“Críticas de Lula são declaração de guerra ao presidente do Banco Central”

Lula em entrevista a Natuza Nery, na GloboNews / Reprodução

“Um presidente da República dizer que o Presidente do Banco Central está boicotando o governo é algo muito grave, que vai ter desdobramentos e Lula sabe o que está fazendo – é uma declaração de guerra”.

Esta é avaliação do jornalista Bernardo Kuscinski sobre as críticas do presidente Lula à decisão do Banco Central que manteve a taxa de juros no pais em 13,5%, uma das mais altas do mundo. “Não existe nenhuma justificativa para a taxa de juros a 13,5%, é só ler a carta do Copom para ver a vergonha que é esse aumento de juros e a explicação que deram para a sociedade brasileira”, disse Lula.

“Lula já viveu isso no seu primeiro mandato e  não vai tolerar essa falácia do juro alto para combater a inflação”, sentencia Kuscinski, que foi um dos mais influentes assessores de Lula desde as caravanas da cidadania, da segunda campanha em 1993, até quase final do primeiro mandato.

Kuscnski acompanhou e registrou, no primeiro mandato de Lula, o embate do presidente com seu ministro da Economia, Antônio Palocci em torno do salário mínimo e da  taxa de juros, na época também entre as mais altas do mundo. “A cada véspera da reunião do Copom, Lula ficava nervoso, a tal ponto que mandou espaçar mais as reuniões”.

Palocci era o fiador do governo perante os  banqueiros e grandes investidores, com metas fiscais e de combate à inflação pela contenção dos gastos e juros altos.

“Travou o governo por mais de dois anos e quando ele saiu (março de 2006) Lula começou a cumprir suas promessas de campanha e a inflação caiu, os juros cairam e a economia cresceu”, lembra Kuscinski.

Ele avalia que Lula, agora, “decidiu enfrentar de saída essa que é a questão central para o governo, que é essa política monetária ditada pelo rentismo”.

As declarações de Lula sobre a decisão de manter os juros em 13,5%  foram amplamente criticadas na imprensa e até mesmo lideranças do governo,  como o senador Jacques Wagner, trataram de amenizar. “Lula fala o que a maioria pensa sobre o Banco Central, mas vai respeitar o mandato”, disse Wagner.

Kuscinski, porém, acredita que o presidente não vai parar. “Ele introduziu um elemento novo na questão: acusou o Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central de boicotar o governo. Isso é gravíssimo, partindo de um presidente da República e se referendo a um funcionário do altíssimo escalão. E não foi um descuido verbal não, foi de propósito”.

 

Um comentário em ““Críticas de Lula são declaração de guerra ao presidente do Banco Central””

  1. A única autoridade pública nacional que ainda tem alguma credibilidade no Brasil é o Banco Central; é a âncora que está segurando, por enquanto, a inflação, o dólar e outros índices-chave da economia. Isso acontece porque o BC faz o que é necessário, e não o que Lula quer. seu principal propósito administrativo é a demolição, e não a construção. Em vez de fazer alguma coisa, quer desfazer o que está feito, e principalmente o que está bem feito. O que Lula quer é eliminar a independência do Banco Central, em vigor
    desde 2021. Quer ocupar a presidência e os cargos de diretoria com militantes políticos que obedeçam a suas ordens. Todas as democracias sérias do mundo, sem nenhuma exceção, têm bancos centrais independentes do Poder Executivo. Será que fazem isso por algum capricho – ou por que acham que a estabilidade da moeda é um elemento essencial para a existência de uma sociedade democrática?
    Esses discursos de Lula dizendo que o BC não pode ter autonomia porque não “combate a pobreza”, não “faz o país crescer”, não “controla a inflação” e uma porção de outros disparates não é apenas uma estupidez. É uma mentira, uma desinformação.
    Lula, na verdade, está pouco ligando para a pobreza, o desenvolvimento ou o equilíbrio econômico do país; o que quer é transformar o BC, o único órgão importante da administração pública no qual ainda não manda, num serviço de atendimento aos interesses políticos do governo. Nada poderia demonstrar isso de maneira mais objetiva do que as declarações de uma das ativistas radicais mais eminentes do seu ministério – a ministra da Ciência e Tecnologia, que acaba de exigir, também ela, o fim da autonomia. Que diabo o Banco Central tem a ver com ciência, ou com tecnologia? O fato é que a ministra, no mundo das realidades, não cuida de nenhuma das duas coisas. O que está fazendo é política extremista e subdesenvolvida – cumpre instruções de um presidente obcecado com a ideia de obter poderes absolutistas sobre a economia do Brasil.

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