Candidatos que apostaram no “efeito Bolsonaro” começam a rever estratégias

Bolsonaro gerou aglomeração na Esplanada repetidas vezes e sem usar máscara. Foto: Reprodução redes sociais

Candidatos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro começam a rever suas  estratégias, diante do fraco desempenho que registram nas últimas pesquisas.

Está se formando um consenso de que o “dedo de ouro” de Bolsonaro, que, em 2018, elegeu até candidatos desconhecidos, já não está funcionando.

O caso mais visível é o de Celso Russomanno (PR), candidato em São Paulo, que caiu de 29% para 20%, perdendo a liderança para Bruno Covas (PSDB), segundo a última pesquisa.

Um dia depois do resultado, ele fez questão de se afastar do discurso de Bolsonaro sobre a vacina anti-covid.

Bolsonaro afirmou na quarta-feira que não comprará a Coronavac, que chamou de “vacina chinesa”, mesmo se houver autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Russomano disse no dia seguinte que, se eleito, fará convênio com o Instituto Butantan para a compra da vacina produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech.

“Se for aprovada pela Anvisa, sem problema nenhum. Sou totalmente favorável à vacina. Quero que ela fique pronta e quero tomar a vacina também”, disse Russomanno.

O candidato vinha alinhando-se às pautas defendidas pelo presidente e chegou a minimizar a pandemia do coronavírus em entrevistas, sugerindo que moradores de rua teriam “mais resistência ao vírus por não tomarem banho”, declaração semelhante à de Bolsonaro que disse, em março, que “brasileiro cai no esgoto e não pega nada”.

A última pesquisa Datafolha apontou queda de sete pontos percentuais para Russomanno, que agora aparece com 20%, numericamente atrás de Covas, com 23%.

No fim de setembro, o Datafolha apontou que 46% dos paulistanos rejeitam o presidente.

Em Belo Horizonte, onde Bolsonaro gravou um vídeo em apoio a Bruno Engler (PRTB), o candidato não sai dos 3% e o atual prefeito Alexandre Kalil (PSD) caminha para uma reeleição em primeiro turno, segundo o Datafolha.

Em Recife, a candidata Delegada Patrícia (Podemos), que tenta se viabilizar como alternativa à direita, cresceu seis pontos na pesquisa desta semana evitando se associar a Bolsonaro.

No Rio, o candidato Crivella mantém o alinhamento mesmo patinando nas pesquisas. O prefeito, candidato à reeleição, vem caindo e agora está com 13%, empatado com Martha Rocha (PDT) na segunda colocação.

Repetindo discurso adotado por Bolsonaro na eleição de 2018, a campanha de Crivella tem buscado desacreditar as pesquisas e entrou com impugnações no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) para impedir a divulgação do Datafolha anteontem e do Ibope de semana passada.

Ambos os pedidos foram negados pela juíza Regina Chuquer, da 23ª Zona Eleitoral. Aliados de Crivella, no entanto, defendem que a imagem de Bolsonaro continue sendo amplamente explorada no horário eleitoral e contam com uma declaração explícita de voto do presidente na reta final.

Para o cientista político Josué Medeiros, do Núcleo de Estudos Sobre a Democracia Brasileira (Nudeb) da UFRJ, uma “mobilização subterrânea” do bolsonarismo nas redes a exemplo de 2018 não pode ser descartada, mas um impacto do próprio Bolsonaro no primeiro turno é improvável.

“O apoio do Bolsonaro poderia ajudar na consolidação de uma candidatura, mas não como causa primeira que levaria o eleitor a votar” — avalia.

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