – A hora do Cais.
Cais Mauá quer renegociar contrato que descumpre há nove anos
O cais, com três quilômetros de extensão junto ao centro histórico de Porto Alegre está abandonado, porque a empresa que fazia a segurança do local foi dispensada.
Os armazéns e as instalações portuárias, tombadas pelo patrimônio histórico, se deterioram visivelmente.
Pela Carta de Estruturação Financeira, item 14 do edital de licitação, antes de iniciar a obra, o consórcio deveria comprovar pelo menos R$ 140 milhões, estimados para a primeira etapa da revitalização do cais.
O procurador geral do Ministério Público de Contas, Geraldo Da Camino, em Inspeção Especial desde 2010, já cobrou diversas vezes a comprovação dessa garantia inscrita no contrato, sem uma resposta satisfatória.
O contrato de concessão, assinado em 2010, passou ao controle do Consórcio Cais Mauá, uma área pública , com uma estrutura de prédios e equipamentos históricos, no ponto mais cobiçado da capital.
As condições eram generosas: enquanto a receita não chegasse a um certo valor, o consórcio pagaria R$ 3 milhões por ano de aluguel. Depois, pagaria 1,95% da receita.
O consórcio, sem dinheiro, pediu e ganhou dispensa do aluguel até dezembro de 2017, quando recebeu a licença de instalação que permitia iniciar as obras.
Anunciou com pompa e circunstância o início das obras em março de 2018, mas quase nada aconteceu, além da troca de gestores do fundo de investimento, que mantém o consórcio Cais Mauá.
Sem pagar o aluguel, mesmo depois da dispensa por sete anos, sem conseguir manter a guarda do local, deixando deteriorar-se armazéns e equipamentos, sem os recursos que precisaria ter para tocar a obra estimada em mais de R$ 300 milhões, o Consórcio Cais Mauá propôs ao governo uma revisão do contrato.
Quer retirar das exigências a Carta de Estruturação Financeira, de garantias antes do início das obras: quer que o prazo de 25 anos de concessão comece a contar a partir de 2018, quando foi emitida a licença de instalação.
Quer também alterar o cronograma do projeto, terceirizando uma parte da área concedida para eventos e serviços. E quer incluir um estacionamento para 400 carros.
O governador Eduardo Leite recebeu nesta quinta-feira.11, o relatório do grupo de trabalho que designou para avaliar a questão do Cais Mauá.
O grupo trabalhou 60 dias. Um dos assessores levou um calhamaço de 700 páginas, só para dar uma ideia da trabalheira que foi reconstituir a tortuosa evolução da concessão para revitalização do Cais Mauá, desde o início.
O relatório mais sucinto encerra com um parecer em que são apresentadas duas alternativas para a decisão do governador.
Ou fazer a repactuação no contrato, nas bases que o concessionário está propondo. Ou rescindir o contrato e chamar nova licitação. Há um movimento ainda difuso de grupos locais por esta solução.
Antes de decidir, Leite quer ouvir, na próxima semana, a Procuradoria Geral do Estado e os representantes do concessionário.
“Só uma coisa é certa neste momento”, disse o superintendente do Porto de Rio Grande, Fernando Estima, que falou em nome do Grupo de Trabalho depois da reunião com o governador: “A revitalização do Cais Mauá vai sair do papel”.
O primeiro projeto de revitalização do Cais Mauá, desde que se tornaram inviáveis as operações portuárias, foi apresentado no governo Alceu Collares, há 30 anos.
Uma sátira ao abandono do cais
Com licença da administração pública, que lhes cedeu a primeira quadra da Avenida Sepúlveda, junto à Avenida Mauá, na frente do cais do Porto, o Coletivo Prosperarte passou a tarde do último sábado (3º) filmando o videoclip “De Bananas, Lacaios e Tubarões”, a ser lançado nas redes sociais na primeira quinzena de abril. A filmagem objetivava dar conteúdo ao samba-enredo do Bloco Cais Cais Cais.
Escrito pelo historiador Francisco Marshall e o sociólogo João Volino Correa, o clip de cinco minutos é uma sátira ao que ocorre há dez anos com o projeto de revitalização do Cais Mauá, cedido pelo governo do Estado a um consórcio privado que não consegue realizar suas promessas. O título da peça refere-se às personagens envolvidas na história: empresários representados por tubarões, lacaios que os ajudam na administração pública e “bananas” que acreditam que tudo vai dar certo e dão de ombros diante do fracasso dos empreendimentos.
“Enquanto o consórcio está aí parado sem cumprir o contrato, os armazéns do cais estão se deteriorando, sem manutenção”, reclamava Francisco Marshall, enquanto instruía os atores sobre o que fazer a cada tomada da gravação. Em diversas cenas aparece um grupo de “caranguejos”, representando os funcionários que “travam a máquina pública” – palavras do prefeito Nelson Marchesan Jr. em pronunciamento feito no cais Mauá em março de 2018, num evento de retomada do projeto de revitalização e que, no fundo, serviu como pontapé inicial da campanha à reeleição de José Ivo Sartori.

Naquele evento, com cerca de 200 pessoas presentes, a candidatura de Sartori parecia ir de vento em popa, mas acabou mal. Já o projeto do Cais Mauá, animado por uma nova administração, parecia prestes a decolar, apesar de carregar um prejuízo de R$ 50 milhões em seu balanço contábil. Agora, pelo que murmuram alguns caranguejos, o consórcio vem atrasando o pagamento de compromissos mensais.
Cais Mauá: novo controlador negocia mudança no contrato de concessão
O consórcio Cais Mauá do Brasil divulgou duas maquetes mostrando como será o primeiro espaço a ser entregue ao público na área concedida, nove anos depois do contrato assinado para a revitalização do cais central do porto de Porto Alegre.
Os empreendedores já chamaram essa primeira intervenção de “Plano Piloto” e agora chamam “Marco Zero”. Os críticos do projeto estão chamando de “puxadinho”.
A intervenção vai alcançar 2 dos mais de 80 hectares que compreendem a área concedida por 25 anos. Vai custar R$ 5 milhões que, na expectativa do Consórcio, deflagrarão um projeto estimado em R$ 550 milhões.
Será uma área de lazer e gastronomia, com instalações em containers, além de estacionamento pago com 600 vagas”.
“O ‘marco zero’ não estava na proposta original de revitalização do cais, mas é importante iniciativa para ganhar credibilidade”, disse o presidente do consórcio Cais Mauá do Brasil, Eduardo Luzardo.
“O marco zero, na verdade, é o primeiro movimento para tentar trazer investidores”, disse ao JC o sócio-diretor de riscos e compliance da LAD Capital, Luiz Felipe Terra Favieri.
A LAD é a atual gestora do FIP, o fundo de investimento que tem 88% do consórcio Cais Mauá do Brasil. A espanhola GSS (que antes era majoritária) detém hoje 8% e a Contern que tinha 10%, agora tem 4%.
Segundo declarou Favieri “algumas cláusulas do contrato original da revitalização possuem vícios de origem e precisam ser renegociadas com o governo do Estado”.
“O tema já está sendo tratado com representantes do poder Executivo”, disse ele.
Uma das mudanças que o consórcio quer introduzir no contrato de concessão diz respeito ao prazo.
No contrato assinado assinado em 2010, a concessão por 25 anos passaria a contar daí a dois anos, prazo estimado para a reforma.
Os empreendedores querem descontar os sete anos que decorreram entre a assinatura e a licença para o início das obras. Mas há mais de ano com a licença eles não conseguiram iniciar a obra..
Outra mudança que já foi tentada sem sucesso é na cláusula que obriga apresentar garantias de R$ 400 milhões antes de mexer nos armazéns tombados pelo patrimônio público.
Essa alteração enfrenta uma oposição decidida do Ministério Público de Contas, ante os indícios de que a condição financeira do Consórcio para arcar com as responsabilidades do projeto é incerta.
“O Cais vem de um estresse muito grande. Assumimos, implementamos um diagnóstico e verificamos falhas como falta de liquidez, de credibilidade e necessidade de ajustes contratuais”, reconheceu Favieri em entrevista ao Correio do Povo.

No “marco zero” todo o investimento será por conta das empresas que se instalarão no local. O consórcio receberá um percentual do faturamento.
Entre os parceiros estão: Safe Park, DC Set, Estapar e Tornak.
O “marco zero” foi anunciado para o aniversário de Porto Alegre, neste dia 26. Agora ficou para setembro.
O novo diretor adianta que a área do Cais Mauá não ficará fechada até lá. “Começarão a acontecer coisas pontuais, por exemplo, em um final de semana um evento de jazz ou de gastronomia”.
(Com informações do Jornal do Comércio, Correio do Povo e O Sul)
Lula tenta romper o silêncio mas imprensa impõe censura
A autodenominada “imprensa profissional” tem barrado as declarações de Lula nos últimos dias, quando o ex-presidente tenta romper o silêncio que lhe é imposto.
Uma pesquisa no google na tarde deste sábado, 16, revela que apenas a IstoÉ entre os considerados veículos nacionais registrou a nota que Lula “mandou divulgar sobre o massacre desta quarta-feira (13) em uma escola de Suzano (SP), que teve oito mortos, além dos dois atiradores”.
Na mensagem, Lula expressa “toda solidariedade aos alunos e trabalhadores” do colégio e aos “familiares das vítimas que hoje enfrentaram essa terrível tragédia”.
“Que aqueles que incentivam a cultura do ódio e da violência entendam que não precisamos de mais armas para que massacres como o de Suzano não se tornem cotidianos em nosso pais. O Brasil precisa de paz”, disse o ex-presidente.
Os noticiaristas de O Globo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, que vasculham as redes sociais em busca de tiroteios verbais devem ter reportado aos editores. A polícia não censurou, os “profissionais” censuraram.
Não fossem os “não alinhados” , Lula não teria falado.
Nesta quinta feira, 15 foi uma Carta aos Trabalhadores e Trabalhadoras da Ford em São Bernado.
Lula toca num ponto que fica encapsulado e não aparece no noticiário sobre a crise das fábricas de automóveis. Ele diz que a empresa fechar milhares de postos de trabalho, sem a menor responsabilidade social, “após anos de incentivos fiscais que beneficiaram sua operação em nosso país”.
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Fica a questão: se o ex-presidente consegue fazer suas mensagens virem a público, cabe à “imprensa profissional” achar que ele não pode se manifestar?
Tribunal europeu manda abrir os estudos sobre riscos do glifosato
Uma corte europeia determinou nesta quinta-feira (07/03) que cidadãos têm o direito de ter acesso a estudos sobre os efeitos do herbicida glifosato, amplamente utilizado na agricultura. A reportagem é da Deutsche Welle.
O Tribunal Geral da União Europeia (TGUE) em Luxemburgo decidiu que a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) deve permitir o acesso a estudos de toxicidade e fatores de risco de câncer do herbicida contra o qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu alerta em 2015, classificando-o como “provavelmente cancerígeno”.
Com a sentença, o tribunal anulou duas decisões da agência alimentar europeia, que havia rejeitado o acesso a detalhes sobre estudos que a EFSA realizou sobre o glifosato, com base no argumento de que a divulgação das pesquisas poderia prejudicar os interesses comerciais das empresas que forneceram dados para as pesquisas – entre outros, a americana Monsanto, que foi comprada pela gigante fitossanitária e farmacêutica alemã Bayer. Além disso, segundo a EFSA, não existia um interesse público que justificasse a divulgação.
O glifosato é o herbicida mais utilizado e polêmico do mundo e é usado por multinacionais como a Monsanto. A Comissão Europeia, órgão executivo da UE, aprovou em novembro de 2017 a renovação da licença do glifosato no bloco até 2022, apesar de oposição de países como a França.
A solicitação de acesso a distintas partes dos estudos da EFSA sobre o impacto ambiental e de saúde do glifosato haviam sido feitas por um cidadão europeu e pelos eurodeputados Heidi Hautala, Michèle Rivasi, Benedek Jávor e Bart Staes.
Os requerentes lembraram no pedido que o Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (CIIC) concluiu em março de 2015 que o glifosato apresentava potencial risco de causar câncer. Apesar disso, segundo o tribunal, em novembro de 2015, análises conduzidas por especialistas da EFSA haviam concluído que o glifosato não apresentava nenhum risco cancerígeno para o ser humano.
O Tribunal Geral da UE defendeu em sua decisão que o público deve ter acesso “não só à informação sobre as emissões (…) como também sobre as consequências de mais ou menos longo prazo dessas emissões sobre o meio ambiente, assim como sobre os efeitos das citadas emissões sobre os diferentes organismos daqueles a quem o produto é destinado”.
A decisão, à qual cabe recurso no Tribunal de Justiça da União Europeia (ao qual o TGUE está associado), também define que o acesso aos estudos é “revestido de um interesse público superior à proteção de interesses comerciais de pessoa física ou jurídica”.
Os juízes luxemburgueses afirmaram que o interesse público não é de apenas saber o que foi liberado no meio ambiente, mas também quais os efeitos ambientais do glifosato. Como é o princípio ativo de herbicidas usados na União Europeia desde sua liberação, em 2002, haveria resquícios da substância em plantas, na água e em alimentos, disseram os magistrados.
Após o pronunciamento da sentença, o eurodeputado espanhol Florent Marcellesi, do partido verde espanhol Equo, avaliou que a decisão representa “uma vitória na luta contra o secretismo quando há riscos ao meio ambiente e sanitários de produtos perigosos como o glifosato”.
A EFSA declarou que considera positiva a decisão, já que ela gera orientação com o acesso público dos documentos. Segundo a agência, a decisão deverá ser minuciosamente analisada – afirmação também feita por um porta-voz da Bayer.
Já o eurodeputado Martin Häusling alertou que, “se forem encontradas evidências de que o glifosato é realmente cancerígeno, isso seria um escândalo com amplas mudanças: o glifosato teria de ser proibido imediatamente”, ponderou.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) propôs na semana passada a manutenção da licença para o glifosato, mas com restrições de uso e novas medidas de controle. A equipe técnica da agência concluiu que não há evidências suficientes para classificar o herbicida de cancerígeno.
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Pontal vende 98% das salas comerciais nos primeiros 30 dias
O empresário Saul Veras Boff revelou ao JÁ os resultados do primeiro mês de vendas do Parque do Pontal, o empreendimento de R$ 300 milhões na Orla do Guaiba que já rendeu uma das maiores polêmicas da história de Porto Alegre.
Em trinta e seis dias, foram vendidas 98% das 227 salas comerciais na torre central e 50% do hotel que terá a bandeira da cadeia Hilton e a gestão da Boa Vista, que administra uma das maiores cadeias de hotéis do mundo.
As 163 lojas do shopping, que terá uma mega store da Leroy Merlin, estão em negociação para aluguel. Ele só diz que “são disputadas”.
“Os resultados superam nossas melhores expectativas”, resume.

Saul tem boas razões para estar exultante. Foram 14 anos, até conseguir dar a “volta por cima”, num negócio sem precedentes na história do empreendedorismo gaúcho.
O empresário lembra bem do leilão em 2005, quando se decidiu pelo negócio adquirindo a área de 60 hectares à beira do Guaíba para implantar o “Pontal do Estaleiro”.
“O terreno tinha passado por quatro leilões” conta ele. “Num deles, um comprador arrematou, mas não pagou. No quinto, fui o único candidato. Quando bateu o martelo, fui aplaudido pelos funcionários do falido Estaleiro Só, que só tinha aquele terreno para pagar a indenização deles”.
A indenização dos 600 funcionários do Estaleiro Só, era um assunto que ganhava manchetes dos jornais de Porto Alegre e mesmo nas páginas econômicas dos jornais nacionais.

Uma das mais antigas e tradicionais empresas do Rio Grande do Sul, o Estaleiro Só foi símbolo de uma época de prosperidade no Rio Grande do Sul. Teve origem numa fundição que fazia lampiões e se tornou um dos maiores estaleiros do país.
Faliu, depois de lenta agonia financeira, não tinha como pagar os funcionários. A Justiça arrestou o terreno onde funcionavam as oficinas e o estaleiro, às margens do Guaiba, num sítio ligado às origens de Porto Alegre, a meio caminho da Zona Sul.
A BMPar, de Saul Boff, arrematou por R$ 7,2 milhões a área de 60 mil metros quadrados, que ainda tinha os escombros de antigos prédios do estaleiro.
Pretendia fazer um conjunto moderno de edificações para fins comerciais e residenciais, deixando no entorno uma generosa área de recreação acessível ao público.”Até um hotel para a terceira idade estava previsto”.
O poder público se mostrou sensível à importância do empreendimento e a Câmara de Vereadores aprovou uma alteração no artigo 470 do Plano Diretor da Capital (uma espécie de emenda constitucional municipal), para permitir edifícios de mais de 10 andares na área.
Um consagrado arquiteto e urbanista, Jorge Debiaggi, autor de vários estudos para a Orla, assinava o projeto do “Pontal do Estaleiro” apresentado um ano depois.

Seis blocos sinuosos que lembravam velas ao vento, com 14 andares cada um erguidos diante de um cenário majestoso, no ponto mais largo do Guaíba. Metade abrigaria escritórios comerciais, metade apartamentos para a classe média alta. Shopping, hotel e áreas de lazer completavam o conjunto. .
“A inspiração vinha do Jaime Lerner, que fala do conceito “tartaruga” no planejamento urbano. Significa colocar debaixo do mesmo casco todas as atividades vitais: comércio, serviços, residências, espaços de lazer”.
Mas o Plano Diretor, que mudara para permitir maiores alturas e prédios comerciais, não previa edifícios de apartamentos na orla.
A ideia das torres encobrindo a vista e, talvez mais que isso, a possibilidade de uns poucos endinheirados comprando um camarote exclusivo defronte ao famoso por do sol do Guaíba, chocou o sentimento democrático da cidade.
Movimentos comunitários e de defesa ambiental, alguns com histórica militância como a Agapan, se levantaram contra o projeto. Uma aguerrida frente de ONGs se mobilizou para barrar na Câmara a mudança que viabilizaria o empreendimento.
O enfrentamento, que teve episódios de agressividade na Câmara, com denúncias de propina, culminou com a proposta de um plebiscito: a população seria chamada a decidir.
“Eu gostei da ideia”, diz Boff. “Tínhamos uma pesquisa que dava 86% da população a favor do projeto”
Mas um plebiscito, organizado pelo Tribunal Regional Eleitoral, com voto obrigatório, urnas eletrônicas em toda a cidade, foi orçado em R$ 7 milhões, dinheiro que a Prefeitura não tinha.
O prefeito José Fogaça, então, optou por uma “Consulta Popular”. promovida pela prefeitura, como nas eleições dos conselhos tutelares, com 300 urnas.
Saul lembra: “Eu disse aqui nesta mesa: os votantes nessa consulta não elegem um vereador. E nós vamos perder de quatro a um, porque numa consulta desse tipo só vai a militância”.
Compareceram 22.619 porto-alegrenses às urnas num domingo, em 2009. Quase 18 mil disseram NÂO ao “Pontal do Estaleiro”. O projeto estava enterrado. Menos para Saul Veras Boff.
“Eu sempre acreditei no potencial daquele espaço, propus um projeto misto, com apartamentos residenciais, porque achei que era o mais adequado. Não foi aprovado, tratei de adaptar, pois meu interesse é fazer tudo dentro da lei”.
Um novo arquiteto, especializado na construção de shoppings horizontais foi contratado e, em junho de 2018, dez anos depois da derrota na consulta popular e depois de 14 versões e inúmeras adaptações, o projeto foi protocolado na prefeitura para as devidas licenças.

Investimento de R$ 300 milhões, o projeto agora chamado “Parque do Pontal” uma torre comercial de 83 metros de altura (20 andares), com hotel, centro de eventos, hub de saúde (consultórios, clínicas e laboratórios) e salas comerciais.
Um shopping horizontal e uma área verde de 30 mil metros quadrados com 700 metros de extensão à beira d´água completam o conjunto.
Na apresentação do novo projeto à imprensa, o diretor Leandro Melnick, da Construtora Melnick, que vai executar a obra explicou: “Foi um licenciamento traumático, mas vencemos todas as etapas, já temos todas as garantias, falta só a licença de instalação para o início das obras”.
Autorizadas semanas depois, as obras começaram em janeiro de 2019, com previsão é de entrega em 40 meses, ou seja no final de 2021. “Quando estiver pronto, com aquele parque entregue à população, vão agradecer pela minha insistência”, diz Saul.